[CURSO] Interpretação &Pregação Bíblica

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O Começo

De onde o aluno está começando?
O aluno interessado no curso Pregação Bíblica e Simples é um cristão que deseja se capacitar para, em primeiro lugar, pregar e anunciar a Palavra do Senhor de maneira fiel. Geralmente, não se trata de alguém novo na fé, mas que já tem alguns anos de caminhada cristã e deseja ser capacitado para servir ao Senhor.
O que ele já sabe?
Ele já sabe, ainda que de modo parcial, que a pregação requer preparo espiritual e técnico. Já sabe que seu objeto de estudo e atenção - a Bíblia - é a sagrada Palavra de Deus e que querer anunciá-la envolve mais do que apenas vontade, mas, também, amor e desejo pelo conhecimento de Deus.
O que ele quer?
Ele quer aptidão para pregar. Ele conhecer técnicas de interpretação e aplicação dos textos bíblicos. Ele quer se sentir confiante de que, ainda que vá pregar de um jeito simples, consiga, pela capacitação do Espírito, pregar de modo fiel.

O Fim

Ao finalizar o curso, o que o aluno saberá?
O que ele vai conseguir fazer agora que ele não conseguiria antes?

Conceito core do curso/aula

Se o aluno tiver que tirar um único aprendizado do curso/aula, qual seria?

Currículo do curso

Introdução à hermenêutica
O começo do assunto (prolegômenos)
Hermenêutica Geral (1, 2 e 3)
Figuras de linguagem
Gêneros literários
Narrativa
Literatura poética
Epístolas
Profecia
Aplicações práticas da Bíblia

Introdução à Hermenêutica

Em virtude de a Bíblia ser um livro público e acessível a todos os que querem conhecê-la ou têm interesse nela (legítimo ou ilegítimo), o que se vê são muitas distorções na interpretação de seu conteúdo, que, na verdade, são provenientes de preferências e conveniências de seus leitores e intérpretes. Cada um se julga no direito de opinar, concluir, propor ou até mesmo acrescentar conteúdo à Bíblia simplesmente por possuir um exemplar dela em mãos.
Quando deparamos com o texto bíblico, podemos adotar duas posturas que caminham em sentidos opostos: (1) manejar bem a palavra da verdade (2Tm 2.15) ou (2) mercadejá-la, distorcendo-a para nossa própria ruína como intérpretes (2Co 2.17; 2Pe 3.16).
2 Timothy 2:15 ARA
15 Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.
2 Corinthians 2:17 ARA
17 Porque nós não estamos, como tantos outros, mercadejando a palavra de Deus; antes, em Cristo é que falamos na presença de Deus, com sinceridade e da parte do próprio Deus.
2 Peter 3:16 ARA
16 ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles.
Sabemos, entretanto, que essa tensão não é nova. Há quase 2.000 anos, o apóstolo Pedro asseverou que, dada a dificuldade de compreensão de algumas passagens das Escrituras, muitos simplesmente as distorceriam (2Pe 3.16). Pedro chamou tais pessoas de "ignorantes e inconstantes" e declarou que o fim delas já estava predito: a própria destruição.
2 Peter 3:16 ARA
16 ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles.
Em nossos dias, à semelhança da época de Pedro, temos presenciado, lido e ouvido verdadeiras barbaridades em relação à interpretação fidedigna das Escrituras. São verdadeiros atentados contra os propósitos dos autores bíblicos e do próprio Deus.
Uma correta interpretação da Bíblia envolve mais do que simplesmente ler o texto ou ter boa vontade para compreendê-lo. Envolve conhecimento, profundidade, dedicação, compromisso com a doutrina bíblica e dependência do próprio Deus. Por isso, o desafio de todo leitor, estudante e ministro da Palavra de Deus é lê-la, compreendê-la e interpretá-la preservando o sentido original e presumido pelos autores bíblicos.
Ao longo da história, sempre houve momentos tensos em que a compreensão correta das Escrituras foi posta de lado em prol de uma interpretação:
alegórica, em que o intérprete atribui sentidos ocultos e atípicos ao significado usual das palavras;
estritamente científica, em que o intérprete se centra no texto em busca de uma suposta reconstrução histórica e original, sem dar o devido valor à autoria;
pragmática, em que o intérprete julga a interpretação do texto bíblico com base na sua finalidade prática de resolver de imediato um problema na vida de alguém, não levando em consideração os conflitos ou incoerências teológicas mais profundos que essa interpretação poderia gerar.
Ao que parece, a pergunta que o etíope eunuco fez a Filipe ainda ecoa nos dias de hoje: "Como poderei entender, a não ser que alguém me ensine?" (At 8.31). Como entender, se não há quem ensine? Como ensinar sem primeiro entender?
Resposta: entender para ensinar a fim de que a Palavra de Deus seja corretamente entendida. Tais dilemas deveriam ficar latejando na mente de todos aqueles que diária ou semanalmente ministram em suas igrejas e seminários.
Diante disso, uma correta hermenêutica nos auxiliará a olhar para o texto bíblico buscando compreendê-lo e aplicá-lo de forma correta e adequada à vida cristã, seja em que âmbito for. Essa postura nos levará a evitar erros ou tendências como: (1) má leitura do texto - ler o que o texto não diz; (2) distorção da passagem - ler o que quero que o texto diga; (3) agnosticismo - não ler porque não há como saber ou entender o que o texto diz; (4) relativismo - ler o texto tendo em vista que seu sentido final depende de quem o lê.
Por esses e tantos outros motivos, uma hermenêutica bíblica correta mostra-se mais necessária do que nunca, principalmente porque ela nos ajuda a lidar com a revelação escrita de Deus, o autor divino das Escrituras, que, com intenção e propósito, nos deixou revelada sua vontade nas páginas da Bíblia - vontade esta que não é mística, oculta ou surreal, mas compreensível e acessível a todos quantos estão dispostos a se apropriar dela por meio de um estudo sério, comprometido, organizado e sistemático, o qual envolve tanto o labor acadêmico como o deleite espiritual e devocional.

TENSÕES DO PASSADO E DOS TEMPOS ATUAIS

Segundo observa Carson, "cada debate na história da igreja está condicionado, em parte, pelas considerações hermenêuticas". E é justamente por isso que todo movimento teológico é, em essência, ou uma reação a preferências ou a princípios hermenêuticos aplicados ao texto bíblico, ou é uma consequência deles.
Nesse sentido, a Reforma Protestante foi, em grande medida, uma profunda reforma hermenêutica na igreja cristã. A rejeição reformada à tradição católica como lente hermenêutica para a leitura do texto sagrado fez com que os reformadores se voltassem para o método histórico-gramatical, defendendo que Sola Scriptura era a fonte primária e a verdade final em matéria de fé e prática de vida cristã. A Reforma foi um retorno às Escrituras. Não por acaso, João Calvino foi chamado de "o exegeta da Reforma"?
Na tarefa hermenêutica, "determinar o sentido de um texto não é uma tarefa simples. Para que a interpretação exista, deve haver um autor um texto e um intérprete (leitor ou ouvinte), e é precisamente esse tríplice relacionamento que pode causar confusão"1 Em outras palavras, como diz Brown, "tem sido geralmente reconhecido que autores, textos e leitores são "parte da equação na comunicação escrita. O que tem sido e continua a ser debatido é o papel de cada um na produção do sentido comunicado" 11
A história da hermenêutica foi escrita com base em polarizações, interações e/ou tensões entre pelo menos um dos elementos constituintes apresentados no diagrama hermenêutico a seguir. Em virtude da influência que cada um desses elementos pode vir a exercer na interpretação, a questão a ser respondida foi e continua a ser: o sentido autoritativo de um texto é determinado pelo texto em si, pela intenção do autor ou pela resposta do leitor?
Quando um desses pontos do triângulo prevalece sobre um dos outros dois ou o negligencia, surgem sérios problemas na tarefa da interpretação. Na discussão contemporânea, como veremos adiante, é nos vértices Leitor e Texto que se concentra boa parte da história recente da interpretação bíblica. Isso ocorre especialmente porque filósofos, linguistas e críticos literários, como Roland Barthes e Jacques Derrida, propuseram a chamada morte do autor.
Se admitirmos que a relevância da interpretação está apenas no "Leitor" e no "Texto", então a tarefa hermenêutica será conduzida pela prerrogativa de que o texto carrega em si todo o seu sentido e é desprovido de qualquer intenção autoral, uma vez que houve um divórcio entre o autor e o texto. Por outro lado, como defenderá Hans-Georg Gadamer, o texto, que está aberto para uma interação dialética com o leitor atual, o qual, por sua vez, possui seus próprios pressupostos e horizontes pessoais, está sujeito a interpretações particulares de quem dele se apropria.

O começo do assunto (prolegômenos)

HERMENÊUTICA

Para Zuck, a "interpretação é a etapa que nos transporta da leitura e da observação do texto para a aplicação e prática".' E para Nicodemus, em uma definição que complementa o que diz Zuck, "interpretar é entender um texto existente, apreender seu sentido e aplicá-lo à situação presente"2 Em tese, a hermenêutica visa a tornar o texto bíblico claro e compreensível, por meio da explicação do seu sentido original.
A hermenêutica bíblica envolve ciência e arte na leitura e interpretação dos textos da Palavra de Deus. Envolve ciência, pois, como disciplina metodológica, é composta de um conjunto de regras e princípios regulamentadores para uma correta compreensão da passagem em estudo. Nossa leitura/ interpretação da Bíblia não pode ser aleatória nem pode ocorrer à revelia desses princípios balizadores. Eles existem para nortear - e até proteger - a maneira como lemos e entendemos as Escrituras. Nem sempre os leitores da Bíblia param para refletir sobre como têm lido a Bíblia e sobre os métodos ou princípios que devem ser seguidos para compreendê-la corretamente. Simplesmente a leem.
A hermenêutica bíblica também envolve arte, pois ela requer dedicação, prática e insistência na aplicação de regras e princípios. Aprenderemos a interpretar corretamente a Bíblia, de fato, quando praticarmos esses princípios na leitura diária das Escrituras, no preparo de um estudo ou sermão, no estudo da Bíblia com um novo convertido e em tantas outras oportunidades de estudo que surgirem.
Como disciplina acadêmica, a hermenêutica ocupa-se de princípios que envolvem tanto regras gramaticais, lexicais, sintáticas e literárias como informações culturais e contextuais, que nos proveem de ferramentas que contribuem para a interpretação do texto. A hermenêutica existe com o propósito de capacitar o estudante a interpretar corretamente - de modo prático e habitual - textos bíblicos a partir de princípios hermenêuticos que o conduzam tanto à compreensão dos textos quanto à edificação pessoal dele e das pessoas a quem ministra.
Diante disso, as grandes questões a ser respondidas pela hermenêutica são: por que, como, o que e onde está escrito o que está escrito no texto?
Por quê? Implica descoberta de razões, propósitos e intenções do autor do texto.
Como? Envolve análise do estilo e da forma em que uma mensagem foi expressa.
O quê? Refere-se ao texto em si, suas palavras e arranjos gramaticais.
Onde? Indica o posicionamento da passagem no fluxo de raciocínio do autor, bem como no arranjo mais amplo do livro ou mesmo do Testamento.
Infelizmente, respostas bíblicas corretas e fidedignas a essas questões não têm chegado a todos os públicos da igreja. Os santos nem sempre têm sido preparados para compreender por eles mesmos as Escrituras. Assim sendo, uma vez que não conhecem nem compreendem de forma adequada e correta a Palavra do Deus Eterno, a conduta prática na vida diária e também suas conceituações e convicções teológicas são negativamente afetadas. É contra isso que Jesus assevera em Mateus 22.29, respondendo à ignorância dos saduceus: "Este é o vosso erro: não conheceis as Escrituras nem o poder de Deus".

Hermenêutica e pressupostos

Em alguns círculos teológicos acadêmicos, muito se tem dito sobre a necessidade de eliminação de pressupostos na leitura e/ou interpretação da Bíblia. Essa postura admite a possibilidade de nos despirmos, ainda que por um momento, de convicções prévias para só depois nos lançarmos à leitura bíblica, livres de pré-conceituações e preparados para deixar que a Bíblia - e ela somente - descortine a nós seu sentido original. Essa sugestão parece propor que se faça mais uma abstração intelectual e espiritual do texto bíblico do que propriamente um exercício reflexivo em que nos valemos de nossa capacidade mental para a leitura e interpretação da passagem em estudo.
Entendo as boas intenções que estão por detrás de ideias como essa.
Afinal, essa parece uma tentativa de fazer com que a Bíblia fale por si mesma, sem qualquer imposição externa. Essa motivação, em alguns casos, parece legítima. No entanto, vejo essa proposta com muita estranheza, pois em minha própria experiência percebo que não é possível desvencilhar-se de conceitos teológicos previamente formulados e que servem tanto de base quanto de baliza para minha leitura e interpretação das Escrituras - base, pois é a partir de e sob essas convicções que todo o restante de nossas percepções bíblicas são formuladas e fundamentadas, e baliza, pois esses postulados orientam tanto a leitura quanto as conclusões a que chegamos sobre textos e assuntos até então desconhecidos ou não compreendidos.
Não há como não partirmos destas convicções: Deus existe e é real, propositivo na revelação escrita de sua vontade; essa revelação foi conduzida e inspirada pelo próprio Deus; essa revelação é a fonte primeira e final de autoridade para a vida de todos quantos pertencem a Deus.
O desafio, portanto, não é negar a existência de pressupostos, mas é levar as pressuposições que a própria Bíblia nos apresenta para a leitura interpretação da passagem bíblica.
A Bíblia é muito categórica em suas afirmações. Nem sempre há nela a preocupação de provar ou mesmo de defender a legitimidade ou veracidade de tais afirmações. Os autores humanos partem de certas pressuposições que, pela maneira como foram reveladas e escritas, são inquestionáveis ou irrevogáveis. São justamente esses pressupostos que a própria Bíblia estabelece que devemos adotar tanto antes de fazermos nossa leitura e interpretação quanto durante esse processo.
Tendo em vista os propósitos deste livro, bem como as limitações de tempo e espaço de que dispomos para discutir o assunto, partiremos de alguns pressupostos bibliológicos que nortearão toda a nossa abordagem do texto bíblico e da tarefa hermenêutica:
As Escrituras são um livro de dupla natureza, em que há Deus como o autor divino original (2m 3.16) e os demais autores humanos, que, por sinal, se submeteram totalmente a Deus e foram conduzidos por ele no processo de escrita (2Pe 1.19-21).
A Bíblia, como revelação de Deus, é a fidedigna, inerrante e infalível Palavra de Deus (Ef3.5; 2Tm 3.14-17).
Há unidade entre o Antigo e o Novo Testamentos como porções distintas de um mesmo documento (Mt 5.17-20; Lc 4.21; 24.44;Hb 1.1-3) - a unidade entre os testamentos, todavia, não impede a existência de certas continuidades e descontinuidades de temas, abordagens, ênfases, semelhanças e/ou dessemelhanças entre os muitos elementos e verdades expostos ao longo da Bíblia.
A Bíblia, como a verdade revelada de Deus, é, portanto, a autoridade primeira e última para o cristão, servindo-lhe de regra de fé e prática e norteando-o a uma vida plena e agradável com Deus (Jo 17.17;S1 119.9,11).
Apesar das limitações naturais e imperfeições morais dos seres humanos, é possível ao cristão, sob a iluminação do Espírito Santo, ler corretamente, compreender, assimilar e praticar essa verdade divina (Jo 14.26; 16.7-15).

Sentido e significado

É preciso também fazer distinção entre sentido e significado. Percebo que a má conceituação desses termos tem causado confusão na mente e na tarefa tanto de intérpretes da Bíblia quanto de seus leitores e/ou ouvintes.
Para muitos, a Bíblia tem vários sentidos. É como se ela produzisse um novo sentido a cada vez que nos deparamos com suas verdades. Para outros, cabe ao leitor produzir o sentido do texto, sendo a Bíblia uma mina inextinguível de sentidos. Esse tipo de leitor atribui um novo sentido à passagem bíblica cada vez que a lê. Todavia, se essa pluralidade de sentidos fosse verdadeira, teríamos de admitir também uma pluralidade de interpretações de um mesmo texto bíblico. E, em decorrência disso, não existiria um único sentido no texto, e o sentido original se tornaria inacessível devido à distância cultural, cronológica e linguística do escrito antigo em relação ao leitor contemporâneo/atual. Assim, a cada nova leitura de um mesmo texto, uma nova interpretação seria possível e cabível.
Partindo do pressuposto de que a Bíblia é um livro de dupla autoria (o autor divino, Deus, que, inclusive, inspirou o autor humano de forma plena e verbal), temos de aceitar o fato de que o sentido do texto advém desses autores, e não dos leitores. Se havia um propósito original pretendido tanto por Deus quanto pelo autor humano ao escrever o que foi escrito, então esse deve ser o sentido original da passagem, que, com certeza, surgiu em um contexto histórico específico, foi direcionada a destinatários específicos e foi influenciada pela cultura de sua época, entre vários outros fatores.
Atribuo a seguinte definição ao termo sentido: a verdade presumida ou pretendida pelo autor original tendo em vista o público específico para o qual endereçou sua mensagem. Por isso, uma passagem bíblica sempre terá um único sentido, o qual foi presumido e pretendido pela dupla de autores das Escrituras: o próprio Deus e o autor humano.
No entanto, precisamos ainda entender o que seria o significado de uma passagem bíblica, que é a aplicação prática do sentido original/ao longo da história, inclusive nos dias de hoje. O significado pode ser de fato variado e multiforme, em dependência do leitor e de seu contexto presente. Todavia, ele terá de corresponder necessariamente aos intentos originais do sentido da passagem bíblica: Sentido e significado, embora existentes em contextos distintos, devem estar próximos o suficiente para refletir os propósitos originais do texto.
Em termos práticos, contrariando propostas de alguns intérpretes contemporâneos e defensores da hermenêutica “reader response” a peregrinação de Israel pelo deserto, saindo do Egito sob a liderança de Moisés e rumando para a Terra Prometida (cf. Êxodo), não pode ser interpretada sob a ótica das minorias oprimidas que desejam e precisam romper com os sistemas opressores nos quais se encontram. Essa interpretação está errada. Israel é Israel. Moisés é Moisés. Egito é Egito. Deserto é deserto. Canaã é Canaã. Trata-se de povos, pessoas e lugares históricos e reais.
No entanto, à luz de uma interpretação correta dessa passagem bíblica e de tantas outras, podemos apresentar aplicações práticas para o leitor cristão contemporâneo de tal forma que a Escritura Sagrada, por ser "divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça", possa falar ao seu coração e lhe trazer desafios, "a fim de que o homem de Deus tenha capacidade e pleno preparo para realizar toda boa obra" (2Tm 3.16,17).
Quando fazemos essa conexão entre sentido e significado, entendemos o que Deus quis comunicar e ensinar quando inspirou Paulo, Pedro, Moisés, o rei Davi e os demais autores bíblicos a escrever exatamente aquilo que ele desejava. E nós, leitores contemporâneos, podemos então olhar para o texto bíblico e ver nele não apenas palavras escritas ou expressões soltas sobre um passado remoto, mas a verdade e a vontade de Deus para seu povo ao longo de toda a história. Trata-se da transposição do abismo existente entre o lá e o então (contexto e leitores originais) e o aqui e o agora (contexto e leitores contemporâneos). Assim, o sentido do texto é uno, embora seus significados ou aplicações possam ser múltiplas.
Estas são algumas passagens bíblicas que demonstram a distinção entre sentido e significado na prática dos próprios autores ou intérpretes originais das Escrituras:
Quando Moisés escreveu Deuteronômio, ele não deu um novo sentido às muitas leis que já haviam sido promulgadas por Deus por ocasião da libertação do Egito e do Exodo. Em Deuteronômio, Moisés transporta e amplia a compreensão do texto do passado para outra geração que enfrentaria novos desafios.
Profetas do Antigo Testamento, como Isaías, Zacarias, Malaquias e outros, que tiveram de lidar com o povo de sua época, estão sempre relembrando à nação a Lei, a ação e a vontade de Deus que deveriam ser praticadas naquele tempo presente. De alguma forma, os profetas apontavam para o Pentateuco, escrito séculos antes, para assim confrontar a realidade presente daquela geração, a fim de que as devidas asseverações, advertências, disciplinas ou correções pudessem ocorrer.
Jesus, em Mateus 5 (v. 21,27,33,38,43), interpretando uma série de prescrições legais do Antigo Testamento, acrescenta novas práticas que eram compatíveis com esses princípios, mas que em muito transcendiam o simples ritualismo da Lei, como o que era vivenciado pelos fariseus de seu tempo.
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