Unidos em Cristo: nossa identidade, nossa prática e nosso propósito

Sermões expositivos em Colossenses  •  Sermon  •  Submitted
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Colossenses 3.1–4 RA
Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra; porque morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus. Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então, vós também sereis manifestados com ele, em glória.
31 de julho e 2016 Texto a ser exposto:
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Perpétua e Felicidade

Ilustração: Perpétua e Felicidade
Uma das mais comoventes histórias da igreja primitiva é a história de Perpétua e Felicidade, duas jovens mães, no norte da África, em posições sociais diferentes, mas unidas pelo mesmo amor, pela mesma fé e pelo mesmo comprometimento em Cristo Jesus.
Perpétua e Felicidade tinha pouco mais de 20 anos. Perpétua era filha de uma família influente da sua sociedade e Felicidade era uma de suas escravas. As duas receberam o Evangelho e foram salvas pelo Espírito de Deus, compartilhando juntas agora a nova fé que tinham.
Certo imperador romano, chamado Severo, que era muito Severo, ordenou através de um edito imperial o martírio de todo aquele que se recusasse a servir os deuses pagãos do Império. Isso era no início do século III. Perpétua, Felicidade e outros que eram cristãos, mesmo abalados continuaram suas reuniões de oração e não se renderam ao edito imperial. No meio de uma das suas reuniões, os oficiais do império prenderam todos que ali estavam e os condenaram ao martírio.
Além da amizade e da fé em Cristo que essa duas mulheres tinham, elas também compartilhavam a maternidade. Perpétua tinha um filho ainda pequeno, e Felicidade estava grávida quando foi levada presa.
Dizem que Felicidade orava na prisão para dar logo a luz ao seu filho para não enfrentar o martírio longe de seus irmãos queridos. Ela teve o seu pedido atendido e quando agonizava as dores de parto na prisão, um dos guardas a insultou dizendo: “Você está sofrendo agora? Imagina quando for entregue ao martírio” ela respondeu “Hoje eu sofro as minhas dores, por mim, mas logo sofrerá por mim Aquele por quem eu sofro”. Felicidade dá a luz ainda na prisão a uma menina que é adotada por uma mulher cristã.
Já Perpétua, quando estava na prisão recebia constantes visitas do seu pai, que tentava de diversas formas convencê-la a abandonar a sua fé cristã e adorar aos deuses pagãos. O seu pai tentava comovê-la usando o seu filho, dizendo que ela não poderia abandoná-lo e deveria cuidar dele. Perpétua, emocionada, tem um diálogo simples e emocionante com o seu pai, perguntando a ele: “Pai, como se chama essa vasilha que está a sua frente?” , o pai responde: “Ora, minha filha, uma bandeja”, e Perpétua responde a ele: “Então, essa vasilha se chama bandeja, ela deve ser chamada assim, não um copo, uma colher ou uma tigela. Ela é um bandeja. Da mesma forma, meu pai, eu sou cristã, não posso me chamar de pagã ou qualquer outra religião. Eu sou isso e é isso que eu quero ser”.
Pouco tempo depois as duas são levadas ao martírio e juntas morrem a fio da espada dos carrascos a vista de todo o império.
“(1) Já que fostes ressuscitados com Cristo, buscai as coisas de cima, onde Cristo está assentado à direita de Deus. (2) Pensai nas coisas de cima e não nas que são da terra; (3) pois morrestes, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.  (4) Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, também vos manifestareis com ele em glória”

Introdução

Introdução
A meditação que faremos hoje faz parte de uma série de reflexões que estou trabalhando na carta do apóstolo Paulo aos Colossenses, uma das mais empolgantes afirmações do evangelho centrado em Cristo Jesus que temos na Escritura. Nessa carta Paulo ensina aquela jovem igreja sobre a importância e essencialidade de ter uma confissão alinhada e submissa a Cristo. Se pudéssemos reunir toda a afirmação da carta aos Colossenses poderíamos dizer: “Somente Cristo é Senhor!”, contra nós mesmos, as falsas religiões, as vãs filosofias e as inúteis tentativas do legalismo. Somente Cristo é Senhor! Somente Ele quem importa! Só estamos aqui por causa dele.

Onde estávamos?

Nos trechos anteriores dessa carta, o apóstolo Paulo afirmou o Evangelho de Cristo contra o legalismo, o misticismo e o ascetismo. A posição de Paulo aqui é mostrar que a “realidade” de Cristo torna todas essas coisas e todas as tentativas do homem vãs, inúteis e impossíveis de fazer algo por nós. Quando a luz, que é Cristo, veio, nenhuma sombra permaneceu. Ele (e somente Ele) é o que precisamos.
O que temos é que se estamos em Cristo, ou diante de Cristo, nós não precisamos fazer mais nada para “chegar até Deus” e não estando em Cristo, ou distante dele, tudo o que formos fazer será inútil para estar perto de Deus. As práticas até “piedosas” do legalismo, os encantamentos e sofisticações da filosofia ou até a busca do conhecimento, nenhum destas posições produz corações arrependidos, não circundam o coração do homem, não colocam a escrita da nossa dívida de pecado cravada na cruz. Somente Cristo é quem faz (e quem fez) isso.
Interessante que o erro que Paulo busca responder e que ecoa em toda a sua carta é que aquela jovem igreja, recém plantada, conduzida por um piedoso servo chamado Epafras, estava querendo acrescentar outras coisas além de Cristo. Cristo não era suficiente. Cristo não era Senhor. O coração obstinado do ser humano, mesmo que compreendendo mentalmente o Evangelho, tendo seu coração “sendo santificado”, ainda busca algo a mais, quer ter outros “senhores” e Paulo irá dizer que isso não condiz com a vida cristã e que a afirmação: “Somente Cristo é o Senhor” precisa ser uma sonora e vigorosa resposta contra toda tentativa de ofuscar a supremacia e soberania de Cristo em nossas vidas.
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O problema que o texto aponta

O problema que o texto nos aponta é um problema que eu acredito que muitos de nós também compartilhamos, que é: a coerência da nossa vida Cristã. Por isso o nosso tema de hoje é uma reflexão sobre os efeito da nossa união em Cristo - nossa identidade, nossa prática e nosso propósito.
O ponto aqui é que existe uma realidade que mudou a nossa vida e essa realidade é a de que estamos “unidos em Cristo”. Estamos com ele. E se isso for verdade para nós, o que espero que seja, isso transforma a nossa vida em todas as suas esferas, seja no que diz respeito sobre quem somos (nossa identidade), sobre o que fazemos (nossa prática) e sobre o porquê existimos (nosso propósito). Tudo é radicalmente transformado em Cristo e se é verdade que estamos em Cristo isso exige de nós uma resposta de coerência.
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O problema que afeta essa três esferas pode ser descrito da seguinte forma:

Problema de identidade: Sabemos a quem pertencemos?

O problema da identidade nos afeta no sentido de que assim como aquela igreja em Colossos, nós temos uma tentação pecaminosa em nosso coração de colocar rapidamente quem nós somos em outras coisas que não são Cristo, seja um código de ética-moral, achando que podemos ser alguém porque cumprimos uma série de normas e agora somos muito bons por causa disso, seja porque “estudamos muito” ou “nos esforçamos no nosso trabalho” e então somos o que somos, ou até porque cumprimos uma certa obrigação que temos na “igreja” ou em qualquer outro grupo que nos permita definir enquanto pertencentes a ele.
A nossa sociedade atual busca nos definir a partir de uma lógica utilitária, você é aquilo que você faz. Um médico, um engenheiro, um professor. A nossa profissão define nossa identidade. Isso é complicado porque não só isso corresponde normalmente a 1/3 do seu horário do dia como também nos faz refém das circunstâncias, pois, se não existisse esse trabalho, você seria outra coisa, mas e aí, sua identidade é isso? Depende das circunstâncias? Tudo isso é um tipo de legalismo e uma tentação do coração do homem de fazer para ser. Precisamos provar para os outros o que somos.
Cristo derruba tudo isso quando ele é quem toma a iniciativa de fazer aquilo que nenhum de nós poderia fazer! É por isso que a nossa identidade está em Cristo.

Problema de prática: Sabemos o que devemos fazer?

O problema da prática é possível de ser visto quando olhamos para muitos que se “dizem cristãos” mas que não evidenciam em sua vida o que são. Vivem como donos de si mesmo, submissos apenas a sua vontade e ao seu coração enganoso. As vezes na igreja ou as vezes distante dela, isso não importa. Manipulam as circunstâncias para algo que lhe agrade e que combine com o “estilo de vida” que satisfaça seus interesses.
Não existe nada mais triste e mais nocivo. Cristo nos liberta disso e nos liberta da tirania do nosso coração. Nos tira da servidão doentia aos nossos interesses para nos fazer servos e amigos dele, ligados nele, e que não precisam fazer nada mais para provarem algo (nem para si mesmo, nem para Deus), mas viverem agora de forma coerente com aquilo que são. A nossa identidade em Cristo (ser um Cristão) deve radicalmente mudar a nossa existência.

Problema de propósito: Sabemos porque vivemos?

E por fim um problema de propósito porque isso nos leva a uma vida voltada para nós mesmos, nossos próprios prazeres e contentamentos. Distantes da glória de Deus e da razão de existirmos. Em um mundo que afirma o caos a todo o tempo, porque de fato tem razão, sem Cristo só existe caos e desordem. Devemos lembrar que a nossa vida está diante da contemplação da glória de Deus e esse é nosso fim principal.

Desenvolvimento

Depois de trabalhar um pouco esses problemas que vivemos, gostaria que brevemente pudéssemos olhar ao texto que lemos para possamos ver como ele responde a cada uma dessas questões e nos lembra sobre como a estar unidos em Cristo muda radicalmente a nossa vida.
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Ponto de partida: Nossa união em Cristo

“(1) Já que fostes ressuscitados com Cristo, buscai as coisas de cima, onde Cristo está assentado à direita de Deus”.
Paulo aqui nos mostra um breve resumo de tudo o que já falamos até agora. Ele nos diz que “Já que” isso aconteceu, façam isso. O que estamos aprendendo aqui não é uma simples ordem lógica mas uma essencial relação de onde nós estamos. Se estamos em Cristo, devemos fazer algo, que é buscar as coisas de cima. Existe uma implicação muito clara no evangelho que é, estamos em Cristo, devemos agir como tal. Não tem como estarmos em Cristo e nos rendermos ao legalismo, as manipulações do nosso coração ou a um evangelho que nos agrada. Ou é Cristo ou não é. E se é Cristo, algo natural disso deve acontecer como consequência.
A ideia das coisas no alto e a destra de Deus não é no sentido de literalmente estarem no alto, mas sim de presença e essa em Cristo, e ele em Deus. A questão não é viver uma vida em outra dimensão mas compreender que as coisas dessa dimensão são alteradas pela unidade que temos em Cristo.
A lembrança de Paulo sobre a ressurreição é muito importante, pois se uma vez estávamos mortos em nossos pecados, Cristo morreu por nós, então morremos com Cristo e vivemos com Cristo. Na sua morte, nossa velha natureza está morta e na sua vida a nossa nova natureza está viva. Junto com ele. Por isso não existe mais uma outra dimensão “não cristã” mas sim uma dimensão de vida em Cristo e essa nova! “Vivamos em novidade de vida”
De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida. ()
A palavra aqui que nos manda “procurar” ou “buscar” não diz sobre um mero esforço qualquer que fazemos no dia a dia, mas uma meta proposta por um motivo claro, que é Cristo. Cristo transforma nossas motivações. Se antes fazíamos as coisas por nós mesmos ou para agradar os outros ou até para ser aceitos, agora nós “buscamos” o que é do alto não por nós mesmos, mas por Cristo. Ele é o motivo. Pelo que ele fez por nós e pelo que somos nele, unidos nele.
Aqui aprendemos sobre o nosso ponto de partida: Nossa união em Cristo. Isso é que define a nossa identidade. Não o trabalho que temos, as coisas que fazemos, as motivações, os lugares que pertencemos, nada disso. O que define quem somos é Cristo e por causa disso que estamos unidos com ele, misticamente, totalmente, “embebidos” pela unidade que temos em Cristo.
Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a pela fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim. ()
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Uma consequência: A prática necessária

“ (2) Pensai nas coisas de cima e não nas que são da terra; (3) pois morrestes, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. “
Nesse sentido o texto nos aponta agora uma consequência dessa unidade em Cristo que temos. Devemos “pensar nas coisas de cima”. O ponto aqui é, buscamos com a motivação em Cristo e isso agora reina no nosso pensamento.
É interessante falar de pensamento quando tratamos de prática. Normalmente dividimos a vida entre teoria e prática, as coisas da academia e as coisas do mundo real, os teólogos e os pastores, enfim. O problema é que toda prática tem no fim uma teoria, nem que seja a ausência de uma, ainda é uma teoria. O problema não é a teoria em si mas o julgamento sobre se essa “teoria” é de cima (em Cristo) ou da terra, ou de baixo, (não em Cristo). Se ela é boa ou ruim. Toda prática é fundamentada por um tipo de pensamento. Ninguém faz algo só por fazer, sempre tem um pensamento que opera uma conduta.
O que Paulo nos lembra é para vocês fazerem certo vocês precisam pensar certo - pensar de uma forma diferente - que não se conforma com esse século, que não entrega suas expectativas a esse mundo, que não se contenta com as filosofias e conhecimentos daqui, mas que faz tudo o que faz sob uma outra e melhor perspectiva.
Lutero é muito conhecido pela proposta das 95 teses, que na verdade eram uma disputa de 95 argumentos a serem discutidos sobre as indulgências. Algo que poucos sabemos é que Lutero, uns 2 meses antes de publicar as 95 teses, elaborou 97 teses contra a teologia escolástica do seu tempo, a que ele chamava de teologia da glória. Para Lutero, as 95 teses eram o exterior de algo interior muito mais importante. A prática das indulgências era apenas um dos problemas que uma teologia errada e com o foco errado causava na igreja. Por isso as 97 teses para dizer que existe um problema de pensamento. E isso precisa ser resolvido. Da mesma forma Paulo nos lembra da coerência: Existe um problema de pensamento e por isso que devemos pensar corretamente. Isso tem tudo a ver com o que fazemos.
E esse pensar, que leva a uma prática, ele é possível porque nós “morremos” para o antigo pensar. As lógicas antigas não funcionam e nós sabemos disso. Nós morremos para elas. E vivemos em Cristo. E é por isso que a nossa vida não pertence a nós mesmos mais, mas está escondida em Cristo e guardada por ele.
O que temos aqui é que a prática necessária para a nossa vida e que responde ao problema que temos sobre o que nós fazemos nos diz que isso é uma questão que se inicia na nossa união em Cristo e no nosso modo de pensar. Uma vida diante de Deus e sob o senhorio de Cristo é uma vida que pensa de uma forma diferente, que entende que existe uma nova realidade e uma nova vida, que não é mais das “coisas terrenas” mas das “coisas do alto”.
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Uma esperança: A glória em Cristo

“(4) Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, também vos manifestareis com ele em glória”
E por fim lembramos da nossa esperança em Cristo e do propósito de nossa vida. A manifestação com ele em glória, lembrança da sua vinda, é aquilo que esperamos. Não queremos ficar ricos e dominar o mundo, nem sermos os primeiros, nem ter posição de glória, pois entendemos que a glória é de Cristo e a nossa glória é a dele. Que a nossa vida é oculta nele e só será manifesta nele.
As coisas que acontecem em nossa vida não dizem respeito a nós, essencialmente, mas a glória de Cristo. Esse é o propósito. Talvez seja difícil ver isso no momento, mas é essa glória que nos faz descansar em situações difíceis que passamos e não nos perdermos em situações boas que temos. O fim último da existência e o propósito último do universo é a glória de Cristo!
É nisso que perseveramos e caminhamos dia após dia. É isso que nos ajuda a não nos perdemos com as falsas promessas de esperança mas estarmos conscientes, pacientes e operantes, trabalhando sob a glória de Cristo. É isso que nos move, é isso que nos dá propósito e isso que atesta que pertencemos somente a ele.

Conclusão e aplicações práticas

Conclusão e aplicações práticas
Para concluirmos, gostaria de trazer algumas perguntas e reflexões sobre a nossa vida e sobre esse chamado a coerência que a meditação de hoje nos trouxe.
Nós precisamos de uma exortação a coerência. Se é isso que queremos ser, que vivamos assim. Não somos outra coisa além de Cristãos, unidos em Cristo. E isso deve nos levar a:
Alinhar nosso ponto de partida e nossa identidade em Cristo: morremos com ele, vivemos com ele, estamos nele. Não pertencemos a nós mesmos e nem a ninguém, pertencemos a ele.
Rever e adequar nosso pensamento em Cristo: A atitude correta virá quando pensarmos de maneira correta, pensarmos nas “coisas do alto” naquilo que considera a presença dele e não as nossas expectativas.
Ter a esperança correta e a glória de Cristo como único propósito para a nossa vida.
Oremos ao Senhor.
[1]: Seminarista da IPB, (67) 9 8405-6469, jvabreu@gmail.com
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