Marcas da verdadeira religião - Tg 1.26-27

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Introdução

Há um princípio na doutrina jurídica, chamado presunção de inocência, traz consigo a ideia de que ninguém pode ser considerado culpado até que se prove o contrário, ou seja, até que a lei considere tal pessoa culpada.
Esse princípio parece servir a nós cristãos, todos podem se dizer religiosos até que se prove o contrário, ou seja, a fé cristã é uma expressão de fé que carece de comprovação prática, que carece de testemunho e investigação.
Logo, não basta dizer que somos bons religiosos, se nossa vida não comprova e atesta a nossa profissão de fé.
Por quê é importante pensarmos nisso, porque Tiago começa dizendo o seguinte.
"Se alguém se considera religioso."
As palavras “religião” e “religioso” raramente aparecem nas Escrituras.
Isto ocorre, pelo menos parcialmente, porque a fé bíblica é melhor compreendida como um relacionamento com Deus por meio de Jesus Cristo, no poder do Espírito Santo e, portanto, se distingue de todas as religiões do mundo.
Contudo, onde a palavra “religião” é encontrada no NT, são usadas diversas palavras gregas diferentes.
Em At 25:19, o Judaísmo é chamado por alguém de fora de “sua própria deisidaimonia”.
A palavra ocorre apenas aqui no NT e pode significar simplesmente “religião”, ou pode ter a conotação de uma superstição.
Uma palavra relacionada, deisidaimonesteros (“religioso”), é encontrada em At 17:22 (sua única ocorrência no NT), onde Paulo começou seu sermão em Atenas chamando a atenção para a evidência de que os gregos eram “muito religiosos”.
Encontramos também palavra traduzida como “religião” é eusebeia, que enfatiza a piedade em todo tipo de relacionamento. Geralmente é traduzido como “piedoso”.
As palavras mais comuns no NT são thrēskos (“religioso”) e thrēskeia (“religião”).
Eles ocorrem cinco vezes no NT (At 26:5; Cl 2:18; Tg 1:26, 27). Eles concentram a atenção nos rituais e ritos externos das religiões cerimoniais.
Tiago está falando deste último tipo de religioso, alguém profundamente preocupado com a agenda religiosa, os ritos, as liturgias, aquele tipo de pessoa que da mais valor a exterioridade e aparência religiosa, do que com o que acontece no seu próprio coração.
Aliás, já falamos disso aqui, o público inicial de Tiago são judeus convertidos ao cristianismo, e sabemos que a religião judaica tinha um forte apelo para a exterioridade por meio das vestes, as orações públicas, as peregrinações, e práticas rigorosas de pureza.
Porém, Tiago nos leva a olhar para a verdadeira religião como algo pra além de liturgia, datas religiosas, vestimentas e práticas rigorosas.
Ele deseja nos mostrar que a verdadeira religião, tem suas marcas que a definem.
Vale ressaltar que as marcas que Tiago deseja demonstrar não são marcas exaustivas da verdadeira religião, mas marcas indicativas, ou demonstrativas.
A fé cristã pode ser provada para além dos documentos da ciência bíblica, arqueologia e história, ela pode ser também provada como verdadeira a partir de um estilo de vida prático.
Encontramos neste texto, três marcas da verdadeira religião
Refrear a língua;
Cuidar os outros;
Viver em santidade;
Vamos explorar melhor cada uma destas marcas;

1. Refrear a língua;

James 1:26 NVI
Se alguém se considera religioso, mas não refreia a sua língua, engana-se a si mesmo. Sua religião não tem valor algum!
Já vimos que não basta cuidar da liturgia religiosa, das datas, festas, roupas e práticas rigorosas da religião, isso não garante que somos verdadeiros crentes em Jesus.
Se vivemos com base nas marcas externas da vida religiosa e sua agenda de compromissos, Tiago deixa claro, enganamos a nós mesmos.
E não há coisa mais triste do que vivermos sustentando uma mentira, supondo ser verdade.
Essa é uma lógica que pode funcionar na política, como dizia Joseph Gobbles, ministro da comunicação de Hitler, que uma mentira dita muitas vezes se torna verdade.
Na fé cristã, viver supondo ser religioso sem uma vida prática que atesta a verdadeira fé que vem de um coração transformado por Deus, não se sustenta por muito tempo.
E o primeiro ponto levantado por Tiago é que se não temos freios em nossa língua, enganamos a nós mesmos e nossa religião é vazia.
Ou seja, nossa religiosidade não tem pertinência prática, ela não afeta nem você e ninguém a sua volta.
O tema da língua será trata mais a frente por Tiago de forma mais profunda, mas o que podemos perceber que o uso indiscriminado da língua, sempre joga contra nós.
Paulo diz que não devemos emprestar nossos membros ao pecado.
Romans 6:13–14 NVI
Não ofereçam os membros do corpo de vocês ao pecado, como instrumentos de injustiça; antes ofereçam-se a Deus como quem voltou da morte para a vida; e ofereçam os membros do corpo de vocês a ele, como instrumentos de justiça. Pois o pecado não os dominará, porque vocês não estão debaixo da Lei, mas debaixo da graça.
Parece que esquecemos que a língua é um membro do corpo, talvez por ser tão pequeno, ou porque não nos damos conta de que o que dizemos precisa ser atestado pela maneira como vivemos.
James 3:5–6 NVI
Semelhantemente, a língua é um pequeno órgão do corpo, mas se vangloria de grandes coisas. Vejam como um grande bosque é incendiado por uma simples fagulha. Assim também, a língua é um fogo; é um mundo de iniqüidade. Colocada entre os membros do nosso corpo, contamina a pessoa por inteiro, incendeia todo o curso de sua vida, sendo ela mesma incendiada pelo inferno.
Jesus disse:
Matthew 12:36–37 NVI
Mas eu lhes digo que, no dia do juízo, os homens haverão de dar conta de toda palavra inútil que tiverem falado. Pois por suas palavras vocês serão absolvidos, e por suas palavras serão condenados”.
Como gostamos de usar nossa língua para falar dos nossos feitos, de como nos gloriamos da nossa religiosidade.
E ao mesmo tempo, como usamos nossa língua como uma víbora destilando veneno ao falar mal de um irmão, ao amaldiçoar pessoas ao invés de abençoa-la.
Como muitas vezes carregamos um linguajar religioso, mas por outro lado, falamos o tempo todo de forma irrefletida, ferimos a honra das pessoas.
Vivemos emprestando nossa língua a palavreado torpe, palavrões, piadas sujas, mentiras levianas, e mentirinhas para justificar faltas e falhas.
Quantas vezes cancelamos pessoas e suas reputações pelo fato de não refrearmos nossa língua.
É bem verdade que a fé cristã é uma verdade a ser comunicada e compartilhada com o mundo, mas muitas vezes não o fazemos porque nossa língua vive a serviço da murmuração, maledicência, torpeza.
Tiago nos diz, você pode ser um carro alegórico de tanto elemento religioso, pode ser o crente mais assíduo nas programações da igreja, pode ser o maior contribuinte.
Mas se não refreia sua língua, isso depõe contra você, engana a si mesmo e sua religião é vazio, não passa de ruído, sino que ressoa e um prato que retine.
Talvez, é por isso que cada vez mais as pessoas desacreditam na fé cristã, pelo fato de faltar a nós pertinência prática.
Cada vez mais nos vemos distante da vida de outras pessoas.
Talvez seja por isso que cresce o número de novas expressões de espiritualidade, na tentativa de encontrarem o caminho da verdade, ou pelo menos onde o discurso seja confirmado pela vida prática.
A Bíblia diz que a boca fala daquilo que o coração está cheio. A língua funciona como aferidora do coração.
Ela é como uma radiografia que revela o que está em nosso interior. Não há coração puro se a língua é impura. Não há língua santa se o coração é um poço de sujeira.
Não há cristianismo verdadeiro sem santidade da língua. Se o coração estiver certo, a língua mostrará isso.
Mas Tiago vai além;

2. Cuidar dos outros;

James 1:27 NVI
A religião que Deus, o nosso Pai, aceita como pura e imaculada é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e não se deixar corromper pelo mundo.
Perceba o início do verso 27, o autor nos diz que há uma religião na qual Deus aceita como pura e imaculada.
Aqui neste pequeno trecho tem uma importante declaração, a fé cristã se distingue de todas as outras expressões de fé porque ela é a única expressão de fé que Deus aceita.
Toda tentativa de agradar a Deus por meio de qualquer religião que se baseia em nossos esforços, no quão bom somos, nas habilidades que temos, é uma religião baseada no engano e em expressões vazias, que Deus não valida.
Quando Tiago remete-se a Deus como Pai, ele define a verdadeira religião.
A verdadeira religião é aquela cujo seu pilar está em reconhecer Cristo Jesus, como o único Filho de Deus, e saber que somente Cristo nos dá poder se sermos feitos filhos de Deus.
Logo, as marcas de uma verdadeira religião, só podem ser desenvolvidas e encontradas naqueles que professam Cristo como Senhor e Salvador de suas vidas.
John 1:12 NVI
Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus,
Agora, como filhos de Deus, deve ser encontrada em nossa prática, o cuidado com os outros.
Tiago não está enfocando a questão doutrinária, mas um assunto de prática cristã. O conteúdo da fé é a morte expiatória de Cristo e Sua ressurreição gloriosa.
O cuidado dos necessitados não é o conteúdo do cristianismo, mas sua expressão. A preocupação prática da religião de uma pessoa é o cuidado pelos outros.
Quando nos olhamos no espelho da Palavra, nós vemos a Deus, a nós mesmos e, também, o nosso próximo.
Visitar os órfãos e as viúvas nas suas aflições não é apenas cortesia pietista. Não é um desencargo de consciência.
Trata-se de socorro, de envolvimento, de empatia, de compaixão manifestada na ajuda concreta e no suprimento das necessidades reais daqueles que carecem e sofrem.
Constatamos, portanto, que o verdadeiro religioso não é egocêntrico, não é narcisista, não vive só para si, não vive recuado só no seu mundo, só olhando para si.
Ele sai do casulo, da caverna da omissão. Ele se levanta da poltrona da indiferença. Ele age.
Tem mãos abertas, coração dadivoso e bolso generoso. Não é dado à verborragia, mas à ação.
Não ama apenas de palavra, mas de coração. Abomina o sentimentalismo vazia.
Usa a razão, e por isso dá pão a quem tem fome. Ele celebra a liturgia da generosidade e evidencia a verdadeira religião.
Dar pão a quem tem fome, distribuir roupa para quem está nu, visitar os enfermos e os presos e abrigar os forasteiros são atos concretos de amor que Jesus espera e cobrará de nós.
Deixar de fazer essas coisas aos homens é deixar de fazê-las ao próprio Senhor Jesus.
Cristianismo prático, portanto, é ver Cristo na face de nosso próximo; é servir a este como se o fizéssemos ao próprio Senhor Jesus.
Não seremos julgados apenas pelo que dissermos, mas pelas nossas obras, e Jesus trata isso de forma pertinente em seu ensino.
Matthew 25:34–46 NVI
“Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Venham, benditos de meu Pai! Recebam como herança o Reino que lhes foi preparado desde a criação do mundo. Pois eu tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram; necessitei de roupas, e vocês me vestiram; estive enfermo, e vocês cuidaram de mim; estive preso, e vocês me visitaram’. “Então os justos lhe responderão: ‘Senhor, quando te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? Quando te vimos como estrangeiro e te acolhemos, ou necessitado de roupas e te vestimos? Quando te vimos enfermo ou preso e fomos te visitar?’ “O Rei responderá: ‘Digo-lhes a verdade: O que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram’. “Então ele dirá aos que estiverem à sua esquerda: ‘Malditos, apartem-se de mim para o fogo eterno, preparado para o Diabo e os seus anjos. Pois eu tive fome, e vocês não me deram de comer; tive sede, e nada me deram para beber; fui estrangeiro, e vocês não me acolheram; necessitei de roupas, e vocês não me vestiram; estive enfermo e preso, e vocês não me visitaram’. “Eles também responderão: ‘Senhor, quando te vimos com fome ou com sede ou estrangeiro ou necessitado de roupas ou enfermo ou preso, e não te ajudamos?’ “Ele responderá: ‘Digo-lhes a verdade: O que vocês deixaram de fazer a alguns destes mais pequeninos, também a mim deixaram de fazê-lo’. “E estes irão para o castigo eterno, mas os justos para a vida eterna”.
Se você quer viver a verdadeira religião, que agrada a Deus, ela tem seu fundamento em Cristo, e no cuidado com os que sofrem.
Isaiah 1:17 NVI
aprendam a fazer o bem! Busquem a justiça, acabem com a opressão. Lutem pelos direitos do órfão, defendam a causa da viúva.
Mas Tiago nos diz que essa religião é pura e imaculada, nos fazendo aqui pensar no próprio Deus como aquele é puro e imaculado, santo.
Isso, de forma prática, implica na terceira marca da verdadeira religião.

3. Viver em Santidade;

James 1:27 NVI
A religião que Deus, o nosso Pai, aceita como pura e imaculada é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e não se deixar corromper pelo mundo.
Por viver em santidade, Tiago chama de não se deixar corromper pelo mundo.
Ele vai trabalhar esse tema mais a frente também qaundo diz.
James 4:4 NVI
Adúlteros, vocês não sabem que a amizade com o mundo é inimizade com Deus? Quem quer ser amigo do mundo faz-se inimigo de Deus.
O que Tiago está dizendo não é aquela atitude de dizer que o lugar seguro para vivermos nossa fé é somente na igreja, ou tendo amigos crentes, ou lendo apenas livros cristão ou apenas ouvindo música sacra.
Como se tivéssemos que se separar do mundo criando comunidades alternativas cristãs.
Vivendo uma espécie de dualismo, achando que só podemos viver de forma santa no ambiente da igreja, vivendo num gueto religioso.
Charles Ryle:
Santificação não consiste em retirar-se da vida quotidiana no mundo. Em cada época tem havido aqueles que acreditam que retirar-se em reclusão do mundo é uma estrada para a santificação. Mas onde quer que vamos, nós carregamos conosco a fonte do mal – os nossos corações. A verdadeira santidade não é uma planta frágil que só pode sobreviver em uma estufa, mas é forte e vigorosa e pode florescer na vida normal diária. A verdadeira santidade não faz o cristão evitar a dificuldade, mas enfrentá-la e superá-la.
A religião verdadeira não é um simples ritual, não é misticismo ou encenação, mas é ter uma vida separada para Deus.
É guardar-se incontaminado do mundo, ou seja, do sistema de valores pervertidos, corruptos, sujos, imorais e inconseqüentes.
Paulo vai dizer em outras palavras é que o que deve nos moldar (pensamentos e ações), é a vontade de Deus e não os pensamentos do mundo.
Romans 12:2 NVI
Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
Conta-se a história do dono de uma mercearia que se dizia ser um homem santo.
Morava num apartamento em cima da sua loja e, todas as manhãs, gritava para seu funcionário no andar de baixo antes de abrir a loja:
— João!
— Sim, senhor.
— Já misturou água no leite?
— Sim, senhor.
— Já mudou a data de vencimento da manteiga?
— Sim, senhor.
— Já requentou o pão de ontem?
— Sim, senhor.
— Então suba aqui para fazer a devocional!
Isso não é viver em santidade, isso é enganar-se a si mesmo.
Viver em santidade em primeiro lugar reside no fato poderoso de ter nascido de novo, por meio da fé em Cristo Jesus, no poder do Espírito Santo.
Sem ter nascido de novo, o máximo que conseguimos é emular uma santidade baseada em atos externos.
Quando vivemos assim, acumulamos condenação a nós mesmos, a logo logo, seja diante dos homens ou de Deus, nossa religião se mostrará vã e enganosa, sem nenhuma pertinência prática.
Fomos tirados do mundo e separados para Deus. Somos enviados de volta ao mundo, não para o imitarmos, não para cobiçarmos as coisas más que há nele, mas para sermos luzeiros.
Philippians 2:14–16 NVI
Façam tudo sem queixas nem discussões, para que venham a tornar-se puros e irrepreensíveis, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração corrompida e depravada, na qual vocês brilham como estrelas no universo, retendo firmemente a palavra da vida. Assim, no dia de Cristo eu me orgulharei de não ter corrido nem me esforçado inutilmente.
No mundo somos embaixadores de Deus, somos ministros da reconciliação; somos sal, luz e perfume de Cristo.

Conclusão

No mundo existem milhares de expressões de fé, de religiões que arrogam para si a verdade.
Mas sabemos que Jesus Cristo, é o único que prove por meio de sua vida, morte e ressurreição um caminho para Deus.
E a única religião verdadeira, que Deus nosso Pai aceita é aquela que emana da Cruz de Cristo, onde por meio dele somos religados a Deus e recebemos salvação, perdão e vida eterna.
E em Cristo e por meio dele, entendemos que nossa fé tem seu conteúdo na pessoa de Cristo e sua relevância prática na imitação dos passos de Jesus.
Por isso, o chamado a fé Cristã, como verdadeira religião, não é para viver uma religião vazia, mas para conhecer a Cristo e sua obra, e para viver como Cristo, uma vida prática de amor pelos outros assim como Cristo se sacrificou por você.
Se podemos viver um cristianismo prático, não o vivemos como resultado dos nossos atos de bondade, ou de uma religiosidade vivida à risca, mas por causa daquilo que Cristo fez por nós.
A base da verdadeira religião é depositar nossa fé em Cristo Jesus como único caminho para a salvação e como único Senhor que nos orienta a um viver relevante, transformador e que serve o mundo a sua volta.
SDG
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