Ego transformado

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Texto Base

1Co 3.21 “Portanto, ninguém se glorie nos homens. Porque tudo é de vocês:”
1Co 4.1-7 “Assim, pois, importa que todos nos considerem como ministros de Cristo e encarregados dos mistérios de Deus. Ora, além disso, o que se requer destes encarregados é que cada um deles seja encontrado fiel. Mas a mim pouco importa ser julgado por vocês ou por um tribunal humano; nem eu julgo a mim mesmo. Porque a consciência não me acusa de nada. Mas nem por isso me dou por justificado, pois quem me julga é o Senhor. Portanto, não julguem nada antes do tempo, até que venha o Senhor, o qual não somente trará à plena luz as coisas ocultas das trevas, mas também manifestará os desígnios dos corações. E então cada um receberá o seu louvor da parte de Deus. Meus irmãos, apliquei estas coisas figuradamente a mim mesmo e a Apolo, por causa de vocês, para que por nosso exemplo vocês aprendam isto: “Não ultrapassem o que está escrito”, para que ninguém se encha de orgulho a favor de um em prejuízo de outro. Pois quem é que faz com que você sobressaia? E o que é que você tem que não tenha recebido?…”

Pontos iniciais

Quais são as marcas de um coração radicalmente transformado por Deus? Se confiamos em Cristo, como deve ser nosso coração? Isso não é referente ao comportamento moral em si. Porque é perfeitamente possível fazermos uma série de ações virtuosas mas termos o coração cheio de medo, orgulho ou sede de poder. Estou falando sobre corações que foram transformados por Cristo desde a raiz e como isso se concretiza dia a dia.
Nesse trecho que lemos, existe uma clara divisão em uma igreja, uma igreja que foi fundada por Paulo e que está sendo cuidada agora por Apolo. Por causa disso diferentes pessoas desenvolveram certo tipo de vínculo com cada um desses. Assim um membro se sentia sendo guiado e discipulado por Paulo, outro havia sido discipulado e nomeado como líder por Apolo e assim por diante.
Em vez de os de Corínto se alegrarem por ter tido a oportunidade de se relacionar com qualquer um dos líderes, agora se valem desses relacionamentos como trampolim para um jogo de poder. Com isso surgem facções, e essas divisões fragmentam a igreja. Um reivindica o direito de ser líder porque foi discípulado por Paulo, o apóstolo por excelencia; outro por ser amigo do mestre importante. E assim por diante.
Nessa passagem, Paulo mostra que a causa da divisão é o orgulho e vanglória. Esse é o motivo dos desentendimentos, da falta de paz no mundo e das inimizades entre pessoas. Observe que no v21 Paulo já começa advertindo que “ninguem se glorie” e no 4.7 trás a pergunta “Por que você se orgulha”. Observe também que no v6 onde ele diz “ninguem se encha de orgulho a favor de um em prejuízo de outro”. Nada de orgulho, nada de vanglória diz Paulo, de forma que o que buscamos então é a humildade! E isso nos leva a um tema bastante importante "auto estima".
Até o Século XX as culturas mais tradicionais acreditavam que a auto estima elevada demais era a causa de todos os males da sociedade. O que provoca a maior parte dos crimes e da violencia? Por que as pessoas são maltratadas e cruéis? Por que cometem os erros que comentem? A resposta correta seria "a culpa era do hubris" palavra grega que significa soberba ou autoestima elevada demais. Mas hoje em dia, a base da educação contemporânea, a maneira de tratarmos encarcerados, o fundamento maior da legislação moderna e o ponto de partida de aconselhamento diz o contrario, diz que "as pessoas agem mal por falta de autoestima e por terem uma valorização muito baixa de si. Por exemplo: A razão do porque um homem espanca uma mulher ou as pessoas se tornarem criminosas seria o fato de essas pessoas terem uma valorização muito baixa de si. Mas a alguns anos atrás Lauren Slater publicou um artigo no New York Times chamado "The trouble with self-steem" (o problema da autoestima) e ela diz… "as pessoas com auto estima elevada são mais perigosas aqueles que as rodeiam do que as pessoas com baixa auto estima, e estar incomodado consigo mesmo não é a fonte dos maiores e mais dispendiosos problemas do nosso pais".
A verdade é que a ideia de que o mal comportamento é resultado de uma baixa autoestima é bastante atraente. Assim você não precisa fazer nenhum julgamento moral para lidar com os problemas da sociedade. Basta animar as pessoas e ajudá-las a se desenvolver em vez de repreendelas.
O interessante desse texto de 1Coríntios é que o apostolo apresenta uma maneira de entender a autovalorização, uma maneira de enxergar e uma maneira de vermos a nós mesmos que é completamente diferente tanto da cultura tradicional quanto da pós moderna. Paulo apresenta 3 coisas nesse texto:
1- A condição natural do ego humano
2- A visão transformada do eu (a qual Paulo havia descoberto e que se dá por meio do evangelho)
3- Como alcançar uma visão transformada do eu

A condição natural do ego humano

Em 1Co 4.6 Paulo exorta aos cristãos para não se orgulharem de uma pessoa em detrimento da outra e até aqui não temos nenhuma novidade em si, sabemos que orgulho é ruim. Porém Paulo não emprega aqui a palavra hubris mas sim uma palavra que somente Paulo usa na Bíblia e usa 5 vezes em 1Coríntios e 1 vez em Colossenses 2 a palavra physioõ. Muitos comentaristas chegaram a conclusão de que se trata de um tema específico de Paulo.
Ao usar a palavra Physioõ, Paulo está tentando ensinar aos de corinto algo especial sobre o ego humano. Essa palavra tem um sentido literal de algo inchado, superinflado, distendido, além do tamanho normal. Está relacionado a palavra “fole”, igual gaita de fole. Essa palavra lembra a imagem de um órgão distendido após receber uma quantidade imensa de ar. Foi bombeado tanto ar que o orgão está prestes a explodir. Paulo afirma que essa é a condição natural do ego humano.
Uma imagem como essa sugere quatro verdades sobre a condição natural do ego humano: Ele é vazio, dolorido, atarefado e frágil!
Vazio
A imagem revela que a um vazio no centro do ego humano, o ego humano é gigante, mas é gigante de nada, é como um balão, no centro é oco, mas ainda assim é gigante, gigante de nada. Um dos meus escritores preferidos Soren Kierkgard diz em seu livro Sickness unto death (doença que leva a morte) “Orgulho espiritual é a ilusão de que temos a competência, sem Deus, para conduzir a vida, desenvolver nosso próprio senso de valor pessoal e descobrir um grande propósito para dar sentido a vida”. Segundo Kierkgard o ego humano natural é fundamentado em algo além de Deus. O ego busca algo que lhe dê senso de valor, de singularidade e de propósito, nisso ele se apoia. E naturalmente se tentarmos colocar qualquer coisa no lugar que Deus deveria ocupar, vai sobrar muito espaço. Tudo que colocarmos vai ficar chacoalhando. O ego humano é vazio.
Dolorido
O ego distendido e superinflado dói. Você já percebeu que quando não temos nenhum problema no corpo não percebemos que aquele orgão se quer existe, por exemplo, se você sair caminhar agora, você não ficar reparando no movimento dos dedos do seu pé, ou a curvatura do seu joelho. Nós só analizamos coisas assim quando aquele membro apresentou algum problema anteriormente. Isso acontece porque ele so chama atenção quando algo está errado. O ego é como um cotovelo machucado, ele sempre dói, sempre fica chamando atenção para si, todos os dias, o tempo inteiro. É comum reclamarmos por exemplo que alguém feriu nossos sentimentos. Mas sentimentos não podem ser feridos! É o ego que se sente machucado - nosso eu, nossa identidade. Os sentimentos continuam ótimos, é o ego que dói! Caminhar não me machuca os dedos a não ser que ele já tenha algum problema. Da mesma forma, o ego não fica dolorido se não ouvesse algo muito errado nele. Dificilmente atravessamos um dia sem nos sentirmos esnobados ou ignorados, sem achar que somos idiotas ou nos atormentarmos. Isso acontece porque existe algo errado com nosso ego. Errado com nossa identidade, com a percepção que eu tenho do meu eu. O ego nunca se sente feliz, vive chamando atenção para si.
Assim em primeiro lugar o ego é vazio e em segundo lugar porque ele se assemelha a um estomago dilatado, ele dói. Em terceiro lugar, ele é atarefado
Atarefado
Ou seja, faz de tudo para ser notado, vive ocupado tentando preencher o vazio. É incansavel e sobre tudo em duas tarefas: comparação e vangloria. As duas aparecem no texto que lemos, Paulo não fala somente para não nos sentirmos orgulhosos, mas diz não se encha de orgulho em favor de um contra o outro. Essa é a própria essência do que significa ter um ego humano normal. Na tentativa de preencher o vazio e se livrar do desconforto da dor o ego vive se comparando com outras pessoas! C.S. Lewis escreve em seu livro Cristianismo puro e simples "O orgulho não se satisfaz em ter uma coisa, mas em te-la em quantidade maior do que os outros. Dizemos que as pessoas se orgulham de ser ricas, espertas ou bonitas, mas isso não é verdade! Elas ter orgulho de ser mais ricas, mais espertas e mais bonitas que os outros. Se todos fossem igualmente ricos, espertos e bonitos não existiria motivo de orgulho."
Em outras palavras, nos alegramos por ser mais do que alguem e não por ser em si, porque basta alguem ser mais do que nós que nosso ego volta a ficar dolorido! Isso acontece porque não tinhamos alegria verdadeira nessas coisas! Orgulho é o prazer de ter mais do que outro! Cobiça sexual faz um homem deitar com uma mulher porque ele deseja, orgulho faz um homem se deitar com uma mulher só para provar para ele mesmo ou para outros que é capaz!
Já viu aquelas mães que falam para o filho fazer algo como tocar um instrumento, ou fazer aula de luta, xadres ou sei lá o que mas o menino não quer, mas nos olhos da mãe isso vai fazer bem para o curriculo do garoto! É isso que o ego faz o tempo inteiro: Trabalhamos em coisas que não gostamos, fazemos dietas que detestamos. Realizamos todo tipo de coisa, não pelo prazer de realizar-las, mas apenas para construir um curriculo que impresione. Quando nos comparamos com os outros e tentamos nos sobressair, estamos nos vangloriando. Com isso, tentamos ser os melhores e desenvolver um currículo que aumente nossa autoestima, uma vez que estamos desesperados por compensar nosso sentimento de impotência e vazio. O ego vive ocupado, ocupadissimo, o tempo inteiro!
O ego é então vazio, dolorido, atarefado e por último é frágil!
Frágil
Isso acontece porque qualquer coisa superinflada corre o risco de estourar, como uma bexiga que alguém soprou demais! Se estou dilatado com ar em vez de estar abastecido com algo sólido, mas faz diferença se estou superinflado ou desinflado? Complexo de superioridade ou de inferioridade são a mesma coisa. Os dois resultam do fato de que a pessoa estava superinflada. A pessoa com complexo de superioridade está superinflada e corre o risco de ser desinflada; a pessoa com complexo de inferioridade já está desinflada. Se alguem se sente desinflado e se declara inferior, declara isso somente porque um dia esteve superinflada! Desinflado ou perigo iminente de ser desinflado é a mesma coisa! Uma vez a Vogue fez uma entrevista com a Madonna e ela exemplifica exatamente isso:
"O que me impulsiona na vida é o medo de ser mediocre. Esse medo é o que sempre me impele. Venço um de seus ataques e me descubro como um ser humano especial, mas logo continuo me sentindo medíocre e desinteressante, a menos que faça outra coisa espetacular. Apesar de ter me tornado alguém, ainda tenho que provar que sou alguem. Minha luta não terminou e acho que nunca terminará".
Temos que admitir uma coisa, Madonna se conhece, mais do que nós nos conhecemos.
Ela percebe que todos os dias tem que procurar aprovação de novo, por que? Porque meu ego é insaciavel! É um buraco negro. Podemos até achar que ela é neurótica dizendo isso mas a verdade é que o auto-conhecimento da cantora está melhor do que o nosso!
Esse é o estado natural do ser humano. É disso que Paulo está falando aos de Corínto! Todas essas pessoas que brigam por causa dele e reivindicam um relacionamento especial só estão exibindo uma tremenda dose de orgulho! São incapazes de apenas se deileitar na amizade que tem do apóstolo. Usam o relacionamento para afirmar que são mais importantes do que os outros membros da igreja! É o desejo de Paulo que essas pessoas vejam a diferença que o evangelho faz! No v3 e 4 Paulo mostra aos de conrínto como o evangelho transformou seu senso de valor próprio, como ele considera sua identidade, como seu ego funciona de um jeito totalmente diferente!

A visão transformada do eu

Vejamos o que Paulo diz no v1 e 2
1Coríntios 4.1-2 “Assim, pois, importa que todos nos considerem como ministros de Cristo e encarregados dos mistérios de Deus. Ora, além disso, o que se requer destes encarregados é que cada um deles seja encontrado fiel.”
Ele relembra aos de Corínto que ele é um ministro e tem um trabalho a realizar. Logo a seguir, explica a relação desse papel: 1Co 4.3-4 “Mas a mim pouco importa ser julgado por vocês ou por um tribunal humano; nem eu julgo a mim mesmo. Porque a consciência não me acusa de nada. Mas nem por isso me dou por justificado, pois quem me julga é o Senhor.” Pouco importa para Paulo ser julgado por qualquer homem sobre o seu ministério. A palavra ser julgado tem o mesmo significado de “ser alvo de um veredito”. Como acabamos de ver a história de Madonna, ela busca um veredito, uma aprovação ilusória. Paulo por outro lado não busca em corínto ou qualquer tribunal alguma aprovação. Paulo está dizendo claramente que não se importa com o que pensam dele. Não leva em consideração o que as pessoas seja elas quem forem, pensam dele. Na verdade a identidade do apóstolo está totalmente desassociada de qualquer pessoa. A identidade de Paulo pode não estar associada a opinião alheia, mas e quanto a nós? Como alcançamos esse estágio de não sermos controlados pela opinião dos outros. Muitas pessoas diriam que é fácil que a resposta é obvia “Os padrões das pessoas não devem nos influenciar”, “não devemos viver de acordo aos outros”, “O que interessa é o que penso sobre mim”, “O que interessa são os meus valores, aqueles que eu mesmo determino”. Em suma diriam: Decida o que você quer ser e seja, pois o que realmente interessa é como você se enxerga!
Ao que parece a sociedade só tem uma forma de lidar com a baixa autoestima. O remédio para eles é a autoestima elevada! Damos tapinha nas costas e dizemos “você é extraordinária”. Incentivamos ela a examinar tantas coisas incríveis que já fez na vida. Dizemos que ela tem que estabelecer os próprios critérios!
A abordagem de Paulo não poderia ser mais diferente. Pra ele tanto faz ser julgado pelos coríntios ou por um tribunal. Ele inclusive vai mais adiante. Ele diz que nem ele julga a si mesmo! 1Co 4.3-4 “Mas a mim pouco importa ser julgado por vocês ou por um tribunal humano; nem eu julgo a mim mesmo. Porque a consciência não me acusa de nada. Mas nem por isso me dou por justificado, pois quem me julga é o Senhor.” É como se o apóstolo dissesse “eu não considero a opinião de vocês ao meu respeito e nem mesmo a minha”. O fato de Paulo ter a consciencia limpa não o torna inocente, veja o que ele diz “Porque a consciência não me acusa de nada. Mas nem por isso me dou por justificado.”
A consciência de Paulo pode estar limpa, mas isso não faz dele inocente. Hitler talvez tivesse a consciência limpa, mas isso não o tornaria inocente!
O que Paulo responderia a alguem que lhe mandasse estabelecer os próprios padrões morais? Ele responderia que isso não passa de uma armadilha na qual ele não cairia, pois é ardil afirmar que não devemos levar em conta os padrões alheios e que devemos estabelecer nossas próprias normas. Isso não é resposta. Elevar autoestima vivendo de acordo com nossos critérios ou com critérios alheios parece uma solução espetacular. Mas não é o suficiente! Eu não consigo viver segundo os critérios dos meus pais - e isso me faz sentir péssimo. Não consigo viver segundo os meus padrões - e isso me faz sentir péssimo. Não consigo viver segundo os critérios da sociedade - e isso me faz sentir péssimo. Talvez seja melhor estabelecer meus próprios padrões, mas ainda assim não conseguiria viver de acordo a eles, a não ser que sejam frouxos! Mas padrões frouxos respondem a essa questão? De forma alguma! Isso vai fazer eu me sentir péssimo de qualquer forma pq vou perceber que tenho baixos padrões morais. Tentar alavancar a autoestima seguindo nossos critérios ou critérios de terceiros é uma armadilha. Não é a resposta!
Vendo assim Paulo não busca nos conríntios seu senso de identidade e também não busca em si mesmo, mas onde então o apóstolo começa a buscar esse senso de identidade? Cuidado! Nesse ponto Paulo sai totalmente da rota comum, ele avança por um território que é completamente desconhecido!
Paulo foi um homem de estatura impressionante. Acho difícil discordar daqueles que o colocam entre os 6 ou 7 maiores líderes da história. Paulo tinha grande estabilidade, profunda influência e uma incrível confiança. O apóstolo seguia adiante e nada o inquietava. Mesmo assim ele diz em 1Tm 1.15 “Esta palavra é fiel e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal.” Ele não diz eu era o principal, mas diz eu sou o pior deles. Isso foge muito de nossas categorias! Não estamos acostumados que pessoas tão confiantes que afirmam ser as piores desse mundo! Não estamos acostumados a ver pessoas tão honestas e tão conscientes de todo tipo de falhas morais - e ainda assim com equilibrio e confiança incríveis.
Nós não conseguimos ser assim e sabe por que? Por que julgamos a nós mesmos enquanto Paulo não faz isso! Quando Paulo afirma que não adimite que os coríntios o rotulem e também diz que ele mesmo não se julga, ele está dizendo que está consciente de seus pecados, mas não os conecta a sua identidade! Seus pecados e sua identidade não estão ligados um ao outro!
Paulo se recusa a entrar nesse jogo, ele não permite que seu pecado e suas falhas destruam sua identidade da mesma forma diante de um bom desempenho ele não se parabeniza! Ele enxerga todos os pecados que tem - e todos os tipos de realizações, mas se recusa a interliga-los a sua personalidade ou a sua identidade. Embora se considere o maior dos pecadores, esse fato não o impede de realizar a boa obra que foi chamado!
Não poderiamos ser mais diferentes de Paulo não é? Se me vejo como alguém ruim, não tenho autoconfiança. Se eu me achar como um pecador, cheio de orgulho, cobiça sexual, ira, ganância, entre outras coisas dessas que Paulo afirma ter o coração cheio, não terei confiança. Mas Por que? Porque eu julgarei a mim mesmo! Estabelecemos nossos próprios padrões e depois nos condenamos, o ego nunca ficará satisfeito! Nunca!
Paulo está afirmando algo impressionante “não me interessa o que pensam de mim e não me interessa o que eu penso de mim”. Que território desconhecido, o ego de Paulo não está inflado, está saciado! Paulo está falando sobre humildade, talvez essa palavra seja mal compreendida as vezes, mas em outras palavras Paulo está afirmando que alcançou um estágio no qual o ego não chama atenção para si como qualquer outra parte do corpo! Paulo alcançou um patamar em que não pensa mais em si mesmo. C.S Lewis afirma algo incrível em seu livro cristianismo puro e simples. "Depois de conversarmos com alguém que tem humildade do evangelho, o que impressiona é o quanto essa pessoa se interessou por nós. Isso porque a essência da humildade resultante do evangelho não é pensar em mim mesmo como se eu fosse mais, nem pensar em mim mesmo como se eu fosse menos; é pensar menos em mim!" A humildade do evangelho, mata a necessidade que tenho de pensar em mim. Não preciso ligar coisas a minha pessoa. Essa humildade dá fim a pensamentos como "Estou nessa sala com pessoas. Isso faz com que eu seja bem visto por elas? Estar aqui me faz bem? A humildade do evangelho significa que não relaciono cada experiência com a minha pessoa. Na verdade eu deixo de pensar em mim mesmo. É a liberdade que vem do autoesquecimento. É o descanso que somente o autoesquecimento pode nos oferecer!
A humildade verdadeira que brota do evangelho nos da um ego satisfeito e não inflado. Estamos falando de autoestima elevada? Não. De baixa autoestima? De jeito nenhum! Isso em nada se relaciona com autoestima. Paulo não entra no jogo da estima.
A pessoa verdadeiramente humilde não é aquela que se odeia ou que se ama, e sim a que tem humildade do evangelho. É uma pessoa que se esquece de si mesma como se seu ego fossem seus dedos do pé! Simplesmente exerce uma função, não imploram por atenção!
Aqui vai um teste bem simples. A pessoa que se esquece de si mesma não se sente ferida, não fica mal quando criticada. A critica não acaba com ela, não lhe tira o sono, não incomoda. Por que? Porque a pessoa que se sente arrasada com a critica valoriza demais o que os outros pensam! E ai o mundo a convida a uma reação "Quem se importa com o que os outros pensam? Tenho minha opinião própria. Quem se importa com o que essa gente pensa? Não me incomodo com isso". Ou as pessoas são arruinadas pela crítica, ou a crítica não impacta ela porque ela não liga! Em outras palavras nossa solução pra baixa autoestima é o orgulho! E tanto a baixa autoestima, como o orgulho são venenos terriveis para sua vida! Quem tem ego satisfeito e não inflado, não se deixa abater pelas críticas. A pessoa ouve a crítica e entende como uma oportunidade para mudança. Quanto mais compreendemos o evangelho, maior é o nosso desejo de mudar.
Você não gostaria de ser alguem que não precisa de elogios? Alguem que não tem fome de reconhecimento - nem morre de medo dele? Não gostaria de se ver em um espelho e não ficar se admirando mas também não sentir repulsa? O tipo de pessoa que não fica imaginando belas jogadas que terminam em gols da autoestima, sonhando com o sucesso que o colocará acima de todos? Talvez você viva massacrado e torturado pelos remorsos. Não gostaria de se libertar de tudo isso? Não gostaria de ser medalha de prata na natação e mesmo assim ficar entusiasmado porque a medalha de ouro venceu com mais de um corpo a sua frente? Não gostaria de admirar a conquista do opositor da mesma forma que admira o nascer do sol? Simplesmente encantar-se com a realização do outro? Não importa se o sucesso foi dele ou seu, não interessa quem alcançou o primeiro lugar no pódio. Você fica tão feliz pela conquista como se a vitória fosse sua, porque acabou de presenciar algo fantástico!
Provavelmente vai me dizer que não conhece ninguem assim, mas podemos ser se continuarmos os passoa de Paulo. Posso me alegrar com as coisas que não giram em torno de mim. Meu trabalho não gira em torno de mim, o esporte que pratico não gira em torno de mim, minha vida amorosa não gira em torno de mim. Apreciar as coisas pelo que elas são e nada mais! Elas não serão mais um item no currículo, nem servirão para ocupar um vazio. Isso está fora de nossas categorias, isso é autoesquecimento!
É não pensar em mim mesmo como se fosse mais do que sou, como nas culturas modernas, nem pensar em mim mesmo como se fosse menos do que sou como nas culturas tradicionais. É simplesmente pensar menos em mim!

Como alcançar uma visão transformada do eu

Como Paulo alcançou esse bendito autoesquecimento? Primeiro vimos que Paulo não busca aprovação de homens, depois vimos que nem o próprio Paulo se aprova, em seguida ele diz “A consciencia não me acusa de nada mas nem por isso me dou por justificado”, a palavra justificado é uma palavra também utilizada para inocente! A mesma que Paulo usa em Romanos e Gálatas. Aqui para Paulo, mesmo que sua consciencia esteja limpa, isso não o torna inocente!
O que Paulo busca, o que a Madonna busca, o que nós buscamos é um veredito definitivo que afirme que somos importantes e valiosos! Buscamos esse veridito todos os dias em pessoas e situações ao nosso redor. Isso significa que todos os dias estamos sob julgamento! Todos os dias nos colocamos de novo em um tribunal! Mas você notou que Paulo fala que não se importa com o que os conríntios pensavam e nem um tribunal humano? Por que tribunal, se os de corínto não tem nada a ver com tribunal? É estranho que se refira a isso! Paulo está usando uma metafora. Com isso ele afirma que independente se nossa autoestima é auto ou baixa, todos os dias voltamos aos tribunais. Dia após dia nos vemos novamente diante de um julgamento! É assim que funciona a identidade de cada um. Em um tribunal, temos acusação e defesa. Em alguns dias sentimos que estamos vencendo o julgamento em outros perdendo. No entando Paulo descobriu o segredo: "O julgamento dele está encerrado". Ele já deixou o tribunal, o processo está concluído! Acabou, porque o veredito definitivo, foi anunciado! Como isso aconteceu?
Paulo explica de forma simples! Ele sabe que ninguém poderá justificá-lo. Ele sabe que nem mesmo ele poderá se inocentar. E o que ele afirma então? É o senhor quem julga! A opinião de Deus é a única que interessa!
Você já notou que somente no evangelho um veredito que é Jesus Cristo é dado antes de desempenharmos nossas ações? O ateísta pode dizer que sua autoimagem advém de ser uma pessoa correta. Ele é uma pessoa correta e espera um dia receber um veredito conforme isso. Seu bom desempenho leva esse veredito. Também para o budista, o bom desempenho conduz a esse veredicto. Se você é muçulmano, o bom desempenho te levará ao mesmo veredito! Isso significa que para qualquer um desses, todos os dias estão diante do tribunal. Todo dia sob julgamento! Esse é o problema! Paulo está dizendo "o veredito já foi dado e ele é quem leva o desempenho e não o desempenho ao veredito"!
No cristianismo, no momento em que cremos, o verdito é cravado! Rm 8.1 “Agora, pois, já não existe nenhuma condenação para os que estão em Cristo Jesus.”
No cristianismo assim que cremos Deus nos imputa as ações perfeitas de Cristo, seu desempenho como se fosse nosso e nos adota como filhos! Ele pode nos dizer assim como disse a seu filho Mc 1.11 “Então veio uma voz dos céus, que dizia: — Tu és o meu Filho amado, em ti me agrado.”
O veredito já foi anunciado, agora nossas ações são por causa do veredito
Como Deus me ama, eu não preciso fazer coisas para apenas melhorar meu curriculo! Não tenho de fazer as coisas para parecer bom. Faço-as só pela alegria de realiza-las. Ajudo as pessoas porque quero de fato ajudar - não para me sentir bem, não para preencher o vazio.
Com todas as outras formas de identidade, com todos os dintintivos que queiramos colocar em nosso peito, com tudo aquilo que nos premiamos o que sempre acontece é que o veredicto provem do desempenho. Podemos nos sentir seguros ao nos rotularmos de pessoas corretas, pessoas religiosas, pessoas descentes. Seja o que for, nada muda: o desempenho ou nossas ações nos levam ao veredito! Mas o veredicto nunca chega! Madonna afirmou isso, e ela entende do assunto. Madonna faz coisas que eu e você jamais vamos fazer - mas não são o suficiente. Mesmo apesar de tudo o que ela faz, ela afirmou que ainda não encontrou o veredicto que procura! O desempenho jamais alcançará o veredicto supremo
No cristianismo por outro lado, o veredicto nos garante o desempenho. Acredite, de fato, o veredicto nos garante desempenho. Como assim? A resposta de Paulo é que ele deixou o tribunal, não está mais sendo julgado. Por que? Porque Jesus Cristo foi julgado em seu lugar. Jesus esteve diante do tribunal. Esteve sob julgamento. Foi um julgamento injusto de um tribunal corrupto, mas ele não reclamou. Igual ovelha perante tosquiadores, ele ficou calado. Ele foi golpeado e espancado até a morte. Por que? Para nos subistituir. Ele recebeu a condenação que mereciamos; encarou o julgamento que deveria ser nosso para que não precisássemos enfrentar mais nenhum julgamento. Só tenho de pedir que Deus me aceite por causa de Jesus. Então a única pessoa cuja opinião realmente interessa se volta para mim e diz que sou mais valioso do que todas as jóias desse mundo.
Como poderemos nos preocupar se formos desprezados? Por que ficarmos infelizes se formos rejeitados? Por que dar tanta atenção à imagem refletida no espelho?
Eu quero me dirigir a você que nunca ouviu nenhuma dessas coisas. Talvez você deseje acreditar em tudo isso, mas ouça o que quero lhe dizer: Algumas pessoas não entendem a diferença entre identidade cristã e outros tipos de identidade. Até se considerarem cristãs, pensam que se comportam de modo correto, frequentam igreja e esperam um dia Deus as levar para uma morada celestial. Mas posso garantir que a identidade cristã opera de forma totalmente diferente de outras identidade.
O autoesquecimento nos tira do tribunal. O julgamento acabou. O verdito foi proferido. Talvez tudo isso seja novidade para você. Continue buscando. Continue investigando. Continue indagando, há muito a ser descoberto. Aqui tratei de muito assunto em pouco espaço. Há muitas peças que ainda se encaixam nesse quebra cabeças.
Por que Jesus teve de morrer? Por que ele ressucitou dentre os mortos? Ele era mesmo o filho de Deus? Continue investigando até compreender toda a história. Mas pode ser também que sua situação seja diferente - você crê no evangelho, talvez até creia a muito tempo, mas quem sabe você está sendo arrastado para um tribunal todos os dias. Sente que não vive como Paulo mostra ser. Tudo que lhe digo é que temos que reviver o evangelho cada vez que oramos. Temos que revivê-lo sempre que vamos a igreja. Temos que reviver o evangelho a todo instante e perguntar a nós mesmos, por que ainda estamos nesse tribunal? Ali não é mais nosso lugar, o julgamento terminou! Da mesma forma que Paulo podemos afirmar "Não me importo com o que pensam, tampouco com o que eu mesmo penso. Só me interessa o que o Senhor pensa". E o Senhor afirmou Rm 8.1 “Agora, pois, já não existe nenhuma condenação para os que estão em Cristo Jesus.”
Mc 1.11 “Então veio uma voz dos céus, que dizia: — Tu és o meu Filho amado, em ti me agrado.” Viva nessa verdade
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