O LIVRO DE ZACARÍAS

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BÍBLIA SAGRADA - ESCATOLOGIA I ‌ O LIVRO DE ZACARIAS I ‌ ESTUDO 661

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Zacarias 2.5

PREFÁCIO

De acordo com as orientações dadas pelo nosso Pastor Presidente, estamos entrando hoje em uma nova série de estudos que é muito interessante: o livro de Zacarias, o qual contém 14 capítulos e 211 versículos. Este é um livro com grande conteúdo apocalíptico, messiânico e escatológico. Há mais profecias messiânicas nesse livro do que em todos os outros profetas menores juntos. Só por essa razão, o estudo desse livro já constitui uma necessidade imperativa e ao mesmo tempo um desafio enorme.
O livro de Zacarias com um alto teor figurado, contendo oito visões e muitas profecias escatológicas, com uma mensagem é clara, oportuna e desafiadora para a nossa geração, trás uma mensagem que confronta os acomodados e consola os abatidos. Derruba os soberbos e levanta os humildes. Deita por terra os altivos e alça às alturas excelsas os de coração quebrantado.
Outrossim, a ênfase na pessoa, obra, paixão, morte, ressurreição e segunda vinda de Cristo é destacadamente notória nesse livro. Zacarias apresenta com vívida clareza tanto a humilhação como a exaltação de Cristo, o nosso glorioso Redentor. O livro apresenta com diáfana clareza, a soberania de Deus na história. É Ele quem levanta reinos e abate reinos. É Ele quem disciplina Seu povo e o restaura. É Ele quem tem as rédeas da história em Suas onipotentes mãos. É Ele quem consumará a história, com a vitoriosa vinda do Messias, para julgar as nações e estabelecer o Seu reino de glória e santidade.
Que o estudo desse livro inflame seu coração, assim como aqueceu o meu, enquanto elaborava esse estudo.

INTRODUÇÃO

Zacarias era um jovem profeta (Zc 2:4) pós-exílico, quando Deus o chamou para ministrar ao remanescente judeu que lutava para tentar reconstruir seu templo na cidade arruinada de Jerusalém. Ele era contemporâneo do já idoso profeta Ageu, o qual havia transmitido duas de suas mensagens antes do próprio Zacarias juntar-se a ele no ministério. Os dois serviram a Deus juntos e trabalharam na mesma época e no mesmo local (Jerusalém – cerca de 520a.C.). Ageu havia levado o povo a retomar o programa de construção depois de uma interrupção de dezesseis anos e Zacarias os animaria a terminar seu trabalho. Assim, é correto chamar as profecias dos dois de “livros companheiros”, já que eles se uniram nos esforços de corrigir os mesmos problemas espirituais dos exilados que retornaram à Jerusalém, após o cativeiro babilônico.
Zacarias foi um dos chamados Profetas Menores, mas o termo menor não é um julgamento quanto à importância desses profetas, mas somente uma referência à quantidade relativamente pequena de material que eles escreveram.
Os chamados Profetas Maiores (Isaías, Jeremias e Ezequiel) são assim chamados devido à grande quantidade de material bíblico que eles publicaram. Os doze profetas menores eram agrupados juntamente num só rolo, como se formassem um único livro pelos eruditos judeus que o chamavam de “O livro dos Doze”. Destes doze, Zacarias é o mais longo  e também o mais enigmático.
Zacarias foi o mais messiânico e escatológico dos profetas menores. Há profecias mais messiânicas neste livro do que em todos os outros profetas menores combinados. Nos capítulos 1:7; 6:8, oito visões noturnas fazem uma descrição marcante sobre o futuro Messias. A segunda parte trata principalmente de questões escatológicas. Essa segunda parte também está recheada de referências messiânicas.
Podemos chamar Ageu e Zacarias de “profetas da restauração”. O ministério de ambos é confirmado em Esdras 5:1,2. Neemias diz que Ido, o avô de Zacarias, foi um dos sacerdotes que voltaram da Babilônia (Ne 12:16). Zacarias fazia parte da família de Arão, portanto, ele pertencia à família sacerdotal. Esse fato certamente lhe dava uma vantagem importante em seu ministério, uma vez que, os profetas, não raro, precisavam confrontar os sacerdotes quando estes deixavam de ser fiéis no exercício de sua vocação. Zacarias, em virtude de sua família, reunia todas as tradições sacerdotais do sacerdócio aarônico, com o fervor e a autoridade de profeta. A partir do período pós-exílico até à diáspora, com a destruição de Jerusalém no ano 70d.C., o sacerdócio tomou  a liderança da nação. Quanto ao governo, a história do povo de Israel pode ser dividida em três períodos principais: Primeiro, de Moisés a Samuel, temos Israel sob os Juízes. Segundo, de Saul a Zedequias, temos Israel sob os Reis.
Terceiro, da repatriação do “remanescente” até à destruição de Jerusalém, temos Israel sob os Sacerdotes. I – TÍTULO E DATA O nome Zacarias (em hebraico: זְכַרְיָה; "lembrou do Senhor", significa “Jeová se lembra” ou “Jeová se lembrou”.  Formação original pela união dos vocábulos Yah, forma reduzida de Deus, e o verbo Zakar, traduzivel por lembrar. Data 520 – 470a.C. - O contexto histórico dos capítulos 1-8, datados entre 520-518a.C., escritos por Zacarias em sua juventude. Ao escrever os capítulos 9-14, datados entre 480-470a.C., Zacarias já se achava idoso.
II – AUTOR
Como já vimos, Zacarias era profeta e sacerdote. Ele veio da Babilônia para Jerusalém, na primeira leva de judeus, sob a liderança de Zorobabel e com seu avô Ido (Ne 12.16). Assim, era tanto sacerdote como profeta e via o mundo através desses “dois olhos”. Ele retornou à Jerusalém (provavelmente como criança ou jovem adulto) com os exilados do cativeiro babilônico. Sua carreira profética, Zacarias iniciou “no oitavo mês do segundo ano de Dario” (1.1), que é em novembro de 520a.C. O título do livro diz que este profeta é “filho de Berequias” e neto “de Ido” (1:1). Esdras, por outro lado, menciona que é “filho de Ido” (Ed 5:1; 6:14). Esta discrepância é mais aparente que real.
E facilmente explicada quando se considera que Berequias morreu antes de Ido e Zacarias sucedeu seu avô na chefia da ordem sacerdotal de Davi.
Há vários exemplos no Antigo Testamento em que os homens são chamados filhos de seus avôs (Gn 29.5; cf. Gn 24.47; 1 Rs 19.16; cf. 2 Rs 9.14,20). “Como nestes casos...”, observa George Adam Smith, “...o avô era considerado o fundador da casa, assim, no caso de Zacarias, Ido era o chefe de sua família quando saiu da Babilônia e estabeleceu-se novamente em Jerusalém.” O fato de Esdras referir-se a Zacarias como filho de Ido deve ser entendido no sentido geral de descendente. Em todo caso, este profeta era membro da família sacerdotal de Ido, que voltou da Babilônia para Jerusalém, sob as ordens de Ciro (Ne 12.4).
O livro de Neemias acrescenta a observação de que no sumo sacerdócio de Joiaquim, filho de Josué, Zacarias foi nomeado chefe da casa de Ido (Ne 12.10,16). O livro de Esdras nos informa que Zacarias compartilhava com Ageu o trabalho de animar Zorobabel e Josué a reconstruírem o Templo (Ed 5.1,2; 6.14).
III – CARACTERÍSTICA
Motivação e esperança são os temas principais da profecia de Zacarias. Zacarias foi um dos profetas que exerceram seu ministério junto aos ex-exilados da Babilônia, regressos a Jerusalém. Esses ex- exilados passaram a conviver com a ruína daquela que fora um dia uma esplêndida cidade, dotada de um templo glorioso.
Muito havia com o que se entristecer, mas Zacarias encorajaria os israelitas com visões do juízo sobre os inimigos de Israel e a restauração total da cidade de Jerusalém. Sua visão mais extraordinária de todas, no entanto, foi a que se encontra em sua profecia sobre a futura vinda de um rei — o Messias— , que traria a salvação e o Reino eternos que haviam sido prometidos ao povo de Deus. Zacarias viveu justamente durante a época que se seguiu ao cativeiro babilônico, o qual durou de 597 a 538a.C.
Jeremias havia profetizado que os israelitas voltariam à Terra Prometida depois de setenta anos de disciplina no Exílio. Deus começou a cumprir essa promessa ao levantar Ciro, rei da Pérsia, que, com ação militar, conquistou a Babilônia em 539a.C. Logo após sua vitória, Ciro promulgou um decreto permitindo a todos os povos ali exilados voltarem à sua terra natal.
O povo judeu foi um dos beneficiados com essa medida, bem oposta à política babilônica. O primeiro grupo de exilados judeus retornou à Jerusalém sob a liderança de Sesbazar (Ed 1.8) em 537a.C. O altar do templo foi restaurado no outono daquele ano, mas a reconstrução do templo arrasado, propriamente dita, só iria começar na primavera de 536a.C. A pressão da oposição à reconstrução do templo por parte dos inimigos dos judeus que viviam em Judá e a seu redor fez com que a obra fosse abandonada até 520a.C.
Durante esses 16 anos de apatia, o povo de Judá perdeu a visão e o propósito espiritual ligados à reedificação da casa de Deus. Sua indiferença resultaria em castigo divino (Ag 1:11; 2:17). Todavia, embora a colheita agrícola houvesse chegado a ser praticamente nula e o povo tivesse padecido muito, ainda assim não se arrependeram os judeus até o Senhor vir a levantar dois profetas para clamar que todo o povo voltasse para Ele.
Em 520a.C., Ageu exortava os israelitas a redefinir suas prioridades espirituais e reconstruir o templo. O ministério profético de Zacarias teria início dois meses depois, apenas, do ministério de Ageu (compare Zacarias 1:1 com Ageu 1:1).
Desde que o povo se comprometeu a restaurar a adoração ao Senhor e o Templo, Deus derramou suas bênçãos, já que os israelitas se achavam novamente arrependidos e espiritualmente avivados. A reconstrução do Templo terminou em 515a.C.
A profecia de Zacarias tinha dois objetivos: Em primeiro lugar, desafiar os exilados que retornavam a Judá a voltar para o Senhor, purificar-se de seus pecados e experimentar novamente as bênçãos de Deus (Zc 1:3). Em segundo lugar, confortar e motivar o povo quanto à reconstrução do templo e à futura obra que Deus faria entre os israelitas (Zc 1:16,17; 2:12; 3:2; 4-9; 6:14,15). A primeira divisão do livro - Capítulos 1-8 Zacarias encoraja o povo, mostrando que Deus escolheu Jerusalém como sua cidade (Zc 1.17; 2.12; 3.2). O Senhor não rejeitou o povo de sua antiga aliança. Usando Zacarias, Deus não somente reafirmou a divina eleição de Jerusalém, como também prometeu estar no meio do povo que retornou e a viver entre eles (Zc 2.10,11; 8.3,23). Mediante a presença viva no meio do se povo, Deus realizou sua maravilhosa obra. Então elenca as oito visões que teve numa única noite (1.7—6.15).
A segunda metade de seu livro - Capítulos 9-14
Zacarias dá detalhes de como Deus se relacionaria no futuro com seu povo escolhido, revelando a derrota dos inimigos de Israel, a futura glória de Sião e o Reino Universal do Messias. É este o tema que engloba todo o livro - a total restauração do povo de Deus, que acontecerá quando vier o Messias e realizar sua obra completa de libertação e redenção.
O livro de Zacarias contém muitas profecias sobre a primeira e a segunda vindas de Jesus. Refere-se ao Messias como o Renovo, como o meu servo (Zc 3.8) e o Pastor de Deus (Zc 13.7). Faz referência ao ministério do Messias como Rei-Sacerdote (Zc 6.13; Hb 6.20— 7-1). Além disso, profetiza a entrada de Jesus em Jerusalém montado em um jumentinho (Zc 9.9; Mt 21.4,5; Jo 12.14-16); a traição que ele sofreria por trinta moedas de prata (Zc 11.12,13; Mt 27.9-10); os cravos em suas mãos e em seus pés (Zc 12.10; Jo 19.37); e a purificação dos pecados, que viria por meio de sua morte (Zc 13.1; Jo 1.29; Tt 3.5). Na verdade, os capítulos do 9 ao 14 de Zacarias são os mais citados, de todos os profetas, nos Evangelhos. No que diz respeito à segunda vinda do Messias, Zacarias profetiza eventos futuros como a conversão de Israel (Zc 12.10— 13.1,9; Rm 11.26); a destruição dos inimigos de Israel (Zc 14.3,12-15; Ap 19.11-16) e o reinado de Cristo na Nova Jerusalém (Zc 14.9,16; Ap 20.4-6).
CAPÍTULO 1
O Chamado ao Arrependimento – vs 1-6
Os  judeus estavam de volta do exílio da  Babilônia para Jerusalém, mas não de volta para Deus. Assim como seus pais quebraram a aliança com o Senhor fazendo o que era mal perante seus olhos e sofreram a amarga disciplina do cativeiro, os que voltaram do exílio estavam seguindo as mesmas pegadas infiéis de seus pais. A casa de Deus estava desamparada. Cada um cuidava apenas dos seus interesses. Envoltos em pobreza e cercados de inimigos, estavam rendidos ao total desânimo.
Zacarias relembra a seus ouvintes os pecados do passado para dar mais ênfase à exortação no presente. “Tornai-vos para mim, diz o Senhor dos Exércitos...” Essa volta deve ser urgente e de todo o coração. Essa volta é para um relacionamento pessoal com Deus. Não basta voltar para Jerusalém, é preciso voltar para o Senhor. A terra da promessa não é a geografia da segurança. A segurança do povo está no Senhor dos Exércitos. O problema dos ancestrais dos israelitas é que eles duvidaram do juízo de Deus e, portanto, negavam a necessidade de um arrependimento.
Uma vez que eles eram o povo escolhido de Deus e possuíam instituições divinamente estabelecidas, como o Templo, achavam que Deus nunca os castigaria. A queda de Jerusalém e o cativeiro babilônico foram a resposta dada por Deus à obstinação do povo em resistir ao arrependimento. Os profetas anteriores estavam mortos, mas Deus agora estava levantando novos profetas, como Ageu e Zacarias, para alertar novamente o povo sobre a necessidade do arrependimento. Mas Zacarias dá também uma definição do que é arrependimento. Arrepender-se significa deixar o pecado e voltar-se para Deus.
Uma promessa segura:
Zacarias 1.3 “.... e eu me tornarei para vós outros, diz o Senhor dos Exércitos.”
Depois de falar sobre a necessidade do arrependimento e apresentar uma definição do que é arrependimento, Zacarias dá um grande incentivo ao arrependimento, a saber, que, não importa quão graves sejam os nossos pecados e o nosso afastamento, Deus está pronto para receber aqueles que se voltam para ele mediante arrependimento e fé. O mesmo Deus que faz o convite ao povo para voltar-se para ele garante que também fará a sua parte, voltando-se para o povo. O passado pode ser apagado (Is 44.22), e a intimidade com Deus, restabelecida. Esta é a boa-nova do Evangelho: Deus perdoa pecadores e recebe de braços abertos os arrependidos (Lc 15.20-24).
As novas gerações têm a escolha de obedecer à voz de Deus:
Zacarias 1.4ª “Não sejais como vossos pais...
O chamado do profeta Jeremias foi completamente desprezado antes do exílio, e o seu lamento frequente foi: “Mas não atenderam” (Jr 17.23; 6.19; 18.18; 23.18) ou “não ouviram” (Jr 6.10,17; 23.18; 29.19; 36.31). Deus oferece agora uma nova oportunidade aos filhos dessa geração rebelde. Não precisam andar nas mesmas veredas sinuosas de seus pais.
“Vossos pais, onde estão eles? E os profetas, acaso, vivem para sempre?” Tanto os pais que ouviram os profetas como os profetas que pregaram para os pais já estavam mortos. Os pais pensaram que as palavras de juízo dos profetas não se cumpririam. Agarraram-se a uma religiosidade formal que não pôde livrá-los do cerco dos caldeus, da destruição de Jerusalém e do amargo cativeiro babilônico.
II Crônicas 36:15, 16 "O Senhor, Deus de seus pais, começando de madrugada, falou-lhes por intermédio dos seus mensageiros, porque se compadecera de seu povo e da sua própria morada. Eles, porém , zombavam dos mensageiros, desprezavam as palavras de Deus e mofavam dos seus profetas, até que subiu a ira do Senhor contra o seu povo, e não houve remédio algum."
Os pais sofreram a consequência inevitável de suas más escolhas e morreram. Os pais ou estavam no cativeiro ou estavam mortos. Os profetas que falaram para eles já não viviam mais para exortar a atual geração, porém a palavra de Deus continuava viva para exortá-los ao arrependimento (1.5a). Deus sepulta Seus obreiros, mas sua obra continua. Os profetas morrem, porém a palavra de Deus continua viva. Os profetas não vivem para sempre, mas a palavra de Deus é eterna.
Destacamos a seguir dois pontos. Em primeiro lugar, a disciplina fez os pais lembrarem que Deus cumpre suas ameaças, assim como suas promessas:
Zacarias 1.6ª “Contudo, as minhas palavras e os meus estatutos, que eu prescrevi aos profetas, meus servos, não alcançaram a vossos pais?
Sim, estes se arrependeram...! As palavras de Deus e seus estatutos atingiram os pais, e eles se arrependeram. No cativeiro, eles não tiveram como negar que os profetas que os alertaram da parte de Deus estavam certos, e eles, errados. Quando a vara da disciplina os atingiu, eles caíram em si, reconhecendo que Deus falava sério e as ameaças contidas em Sua palavra não eram vazias. Em segundo lugar, a disciplina fez os pais lembrarem que o castigo que receberam foi fruto de seus pecados, e disseram:
Zacarias 1.6b “Como o Senhor dos Exércitos fez tenção de nos tratar, segundo os nossos caminhos e segundo as nossas obras, assim ele nos fez.”
Zacarias está dizendo que a palavra do Senhor triunfara no passado, deixando assim claro que o mesmo se dará no futuro. Os que estão ouvindo devem prestar atenção e compreender.
AS OITO VISÕES
Zacarias recebeu oito visões numa mesma noite (em 15 de fevereiro, 519a.C.), todas com o propósito de encorajar o povo desanimado e cercado de inimigos a cobrarem ânimo e a reconstruírem o Templo, uma vez que ele está no controle da história e não se esqueceu de sua aliança. Deus abaterá seus inimigos e exaltará seu povo. O relato das oito visões segue um padrão uniforme. Depois de algumas palavras iniciais o profeta descreve o que vê e  depois pergunta ao anjo o que estas coisas significam. Então o anjo as explica.
Essas oito visões têm, portanto, a finalidade de encorajar a comunidade pós-exílica a confiar no Senhor, Enquanto a palavra profética convida um povo pecador ao arrependimento, as visões apocalípticas convidam um povo oprimido à esperança e à fé. Deus enviou sua palavra profética para afligir os acomodados, mas deu visões de esperança para consolar os aflitos. As visões de Zacarias são semelhantes às do livro de Apocalipse, as quais foram entregues para mostrar a vitória de Cristo à perseguida igreja primitiva.
PRIMEIRA VISÃO – vs 7-17
Os Cavaleiros
Na primeira visão, o profeta viu um homem sobre um cavalo vermelho, comandando um exército em cavalos vermelhos, baios e brancos. Esse "homem que estava entre as murteiras" era o "Anjo do Senhor " (v. 1 1-13), a segunda Pessoa da divindade, que nos tempos do Antigo Testamento realizava aparições temporárias em sua forma pré-encarnada.
O Filho de Deus apareceu com o Anjo do Senhor a Agar (Cn 16:7-14), Abraão (Cn 18; 22:11-18), Jacó (Gn 31:11, 13), Moisés (Êx 3), Gideão (Jz 6:11-23) e aos pais de Sansão (Jz 13). No entanto, estava presente também um "anjo intérprete" que explicou várias coisas a Zacarias (Zc 1:9, 13, 14, 19; 2:3; 4:1, 4, 5; 5:10; 6:4).
Durante suas visões, Zacarias fez perguntas a esse anjo dez vezes e recebeu dele respostas (Zc 1:9, 19, 21; 2:2; 4:4, 11, 12; 5:5, 10; 6:6). O sentido da visão é mostrar que o tempo está próximo para o Senhor cumprir sua promessa de misericórdia para Jerusalém e de prosperidade para as cidades de Judá. Após a visão, há uma proclamação de restauração e prosperidade.
O profeta vê um homem montado em um cavalo vermelho:
“Ele cavalgava um cavalo vermelho, de cor natural de vermelho pelo sangue de guerra, como este mesmo príncipe vitorioso apareceu com suas vestes vermelhas (Isaías 63.1,2). Vermelho é uma cor flamejante, denotando que Ele é zeloso por Jerusalém (v. 14), e muito irado com seus inimigos.
Cristo, sob a lei, apareceu sobre um cavalo vermelho, denotando o terror desta dispensação, e que tinha ainda o seu conflito diante de si, quando resistiria até o sangue. Mas, sob o Evangelho, ele aparece sobre um cavalo branco (Ap 6.2, e outra vez no capítulo 19.11), denotando que agora obteve a vitória, e cavalga triunfante, e hasteia a bandeira branca.” (Henry, Mathew Ed CPAD, pag 1164)
Zacarias logo fica ciente que estes não são homens, mas anjos e, com mudança de função e figura rápida e dissolvente que caracteriza todas as aparições angelicais, explicam-lhe sua missão:
“Senhor meu, quem são estes?”, pergunta o profeta surpreso (v.9). Estas palavras são dirigidas ao anjo intérprete que estava ao seu lado, identificado ao longo destas visões por: “O anjo que falava comigo...” (v.9); cf. 13,14,19; 2.3; 4.1,4,5; 5.10; 6.4). Os cavaleiros são batedores de Deus que voltaram do levantamento que fizeram da terra inteira. Falam por iniciativa própria e informam ao “anjo do Senhor que toda a terra está tranquila e em descanso” (v.11). O que está subentendido é que todas as nações gozam de segurança, ao passo que só Jerusalém e Judá estão em estado de miséria e opressão. Neste momento, o anjo do Senhor, intercedeu pelo povo de Deus que se encontrava em grande aflição! - “Ó Senhor dos Exércitos, até quando não terás compaixão de Jerusalém e das cidades de Judá, contra as quais estiveste irado estes setenta anos?” (v. 12).
Jeremias havia prometido que os setenta anos de cativeiro seriam seguidos das bênçãos de Deus (Jr 25.8-14; 29.10, 11), mas a nação continuava sofrendo. Isso porque se esqueceram de que Deus havia colocado condições para essas bênçãos - o povo deveria arrepender-se de todo o coração, exatamente aquilo que Zacarias havia pregado.
A resposta (vv. 13-17) - Depois de interceder por Israel, o Senhor deu "palavras boas, palavras consoladoras" para que o anjo transmitisse ao profeta.  Afirmou seu amor zeloso e a preocupação por Jerusalém (ver Zc 8:2). Por certo, Deus havia chamado a Assíria para castigar Israel, o reino do Norte, e a Babilônia para disciplinar Judá, mas essas nações tinham ido além do que Deus as havia chamado para fazer e tentado destruir os judeus. Outras nações, com Moabe, também haviam se juntado aos invasores (veja SI 83 e 137). No entanto, as palavras mais animadoras do Senhor referiam-se ao futuro de Judá e não aos seus inimigos, pois Deus prometera voltar para seu povo e fazer sua nação prosperar. Ele consolaria Sião e provaria às nações inimigas que Jerusalém era, de fato, sua cidade escolhida. Essa promessa é repetida e expandida no restante da profecia de Zacarias.
SEGUNDA VISÃO – vs 18-21
Os Quatro Chifres – Os Quatro Ferreiros
Zacarias levanta os olhos e vê quatro chifres. Então pergunta ao anjo que falava com ele qual era o significado da visão. O anjo respondeu: “São os chifres que dispersaram a Judá, a Israel e a Jerusalém.” (1.19). No linguajar de um povo pastoril como os judeus, os chifres representavam a ameaça cruel de um rapinante do rebanho. Os chifres que dispersaram a Judá, de maneira que ninguém pode levantar a cabeça... Eles atacaram Judá com força descomunal, esmagaram a cidade de Jerusalém, atearam fogo no seu Templo. Arrasaram seus palácios, deixaram para trás um montão de ruínas. Os quatros chifres representam a totalidade dos inimigos de Israel, seus inimigos de todos os cantos, ou seja, para onde quer que o povo olhasse — norte, sul, leste ou oeste —, haviam inimigos que resistiam aos esforços judeus de reconstruir o Templo e renovar a vida nacional.
Há uma sugestão que especifica os inimigos dessa época: os samaritanos ao norte, os amonitas a leste, os edomitas ao sul, e os filisteus e os tírios a oeste. Segundo outra opinião, a referência seria tão ampla quanto possível - todos os impérios que haviam lidado com Judá e Jerusalém, oprimindo-as até seu  final livramento pelo Messias.
Zacarias vê ainda quatro ferreiros. Ao perguntar sobre o que isso significava, a resposta veio imediata: [os] ferreiros [...] vieram para os amedrontar, para derribar os chifres das nações que levantaram o seu poder contra a terra de Judá, para a espalhar (1.21), os quatro ferreiros simbolizam a destruição dos povos pagãos que oprimiram Judá e Jerusalém,
F. B. Meyer argumenta que, para a Babilônia, o “ferreiro” foi Ciro; para a Pérsia, Alexandre; para a Grécia, Roma; para Roma, a Gália. Muito diferentes entre si, muito cruéis e implacáveis, mas muito bem adaptados para o que tinham que fazer.
O significado da segunda visão é plenamente afirmado: Deus planeja trazer seu julgamento contra as nações responsáveis pela destruição de Jerusalém e o exílio de Judá (1.21). Esta declaração de retribuição torna explícito o que Deus já dissera em sua ira contra essas nações (1.15).
CAPÍTULO 2
A Terceira Visão – vs 1-13
Jerusalém é medida
Ao levantar os olhos, Zacarias viu um homem com cordel de medir em suas mãos. Ao ser interrogado para onde estava indo, este lhe respondeu: “Medir Jerusalém, para ver qual é a sua largura e qual o seu comprimento.” (2.2). Nesse momento, o anjo que falava com Zacarias na companhia de outro anjo sai ao encontro do homem com uma mensagem expressa: “Jerusalém será habitada como as aldeias sem muros...” (2.4). O anjo ainda disse ao homem que “Deus habitaria no meio dela e a protegeria como um muro de fogo ao redor” (2.5).
Aldeias sem muros - Jerusalém não mais precisaria de fortificações para se defender, porque a presença do Senhor lhe garantiria paz e segurança. Aqui se refere, particularmente, à futura nova Jerusalém, a ser governada por seu glorioso rei (Sf 3.15-19). Jerusalém desfrutará expansão e glória tais como a cidade nunca viu. A população transbordará para fora dos muros, e, na realidade, não haverá necessidade de muros, pois o Senhor construirá "um muro de fogo" ao redor de seu povo (ver Is 49:1 3-21 e 54:1-3).
O pequeno remanescente judeu nas ruínas de Jerusalém estava ajudando a manter viva uma cidade que, um dia, seria grandemente honrada e abençoada pelo Deus Todo-Poderoso! uma Jerusalém além da Sião histórica que seria reconstruída. Essa profecia visiona a Jerusalém lá de cima [...] a qual é nossa mãe (Gl 4.26). Zacarias vê a cidade de Deus que João contemplou de relance na ilha de Patmos. Nela, há uma multidão, da qual ninguém pode contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas (Ap 7.9).
Os muros de uma cidade eram sua proteção contra o ataque dos inimigos, porém, as altas muralhas de Jerusalém não puderam protegê-la do ataque avassalador dos caldeus. No entanto, agora, o Senhor se apresenta como o muro protetor de Jerusalém. É Deus quem protege o Seu povo. Ele não é apenas um muro alto, mas um muro de fogo, não apenas uma defesa dos inimigos de fora, mas uma glória interior (Is 60.19; Ap 21.23). A mesma combinação de “glória e defesa” é encontrada em Isaías 4:5, aludindo à coluna de nuvem e fogo que defendia e iluminava Israel no deserto. Compare com Eliseu em Dotã (II Rs17). Como Deus é a sua “glória”, ela será a sua “glória” (Is 62.3)
Junto à terceira visão existe um epílogo lírico. Este complemento é formado por dois pedidos:
1) Aos exilados na Babilônia (6-9); 2) Aos habitantes de Sião (10-13)
Os judeus que estavam espalhados como os quatro ventos do céu s são admoestados a fugir da terra do Norte para onde haviam sido levados cativos. Alguns dos judeus exilados, por causa de suas condições físicas devidas à idade e outros motivos, tinham preferido permanecer na Babilônia. O Senhor agora os exortava com insistência a que fugissem da cidade condenada e retornassem a Jerusalém. “Olá! Oh! Fugi, agora, da terra do Norte, diz o Senhor , porque vos espalhei como os quatro ventos do céu, diz o Senhor . Oh! Sião! Livra-te tu que habitas com a filha da Babilônia.”
Os judeus eram extremamente preciosos para Deus. Ele os chamou de "menina [pupila] do seu olho" (Zc 2.8; Dt 32:10; SI 17:8). A pupila é uma pequena abertura na íris que deixa passar a luz, constituindo uma parte de grande importância para esse órgão vital. Deus promete ser tão pronto em proteger Judá como a pessoa que ergue o braço quando há risco de machucar o olho.
Há ainda outra razão para exultar: “E, naquele dia, muitas nações se ajuntarão ao SENHOR e serão o meu povo.” (11). Os apóstolos de Cristo entenderam que profecias como estas são predições do ajuntamento dos gentios ao Israel da fé, à Igreja Cristã (Rm 9.22-26; 1 Pe 2.9,10; cf. Ef 2.11-22). A profecia passa para uma promessa ainda mais ampla, a restauração de Israel no Milênio, será o núcleo da restauração mundial de todas as nações da Terra. (Zc. 8.20-23; 14.6). Jerusalém tornar-se-á a capital política e espiritual do mundo.
- “E habitarei no meio de Ti...” (11). Aquele que aqui promete habitar entre eles é o Senhor. O verbo “habitar” (sãkan, do qual é derivado “shekiná”) lembra o tabernáculo, (Êx 25.8). “E o verbo se fez carne e habitou (hb. tabernaculou) entre nós.” Esse versículo fala da encarnação de Cristo e dos dias do governo milenar. O pacto abraâmico (Gn. 15.18) será cumprido. Jerusalém será, uma vez mais, a capital da nação. “Terra Santa". Esta é a única instância da expressão no Antigo Testamento. Essa terra é “santa” por causa dos santos propósitos ali realizados e por causa da santa presença que passará a habitar ali.
CONCLUSÃO
O Livro de Zacarias e uma mensagem profética de encorajamento e esperança para o povo de Judá. Ele enfatiza a importância de se arrepender e de se voltar para Deus e profetiza sobre a restauração de Jerusalém e do Templo, a vitória sobre inimigos e a vinda do Messias, que traria paz e salvação para a nação.
Em Cristo.
Pr. Fábio Felipe
Julho de 2021
Hollywood FL
BIBLIOGRAFIA
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