REVELAÇÃO GERAL E TEOLOGIA NATURAL

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De acordo com Cornelius van Til,
“não deveríamos pensar primeiro sobre os fatos do universo, especialmente os da mente humana, como se eles pudessem ser independentes de Deus, autossuficientes, como lâmpadas com energia própria (...) não deveríamos olhar para a criação para encontrar o Criador, mas ao contrário (...) o verdadeiro conhecimento da criação requer um verdadeiro conhecimento do Criador (...)”
“(...) A revelação natural é perfeitamente clara, e dela os homens têm de conhecer a Deus, e, por meio dela, têm de ver todas as demais coisas como dependentes de Deus. Mas somente aquele que olha a natureza através do espelho da Escritura entenderá a revelação natural como o que ela realmente é. Além disso, ninguém poderá conceber a Escritura como ela verdadeiramente é, a menos que lhe seja dada capacitação mediante o poder regenerador do Espírito Santo”.
“Somente aqueles que são discípulos de Deus veem a Escritura como o que ela realmente é, a revelação de Deus na natureza como o que ela realmente é (...). A teologia natural assume a ideia de que, sem a Escritura e o testemunho do Espírito Santo, os homens poderão ter uma medida aceitável do conhecimento de Deus”.
CHARLES C. RYRIE:
A revelação geral é exatamente o que indica: geral. Ela é geral em sua abrangência; ou seja, afeta todas as pessoas (Mt 5.45; At 14.17). É geral no aspecto geográfico; ou seja, encobre todo o planeta (Sl 19.2). Ela é geral em sua metodologia; ou seja, utiliza meios universais, como o calor do Sol (vv. 4-6), e a consciência humana (Rm 2.14,15). Assim essa revelação afetaria todas as pessoas, independemente de onde estejam e/ou da época em que tenham vivido. Pode trazer verdade a todos, mas, se rejeitada, trará condenação.
Existem passagens bíblicas relevantes que nos mostram com autoridade o que podemos aprender da revelação geral. Isso não é o mesmo que dizer que todos irão entender todas ou algumas dessas coisas, mas foi o que Deus comunicou utilizando vários meios pelos quais a revelação geral se manifesta:
(1) Sua glória. (Sl 19.1)
(2) Seu poder para realizar a criação do universo. (Sl 19.1)
(3) Sua supremacia. (Rm 1.20)
(4) Sua natureza divina. (Rm 1.20)
(5) Seu controle providencial da natureza. (At 14.17)
(6) Sua bondade. (Mt 5.45)
(7) Sua inteligência. (At 17.29)
(8) Sua existência. (At 17.28)
Somos Todos Teólogos: Uma Introdução à Teologia Sistemática Capítulo 3: Revelação Geral e Teologia Natural

O princípio ensinado por Agostinho e, depois, por Tomás de Aquino é que, como criaturas, não poderíamos saber coisa alguma se não fosse pelo fato de que Deus tornou o conhecimento possível para nós. Agostinho ilustrou a ideia por meio da luz física. Ele disse que até aqueles que têm visão perfeita, se fossem colocados numa sala cheia de objetos bonitos, não poderiam ver nada da beleza se a sala estivesse mergulhada em escuridão.

Somos Todos Teólogos: Uma Introdução à Teologia Sistemática Capítulo 3: Revelação Geral e Teologia Natural

Tomás de Aquino citou Agostinho ao pé da letra, dizendo que toda verdade e todo conhecimento, em última análise, está em Deus como a fonte da verdade e como aquele que torna possível o sabermos qualquer coisa. Portanto, quando cientistas discernem a verdade em seus laboratórios, ao mesmo tempo em que nos menosprezam por nossa reivindicação de confiarmos na revelação como base de conteúdo para nossa fé religiosa, podemos apenas ressaltar que eles não poderiam aprender nada a partir de um tubo de ensaio, se não fosse a revelação do Criador e a sua dádiva da capacidade de aprendermos por meio de um estudo da natureza.

Primeira, esta revelação é geral porque é o conhecimento dado a todas as pessoas. A revelação divina geral está disponível a todas as pessoas no mundo. Deus não somente se revela a indivíduos específicos; sua autorrevelação é manifestada a todo ser humano. O mundo inteiro é a audiência de Deus.

A segunda razão para o termo geral ser aplicado a este tipo de revelação é que o seu conteúdo é de um tipo geral; ou seja, não nos dá os detalhes sobre a obra de Deus na história de redenção, como a expiação ou a ressurreição de Cristo. Uma pessoa não pode estudar um pôr do sol e ver os céus declarando o plano de salvação de Deus; para ter esse conhecimento, ela precisa ir à Bíblia. A Escritura tem a informação específica que ninguém pode obter de um estudo da natureza.

Na revelação geral, Deus não nos dá simplesmente um planeta Terra e, depois, espera que usemos somente o poder de nossa razão para descobrirmos quem ele é com base apenas no que ele colocou aqui. Podemos estudar cuidadosamente um quadro e descobrir quem é o artista por meio do estilo de pinceladas e dos pigmentos de tinta, mas não é assim que funciona a revelação geral. A criação é um meio pelo qual Deus revela-se a si mesmo ativamente. A natureza não é independente de Deus; pelo contrário, Deus transmite conhecimento de si mesmo por meio do mundo. Ele comunica a si mesmo por meio da glória e da majestade dos céus, do mundo e de tudo o que ele fez.

Em Romanos 1, Paulo escreve: “A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça” (v. 18). Com estas palavras, Paulo está interessado em mostrar por que é necessário sermos salvos. Ele traz o mundo inteiro perante o tribunal de Deus para demonstrar que cada pessoa necessita do evangelho, porque foi julgada culpada – não por rejeitar a Jesus, do qual muitos nunca ouviram, mas por rejeitar a Deus, o Pai, que se revelou a si mesmo claramente a todo ser humano. Faz parte de nossa natureza, como seres humanos, deter a verdade pela injustiça (outras traduções dizem “suprimir”, “ocultar” ou “reprimir”). Paulo diz que Deus se ira a respeito do que os seres humanos fazem com sua revelação.

Paulo continua: “Porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou” (v. 19). A palavra grega traduzida por “manifesto” é phaneros; em latim, manifestum, da qual obtemos nossa palavra manifesto, significando aquilo que é claro. A ideia é que Deus não plantou indicativos esotéricos ao redor do mundo para que o homem precise de um guru para explicar que Deus existe; em vez disso, a revelação que Deus nos dá a respeito de si mesmo é manifestum – é clara.

Paulo acrescenta: “Porque os atributos invisíveis de Deus… claramente se reconhecem desde o princípio do mundo” (v. 20). Isso parece ser uma afirmação contraditória – como alguém pode ver o que é invisível? Mas não há qualquer contradição. Vemos claramente, mas não diretamente. Não vemos o Deus invisível, mas vemos realmente o mundo visível, e isso traz para nós a revelação de Deus. O caráter invisível de Deus é revelado por meio das coisas que podem ser vistas.

O homem não tem desculpa para ignorar a revelação de Deus: “Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis” (v. 20).

Aqueles que recusam chegar-se a Deus tentam justificar sua recusa por afirmar que Deus falhou em oferecer provas suficientes de sua existência, mas Paulo anula essa desculpa nesta passagem de Romanos com uma realidade severa: “Porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato” (v. 21). A Bíblia é clara em dizer que a revelação que Deus faz de si mesmo na natureza nos proporciona um verdadeiro conhecimento de seu caráter.

Deus é transcendente, e nós estamos na Terra. Aquilo que media a revelação de Deus é a natureza; em outras palavras, a natureza é o meio de revelação, assim como um jornal ou uma transmissão televisiva é um meio de comunicação; e isso é a razão por que esses métodos de comunicação são chamados coletivamente de “mídia”. De maneira semelhante, o principal meio de revelação geral é a natureza.

Em Romanos 2.15, Paulo diz que a lei de Deus foi escrita em nosso coração, algo que João Calvino chamou de sensus divinitatis ou o senso do divino. É um discernimento de Deus que ele plantou na alma do homem, e este discernimento é manifesto em nossa consciência e em nosso conhecimento da lei de Deus. Não obtemos esse discernimento pela agência de um meio; ele vem diretamente de Deus para nós. Por isso, essa revelação é chamada “imediata”.

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