As características do evangelho

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Romanos 1.16-17

Ilustração
O esforço da teologia e prática pastoral do fim da idade média de prover segurança apenas levava um mundo inseguro a uma insegurança ainda maior, bem como à incerteza sobre a salvação. Uma das ideias que levaram a essa incerteza sobre a salvação era expressa na frase: “faz o que está dentro de ti; faz teu melhor”. Ou seja, lutar para amar a Deus da melhor forma possível fará com que ele [Deus] recompense os esforços de alguém com a graça necessária para fazer algo ainda melhor.
Este sentimento esteve presente na vida de Martinho Lutero, que tornou-se monge em 1505 e, como alguém dentro deste contexto, reflitia muito do ensino católico sobre a busca da salvação através de boas obras. Lutero travou verdadeiras batalhas contra Deus afim de entender como Deus ordenava tamanha perfeição dos seus filhos para no fim justificá-los. No fim da sua vida, ao olhar para este período, ele disse:
“Embora vivesse de modo irrepreensível como monge, sentia que era pecador diante de Deus, com uma consciência extremamente atribulada […] Odiava o Deus justo que punia pecadores […] No entanto, bati, de modo importuno, na mesma porta que o apóstolo Paulo batera antes de mim, desejando ardentemente saber a mesma coisa que Paulo sabia”
A porta que Lutero bateu era a passagem de romanos 1.17: “visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé”
Propósito
O Deus que manifesta a sua salvação através do evangelho é o ponto alto desta carta aos romanos. Paulo também apresenta suas Intenções ministeriais e pastorais ao escrever a carta. Ao que parece, Paulo queria que a igreja de Roma se envolvesse com o apoio financeiro e espiritual à sua planejada viagem missionária à Espanha. Como pastor, Paulo tenta abafar as primeiras chamas de disputa e divisão entre os judeus e gentios de Roma.
No decorrer da carta Paulo expõe a terrível necessidade dos judeus e gentios, e a graça transformadora de Cristo, igualmente disponível a ambos, e a responsabilidade mútua dos cristãos, tanto judeus quanto gentios, de viver buscando o benefício dos outros, ou seja, demonstrações práticas do evangelho recebido pelos irmãos.
E é sobre este evangelho que o texto que lemos fala; Portanto, tendo em mente que a mensagem do evangelho permeia toda a carta, mas de modo especial ela é o foco destes dois versículos que lemos, eu gostaria de refletir com os irmãos sobreAs características do evangelho
O evangelho é o poder de Deus (16)
Romans 1:16 ARA
Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego;
Explicação
Meus irmãos, possivelmente Paulo está querendo comunicar, neste versículo, o conceito de evangelho que aparece lá no antigo testamento, mais precisamente no livro do profeta Isaías 52.7
Isaiah 52:7 (ARA)
Que formosos são sobre os montes os pés do que anuncia as boas-novas, que faz ouvir a paz, que anuncia coisas boas, que faz ouvir a salvação, que diz a Sião: O teu Deus reina!
O termo “boas novas” é traduzido do Hebraico para o grego por “Evangelho”. O contexto descrito por Isaías era o seguinte: Israel estava no cativeiro babilônico desde o ano de 597. Nabucodonosor avançou com seu império e conquistou o reino de Judá, roubou e destruiu o templo do Senhor e por fim, levou consigo boa parte dos israelitas para servirem na sua capital; os que ficaram, sofreram com a opressão de lideranças babilônicas que foram postas no local; Jerusalém estava arrazada. Todavia, em meio a esse caos causado pelos pecados do povo de Deus o profeta diz nos primeiros versos do capítulo 52: Isaías 52.1-2
Isaiah 52:1–2 (ARA)
Desperta, desperta, reveste-te da tua fortaleza, ó Sião; veste-te das tuas roupagens formosas, ó Jerusalém, cidade santa; porque não mais entrará em ti nem incircunciso nem imundo. Sacode-te do pó, levanta-te e toma assento, ó Jerusalém; solta-te das cadeias de teu pescoço, ó cativa filha de Sião.
[Os irmãos percebem a imagem que o profeta está descrevendo?]Este era o anúncio da libertação que Deus traria a este povo: Jerusalém! Sião! o teu Deus reina!
Contudo, a libertação do cativeiro babilônico não foi de fato o fim do exílio; No contexto de Jesus e Paulo, os romanos dominavam a região de Israel; O povo continuava cativo; escravo em sua própria terra. Até que o exílio vai chegando ao seu fim após o nascimento de uma criança lá em Belém; Isaías vai nos dizer que Isaías 9.6
Isaiah 9:6 (ARA)
Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz;
O Deus forte e poderoso salva o seu povo por meio de uma mensagem poderosa: O evangelho, poder de Deus para a salvação de toda aquele que crê.
Por isso Paulo não se envergonha desta mensagem, pois ela é o poder de Deus. Ele não precisa se preocupar com sua própria força, pois o evangelho não depende dele. O poder de Deus está por trás da proclamação do evangelho, portanto, a pregação do evangelho sempre é eficaz. Lembre-se do que o mesmo Paulo fala em sua segunda carta aos 2Coríntios 2.14-16
2 Corinthians 2:14–16 (ARA)
Graças, porém, a Deus, que, em Cristo, sempre nos conduz em triunfo e, por meio de nós, manifesta em todo lugar a fragrância do seu conhecimento. Porque nós somos para com Deus o bom perfume de Cristo, tanto nos que são salvos como nos que se perdem. Para com estes, cheiro de morte para morte; para com aqueles, aroma de vida para vida.
Percebem, irmãos? o evangelho alcança o seu propósito no coração daqueles que serão salvos concedendo vida a estes; Mas ele também cumpre o seu propósito quando os homens rejeitam-o; a mensagem de Cristo cheira a morte para estas pessoas.
Mas Paulo segue dizendo [acompanhe no texto] que esta mensagem que cheira a vida, esta mensagem poderosa tem poder para salvar a todos indiscriminadamente: (16) É poderosa para salvar todo aquele que crê, judeus e gregos;
Lembre-mos que um dos propósitos gerais da carta aos romanos é a resolução de conflitos: a igreja de Roma era composta por Judeus, que moravam na cidade e também por gentios - Romanos e gregos principalmente. O conflito girava em torno da supervalorização dos judeus convertidos em relação a lei, em especial a dieta, o sábado e a cincuncisão; por outro lado, isso não fazia parte da cultura dos gentios, nem mesmo fazia sentido para eles; A questão é a seguintena: seriam esses mandamentos necessessários para a salvação? Paulo resolve o conflito dizendo que a fé em Cristo, ou a aceitação deste evangelho pregado por ele é o único critério para a salvação, tanto de Judeus como de gregos. Apenas o poder de Deus revelado no evangelho é capaz de romper barreiras sociais, culturais, religiosas, linguísticas… O evangelho revela que nós temos uma família linda, mas extremamente diversa. Essa é a beleza da igreja de Cristo. Isso é dádiva de Deus.
Aplicação:
Um dia nós ouvimos sobre este evangelho, irmãos, e fomos impactados pela mensagem da cruz de Cristo. Em algum momento todos nós estávamos no cativeiro, éramos escravos do pecado; nosso destino era a condenação eterna. Nossos pecados atestavam que Adão e Eva eram nossos pais. Talvez alguém ache que não era uma pessoa tão ruim assim, afinal não era um criminoso, viciado ou algo do tipo; Pensar assim é um erro. No capítulo 3.23 é uma sentensa de morte para todos nós: “pois Todos pecaram e carecem da glória de Deus”.
Foi Por nossa incapacidade e nossa condenação que o próprio Deus precisou tornar-se homem semelhante a nós; Por nossa incapacidade e condenação Jesus viveu uma vida em perfeita obediência
Hebrews 4:15 (ARA)
Porque ele foi tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado.
Mas não somente viveu perfeitamente por nós, mas também foi à cruz por nossa causa; Deus é justo; ele não poderia simplismente ignorar os nossos pecados; Deus não poderia simplismente fingir que não pecamos e nos aceitar sujos com nossa corrupção; os pecados precisavam ser expiados; No passado os cordeiros eram mortos em sacrifício e a ira de Deus era aplacada; entretando, anualmente estes sacrifícios precisavam ser repetidos, mostrando que apontavam para um sacrifício único e perfeito: O sacrifício de Cristo, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
Portanto, a primeira característica que o evangelho manifesta é o poder de Deus. A segunda característica que o evangelho manifesta é a justiça de Deus.
Romans 1:17 (ARA)
visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito:
O justo viverá por fé.
Lutero, ao olhar para o seu passado em seu intenso conflito contra Deus e a sua ideia de justiça disse o seguinte:
Jejuei quase até a morte, pois, vez após vez, fiquei três dias sem beber uma gota de água ou um bocado de comida; levava isso tudo muito a sério”
O sentimento de que de algum modo podemos alcançar o status de justo diante de Deus ainda é bem presente em nossa sociedade.
Um pastor presbiteriano chamado Tim Keller, que faleceu em 19 de maio deste ano costumava dizer que o Evangelho tem dois inimigos igualmente perigosos: A religiosidade e a libertinagem.
A religiosidade [ou legalismo] afirma que, para sermos salvos, precisamos ter uma vida santa e moralmente boa. Este era exatamente o sentimento de Lutero, ou seja, através de práticas recorrentes de jejuns e orações, através do autoflagelo e de oferta aos pobres “eu conquistarei a salvação”, ou, “Deus me concederá a vida eterna.”
Por outro lado, a libertinagem apresenta um outro extremo, ou seja, já que Deus me salvou, eu não preciso buscar viver uma vida santa, não preciso realizar obras de caridade e nem crescer na graça e no conhecimento do Senhor. Uma ideia equivocada. Tiago, em sua epístola Tiago 2.14-17
James 2:14–17 ARA
Meus irmãos, qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento cotidiano, e qualquer dentre vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem, contudo, lhes dar o necessário para o corpo, qual é o proveito disso? Assim, também a fé, se não tiver obras, por si só está morta.
É … somente a fé que justifica, mas a fé que justifica não está sozinha.
João Calvino
Portanto, a justiça de Deus (17) não é “o que eu posso fazer para ser Justo diante de Deus?” Mas ela deve ser entendida aqui como o próprio Deus sendo a fonte ou origem, ou seja:“Justiça que vem de Deus”. Isso traz implicações forenses ou legais. A ideia neste caso seria a decisão judicial dele [Deus, o justo juiz] declararando as pessoas [que são naturalmente culpadas por inúmeros pecados] como justas com ele baseada na morte sacrificial de seu filho Jesus; ou seja, a decisão de Deus nos declarar justos é revelada no evangelho; os que aceitaram o evangelho, pela fé, são declarados sem pecados diante de Deus. E este processo acontece “de fé em fé”.
Os doutores e comentaristas quebram um pouco a cabeça com esta expressão “de fé em fé”
A) alguns vão dizer que significa: desde a fé do Velho Testamento (a lei) até a fé do Novo Testamento (o evangelho) - já adianto que este não é o melhor modo de interpretar. Por mais que a bíblia fale de antiga e nova aliança, ela fala em termos de administrações distintas de uma mesma aliança; Deus não salvava o povo do antigo testamento pela Lei; a salvação sempre foi pela graça, por meio da fé no redentor que chegaria.
B) Alguns outros entendem que significa: desde a fidelidade de Cristo até a nossa fé,
C) ou desde a fé do pregador até a fé de quem ouve.
A melhor opção é ver como um chamado metafórico a um nível mais elevado de fé, destacando que a fé — e apenas a fé — fornece uma base suficiente para a justiça. . A tradução da nova versão internacional (NVI) captura bem este sentido quando coloca do seguinte modo:
¹⁷ Porque no evangelho é revelada a justiça de Deus, uma justiça que do princípio ao fim é pela fé, como está escrito: "O justo viverá pela fé".
Romanos 1:17 Ou seja, tanto o ato de Deus em nos declarar justos é pela fé, como o crescimento em justiça, ou seja, o processo de santificação até o dia de nossa morte também é pela fé, por isso a justiça de DEUS é revelada “de fé em fé”. O versículo é concluído com a expressão: “Como está escrito, o justo viverá pela fé”
Uma citação indireta de Hacuque 2.4 que diz: ⁴ Eis o soberbo! Sua alma não é reta nele; mas o justo viverá pela sua fé.
João Calvino faz um breve comentário deste versículo; Ele diz o seguinte: A única maneira de vivermos na presença de Deus é por meio da justiça. Portanto, segue-se que nossa justiça depende da fé.
Portanto, o evangelho manifesta a justiça de Deus aplicada naqueles que creêm, naqueles que teêm fé no sacrifício subustitutivo do seu filho Jesus. 2x
Meus irmãos, eu gostaria de trazer algumas lições baseadas nesse texto.
Aplicações
1 O evangelho como poder de Deus;
Esta mensagem poderosa deve ser tanto pregada quanto vivida. Certo pastor americano ilustrou a aceitação do evangelho de um modo muito interessante; permitam-me adaptar ao nosso contexto: imagine que o culto aqui na IPSucupira começa às 18h00 [como de fato começa]; imagine que eu, mesmo estando escalado para pregar, cheguei às 19h30; naturalmente os irmãos perguntariam o motivo do meu atraso; eu diria: meus irmãos, eu fui atropelado por uma carreta que estava a mais de 200k/h ali no barro, por isso me atrasei. Os irmãos olhariam assim… e diriam: Mas Marlon, você não está sujo, nem com sua roupa amaçada e nem mesmo tem um arranhão… você realmente foi atropelado por esta carreta?
Meus irmãos, certifiquem-se de uma coisa e pelo amor de Deus não se esqueça: Cristo é muito maior e muito mais forte que uma carreta; se você diz ser um cristão, se você diz que teve um encotro genuíno com Cristo e os efeitos desse encontro não são visíveis na sua vida, tem algo muito errado. O evangelho de Deus é o seu poder revelado; não há quem aceite esse evangelho, não há quem se encontre com Cristo e permaneça da mesma forma.
2 O evangelho manifesta a justiça de Deus;
Deus é justo. E o evangelho também manifesta a sua justiça. Como um juiz justo Deus precisava nos punir pelas nossas ofensas. Lembrem o quanto ficamos revoltados quando um juiz toma uma decisão injusta; quando bandidos são declarados inocentes. Imagine se Deus seria capaz de fazer isso. Provérbios 24.24
Proverbs 24:24 (ARA)
O que disser ao perverso: Tu és justo;
pelo povo será maldito e detestado pelas nações.
Mas como então a justiça de Deus é revelada no evangelho? Porque o filho de Deus se fez maldito em nosso lugar; Porque Cristo morreu naquela amarga cruz, eu você temos vida; Deus justo exerceu a sua justiça punindo no seu filho os pecados daqueles que creêm; agora sim Deus pode nos declarar justos, pois não devemos mais nada; Cristo pagou tudo. 2Coríntios 5.21
2 Corinthians 5:21 (ARA)
Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus.
Conclusão:
Lutero foi alguém que não se envergonhou do Evangelho, pois sabia que ele era o poder de Deus para a salvação; Em 1521, após ser chamado para se retratar das suas afirmações contra o papa e em defesa da fé, na cidade de Worms, quando todos esperavam que Lutero voltasse atrás e negasse todas as suas afirmações, ele disse:
“A menos que seja convencido pelas Escrituras e consciência claro, não aceitarei a autoridade de papas e concílios, pois eles se contradizem uns aos outros. Minha consciência é cativa à Palavra de Deus. Não posso e não me retratarei em nada, pois ir contra a consciência não é correto nem seguro. Que Deus me ajude. Amém.
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