Lição 1 – No princípio

Gênesis - O livro dos começos  •  Sermon  •  Submitted   •  Presented
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Introdução Geral

TÍTULO: O título português do livro é derivado do título adotado pela versão grega do Antigo Testamento, a chamada Septuaginta – Γένεσις (genesis), palavra encontrada em Gênesis 2.3, βίβλος τῆς γενέσεως (biblos tēs geneseōs, “livro da geração”). Os israelitas, por sua vez, usam como título a primeira palavra do livro, בְּרֵאֹשִית (berēʾšîṯ, “no princípio”).
Ambos os títulos são apropriados, visto que o livro é sobre trata da origem das coisas em vários aspectos. Primeiramente, apresenta a origem do mundo; depois, a origem da raça humana e de seu conflito com o mal; por último, embora muito importante, a origem da linhagem eleita de Abraão, por meio da qual todas as nações do mundo seriam finalmente abençoadas.
AUTOR: Gênesis faz parte do Pentateuco unificado, então, quando pensamos a respeito da autoria do livro em particular, precisamos considerá-la para todo o pentateuco. Cremos na autoria mosaica do Pentateuco, e de Gênesis em particular. Os autores do Novo Testamento e o Senhor Jesus Cristo afirmam de forma unânime Moisés como o autor do Pentateuco (cf. Mt 19.4–8; Mc 12.26; Jo 7.19; At 3.22; Rm 10.5). Negar essa autoria equivale a atribuir erro a Jesus e a Seus apóstolos.
Assim, a autoria de Gênesis é atribuída a Moisés, mais provavelmente durante a jornada do Egito para Canaã (Êxodo), com o uso de fontes que tivesse à disposição, quer orais quer escritas, debaixo do ministério orientador do Espírito de Deus.
GÊNESIS NA HISTÓRIA MAIS AMPLA DA BÍBLIA: O livro de Gênesis provê o fundamento sobre o qual toda a Escritura repousa. Abrindo a grande história da Bíblia, ele arma o cenário, introduz os personagens em sua relação mútua e se reporta a certos eventos que se provam decisivos para a compreensão do mundo em que ora vivemos.
Em particular, os capítulos iniciais de Gênesis não só explicam como a humanidade veio a se alienar de Deus, vivendo sob sua maldição, e não sob sua bênção, como também revelam que Deus não permitirá que o mal conquiste a vitória final. Por um processo que começa em Gênesis, Deus vence, por fim, a serpente/Satanás através do descendente da mulher, o novo Adão, Jesus Cristo (Gn 3.15).

Introdução Gn 1.1 - 2.3

Infelizmente, vivemos num tempo em que pregadores, pastores, professores evitam pregar e ensinar sobre Gênesis, principalmente sobre seu capítulo 1.
Esse drible se dá muitas vezes por causa de questões do tempo em que vivemos a respeito, do tipo:
“Como pregar/ensinar Cristo a partir de Gn 1, onde se fala de uma criação perfeitamente boa em que não havia necessidade de um messias salvador?”
“Como conciliar a narrativa de Gn 1 com a ciência moderna? Qual é a idade da terra?”
“Os dias tinham 24 horas ou eram mais longos?”
“Como poderia haver dias, “tarde e manhã”, nos primeiros três dias antes da criação do Sol no quarto dia?”
Porém, deixar de ensinar a Palavra de Deus contida em Gn 1.1 - 2.3 é uma omissão trágica, porque Gênesis lança os fundamentos da nossa fé cristã. Se deixarmos de pregar a mensagem de Gênesis 1 em razão dos problemas contemporâneos, minaremos a fé da igreja.
Portanto, de que maneira podemos pregar Gênesis 1 hoje?
Uma regra inflexível de interpretação é que, em primeiro lugar, deve-se ouvir o texto do Antigo Testamento conforme a intenção do autor para Israel. Israel não estava preocupado com a idade da terra nem com os detalhes de como Deus criou o mundo. Essas são questões modernas que podem ou não ser respondidas pelo texto.
Para sermos justos com o autor inspirado de Gênesis, devemos começar ouvindo atentamente o texto. Em vez de impor ao texto os nossos questionamentos modernos, temos de ouvir esse relato da criação da mesma maneira que o Israel antigo o teria ouvido originalmente.
Portanto, depois de definir a unidade textual, devemos procurar identificar a mensagem do autor para Israel (o tema) e por que a escreveu para ele (o objetivo).

Tema e objetivo textuais

Quando buscamos ouvir o que o texto diz conforme foi direcionado, primeiramente, para Israel, procuramos distinguir o seu tema ("a grande ideia") e o objetivo do autor para Israel.
Poderíamos, talvez, entender o versículo 1 como uma declaração temática e formular o tema como: "No princípio, criou Deus os céus e a terra". Esse tema, no entanto, não cobriria os pontos principais do restante da narrativa, especialmente as repetições "disse Deus", dez vezes, e "era bom", sete vezes. Um tema mais apropriado à narrativa como um todo seria: "Deus, com a sua palavra, criou a terra e o seu reino". Mas podemos refinar ainda mais esse tema. Deus é retratado como o Rei supremo: ele fala e se faz; ele traz ordem ao caos; e dá nome ao Dia, à Noite, aos Céus, à Terra e ao Mar. Portanto, um tema ainda mais gráfico seria: Pelo poder da sua palavra, o Rei do universo criou a terra e o seu reino.
Quanto a Israel, o autor poderia ter vários objetivos em mente. Dentre os quais o mais evidente era lhe ensinar que o seu Deus é o Rei soberano que, no princípio, criou a terra e o seu reino.
O objetivo de todo texto bíblico é, obviamente, ensinar algo. Quase sempre podemos chegar a um objetivo ainda mais profundo e relevante se fizermos a pergunta: Por que o autor deseja ensinar essa mensagem a Israel? Primeiro, devemos verificar se o texto dá algumas indicações.
Uma delas em Gênesis 1 é a de que o autor deixa a criação do Sol, da Lua e das estrelas ao quarto dia; outra é que ele não os denomina de Sol e Lua, mas os chama apenas de "o maior para governar o dia, e o menor para governar a noite" (v. 16). Por que não os chama de Sol e Lua? Porque eram esses os nomes dos deuses pagãos dos povos vizinhos a Israel. O autor está claramente polemizando com a visão de mundo pagã cujos deuses são o Sol, a Lua e as estrelas. O Deus de Israel só criou esses assim chamados deuses no quarto dia, depois da vegetação do terceiro dia. Eles são apenas "luzeiros". Portanto, um objetivo mais específico do que apenas ensinar é o de se opor à influência das mitologias pagãs e moldar ou corrigir a visão de mundo de Israel.
Podemos ir ainda mais fundo… Vejamos esse mapa:

A mitologia no mundo antigo

No mundo antigo, a mitologia ocupava o lugar hoje ocupado pela ciência no mundo moderno - ou seja, fornecia a explicação sobre a criação e o funcionamento do mundo.
Um mito é uma narrativa de caráter simbólico e que envolve a imaginação, ou seja, o mito não é uma realidade, mas evolui com as condições históricas e étnicas relacionadas a uma dada cultura, que procura explicar e demonstrar, por meio da ação e do modo de ser das personagens, a origem das coisas.
A abordagem mitológica procura identificar a função como consequência de um propósito. Os deuses tinham propósitos e suas atividades eram as causas daquilo que os humanos experimentavam como efeitos. Em contraste, a abordagem científica moderna identifica as funções como consequência das estruturas e busca entender as relações de causa e efeito baseando-se em leis naturais que estão ligadas à estrutura, ou às partes que compõem um fenômeno.
Visto que nossa cosmovisão científica tem um grande interesse pelas estruturas, geralmente nos dirigimos ao relato bíblico procurando encontrar informações sobre elas. Nessa área, porém, a cosmovisão bíblica é mais parecida com a de seus contemporâneos do antigo Oriente Próximo, isto é, nela a função é concebida como uma consequência do propósito.
É disso que trata o primeiro capítulo do livro de Gênesis - e por isso há pouco interesse nas estruturas. Essa é somente uma das muitas áreas em que a compreensão da cultura, da literatura e da cosmovisão do antigo Oriente Próximo pode nos ajudar a entender a Bíblia, já que elas apontam para a verdade nela contida.
Muitos paralelos podem ser identificados entre a mitologia do antigo Oriente Próximo e passagens e conceitos do Antigo Testamento. Isso não quer dizer que o Antigo Testamento deva ser considerado simplesmente como mais um exemplo de mitologia antiga ou derivado daquela literatura. A mitologia serve como uma janela para a cultura, refletindo a cosmovisão e os valores forjados por ela. Muitos relatos encontrados no Antigo Testamento desempenharam na cultura israelita a mesma função exercida pela mitologia em outras culturas, ou seja, forneceram um mecanismo literário de preservação e transmissão de sua cosmovisão e valores.
Israel fazia parte de um amplo complexo cultural existente no antigo Oriente Próximo. Muitos aspectos desse complexo cultural eram compartilhados com as nações vizinhas, embora cada cultura tivesse suas características distintas. Quando procuramos entender a cultura e a literatura de Israel, é com razão que esperamos encontrar auxílio nesse cenário cultural mais amplo da mitologia, dos escritos de sabedoria, dos documentos oficiais e das inscrições reais.
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Suponha que Israel tenha ouvido esse relato da criação quando estava no exílio na Babilônia. O poderoso exército babilônio tinha devastado seu pequeno país, matado muitas pessoas e levado outro tanto para o exílio distante. Parecia que os babilônios tinham derrotado o Deus de Israel, Yahweh. Eles tinham incendiado o templo, destruído a cidade de Jerusalém e escravizado o povo. Parecia que o Deus de Israel não era páreo para os poderosos deuses babilônios. De acordo com antigo épico babilônio da criação Enuma Elish, Marduque (conhecido em hebraico como Merodaque), o seu deus principal, era o criador dos céus e da terra. Tudo começou quando Marduque lutou contra a deusa do oceano, Tiamat:
O Senhor lançou a sua rede, enredando-a,
O vento mau que trazia atrás de si lançou contra a sua face.
Tiamat abriu a boca para devorar,
Ele lançou o vento mau para que ela não fechasse a boca.
Os ventos ferozes lhe entufaram a barriga,
Suas entranhas foram obstruídas, a boca escancarada.
Ele atirou a flecha, que lhe rompeu o ventre, Cortou as entranhas, estraçalhou o coração.
Ele a subjugou e exterminou a sua vida,
Arrojou o seu cadáver, pondo-se em pé sobre ele...
Partiu-a em duas metades, como um peixe para secar, Uma delas lançou ao alto e fez de cobertura: os céus.
Ele estendeu a pele [dela] e designou guardiões,
E lhes ordenou que não deixassem escapar as suas águas.
Ele cruzou o céu e passou em revista o firmamento...
Merodaque em seguida "criou posição(ões) para os grandes deuses, que ele organizou (em) constelações: estrelas... Ele fez a Lua aparecer". Voltando à outra metade da morta Tiamat, ele estendeu a metade "dela como uma cobertura, estabelecendo a região dos mortos". | Então Merodaque disse
"Eu criarei os seres humanos e eles levarão o jugo dos deuses para que estes possam descansar". E fez os seres humanos do sangue do deus traidor executado, Qingu. Depois disso "os grandes deuses se reuniram, exaltaram acima de todos o destino de Merodaque... Estabeleceram-no para sempre para o Senhorio dos céus e da terra... A sua palavra será suprema em cima e em baixo... Ele designará o povo de cabeça negra para servi-lo".

Ou seja...

O povo pensava que esses grandes deuses tinham capacitado os exércitos babilônios para que destruíssem o templo do Senhor (Yahweh) em Jerusalém e levassem o seu povo para o exílio. Não poderia deixar de ser natural que Israel temesse deuses "tão poderosos".
Jeremias procura consolar Israel quando escreve com exatidão:
Jeremiah 10:5 ARA
5 Os ídolos são como um espantalho em pepinal e não podem falar; necessitam de quem os leve, porquanto não podem andar. Não tenhais receio deles, pois não podem fazer mal, e não está neles o fazer o bem.
A narrativa da criação, de maneira semelhante, não apenas corrigiria a cosmovisão dos israelitas, mas também lhes daria a boa esperança de que não estavam à mercê de deuses pagãos volúveis, mas debaixo da proteção do seu Deus soberano, o Criador dos céus e da terra. Nesse contexto, um dos objetivos mais profundos e relevantes dessa mensagem para Israel seria confortar o temeroso povo de Deus com o conhecimento de que o seu Deus é o Deus Criador soberano que controla o destino do mundo e também o deles.

Exemplos sobre a criação

1.1. No princípio Um texto egípcio de Tebas, ao se referir à criação, cita o deus Amom, que surgiu no princípio, ou "na primeira ocasião". Os egiptólogos interpretam essa expressão não como uma ideia abstrata, mas como uma referência a um evento que aconteceu pela primeira vez. Do mesmo modo, a palavra hebraica traduzida por "princípio" geralmente se refere não a determinado ponto no tempo, mas a um período inicial. Isso sugere que o período inicial são os sete dias do capítulo 1.
1.2. sem forma e vazia. Na concepção egípcia das origens, há o conceito do "inexistente", que pode ser bastante próximo a essa expressão encontrada em Gênesis. É a ideia de algo que ainda não foi diferenciado, ao qual não foi atribuída função e cujos limites e definições ainda não foram estabelecidos. O conceito egípcio, porém, também implica a ideia de potencial e a qualidade de um ser absoluto.
1.2. o Espírito de Deus. Alguns hermeneutas traduziram essa expressão como um vento sobrenatural ou impetuoso (a palavra hebr. traduzida por "Espírito" às vezes é traduzida por "vento" em outras passagens), que tem um paralelo no ENUMA ELISH babilônico. Nesse texto, o deus do céu, Anu, cria os quatro ventos que agitam as profundezas e a deusa dele, Tiamat. Nesse caso, é um vento impetuoso que provoca agitação. O mesmo fenômeno pode ser visto na visão de Daniel dos quatro animais, em que "os quatro ventos do céu agitavam o Mar Grande" (7.2) causando perturbação aos animais. Se esse emprego do termo estiver correto, então o vento seria parte da descrição negativa do versículo 2, em paralelo com as trevas.
1.1-5. a tarde e a manhã. O relato da Criação não pretende apresentar uma explicação científica moderna da origem de todos os fenômenos naturais, mas abordar os aspectos mais práticos da criação que cercam nossas experiências de vida e sobrevivência. Ao longo desse capítulo, o autor narra como Deus instituiu períodos alternados de luz e trevas a base do tempo. A narrativa menciona primeiro a tarde, porque o primeiro período de luz está se findando. O autor não se arrisca a analisar as propriedades físicas da luz nem está preocupado com sua fonte ou energia geradora. A luz é o que regula o tempo.
1.3-5. luz. As pessoas do mundo antigo não acreditavam que a luz se originasse do Sol. Na época, desconhecia-se o fato de que a Lua simplesmente reflete a luz do Sol. Além do mais, não há nenhum indício no texto de que a "luz do dia" fosse causada pela luz do Sol. O Sol, a Lua e as estrelas eram vistos como portadores de luz, mas a luz do dia estava presente mesmo quando o Sol estava atrás das nuvens ou em um eclipse. Ela chegava antes do nascer do Sol e permanecia após o pôr do Sol.
1.6-8. firmamento. De maneira semelhante, o firmamento, instituído no segundo dia, é o regulador do clima. As culturas do antigo Oriente Próximo entendiam o cosmo como uma estrutura composta de três camadas: o céu, a terra e o mundo inferior. O clima se originou no céu, e o firmamento era considerado o mecanismo que controlava a umidade e a luz do sol. Embora no mundo antigo o firmamento geralmente fosse concebido de maneira mais concreta do que o entendemos hoje, não é a sua composição física que realmente importa, mas sim sua função. Na epopeia babilônico da criação Enuma Elish, a deusa que representava esse oceano cósmico, Tiamat, é partida ao meio por Marduque para formar as águas acima do firmamento e as águas que ficavam debaixo dele.
1.9-19 Função do cosmo. Assim como é Deus quem estabelece o tempo e determina o clima, ele também é responsável por estabelecer todos os outros aspectos da existência humana. A disponibilidade de água e a fecundidade da terra, as leis da agricultura e os ciclos das estações, o desempenho específico das criaturas de Deus - tudo isso foi ordenado por Deus. E tudo era bom, não tirânico ou ameaçador. Isso reflete o entendimento antigo de que os deuses eram responsáveis por estabelecer um sistema de operações. O funcionamento do cosmo era muito mais importante para as pessoas do mundo antigo do que sua forma física ou composição química. Elas descreviam o que viam e, mais importante, aquilo que experimentavam do mundo criado por Deus. O fato de que tudo foi considerado "bom" reflete a sabedoria e a justiça de Deus. Ao mesmo tempo, o texto mostra algumas sutis discordâncias com a concepção do antigo Oriente Próximo. O mais notável é o fato de a narrativa evitar o uso das palavras Sol e Lua, que eram os nomes das divindades correspondentes entre os povos vizinhos de Israel; em vez disso, refere-se a eles como luminares maior e menor.
1.14. sinais para marcar estações, dias e anos. No prólogo de um tratado astrológico dos sumérios, os deuses principais, An, Enlil e Enki, posicionam a Lua e as estrelas a fim de determinar dias, meses e presságios. No famoso Hino Babilônico a Shamash, o deus- Sol, também se faz menção a seu papel de controlar as estações e o calendário de modo geral. É intrigante que ele seja também o patrono da adivinhação. A palavra hebraica usada para "sinal" tem um cognato na palavra acadiana usada para presságios. A palavra hebraica, no entanto, tem um sentido mais neutro, e novamente o autor esvazia os elementos do cosmo de seus traços mais personificados.
1.20. répteis de alma vivente/seres vivos. No hino Babilônico a Shamash, o deus-Sol recebe louvor e honra até mesmo dos piores grupos. Incluídos na lista estão os temíveis monstros do mar. Logo, o hino sugere que há uma submissão total de todas as criaturas a Shamash, exatamente como o relato da Criação em Gênesis mostra que todas as criaturas feitas por Yahweh estão submissas a ele. O mito de Labbu registra a criação da serpente do mar, cujo comprimento era de sessenta léguas [aprox. 400 quilômetros].
1.20-25. Categorias de animais. As categorias de animais incluem diversas espécies: (1) seres que vivem nas águas, (2) aves, (3) criaturas que vivem na terra, subdivididas em animais domésticos, selvagens e ainda "criaturas que se arrastam no solo" (talvez os répteis e/ou anfíbios) e (4) os seres humanos. Os insetos e o mundo das criaturas microscópicas não são mencionados, mas as categorias são abrangentes o suficiente para incluí-los.
1.26-31. Função das pessoas. Embora o enfoque organizacional ou funcional do relato da Criação tenha semelhanças com a perspectiva do antigo Oriente Próximo, a razão subjacente é bastante diferente. No antigo Oriente Próximo, os deuses criaram o mundo para o próprio prazer e para nele viverem. A criação das pessoas foi apenas uma decisão de última hora, quando os deuses precisaram de trabalho escravo para suprir as comodidades da vida (p. ex., abrir sulcos de irrigação). Na Bíblia, o cosmo foi criado e organizado para funcionar a serviço das pessoas, idealizadas por Deus como peça central da sua criação.
1.26-31. Criação da humanidade nos mitos do antigo Oriente Próximo. Nos relatos da antiga Mesopotâmia sobre a criação, uma população inteira já civilizada é criada por meio de uma mistura de argila e sangue um deus rebelde. Essa criação acontece como de resultado do conflito entre os deuses, obrigando o deus organizador do cosmo a controlar as forças do caos, trazendo assim a ordem ao mundo criado. O relato de Gênesis retrata a Criação não como parte de um conflito entre forças oponentes, mas como um processo determinado por Deus, controlado e sereno.
1.26,27. imagem de Deus. Quando Deus criou o homem, colocou-o como responsável por toda a criação. Ele foi feito à imagem e semelhança de Deus. No mundo antigo, acreditava-se que uma imagem continha a essência do que representava. A imagem de uma divindade, mesma terminologia aqui empregada, era usada na adoração porque continha a essência daquela divindade. Isso não significava que a imagem pudesse fazer o mesmo que a divindade nem que se parecesse com ela. Ao contrário, a obra da divindade era desempenhada por meio do ídolo. De modo semelhante, a obra de governar o mundo deveria ser desempenhada pelo homem, criado à imagem de Deus. Mas isso não é tudo. Gênesis 5.1-3 compara a imagem de Deus em Adão à imagem de Adão em Sete. Isso ultrapassa a noção de plantas e animais se reproduzindo de acordo com sua espécie, embora certamente os filhos compartilhem das características físicas e da natureza básica (geneticamente) dos pais. A relação entre a imagem dos ídolos e a imagem dos filhos é o conceito de que a imagem capacita a criatura não apenas para servir no lugar de Deus (representando-o com sua essência) mas também para ser e agir como ele. As ferramentas que ele providenciou para que pudéssemos dar conta dessa tarefa incluem a consciência ou razão, a autopercepção e o discernimento espiritual. As tradições mesopotâmicas falam de filhos à imagem de seus pais (Enuma Elish), mas não mencionam seres humanos criados à imagem de Deus; entretanto, as Instruções de Merikare, um texto egípcio, identificam a humanidade como formada por imagens de Deus, de cujo corpo se originaram. Na Mesopotâmia, pode-se perceber um significado da imagem no costume dos reis de erigir imagens de si mesmos em lu- gares em que queriam estabelecer sua autoridade. À parte disso, apenas outros deuses são feitos à imagem dos deuses.
2.1-3. Descanso no sétimo dia. No relato egípcio da criação, de Mênfis, o deus criador Ptah descansa, após terminar sua obra. A criação dos humanos pelos deuses da Mesopotâmia também é acompanhada de descanso. Na Mesopotâmia, porém, os deuses descansam porque as pessoas foram criadas para fazer o trabalho antes feito por eles. Não obstante, o desejo de descansar é um dos elementos motivadores dessas narrativas da criação. A destruição ou o controle de forças cósmicas caóticas, que constitui com frequência a parte central das narrativas da criação do mundo antigo, culmina no descanso, na paz ou no repouso dos deuses. Semelhantemente, é o fato de os deuses não conseguirem encontrar descanso em meio ao barulho e tumulto causados pela humanidade que conduz ao Dilúvio. Em todos os relatos, fica evidente que as ideologias antigas consideravam o descanso como um dos principais objetivos dos deuses. Na teologia israelita, Deus não precisa descansar por causa de certos incômodos cósmicos ou distúrbios provocados pelo homem, mas ele busca descanso em um lugar de habitação e repouso (veja esp. Sl 132.7,8,13,14).
2.1. O sábado como divisor do tempo. O costume de dividir o tempo em períodos de sete dias ainda não foi comprovado nas demais culturas do antigo Oriente Próximo, embora na Mesopotâmia certos dias do mês fossem considerados de mau agouro e frequentemente ocorriam com um intervalo de sete dias (ou seja, o sétimo, o décimo quarto dia do mês etc.). A celebração do sábado em Israel não estava condicionada a certos dias do mês nem estava ligada aos ciclos da Lua ou a qualquer outro ciclo da natureza; ele simplesmente era celebrado a cada sete dias.

Principal aplicação

Gênesis 1, de maneira sucinta, apresenta Deus como o Rei do universo que criou esta terra como seu reino bom. Os cientistas estão hoje descobrindo quão grande é o universo. O telescópio Hubble, especialmente, tem propiciado imagens extraordinárias das estrelas e das galáxias. Os cientistas agora acham que pode haver um bilhão de galáxias, com um bilhão de estrelas em cada uma. E em meio a esse universo sempre em expansão flutua um pequenino planeta chamado Terra.
Para quem não acredita no Deus Criador, essa pode ser uma imagem assustadora. Parece que estamos sozinhos num universo escuro e aterrador. A Terra é somente um barquinho frágil boiando em meio a vizinhos poderosos. Quem sabe quando a Terra será abalroada novamente por um asteroide devastador? Parece que estamos à mercê de forças muito além do nosso controle.
Mas a Palavra de Deus nos assegura que Deus está no controle. "No princípio, criou Deus os céus e a terra". Pela sua onipotente palavra ele criou ordem a partir do caos. Esse Deus é maior do que qualquer asteroide, maior do que qualquer estrela, maior do que qualquer galáxia, maior do que todo o universo. E esse Deus criou tudo bom. Esse Deus onipotente cuidará do seu povo. Não importa que perigos nos ameacem, nele podemos achar segurança e repouso.
Enquanto todo cientista está preocupado com o “como” (razão), todo crente no Deus todo poderoso está preocupado com o “quem” fez tudo isso de que desfrutamos.
Podemos ter total confiança no amor de Deus revelado por meio da criação e da sua providência ao escolher um povo e conduzir sua história para prover a nossa salvação. Sua vida e salvação são parte desse plano de amor.

Introdução ao tema do criacionismo

“No princípio, criou Deus os céus e a terra” (Gn 1.1). Durante alguns milênios, essa frase foi aceita sem muitas restrições. Ela não era foco de discussões religiosas. A partir de 1859, com a publicação do livro Origem das Espécies, de Charles Darwin, esse princípio eterno foi desconsiderado e banalizado.
Desde então, o que existe é uma batalha científica buscando provar a origem das espécies. Apesar de Darwin não ser normalmente classificado como filósofo, suas teorias tiveram um efeito profundo sobre o pensamento teórico ocidental que ultrapassa gerações.
Pergunta: todas as coisas foram particularmente criadas por uma única força? Ou se desenvolveram a partir de seres anteriores rumo a suas formas atuais, mediante a operação de princípios inatos?
Se a segunda alternativa é a verdadeira, presume-se que os mesmos princípios continuam operando. Contudo, de acordo com a Bíblia (Gn 2.1-3), a criação foi concluída em seis dias, depois dos quais Deus descansou. Desse modo, os processos ou princípios empregados na criação não operam mais e não podem ser estudados pelos cientistas modernos.
Nesta lição, abordaremos o evolucionismo e o criacionismo. Embora seja um tema complexo e não possamos, neste espaço, estudá-lo em profundidade, nosso estudo será suficiente para que firmemos nossa convicção bíblica.

I. Criação ou evolução?

Observemos os dois principais pensamentos a respeito da criação ou evolução das espécies.

1. Evolucionista

A palavra portuguesa evolução deriva-se do latim e (fora) e volvere (rolar). A ideia expressa é o desenvolver-se de forma gradual, em subdivisões, com a produção de muitos.
O termo evolução é empregado para fazer referência à teoria de que todas as formas de vida na Terra teriam se desenvolvido a partir de uma mesma origem, progredindo para formas mais complexas com o passar do tempo, sob as condições do ambiente.
Base bíblica: não existe.

2. Criacionista

Criar vem do latim creare (produzir, gerar). A palavra tem sentido filosófico e teológico em relação à origem do mundo, do homem e de outros seres, tanto físicos quanto espirituais.
Historicamente falando, a criação refere-se àquele primeiro ato mediante o qual o Deus autoexistente trouxe à existência o que não tinha forma de vida independente.
Base bíblica: Gênesis 1.1
Edgar H. Andrews relaciona cinco discordâncias importantes entre as Escrituras e a teoria de Darwin
Tabela no Slide
Há três elementos que concordam entre si que Deus é o Criador. Ao ler Hebreus 11.3, temos um importantíssimo testemunho bíblico acerca do processo da criação do universo.
Razão: As descobertas científicas não negam as afirmações bíblicas. O versículo 3 afirma “pela fé entendemos”. O verbo grego entender (noeo) dá origem à palavra “mente” e significa “perceber com a mente, pensar sobre”, ou seja, não se trata de uma fé cega, mas uma percepção mental, uma faculdade de pensar, inteligência. Essa verdade serve para silenciar os críticos do criacionismo bíblico quando afirmam que falta razão para os que creem na Bíblia.
Revelação: As afirmações bíblicas não usam termos técnicos, mas reiteram as descobertas científicas. Universo se refere a “eras”, incluindo o tempo, o espaço e o mundo material. Isso mostra que a Bíblia não nega a ciência, apenas não usa seus termos.
Fé: A fé na existência de um Deus eterno e criador explica aquilo que nem sempre a razão ou mesmo a revelação pode ou consegue fazer. Ao afirmar que “foi o universo formado pela palavra de Deus”, a Bíblia está confirmando o livro de Gênesis. Por sete vezes o texto bíblico declara “Disse Deus” (Gn 1.3,6,9,14,20,24,26). Na Bíblia, a palavra de Deus é Deus em ação.
A teoria da evolução conduz as pessoas a se esquecerem de Deus. Se a espécie humana é o resultado de milhões de acontecimentos fortuitos, como a teoria estabelece, não há necessidade de se acreditar em um Criador. De fato, muitas pessoas sentem que se pudermos explicar a natureza, incluindo nós mesmos, através da ideia da evolução, não há necessidade de acreditarmos em Deus! Dizem que Deus era somente uma ideia necessária nos dias antigos a fim de explicar como o mundo foi formado. Agora que temos a teoria da evolução, argumentam eles, não mais precisamos de Deus. Por que, então, os cientistas acreditam nessa teoria? Bem, naturalmente nem todos os cientistas acreditam, e eu sou um exemplo. Mas muitos cientistas realmente acreditam em evolução pela mesma razão que muitos não cientistas acreditam. Acreditam em evolução porque assim não precisam crer em Deus.” (No princípio, Edgar E. Andrews, p.8-9,17)
Aplicação: Aquilo que você crê sobre a criação determina o que pensa de Deus. Quanto mais estuda a Bíblia, conhece a Jesus e anda com Deus, mais suas dúvidas sobre este assunto são solucionadas. O fato de não conhecer as respostas para todas as perguntas sobre a criação não significa que elas não existam.

II. Os seis dias da criação

Há dois temas nesses seis dias que são fundamentais para a compreensão do texto bíblico.

1. A expressão “sem forma e vazia” (Gn 1.2)

Embora haja outras interpretações dessa expressão, entendemos que “sem forma e vazia” significa que, a essa altura da atividade de Deus, a Terra não estava definitivamente formada e ainda estava desabitada. A expressão “sem forma” refere-se a um lugar “não habitável”, impróprio para a vida humana. Deuteronômio 32.10 traduziu o mesmo termo por “ermo” (deserto). Em outras palavras, a criação original ficou temporariamente sem forma e vazia, condição que logo foi mudada (Is 45.18). Embora a Terra fosse “sem forma”, a intenção de Deus era que ela fosse habitada e, por isso, Ele a encheu de criaturas viventes, inclusive o homem. Uma prova disso é a ordem da criação em seis dias.

2. Os “dias literais de 24 horas”

Os argumentos a seguir interpretam o texto bíblico e respondem às questões que geram polêmica. Alguns defendem que esses dias não foram literais, mas observe:
“houve tarde e manhã” com “primeiro dia, segundo dia, terceiro dia” (Gn 1.5,8,13) indica fortemente que são dias comuns. Essa frase é a base do calendário judaico, o dia começa com a tarde, completando-se na tarde seguinte.
Quase sempre, quando um número está com a palavra “dia” (heb. yom), significa, na Bíblia, um dia normal de 24 horas.
O restante da Bíblia interpreta os dias de Gênesis 1 como sete dias normais.
O sábado judaico (Êx 20.8-11) tem por base os seis dias da criação.
No terceiro dia, Deus criou árvores frutíferas, relva e plantas, mas isso foi antes do sol e da lua; o que exigiu uma criação quase imediata do sol.
Os últimos três dias da criação certamente foram dias comuns, pois foram determinados pelo sol, da maneira usual. Não podemos estar absolutamente seguros de que os dias tiveram duração idêntica, mas é pouco provável que tenha sido diferente.
Agostinho disse que o tempo foi criado juntamente com o universo.
“Toda ciência devidamente analisada, e toda Escritura corretamente interpretada não entrarão em contradição.” (Adauto Lourenço)

III. A idade da Terra

Os dois pontos de vista, da Terra antiga e da Terra jovem, têm recebido apoio de evangélicos. Devemos ser respeitosos com todos. Se você quer ler algo mais sobre o assunto, sugerimos alguns textos.
Teologia Sistemática, Wayne Grudem, Edições Vida Nova, p.226-246.
No Princípio..., E. H. Andrews, Editora Fiel, p.63-80;111-126.
Como Tudo Começou, Adauto Lourenço, Editora Fiel, p.157-193 (especialmente p.192-193).
Criação ou Evolução, John MacArthur, Editora Cultura Cristã.
Aplicação: Somente uma interpretação literal das Escrituras ajuda a entender corretamente as questões da criação. A maneira como você entende o relato bíblico da criação influenciará como interpretará o restante da Bíblia. Procure conhecer um pouco mais das regras de interpretação bíblica. Elas ajudarão a interpretar Gênesis.

Conclusão

Erwin Lutzer, em seu livro 7 Razões para confiar na Bíblia (Editora Vida), levanta a seguinte questão: Que tipo de Deus seria qualificado para ser a causa de tudo que sabemos acerca do Universo? Ele dá as respostas:
Um Deus com poder espantoso.
Um Deus pessoal que possui inteligência e vontade.
Um Deus que existe fora do tempo.
Ao concluir, você tem que entender que a interpretação que fizer das Escrituras determinará o rumo de sua fé, portanto, “a verdade e os fatos viverão; as opiniões morrerão. Não se estribe em opiniões quando a verdade e os fatos estão ao seu alcance”.
Aquilo que você precisa saber sobre a criação, Deus revelou através da Bíblia. Não tenha receio de buscar o conhecimento de Deus, pois, por meio Dele, você aceitará melhor os ensinamentos das Escrituras.
Sugestão final: Escolha um dos trechos das palestras para encerrar a aula. Leia Romanos 1.20-22 e discuta com os alunos sobre o Deus em quem cremos, ministrando a Conclusão. Escreva no quadro: NOSSO DEUS É... Peça aos alunos que, refletindo sobre toda a criação, completem essa frase dizendo algumas características que podemos observar em nosso Deus. Liste-as no quadro. Por exemplo:
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