Sermão 01 - O evangelho de Marcos

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Marcos apresenta Jesus como o servo sofredor de Deus (10.45). Seu foco está mais nos feitos dele do que nos seus ensinos, enfatizando particularmente o serviço e o sacrifício.

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Título: Introdução ao Evangelho escrito por João Marcos
Referência: Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.(Mc 10.45 NAA).
Mensagem Central (ICT): Marcos apresenta Jesus como o servo sofredor de Deus (10.45). Seu foco está mais nos feitos dele do que nos seus ensinos, enfatizando particularmente o serviço e o sacrifício.
Tema: Marcos, o evangelho dos milagres, visa produzir nos leitores um compromisso de fé com Jesus Cristo, que é o Servo de Deus e o Sacrifício pela humanidade.
Data: 16/01/2023, Congregação de Casinhas
INTRODUÇÃO
1. O que é o Novo Testamento?
O Novo Testamento é o pacto que Deus estabeleceu com a raça humana mediante o sangue de Cristo vertido no Calvário. Da mesma forma, depois da ceia ele tomou o cálice e disse: "Este cálice é a nova aliança no meu sangue; façam isto, sempre que o beberem, em memória de mim". (1 Co 11.25 NVI).
O Novo Testamento é também o conjunto das Escrituras produzidas pelos apóstolos e discípulos de Cristo acerca de sua obra, ensino, morte e ressurreição, sobre a fundação e expansão da igreja; e concernente à doutrina do Novo Pacto, incluindo as epístolas e Apocalipse.
O Novo Testamento é a revelação última de Deus a humanidade. Há muito tempo Deus falou muitas vezes e de várias maneiras aos nossos antepassados por meio dos profetas, mas nestes últimos dias falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e por meio de quem fez o universo. (Hb 1.1,2 NVI).
O Novo Testamento foi organizado definitivamente em 365 d.C., por Atanásio um dos pais da Igreja no IV século. Sendo organizado com o formato de 27 livros. Nós pentecostais acreditamos:
1.1 Na inspiração do Espírito Santo sobre a vida dos autores bíblicos que registraram os autógrafos (documentos originais);
1.2 Na historicidade do Novo Testamento;
1.3 Na autoridade apostólica.
2. O que significa o termo “Evangelho”?
A palavra “evangelho”, do grego euangellion, significa “boas-novas”. No grego secular, euangellion se referia a uma boa notícia a respeito de um acontecimento importante. Os quatro Evangelhos são as boas-novas sobre os acontecimentos mais significativos de toda a História — a vida, a morte redentora e a ressurreição de Jesus de Nazaré.
O Evangelho não é uma adição imprecisa de lendas antigas a respeito de Jesus, mas um conjunto bem organizado de ensinos sobre sua vida e seu significado, escrito por líderes da igreja primitiva na primeira geração após sua morte.
A verdade central do Evangelho é que Deus forneceu um modo de salvação para os homens ao dar seu Filho para o mundo. Ele sofreu como um sacrifício pelo pecado, venceu a morte, e agora oferece a oportunidade de compartilharmos seu triunfo; esta bênção está disponível a todos aqueles que o aceitarem. O Evangelho é uma boa nova porque é uma dádiva de Deus, e não algo que deva ser ganho por penitência ou por meio de alguma melhoria pessoal (Jo 3.16; Rm 5.8- 11; 2 Co 5.14-19; Tt 2.11-14).
O Evangelho apresenta Cristo como o mediador entre Deus e os homens, que foi ordenado por Deus para trazer uma humanidade desviada e pecadora de volta a si.
DAVIS, diz: Esta palavra, como hoje se emprega, significa a mensagem anunciada pelo Cristianismo e os livros em que se registra a história da vida e dos ensinos de Cristo. No Novo Testamento, nunca se emprega no sentido de livro, e sim, designando a mensagem de Cristo, confiada a seus apóstolos.
3. Por que quatro evangelhos?
Nós temos quatro evangelhos, porque cada um foi escrito a um público diferente. Mateus foi escrito para os judeus e apresentou Jesus como o rei. Marcos escreveu para os romanos e apresentou Jesus como servo. Lucas escreveu para os gregos e apresentou Jesus como o homem perfeito. João escreveu um evangelho universal e apresentou Jesus como Deus, o verbo encarnado. Assim, os evangelhos foram endereçados a pessoas diferentes e com propósitos diversos.
Vamos, portanto, de forma mais específica, passar a considerar e discorrer sobre o Evangelho segundo escreveu Marcos:
DESENVOLVIMENTO
1. Quem foi João Marcos, escritor humano do evangelho que leva o seu nome?
1.1 O escritor humano. Diferentemente das epístolas, os Evangelhos não indicam o nome de seus autores. Contudo, os pais da igreja primitiva afirmam com unanimidade que Marcos escreveu esse segundo Evangelho. Papias, bispo de Hierápolis, escrevendo por volta do ano 140 d.C., faz a seguinte observação:
E o presbítero [o apóstolo João] disse isto: Marcos, tendo se tornado intérprete de Pedro, escreveu com precisão tudo de que se lembrou. Não foi, porém, na ordem exata que ele relatou os ditos ou os feitos de Cristo, pois ele nem ouviu nem acompanhou o Senhor. Contudo, posteriormente, como eu disse, ele acompanhou Pedro, que acomodou suas instruções às necessidades [de seus ouvintes], mas sem a intenção de fornecer uma narrativa regular dos ditos do Senhor. Essa é a razão de Marcos não ter cometido nenhum erro ao escrever algumas coisas de memória. Pois em uma coisa ele teve cuidado especial: não omitir qualquer coisa que tivesse ouvido, e não inserir qualquer coisa fictícia nas declarações. [Da Exposição dos Oráculos do Senhor (6)].
Outros pais da Igreja que afirmam a autoria de Marcos são: Justino Mártir (Diálogo com Trifo), Ireneu de Lyon (Adversus Heresiae), Taciano, Clemente de Alexandria, Tertuliano (Contra Marcion), Orígenes, e Eusébio (que cita Papias como testemunha autorizada; História Eclesiástica).
1.2 Quem foi João Marcos?
1.2.1 Em primeiro lugar, Marcos era filho de Maria, uma cristã que hospedava cristãos em sua casa (At 12.12). Isso significa que João Marcos procedia de uma família abastada de bens materiais e tinha familiaridade com a igreja, desde sua juventude.
1.2.2 Em segundo lugar, Marcos era primo de Barnabé (Cl 4.10). Esse fato revela que a família de Marcos era de boas condições financeiras. Barnabé, conforme o livro de Atos,era homem de posses (At 4.37).
1.2.3 Em terceiro lugar, Marcos participou da primeira viagem missionária de Paulo e Barnabé (At 12.25). Ele saiu de Jerusalém com Paulo e Barnabé e foi morar em Antioquia da Síria, de onde saiu com eles para a primeira viagem missionária na região da Galácia. João Marcos era um auxiliar hypẽrtẽsde Barnabé e Saulo nessa primeira viagem missionária (At 13.5).
1.2.4 Em quarto lugar, Marcos desistiu da primeira viagem missionária no meio do caminho (At 13.13). Não sabemos precisamente as razões que levaram Marcos a desertar dessa viagem. Elencamos três sugestões: Paulo decidiu largar a região costeira e ir para o interior, onde os perigos eram imensos; Paulo passou a ocupar a liderança da viagem, até então ocupada por Barnabé; a insegurança característica de sua própria juventude e inexperiência.
1.2.5 Em quinto lugar, Marcos é rejeitado por Paulo na segunda viagem missionária (At 15.37-40). A rejeição de Paulo ao ingresso do jovem Marcos na segunda viagem missionária teve repercussões profundas na agenda missionária da Igreja e no relacionamento dos dois grandes líderes Paulo e Barnabé. Houve tal desavença entre eles, que Barnabé deixou Paulo e partiu para uma nova frente missionária, levando consigo a Marcos para Chipre, sua terra natal.
1.2.6 Em sexto lugar, Marcos esteve preso com Paulo em Roma (Cl 4.10). Marcos tornou-se um grande líder cristão do século 1. Jerônimo disse que ele foi ao Egito e ali plantou a igreja de Alexandria. Agora, ele está preso em Roma, com Paulo, durante a sua primeira prisão.
1.2.7 Em sétimo lugar, Marcos tornou-se um cooperador de Paulo (Fm 24). A Carta a Filemom foi escrita no interregno entre a primeira e a segunda prisão de Paulo em Roma. Paulo destaca que nesse tempo Marcos era seu cooperador.
1.2.8 Em oitavo lugar, Marcos foi chamado por Paulo para assisti-lo no final da sua vida (2 Tm 4.11). Marcos estava em Éfeso quando Paulo foi preso pela segunda vez. Agora, Paulo está num calabouço romano, aguardando o seu martírio. Paulo reconhece que o mesmo jovem que ele dispensara no passado agora lhe é útil e deseja tê-lo como seu cooperador no momento final da sua vida. Isso nos prova a mudança de conduta de Paulo bem como sua mudança de conceito acerca de Marcos.
1.2.9 Em nono lugar, Marcos era considerado um filho de Pedro na fé(1Pe 5.13). Marcos teve um estreito relacionamento com Pedro. O apóstolo o chama “meu filho”. Possivelmente o próprio Pedro o tenha levado a Cristo e seja seu pai na fé. Quando Pedro foi solto da prisão, foi para a casa de Maria, mãe de Marcos, onde a igreja estava reunida.
1.2.10 Em undécimo lugar, Marcos é apontado pela maioria dos estudiosos como o jovem que se vestiu com um lençol para ver Jesus (Mc 14.51,52). Nesse tempo esse jovem era apenas um seguidor casual de Cristo. Era apenas um espectador curioso que queria acompanhar o desenrolar da prisão do rabi da Galiléia, mas estava inadequadamente vestido no meio da multidão. Ao ser agarrado pela soldadesca que prendia a Jesus, fugiu desnudo.
2. Características do evangelho escrito por Marcos.
2.1 A data. Provavelmente, Marcos escreveu o evangelho de Jesus quando estava na cidade de Roma (1 Pd 5.13). Sobre a data, os estudiosos divergem bastante, pois alguns conjecturam o ano 50 d.C., outros fazem uma estimativa entre o ano 65-70 d.C.
2.2 Destinatários. O consenso geral entre os estudiosos é que Marcos foi escrito de Roma para os cristãos que viviam em Roma. Segundo William Hendriksen, Marcos foi escrito para satisfazer o pedido urgente do povo de Roma por um resumo dos ensinos de Pedro. As evidências podem ser destacadas como seguem:
2.2.1 Em primeiro lugar, Marcos enfatiza mais as obras de Cristo que os seus ensinos. Warren Wiersbe diz que o fato de Marcos ter escrito com os romanos em mente ajuda-nos entender seu estilo e abordagem. A ênfase nesse evangelho é sobre atividade. Os romanos estavam mais interessados em ação que em palavras, por isso Marcos descreve mais os milagres de Cristo que os seus ensinos. Marcos registra dezoito milagres e apenas quatro parábolas. Marcos só tem dois discursos, um é sobre as parábolas do Reino (4.1-33), e o outro é escatológico (13.1-37).
2.2.2 Em segundo lugar, Marcos se detém em explicar os termos judaicos aos seus leitores. Quando Jesus ressuscitou a filha de Jairo, a tomou pela mão e lhe disse: “Talita cume”, que quer dizer: “Menina eu te mando, levanta-te”.
2.2.3 Em terceiro lugar, Marcos preocupou-se em explicar os costumes judaicos. Em várias ocasiões, ele explica os costumes judaicos para seus leitores (7.3,4; 7.11; 14.12).
2.2.4 Em quarto lugar, Marcos usou várias palavras latinas. Isso pode ser constatado observando alguns textos (5.9; 12.15, 42; 15.16, 39).
2.2.5 Em sexto lugar, Marcos foi o evangelista que menos citou o Antigo Testamento. Ele, por exemplo, não cita em seu evangelho o termo “lei”.
2.2.6 Em sétimo lugar, Marcos usou a contagem de tempo romano.Podemos constatar isso em (6.48; 13.35). Portanto, todas as evidências nos indicam que Marcos escreveu esse evangelho para os romanos.
2.2.7 Em oitavo lugar, Marcos menciona líderes cristãos identificados com a igreja em Roma (cf. Alexandre e Rufo em 15.21 [veja também Rm 16.13]), e usa um centurião romano como testemunha chave em sua vindicação de Jesus como Filho de Deus (cf. 15.39).
2.3 Contexto histórico. A capital do império tinha cerca de um milhão de habitantes e hospedava várias culturas, povos e religiões. O porto de Roma, Óstia, tornou-se o centro do comércio mundial. Havia uma riqueza ostensiva na cidade de Roma. Construções monumentais eram erguidas e o luxo dos ricos era exorbitante. Ao mesmo tempo, havia também uma extrema pobreza e miséria. Os navios despejavam seus produtos por intermédio dos braços surrados dos escravos. Na cidade, prevaleciam a corrupção, a anarquia e a decadência moral. A bebedeira e a orgia faziam subir um mau cheiro repugnante da reluzente metrópole (Rm 13.11-14). Foi para essa cidade enfeitiçada pelo prazer que Marcos escreveu o seu evangelho.
Nessa cidade do prazer e do luxo, uma igreja foi plantada. Essa igreja foi duramente perseguida a partir do ano 64 d.C. Os cristãos eram queimados vivos, lançados nas arenas para serem pisoteados pelos touros, enrolados em peles de animais para serem devorados pelos cães raivosos. Foi para essa igreja mártir que Marcos escreveu seu evangelho. Havia martírios atrás de si e à sua frente.
2.4 Propósito. Podemos enumerar, pelos menos, dois propósitos principais:
2.4.1 Primeiro, sua intenção é apresentar um relato histórico de Jesus e provar que ele é o Messias/Cristo (de modo mais específico, o Servo Sofredor de Deus) e o filho de Deus a fim de instruir os não cristãos a evangelizar os não cristãos.
O termo hebraico mashiah significa “ungido” e vem de uma raiz hebraica que significa “untar”. A Septuaginta traduziu essa palavra pelo vocábulo grego christós, “ungido”. Essa palavra grega foi transliterada para o português, Cristo, em vez de ser traduzida, para Ungido.
2.4.2 Segundo, enfatizar que o discipulado – o que significa seguir a Cristo e andar em seus caminhos neste mundo mau.
3. A estrutura homilética (resumida) do evangelho de Marcos.
I. O SERVIÇO DO SERVO
1. O ministério do Servo às multidões de Israel autentica Sua mensagem a despeito de Sua rejeição pela nação (1.1 - 8.26).
2. O ministério do Servo aos discípulos desvenda o programa divino e o estilo de vida que se espera do discípulo num contexto de provações e oposição (8.27 - 10.52).
II. O SACRIFÍCIO DO SERVO
1. A apresentação oficial do Servo como Messias provoca o tipo de oposição oficial que levará à Sua rejeição definitiva pela nação (11.1 - 12.44).
2. O desvendamento do programa profético de Deus pelo Servo contribui para intensificar a necessária atitude de vigilância entre os discípulos em vista das perseguições e dos enganos vindouros (13.1-37).
3. O ponto culminante da missão do Servo surge com Sua morte sacrificial como resgate por muitos e com Sua triunfante ressurreição e ascensão como Filho de Deus (14.1 - 16.20).
CONCLUSÃO
Queremos finalizar o presente estudo apresentando algumas verdades fundamentais ensinas no Evangelho de Marcos, bem como demonstrar a necessidade que temos de estudarmos esse livro inspirado pelo Espírito Santo:
1. O Evangelho de Marcos vai apresentar Jesus como Servo Sofredor. Muitos irmãos perderam essa perspectiva bíblica do sofrimento e do sacrifício. Muitos só querem os holofotes, a fama, o reconhecimento das pessoas. Por isso, só servem a Deus a vista dos homens. Encontrar pessoas que servem por amor a Deus é algo que tem ficado cada vez mais raro em nosso meio. Os crentes têm servido por razões pessoais interesseiras.
2. O Evangelho de Marcos mostra Jesus servindo as pessoas. O desejo por cadeiras, títulos e de ter a primazia entre os irmãos tem corrompido aqueles que servem a Deus no Santo Ministério. Os obreiros devem ser exemplos para igreja, mas não exemplos de maus testemunhos.
3. O Evangelho de Marcos apresenta Jesus operando milagres e maravilhas. É chamado de o Evangelho dos milagres (curas divinas, feitos sobrenaturais). A igreja precisa crer, ver e viver milagres. Não podemos nos acostumar com experiencias rasas.
4. O Evangelho de Marcos apresenta a ferrenha oposição que Jesus sofreu. Ele cumpriu os propósitos de Deus, mesmo em um contexto de hostilidade.
5. O Evangelho de Marcos, escrito para instruir e esclarecer a igreja de Roma, nos ensina a responsabilidade de andar com Jesus em mundo de trevas, corrupção e imoralidade.
FONTES DE PESQUISA
I. Como ler a Bíblia livro por livro: um guia de estudo panorâmico da Bíblia/ Gordon O. Fee e Douglas Stuart / p. 328-337.
· Conteúdo: a história de Jesus, do batismo até a ressurreição. Dois terços da narrativa relatam seu ministério na Galileia, enquanto o último terço relata a sua última semana em Jerusalém.
· Autor: anônimo; atribuído (por Papias, c. de 125 d.C.) a João Marcos, um antigo companheiro de Paulo (Cl 4.10), e depois de Pedro (1Pe 5.13).
· Data: cerca de 65 d.C. (de acordo com Papias, logo depois da morte de Paulo e de Pedro em Roma).
· Receptores: a igreja em Roma (de acordo com Papias), o que explica sua preservação junto com os Evangelhos de Mateus e de Lucas, mais extensos.
· Ênfases: o tempo do governo de Deus (o reino de Deus) chegou com Jesus; Jesus realizou o novo êxodo prometido em Isaías; o Messias real veio em fraqueza, sua identidade sendo um segredo exceto para aqueles a quem ela é revelada; o caminho do novo êxodo leva à morte de Jesus em Jerusalém; o caminho do discipulado consiste em carregar a cruz e segui-lo.
As Divisões do Evangelho de Marcos
Prólogo - O prólogo - Introdução a Jesus e ao reino (1. 1-15)
O prólogo nos apresenta as boas-novas sobre Jesus Cristo (1.1-15), a história se desenvolve em quatro partes.
Parte 01 - O reino se torna público - discípulos, multidões, oposição (1.16-3.6).
Na parte 1 (1.16-3.6), Jesus anuncia publicamente a chegada do reino. Agindo de forma ininterrupta, ele chama discípulos, expulsa demônios, cura os doentes e anuncia que tudo isso está ligado à chegada do reino de Deus; no processo, ele atrai a admiração das multidões e a oposição das autoridades religiosas e políticas, que desde o início planejam a sua morte.
Parte 02 - O mistério do reino de Deus - fé, incompreensão, corações duros (3.7-8.21).
A parte 2 (3.7-8.21) desenvolve o papel de três grupos significativos. Os milagres e o ensino de Jesus conquistam a admiração constante das multidões; os discípulos recebem instrução particular (4.13,34) e se unem à proclamação do reino (6.7-13), mas nem sempre entendem direito o ensino de Jesus (8.14-21; cf. 6.52); a oposição continua crescendo (7.1-23; 8.11-13).
Parte 03 - O mistério revelado - a cruz e o caminho do discipulado (8.22-1 0.45).
Na parte 3 (8.22-10.45), Jesus concentra sua atenção principalmente nos discípulos. Três vezes ele explica a natureza do seu reino e, portanto, do discipulado (8.34-38) - como trilhando o caminho da cruz (como o Servo Sofredor de Isaías; Mc 10.45), e três vezes os discípulos não entendem absolutamente nada.
Parte 04 - O rei vem a Jerusalém para morrer (10.46-15.47).
A parte 4 (10.46-15.47) conduz a história ao seu ápice. O rei entra em Jerusalém e as multidões se agitam, entusiasmadas, mas a oposição acaba vencendo. Jesus é julgado, condenado e entregue aos romanos para a execução numa cruz- como "o rei dos judeus" (15.2).
Epílogo - A história não terminou (16.1-8).
Um breve epílogo (16.1-8) lembra aos leitores de Marcos que "Jesus ressuscitou!".
Contexto Histórico
Era uma época de matança em Roma. A igreja passava pelo holocausto realizado pelas mãos de Nero, em que muitos cristãos haviam sido queimados vivos nas festas do jardim de Nero e dois dos personagens mais importantes da igreja (Pedro e Paulo) haviam sido executados. Pouco depois, apareceu entre eles um pequeno livro (o Evangelho de Marcos) para lembrá-los da missão de Jesus (como o Servo Sofredor de Deus) e para encorajar a vida de discipulado sob a cruz.
O relato de Marcos, da história de Jesus, enfatiza o "segredo messiânico", o "mistério do reino de Deus", isto é, que o Rei esperado estava destinado a sofrer no lugar do povo.
II. Manual bíblico MacArthur / p.429-444.
· Autoria e Data. Diferentemente das epístolas, os Evangelhos não indicam o nome de seus autores. Contudo, os pais da igreja primitiva afirmam com unanimidade que Marcos escreveu esse segundo Evangelho. Papias, bispo de Hierápolis, escrevendo por volta do ano 140 d.C., faz a seguinte observação:
E o presbítero [o apóstolo João] disse isto: Marcos, tendo se tornado intérprete de Pedro, escreveu com precisão tudo de que se lembrou. Não foi, porém, na ordem exata que ele relatou os ditos ou os feitos de Cristo, pois ele nem ouviu nem acompanhou o Senhor. Contudo, posteriormente, como eu disse, ele acompanhou Pedro, que acomodou suas instruções às necessidades [de seus ouvintes], mas sem a intenção de fornecer uma narrativa regular dos ditos do Senhor. Essa é a razão de Marcos não ter cometido nenhum erro ao escrever algumas coisas de memória. Pois em uma coisa ele teve cuidado especial: não omitir qualquer coisa que tivesse ouvido, e não inserir qualquer coisa fictícia nas declarações. [Da Exposição dos Oráculos do Senhor (6)].
Escrevendo por volta do ano 150 d.C., Justino Mártirrefere-se ao Evangelho de Marcos como “as memórias de Pedro” e sugere que Marcos escreveu esse Evangelho quando esteve na Itália. Isso está de acordo com a voz uniforme da tradição primitiva, que também considerava esse Evangelho como tendo sido escrito em Roma, para benefício dos cristãos romanos. Irineu, escrevendo por volta do ano 185 d.C. chama Marcos de “discípulo e intérprete de Pedro”, e registra que o segundo Evangelho consiste do que Pedro havia pregado sobre Cristo. O testemunho dos pais da Igreja difere quanto a esse Evangelho ter sido escrito antes ou depois da morte de Pedro (por volta de 67-68 d.C.).
· Características do Evangelho de Marcos. Marcos demonstra a humanidade de Cristo mais claramente do que qualquer outro evangelista, enfatizando suas emoções (1:41; 3:5; 6:34; 8:12; 9:36), suas limitações (4:38; 11:12; 13:32) e outros pequenos detalhes a respeito de Jesus que destacam o lado humano do filho de Deus (por exemplo: 7:33-34; 8:12; 9:36; 10:13-16).
Enquanto o Evangelho de Mateus foi orientado para um público judaico, Marcos parece ter sido escrito para os cristãos romanos, particularmente os gentios. Quando emprega termos aramaicos, Marcos os traduz para os seus leitores (3:17; 5:41; 7:11,34; 10:46; 14:36; 15:22,34). Em contrapartida, às vezes ele emprega expressões latinas em vez de seus equivalentes gregos (5:9; 6:27; 12:15,42; 15:16,39). Ele também conta o tempo de acordo com o sistema romano (6:48; 13:35) e explica cuidadosamente os costumes judaicos (7:3-4; 14:12; 15:42). Marcos omite elementos judaicos, como as genealogias encontradas em Mateus e Lucas. Esse Evangelho também faz menos referências ao AT, além de incluir menos materiais que seriam de particular interesse para os leitores judaicos — como aqueles que criticam os fariseus e os saduceus (esses últimos são mencionados apenas uma vez, em 12:18). Quando menciona Simão de Cirene (15:21), Marcos o identifica como pai de Rufo, um proeminente membro da igreja de Roma (Rm 16:13). Tudo isso apoia a visão tradicional de que o Evangelho de Marcos foi escrito para um público gentio, inicialmente em Roma.
· Principais Doutrinas. A humanidade de Cristo — Jesus se humilhou e tornou-se homem para reconciliar a humanidade com Deus (1:41; 3:5; 4:38; 6:34; 8:12; 9:36; 11:12; 13:32; Is 50:6; 53:7; Mq 5:2; Lc 2:4-7; Jo 1:14; Rm 1:3- 4; 8:3; Fp 2:6-11; Cl 2:9; Hb 4:15; 5:7).
Condição de servo — Jesus foi o exemplo perfeito de verdadeiro servo, mesmo na morte (8:34-37; 9:35; 10:43-45; Zc 9:9; Mt 20:28; 21:5; Lc 22:27; Jo 13:5; 2Co 8:9; Fp 2:7).
III. Marcos: O evangelho dos milagres / Hernandes Dias Lopes / p. 15-28
Marcos é considerado um dos evangelhos sinóticos. O termo sinótico vem de duas palavras gregas, cujo significado é “ver conjuntamente”. Dessa maneira, Mateus, Marcos e Lucas tratam basicamente dos mesmos aspectos da vida e ministério de Cristo. Dos evangelhos sinóticos, Marcos é o mais breve.
Por que quatro evangelhos? Nós temos quatro evangelhos, porque cada um foi escrito a um público diferente. Mateus foi escrito para os judeus e apresentou Jesus como o rei. Marcos escreveu para os romanos e apresentou Jesus como servo. Lucas escreveu para os gregos e apresentou Jesus como o homem perfeito. João escreveu um evangelho universal e apresentou Jesus como Deus, o verbo encarnado. Assim, os evangelhos foram endereçados a pessoas diferentes e com propósitos diversos.
Sobre o autor do Evangelho
A primeira é a identidade de Marcos descrita nas Escrituras. O nome completo do autor desse evangelho é João Marcos, sendo que João é seu nome hebraico e Marcos seu nome romano. Temos várias informações importantes sobre esse personagem nas Escrituras:
· Em primeiro lugar, Marcos era filho de Maria, uma cristã que hospedava cristãos em sua casa (At 12.12). Isso significa que João Marcos procedia de uma família abastada de bens materiais e tinha familiaridade com a igreja, desde sua juventude.
· Em segundo lugar, Marcos participou da primeira viagem missionária de Paulo e Barnabé (At 12.25). Ele saiu de Jerusalém com Paulo e Barnabé e foi morar em Antioquia da Síria, de onde saiu com eles para a primeira viagem missionária na região da Galácia. João Marcos era um auxiliar hypẽrtẽs de Barnabé e Saulo nessa primeira viagem missionária (At 13.5).
· Em terceiro lugar, Marcos desistiu da primeira viagem missionária no meio do caminho (At 13.13). Não sabemos precisamente as razões que levaram Marcos a desertar dessa viagem. Elencamos três sugestões: Paulo decidiu largar a região costeira e ir para o interior, onde os perigos eram imensos; Paulo passou a ocupar a liderança da viagem, até então ocupada por Barnabé; a insegurança característica de sua própria juventude e inexperiência.
· Em quarto lugar, Marcos é rejeitado por Paulo na segunda viagem missionária (At 15.37-40). A rejeição de Paulo ao ingresso do jovem Marcos na segunda viagem missionária teve repercussões profundas na agenda missionária da Igreja e no relacionamento dos dois grandes líderes Paulo e Barnabé. Houve tal desavença entre eles, que Barnabé deixou Paulo e partiu para uma nova frente missionária, levando consigo a Marcos para Chipre, sua terra natal.
· Em quinto lugar, Marcos era primo de Barnabé (Cl 4.10). Esse fato revela que a família de Marcos era abastada. Sua mãe tinha uma casa que servia de lugar de encontro da Igreja primitiva e Barnabé era homem de posses (At 4.37). Isso também lança uma luz sobre o fato de que Barnabé, além de sua característica de consolador, não desamparou a Marcos, quando este foi barrado por Paulo no seu intento de participar da segunda viagem missionária.
· Em sexto lugar, Marcos esteve preso com Paulo em Roma (Cl 4.10). Marcos tornou-se um grande líder cristão do século 1. Jerônimo disse que ele foi ao Egito e ali plantou a igreja de Alexandria.7[1] Agora, ele está preso em Roma, com Paulo, durante a sua primeira prisão.
· Em sétimo lugar, Marcos tornou-se um cooperador de Paulo (Fm 24). A Carta a Filemom foi escrita no interregno entre a primeira e a segunda prisão de Paulo em Roma. Paulo destaca que nesse tempo Marcos era seu cooperador.
· Em oitavo lugar, Marcos foi chamado por Paulo para assisti-lo no final da sua vida (2Tm 4.11). Marcos estava em Éfeso quando Paulo foi preso pela segunda vez. Agora, Paulo está num calabouço romano, aguardando o seu martírio. Paulo reconhece que o mesmo jovem que ele dispensara no passado agora lhe é útil e deseja tê-lo como seu cooperador no momento final da sua vida. Isso nos prova a mudança de conduta de Paulo bem como sua mudança de conceito acerca de Marcos.
· Em nono lugar, Marcos era considerado um filho de Pedro na fé (1Pe 5.13). Marcos teve um estreito relacionamento com Pedro. O apóstolo o chama “meu filho”. Possivelmente o próprio Pedro o tenha levado a Cristo e seja seu pai na fé. Quando Pedro foi solto da prisão, foi para a casa de Maria, mãe de Marcos, onde a igreja estava reunida.
· Em décimo lugar, Marcos é apontado pela maioria dos estudiosos como o jovem que se vestiu com um lençol para ver Jesus (Mc 14.51,52). Nesse tempo esse jovem era apenas um seguidor casual de Cristo. Era apenas um espectador curioso que queria acompanhar o desenrolar da prisão do rabi da Galiléia, mas estava inadequadamente vestido no meio da multidão. Ao ser agarrado pela soldadesca que prendia a Jesus, fugiu desnudo.
A segunda coisa que nos chama a atenção é que Marcos é considerado o autor do Evangelho que leva o seu nome. Embora Marcos não tenha sido um discípulo de Cristo, seguramente presenciou muitos fatos da sua vida, visto que morava em Jerusalém e sua casa tornou-se um ponto de encontro da igreja.
Para quem Marcos escreveu o evangelho
O consenso geral entre os estudiosos é que Marcos foi escrito de Roma para os cristãos que viviam em Roma. Segundo William Hendriksen, Marcos foi escrito para satisfazer o pedido urgente do povo de Roma por um resumo dos ensinos de Pedro. As evidências podem ser destacadas como seguem:
· Em primeiro lugar, Marcos enfatiza mais as obras de Cristo que os seus ensinos.Warren Wiersbe diz que o fato de Marcos ter escrito com os romanos em mente ajuda-nos entender seu estilo e abordagem. A ênfase nesse evangelho é sobre atividade. Os romanos estavam mais interessados em ação que em palavras, por isso Marcos descreve mais os milagres de Cristo que os seus ensinos. Marcos registra dezoito milagres e apenas quatro parábolas. Marcos só tem dois discursos, um é sobre as parábolas do Reino (4.1-33), e o outro é escatológico (13.1-37).
· Em segundo lugar, Marcos apresenta Jesus como servo. Por esta causa o evangelho de Marcos não se inicia com genealogia. Os romanos não estavam interessados em genealogia, mas em ação. Um servo não tem genealogia. Jesus apresenta-se como aquele que veio para servir e não para ser servido (Mc 10.45).
· Em terceiro lugar, Marcos se detém em explicar os termos judaicos aos seus leitores. Quando Jesus ressuscitou a filha de Jairo, a tomou pela mão e lhe disse: “Talita cume”, que quer dizer: “Menina eu te mando, levanta-te”.
· Em quarto lugar, Marcos preocupou-se em explicar os costumes judaicos. Em várias ocasiões, ele explica os costumes judaicos para seus leitores (7.3,4; 7.11; 14.12).
· Em quinto lugar, Marcos usou várias palavras latinas. Isso pode ser constatado observando alguns textos (5.9; 12.15, 42; 15.16, 39).
· Em sexto lugar, Marcos foi o evangelista que menos citou o Antigo Testamento. Ele, por exemplo, não cita em seu evangelho o termo “lei”.
· Em sétimo lugar, Marcos usou a contagem de tempo romano. Podemos constatar isso em (6.48; 13.35). Portanto, todas as evidências nos indicam que Marcos escreveu esse evangelho para os romanos.
A situação de Roma no século 1
A capital do império tinha cerca de um milhão de habitantes e hospedava várias culturas, povos e religiões. O porto de Roma, Óstia, tornou-se o centro do comércio mundial. Havia uma riqueza ostensiva na cidade de Roma. Construções monumentais eram erguidas e o luxo dos ricos era exorbitante. Ao mesmo tempo, havia também uma extrema pobreza e miséria. Os navios despejavam seus produtos por intermédio dos braços surrados dos escravos. Na cidade, prevaleciam a corrupção, a anarquia e a decadência moral. A bebedeira e a orgia faziam subir um mau cheiro repugnante da reluzente metrópole (Rm 13.11-14). Foi para essa cidade enfeitiçada pelo prazer que Marcos escreveu o seu evangelho.
Nessa cidade do prazer e do luxo, uma igreja foi plantada. Essa igreja foi duramente perseguida a partir do ano 64 d.C. Os cristãos eram queimados vivos, lançados nas arenas para serem pisoteados pelos touros, enrolados em peles de animais para serem devorados pelos cães raivosos. Foi para essa igreja mártir que Marcos escreveu seu evangelho. Havia martírios atrás de si e à sua frente.
IV. Foco e desenvolvimento no Novo Testamento / Carlos Osvaldo Cardoso Pinto /
Sobre a autoria
Outros pais da Igreja que afirmam a autoria de Marcos são: Justino Mártir (Diálogo com Trifo), Ireneu de Lyon (Adversus Heresiae), Taciano, Clemente de Alexandria, Tertuliano (Contra Marcion), Orígenes, e Eusébio (que cita Papias como testemunha autorizada; História Eclesiástica).
O conteúdo do livro oferece evidência circunstancial de que João Marcos tenha sido o seu autor. O primeiro argumento em favor da autoria de Marcos é que o evangelho sugere um conhecimento funcional de aramaico pelo seu autor, que com grande possibilidade teria sido um judeu palestino. Em segundo lugar, apenas Marcos, entre os sinóticos, relata o incidente do jovem que fugiu nu da cena da prisão de Cristo no Jardim do Getsêmani (14.51-52; alguns comentaristas especulam que Marcos era o tal jovem). Por fim, o autor descreve em considerável detalhe o Cenáculo (chamando-o de sala de hóspedes) onde o Senhor celebrou a última Páscoa (14.14); isto sugere que estava bem familiarizado com o local. O fato de que a casa da mãe de Marcos se tornou um ponto de encontro nos primeiros anos da igreja em Jerusalém acrescenta ainda mais peso a este argumento.
A tradição cristã afirma que Marcos escreveu seu evangelho para benefício de leitores romanos (assim diz Clemente de Alexandria). A evidência interna também aponta nessa direção. Argumentando negativamente, há apenas uma citação do Antigo Testamento pelo autor com o uso de uma fórmula introdutória (1.2-3), o que faz sentido se os leitores originais não estivessem familiarizados com a tradição hebraica. Argumentando positivamente, Marcos oferece a tradução de termos aramaicos empregados (e.g., 5.41; 7.11, 34; 9.43), explica costumes judaicos (e.g., 7.1-3; 14.12),oferece detalhes da topografia ao redor de Jerusalém (13.3), traduz palavras gregas para o latim (e.g., 15.16), heleniza palavras latinas (e.g., flagellare em 15.15, centurio em 15.39), menciona líderes cristãos identificados com a igreja em Roma (cf. Alexandre e Rufo em 15.21 [veja também Rm 16.13]), e usa um centurião romano como testemunha chave em sua vindicação de Jesus como Filho de Deus (cf. 15.39).
Clemente de Alexandria, que afirmou ter sido o evangelho escrito a pedido dos crentes romanos, com o fim de preservar a tradição apostólica petrina.
Então, deixando-o, todos fugiram. E um jovem o seguia, envolto em um lençol sobre o corpo nu. E lançaram-lhe as mãos, mas ele, largando o lençol, fugiu nu” (14.50-52). Achamos que esse personagem que foge é o jovem João Marcos, e que essa vinheta é um tipo de assinatura dele no livro.
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