Os Benefícios da Tribulação

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Sermão: Tiago 1:1-12

Pregador: Pr. Rodrigo Serrão

Introdução

Estamos diante de uma das mais duras cartas do Novo Testamento.  Ela foi escrita pelo meio-irmão de Jesus Tiago aos Judeus-Cristãos da diáspora, ou seja, fora da Palestina.  Esta carta, por ser endereçada a estas pessoas soa bastante como Velho Testamento.  Há muitos paralelos com Levíticos, Provérbios, e Sabedoria.

A maior preocupação de Tiago é levar ao entendimento das pessoas que fé não é estática, mas dinâmica.  Uma vez que você crer para a salvação (teologicamente fé salvífica), agora a fé age. 

·         A fé não apenas sabe das injustiças na terra, mas ela age contra elas

·         A fé não somente sabe do plano de Jesus para a humanidade, ela age para levar este plano a cabo. 

·         A fé não somente sabe que devemos amar a Deus, o próximo, e os inimigos, mas ela de fato age proativamente em amor.

A ênfase nesta fé que é prática levou alguns Reformadores a desconsiderar a importância deste importante documento. O maior exemplo é o de Martinho Lutero, que achava que esta carta contradizia o ensino de Paulo acerca da fé.  Contudo, um estudo mais aprofundado da carta vai mostrar como Lutero estava errado e como Tiago e Paulo estão falando de momentos diferentes da MESMA FÉ.

Contudo, este caminho da “fé que age” começa com Deus trazendo tribulações e lutas na vida do cristão.  E porque Deus faz isso com aqueles pelo qual Ele morreu?

1.      A tribulação nos leva ao caminho da maturidade cristã (teste da fé genuína) (v.2-4)

Tiago inicia sua carta falando de cara sobre um assunto que para muitos gera desconforto.  Ele fala sobre sofrimento e tribulação.  Claro que Tiago não fala deste assunto por que ele é um masoquista ou por ser alguém que se deleita no sofrimento pessoal e do próximo.  Tiago fala não da tribulação em si, mas do processo interior de crescimento pessoal que a tribulação causa no ser humano. 

Paulo também fala desses benefícios em sua carta aos Romanos cap. 5:2b-5 “...e gloriemo-nos na esperança da glória de Deus. E não somente isso, mas também gloriemo-nos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a perseverança, e a perseverança a experiência, e a experiência a esperança; e a esperança não desaponta, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.”

Existe um processo para o amadurecimento do cristão e a tribulação faz parte deste processo, e mais, a tribulação é o primeiro passo deste processo.   É por isso que Tiago nos manda ter alegria na tribulação e Paulo nos manda gloriar nela, pois, caso contrário, iremos sucumbir em nossas próprias indagações (os tantos porquês que perguntamos) e não alcançaremos o propósito divino ao passarmos por lutas.

A questão do teste divino da fé não era novidade para os judeus.  Na verdade existe uma tradição na historia de Israel acerca da provação da fé daqueles que andavam com Deus.  Abraão é o maior exemplo de sucesso.  Ele teve sua fé provada e aprovada várias vezes em sua jornada, desde a sua saída de Ur dos Caldeus (pela fé) até a ordem de Deus para sacrificar o filho da promessa, Isaque.  Em todas essas provações Abraão foi obediente e confiante no que Deus poderia fazer para reverter qualquer situação adversa. 

O povo no deserto é o maior exemplo de fracasso.  Várias vezes provados no deserto, o povo como um todo (salvo algumas exceções) falharam em permanecer firmes diante das tribulações que Deus enviava.   Eles não conseguiam contemplar o propósito de Deus em tudo que eles estavam passando.  Eles não perseveraram em suas tribulações, ou seja, o caminho do crescimento deles não se completou.  Eles falharam e não foram recompensados por não confiarem em Deus em meio às tribulações. 

Agora a minha pergunta é:

·         Como você tem encarado a tribulação que Deus envia para a sua vida? Deus manda encarar não com desapontamento ou tristeza, mas com alegria.

·         Você tem confiado em Deus ao ponto da tribulação se tornar em perseverança e a perseverança moldar o seu caráter te tornando um cristão maduro?

O resultado da perseverança em meio à tribulação tem duplo benefício na vida do cristão. 

a.      Maturidade

b.      Integridade (completude)

Você já percebeu como vivemos em um tempo de bebês espirituais?  Nossas igrejas estão tão cheias de crentes imaturos.  Estas pessoas não têm foco, nem direcionam suas vidas para Jesus.  Elas rejeitam o sofrimento e as tribulações por não trazerem benefícios materiais, ou até por acreditarem nas heresias de teologias neo-pentecostais onde se prega uma vida livre de tribulações.  Elas não crescem espiritualmente, não servem à causa do evangelho, não dão bom testemunho, e tem seus ventres como o seu deus.

E nós? Como somos e como encaramos as tribulações da vida?

Tiago, porém, sabia que as igrejas espalhadas fora da Palestina não seriam formadas apenas por crentes maduros e íntegros.  Por isso, Tiago instrui a igreja a buscar o elemento necessário para se passe pelas provações de forma que agrade a Deus e nos faça crescer.  Tiago nos apresenta a sabedoria como o dom que precisamos para vencer a tribulação.

2.      A tribulação nos estimula a orar por sabedoria e a sabedoria nos dá a perspectiva correta do caminho cristão (o dom da fé genuína) (v. 5-8)

Não pense que você pode viver sua vida livre da sabedoria que Deus quer dar a todos para vencer as lutas.  Não precisamos vencer a tribulação por conta própria.  Deus já providenciou tudo que precisamos para vencê-las.

Abra sua Bíblia em Colossenses 1:9-11 – “Por esta razão, nós também, desde o dia em que ouvimos, não cessamos de orar por vós, e de pedir que sejais cheios do pleno conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e entendimento espiritual; para que possais andar de maneira digna do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus, corroborados com toda a fortaleza, segundo o poder da sua glória, para toda a perseverança e longanimidade com gozo

Neste texto que lemos, Paulo assim que soube da fé dos Colossenses, de seu amor pelo Evangelho, começou a orar por eles sem cessar para que Deus enviasse a sabedoria que eles iriam necessitar para caminhar no caminho da fé.  Para que eles andassem por fé e não por vista.  Paulo sabia da importância da sabedoria no desenrolar da vida cristã. 

Outro que entendeu a importância da sabedoria para vencer as tribulações da vida foi Salomão.  Em sonho Deus apareceu a Salomão quando ele havia acabado de virar rei de Israel. Salomão neste momento de sua vida estava sofrendo pelo tamanho da responsabilidade de liderar uma nação.  Em sua luta e preocupação, a única coisa que ele pensava era em se revestir de Deus para vencer este obstáculo.  Neste sonho, Deus perguntou o que Salomão queria receber dEle.  Salomão responde em 1 Reis 3:9 - “Dá-me então sabedoria para que possa governar bem o teu povo e saiba a diferença entre o que é justo e o que é errado...

Agora, a sabedoria que Tiago fala, deve ser pedida a Deus com fé e sem duvidar de que Deus pode derramar sabedoria sobre aquela vida que está pedindo.  Assim como Salomão pediu sabedoria com fé e recebeu, também nós que precisamos dela, devemos pedir com fé diante de Deus. 

Quem em sã consciência, vivendo em um mundo louco como este, pode dizer que não precisa de sabedoria para viver em paz consigo mesmo, com o próximo e com Deus.

Aquele que duvida, Tiago diz que é como a onda do mar lançado de um lado para o outro pelo vento. 

Eu surfo desde os 13 anos e sempre gostei de observar as ondas do mar. É interessante notar que as ondas são uma das coisas observáveis mais inconstantes do planeta.  Dificilmente você consegue presenciar uma semana inteira de ondas constantes.  As variações não apenas ocorrem de um dia para o outro, mas também dentro do mesmo dia.  É a este tipo de fenômeno que Deus compara aqueles que pedem sabedoria, mas o fazem sem fé.  Ele compara a ondas inconstantes. 

Pessoas assim não receberão sabedoria e nem coisa alguma de Deus.  Essas palavras de Tiago soam até duras de ouvir, mas em Hebreus diz que sem fé é impossível agradar a Deus. 

Contudo, uma vez usado a fé para pedir sabedoria a Deus, Ele nos a dá, pois Deus é generoso e quer nos abençoar.  

O resultado desta sabedoria na vida do crente que pede com fé é uma vida madura e completa diante de Deus.  De acordo com Paulo em Efésios 4:14 “Então não seremos mais como crianças instáveis, variando com facilidade de idéias e de sentimentos, influenciados pelos ventos de doutrinas várias que nos empurram ora para um lado ora para o outro, ao sabor de pessoas sem escrúpulos que astuciosamente procuram arrastar as almas para o erro.

·         Como você tem se aproximado de Deus? 

·         Como está seu coração diante de Deus?

·         Você duvida que Deus pode te ajudar em tuas lutas? 

·         Você está mais para um crente inconstante que é levado para todo lado e que é controlado pelas suas próprias emoções, ou você tem buscado ser um crente maduro que tem fé em Deus e busca entender Seus propósitos para tua vida?

Mas não somente a tribulação nos faz crescer como cristão e nos faz buscar a sabedoria para vencê-la, como também nos iguala como seres humanos. 

3.      A tribulação lembra ao pobre cristão da glória futura e ao rico de sua possível condenação  (valores de uma fé genuína) (v.9-11)

É importante antes de tudo entendermos que não há justiça inerente a uma pessoa devido a sua condição social.  Não posso me referir ao pobre como justo ou como humilde apenas por ele ser pobre e o mesmo não posso considerar o rico orgulhoso e injusto apenas por ser rico.  A tendência, contudo, nos mostra que a condição social leva sim as pessoas a comportamentos de humildade quando se é pobre e de orgulho quando se é rico.  Mas isso não é uma lei.  Vemos exemplos de pobres justos e injustos e de ricos justos e injustos na Bíblia. 

Um exemplo de pobre justo na Bíblia é o próprio Senhor Jesus Cristo que mesmo sendo pobre sabia dividir tudo o que tinha.  Mesmo sendo pobre não era considerado preguiçoso nem vagabundo. 

Um exemplo de rico justo é o de Abraão, que mesmo sendo muito rico para o seu tempo, tinha uma vida de serviço a Deus e de grande fé. 

O problema aqui em Tiago era uma visão que havia entre os judeus que nos influencia até hoje.  A de que o pobre é considerado piedoso e humilde e que o rico é injusto e opressor. 

Essa visão vem da época dos Macabeus, quando durante a guerra, os pobres ajudaram a Judas Macabeus contra a aristocracia grega.  Os ricos por sua vez eram inconstantes e só buscavam seus próprios interesses.

Contudo, olhar a questão pobre/rico apenas pelo âmbito econômico é ignorar o fator espiritual que deve comandar a visão sobre este assunto.

Por outro lado, eu não posso fechar meus olhos para as diversas passagens bíblicas onde mostra Deus nos mandando cuidar dos pobres e dos oprimidos.

Provérbios 19:17 diz “Quem dá aos pobres empresta a Deus, o qual virá a pagar com juros largamente vantajosos.”    

 

Deuteronômio 15:7 diz “Se quando chegarem à terra que o Senhor vos dá houver pobres no vosso meio não lhes fechem o vosso coração nem a vossa mão, voltando-lhe as costas; deverão emprestar-lhes tanto quanto necessitarem.”

E mais na frente o próprio Tiago 2:5-6 vai dizer, “Ouçam, queridos irmãos: Deus tem escolhido gente pobre nesta Terra para serem ricos na fé, garantindo-lhes a entrada no domínio do céu, que Deus prometeu aos que o amam. Mas daquela maneira desonraram o pobre. E não são geralmente os ricos que vos oprimem, e que vos arrastam aos tribunais.

Neste texto de Tiago 1, vemos que Ele está falando no contexto de tribulação, fé, sabedoria e tudo que temos falado aqui.  Portanto, entendemos que Tiago está querendo mostrar que:

a.      Pobreza pode ser constituída como um tipo de tribulação

b.      Existe um paralelo entre humildade/riqueza e fé/dúvida.

Portanto, Tiago diz que os crentes pobres podem descansar em Deus ou orgulhar-se em Deus, pois eles serão exaltados.  Eles são crentes e por isso justificados por Cristo.  Eles não devem orgulhar-se apenas por serem pobres mais principalmente por serem crentes.  E devem orgulhar-se desde já na futura exaltação que receberão.  O pobre crente não deve ficar olhando para sua atual situação, mas olhar para o futuro e para o que Deus está reservando para eles.

Por outro lado, o rico deve orgulhar-se caso viva humildemente agora e não confie em sua riqueza, mas em Cristo.  Porque se isto não acontecer, eles serão com a flor do campo que em um dia nasce e morre (o sol se levanta, traz o calor, seca a planta, cai a flor e a beleza é destruída). 

Salomão que conheceu as armadilhas que a riqueza pode trazer diz em Provérbios 18.11, “O rico considera a sua riqueza como uma cidade inatacável, como uma muralha perfeitamente segura.”

Por isso, que os valores do Reino estão acima da situação econômica de cada um.  Aquele que é pobre, precisa da justiça de Deus para que a partir daí, de forma humilde e cheia de fé contemple o futuro glorioso que os aguarda.

O rico, precisa da justiça de Deus, para não considerar suas riquezas um fim em si mesmo.  Mas ao contrário, um meio para abençoar o Reino e as pessoas em geral.  E agindo assim, encontre a fé para vencer as suas próprias lutas e tribulações pessoais que as riquezas podem trazer.  Caso contrário, ele queimará como a flor do campo!

E por fim,

4.      A tribulação resultará em glória para o aprovado (recompensa de uma fé genuína) (v.12)

 A conclusão de Tiago é que quem persevera será recompensado.  E para perseverar, como vimos no início, precisamos passar pela tribulação. A tribulação gera a perseverança e a perseverança trabalha em nós a maturidade e a integridade.  Neste caso, quer sejamos pobres, quer sejamos ricos, carecemos da aprovação em meio à provação (tribulação). 

Assim o ciclo se fecha.     

Conclusão

Essa mensagem de Tiago é cada vez mais importante no mundo de hoje.  O mundo prega apenas que Jesus quer nos abençoar e que ele quer nos dá vitória e nos constituir cabeça e não cauda.  Digo o mundo, pois essa mensagem não vem do evangelho, mas sim do mundo!

Tiago nos diz que Deus nos ama e nos perdoa e quer nos fazer prosperar sim, mas que Deus também quer nos fazer crentes maduros e íntegros.  Para crescermos como cristãos, contudo, existe um caminho que devemos trilhar e este caminho começa com sofrimento. 

E é no meio do furacão que Jesus diz que não nos abandona.  É no meio de nossas tribulações que aprendemos a confiar em Deus, e a buscar a sabedoria de Deus para vivermos melhor. 

É durante a luta que Tiago nos lembra que a sabedoria vem através da oração e que a oração tem que ser verdadeira, corajosa, e autêntica.  Ela tem que ser movida por fé, pois quem se aproxima de Deus precisa crer que Ele existe. 

Tiago fala em um contexto bem particular aos judeus-cristãos que sofriam fora da Palestina, mas sua mensagem, ainda que dura para algumas pessoas é extremamente relevante para um mundo hedonista e que vive em busca apenas de prazeres pessoais e terrenos, de acumular riquezas materiais e de viver apenas na superfície do seu relacionamento com Deus.  

Para nós igreja, ela é ainda mais relevante.  Pois foi para nós que ela foi escrita. 

·         Somos nós que temos que olhar a tribulação com outros olhos. 

·         Somos nós que temos que olhar a oração e o relacionamento com Deus com outros olhos. 

·         Somos nós que temos que ver as injustiças e opressões feitas contra pobres e ver o materialismo  e a vaidade que acomete os ricos com outros olhos. 

·         E a grande pergunta é, que olhos são estes? 

·         Os olhos da “fé que age”

Oremos!

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