VIDA DE DISCÍPULO

Lucas: Parte II - Judeia  •  Sermon  •  Submitted
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LEIA O TEXTO CONFORME PREGA, PARTE A PARTE
Don Corleone ameniza e lhe promete vingança, não por morte, mas com uma bela surra nos criminosos; mas antes, ele repreende Bonasera por nunca ter lhe dado o respeito e a amizade, a não ser
Ao ouvirmos e cremos o que ela nos diz a respeito de Jesus, um novo relacionamento com Deus na
Nós já dissemos aqui que Lucas organiza a sua narrativa sobre a vida e os ensinos de Jesus de uma maneira ordenada, não cronologicamente, mas por assuntos pertinentes à certeza de fé que ele quer dar a crentes como Teófilo, o destinatário primeiro de seu texto.
Um dos fatos evidentes da Bíblia a que devemos ouvir e atentar é que somos criaturas sob um governo de um Deus que é bom. Outros povos também falaram da bondade de seus deuses. Só que, diferentemente destes falsos deuses, o Senhor não é um Deus que permita que a sua bondade seja manipulada. Ela não está condicionada a atos humanos. Deus não faz o bem, ele é bom. Que outro Deus, por exemplo, faz o bem àqueles que o contrariam, que mostre tal paciência como a que o Senhor tem mesmo diante de nossos pecados? O rico, no inferno, ainda blasfemando e com espírito egoísta, é chamado de filho. O pródigo é acolhido de volta ao lar e seu irmão de coração endurecido ainda é alvo das palavras de paz do pai amoroso.
Ele continua a ensinar os seus discípulos nesta passagem de hoje; e o que ele ensina é um verdadeiro desafio para aqueles homens e também para nós.
Claro, nõs devemos fazer o bem sem esperar nada em troca. Não é correto nutrir a mágoa pela ingratidão recebida
Primeiro, Jesus vai falar sobre a seriedade que seus discípulos devem ter em relação à luta contra o pecado. Pecar, diz Jesus, é algo inevitável. Ainda que tenhamos o croação transformado, a carne é fraca
Nós não podemos mover a bondade de Deus. Ele nos faz o bem porque isto é de sua natureza perfeita. Ele é bom, emsmo que nós
Nós precisamos ter isto em mente, já que a grade dificuldade dos ensinos contidos nesta passagem é que eles parecem não ter qualquer relação uns com os outros; mas uma observação cuidadosa do texto vai fazer com que percebamos que Jesus tem um eixo central em mente, ao unir estes ensinos. Este eixo é o discipulado, a qualidade de vida que ele requer de quem afirma querer segui-lo.

A bondade de Deus nos move a uma vida grata e obediente

Nós vemos a todo o tempo que Deus é bom e por isso merece ser honrado. Nós porém, pelo pecado, perdemos a capacidade de vê-lo como a fonte de todo o bem. Cristo, pela sua obra e modelo nos restaura a gratidão de coração para que transformados, possamos servir ao Senhor como ele merece.
Comecemos pela
Nós já tivemos a oportunidade de dizer nesta série que seguir a Jesus é um caminho exigente, de porta estreita, de cruz, a ser tomada dia a dia. Um discípulo não vive para si mesmo, mas para o serviço do seu Mestre. Por isso, quero destacar neste texto de hoje
Quando cremos, um universo de possibilidades: relacionamento restaurado com Deus e o próximo, acesso ao trono da graça, paz, propósito; mas também o compromisso com uma vida responsável de discipulado.

Deus é bom

Cinco valores fundamentais de um verdadeiro discípulo de Jesus

Vou tomar aqui a liberdade de começar esta mensagem pelo final. Como
É a discípulos que Jesus ensina no caminho de Jerusalém.
À luz do nosso texto, quero fazer ver aos irmãos que um verdadeiro discípulo de Jesus vive a vida com discernimento, paciência, dependência, humildade e gratidão.
Ser discípulo é
O primeiro valor, o do discernimento, nos fala acerca do cuidado com que devemos conduzir o nosso testemunho.
Lidar com seu próprio pecado e o alheio de forma consistente
O Senhor merece ser honrado pelo bem que nos fez

Discernimento

V. 1-4
(1-2) Nós ainda vivemos sob a influência do pecado e, por isso, é inevitável que vez por outra cometamos pecados. Isto, porém, não nos isenta de responsabilidade, ainda mais se o nosso pecado leva alguém menos maduro na fé a pecar por imitação ou se desviar da fé. Por isso, devemos estar sempre atentos, para não cairmos em tentação.
Lucas 17.1–3a NVI
Jesus disse aos seus discípulos: “É inevitável que aconteçam coisas que levem o povo a tropeçar, mas ai da pessoa por meio de quem elas acontecem. Seria melhor que ela fosse lançada no mar com uma pedra de moinho amarrada no pescoço, do que levar um desses pequeninos a pecar. Tomem cuidado. “Se o seu irmão pecar, repreenda-o e, se ele se arrepender, perdoe-lhe.
V. 1-3a
Nós sabemos que, enquanto vivemos neste mundo marcado pelo pecado, é inevitável que vez por outra nós não abramos brecha para a tentação; e o nosso pecado não traz consequências apenas para nós, mas também tem influência na vida das pessoas que nos cercam, principalmente naquelas que nos têm como exemplo a ser seguido. Se você é um líder cristão, um pai ou uma mãe sabe bem do que estou falando.
Jesus trata nestes
É inevitável que, vez por outra nós caiamos na arapuca do diabo; mas ai de nós se a nossa falta de vigilância seja a causa a que outros venham também a cair. O rigor contra quem o fizer será grande, como a ilustração de Jesus no início do verso 2 quer mostrar. A pedra de moinho (SLIDE) era uma pedra muito pesada, tão pesada que era necesária tração animal para movê-la na moagem de grãos. Lançar-se ao mar com esta pedra ao pescoço era condenação à morte certa. Vejam, então, quão grande é a ira de Deus contra aquele que colocar-se no caminho da graça, impedindo a alguém a entrada no Reino.
É claro, esta é uma grave reprovação aos fariseus que provavelmente também ouviam Jesus ensinar. Eles se julgavam gente acima da média no relacionamento com Deus, mas estavam cheio de pecado e podridão. Nas palavras de Jesus (). Eram uma armadilha, levando as pessoas para longe de Deus e teriam de prestar contas disto.
Lucas 11.52 NVI
“Ai de vocês, peritos na lei, porque se apoderaram da chave do conhecimento. Vocês mesmos não entraram e impediram os que estavam prestes a entrar!”
Para os discípulos, a ordem de Jesus é muito clara: tomem cuidado! Estejam atentos com o que vocês dizem ou fazem, porque os pequeninos do Reino estão observando. Nós temos, como Paulo ordena em , que usarmos de todo discernimento, julgando nossas palavras e ações, para não servirmos de pedra de tropeço aos nossos irmãos.
Romanos 14.13 NVI
Portanto, deixemos de julgar uns aos outros. Em vez disso, façamos o propósito de não colocar pedra de tropeço ou obstáculo no caminho do irmão.
Especialmente, a nossa hipocrisia se torna em pedra de tropeço tanto ao descrente quanto ao irmão fraco na fé. Dwight Moody, o grande evangelista do final do século XIX definiu muito bem o porquê tantos cristãos servem de armadilha aos mais fracos. Para ele
Muitos que se professam cristãos são uma pedra de tropeço porque a sua adoração é dividia. No domingo eles adoram a Deus, mas nos dias da semana Deus tem pouco ou nenhum lugar em seus pensamentos.
Quem dirá que ele não está certo? Quantos não se desviaram diante da hipocrisia de algum líder ou de alguém que admiravam? Quantos não são arrastados quando algum evangelista ou pastor de renome não é apanhado em pecado?
Isto, é claro, não pode servir a você, amigo, como uma razão para se desviar ou não vir a Cristo. Cada um de nós dará conta de seus próprios atos e decisões. A falta de discernimento alheia não servirá de justificativa quando, diante do trono de Deus, você tiver de prestar contas do que fez de sua vida e do Filho de Deus; mas nos responsabiliza como crentes a darmos a você o melhor do testemunhos, para que você se torne um discípulo de Cristo, não de Satanás. A diferença entre uma pedra de tropeço e uma pedra de esquina é o uso que você faz dela. Nós temos de tomar uma decisão consciente de exercitarmos, dia a dia, espírito de discernimento sobre nossas ações, palavras e pensamentos.
Um segundo valor que deve estar presente na vida de um verdadeiro discípulo é a paciência com o erro alheio.

Paciência

pACIÊNCIA
O fato de pertencermos a Cristo não nos isenta do pecado. Aliás, aumenta a nossa
Perfeição da criação
Privilégios e responsabilidades do cristão
Lucas 17.3b–4 NVI
Tomem cuidado. “Se o seu irmão pecar, repreenda-o e, se ele se arrepender, perdoe-lhe. Se pecar contra você sete vezes no dia, e sete vezes voltar a você e disser: ‘Estou arrependido’, perdoe-lhe”.
Lc 17.3b-
Ora, ainda que exerçamos discernimento, nós não estamos isentos de errar; e nós sabemos que temos um Deus paciente, que não derrama a sua ira prontamente sobre nós, mas nos oferece a oportunidade do perdão. Nós somos beneficiados pela misericórdia de Deus e devemos oferecer o mesmo benefício ao irmão pecador.
Ora, ainda que exerçamos discernimento, nõs não estamos isentos de errar; e nós sabemos que temos um Deus paciente, que não derrama a sua ira prontamente sobre nós, mas nos oferece a oportunidade do perdão.
Todos nós somos pecadores em transformação, livrando-nos de tudo que Deus odeia e nos apegando ao que Deus ama, pouco a pouco, dia a dia, às vezes dando dois passos adiante e um atrás. O que o Senhor faz conosco? Por meio da sua Palavra, ele nos alerta do erro e nos mostra o caminho da correção. Então, por causa de Cristo, ele estende a nós o seu perdão e nos oferece um novo começo, livres da culpa.
Por que razão, então, nós temos tanta dificuldade em oferecer a mesma dádiva da paciência com aquele que nos ofende? Creio eu é que há em nós algo que não existe em Deus, o orgulho ferido. Nós nos revestimos de uma superioridade falsa, como se a maturidade cristã ou a santidade que possuímos fosse um mérito nosso, não de Cristo, não do caráter dele implantado em nós. Então, ao invés de sermos os ajudadores de nossos irmãos, nos tornamos em um pelotão de fuzilamento, os atiradores de elite de Jesus, prontos a eliminar a alma infiel.
Nós não desejamos a restauração, mas de retribuição. Nós queremos que a pessoa receba o que ela merece, e nos esquecemos de que Jesus morreu pelos pecados dela, assim como pelos nossos. Nós nos esquecemos da instrução de Paulo em , de que somos chamados a sermos agente da restauração, em espírito de mansidão.
Gálatas 6.1 NVI
Irmãos, se alguém for surpreendido em algum pecado, vocês, que são espirituais, deverão restaurá-lo com mansidão. Cuide-se, porém, cada um para que também não seja tentado.
É nossa responsabilidade irmos até o irmão ofensor
O que Jesus ensina aqui não é varrer o erro alheio para debaixo do tapete. Deus não faz isto conosco, nem nós devemos fazê-lo com o nosso próximo. Quem ama, corrige; e se a pessoa cair em si e se arrepender, é nosso dever perdoar, é renunciar ao nosso direito de vingança. O que Jesus anuncia aqui não é algo novo. É algo que já se encontrava na cultura judaica, em textos como o do apócrifo Testamento de Gade (SLIDE):
Amem uns aos outros cordialmente; se alguém pecar contra você, fale com ele pacificamente, banindo o veneno do ódio e sem manter malícia em sua alma. Se ele confessas e arrepender, perdoa-lhe (Testamento de Gade).
Bem, e se ela não se arrepender? A Palavra prevê o que deve ser feito. Há outros passos para ajudá-la a ver a verdade sobre o seu erro. Veja . Em resumo, se o pecador não está disposto a se arrepender, então ele não tem parte no Corpo de Cristo.
Mateus 18.15–18 NVI
“Se o seu irmão pecar contra você, vá e, a sós com ele, mostre-lhe o erro. Se ele o ouvir, você ganhou seu irmão. Mas se ele não o ouvir, leve consigo mais um ou dois outros, de modo que ‘qualquer acusação seja confirmada pelo depoimento de duas ou três testemunhas’. Se ele se recusar a ouvi-los, conte à igreja; e se ele se recusar a ouvir também a igreja, trate-o como pagão ou publicano. “Digo-lhes a verdade: Tudo o que vocês ligarem na terra terá sido ligado no céu, e tudo o que vocês desligarem na terra terá sido desligado no céu.
Mas esta abordagem não é o que costumeiramente fazemos, não é mesmo? De duas alternativas, geralmente escolhemos uma. Ou exercitamos uma fúria vingadora que consome ao outro e a nós mesmos no processo, ou então enterramos a mágoa no coração, fazendo germinar no solo fértil do nosso pecado a semente da amargura. Você sabe disto… do mesmo modo que sabe que qualquer destas duas soluções não é completamente satisfatória, principalmente para quem já teve seus pecados perdoados por Cristo.
Só que nós reconhecemos que viver com discernimento e paciência é algo que depende de algo maior do que nós.

Dependência

(1-2) Nós ainda vivemos sob a influência do pecado e, por isso, é inevitável que vez por outra cometamos pecados. Isto, porém, não nos isenta de responsabilidade, ainda mais se o nosso pecado leva alguém menos maduro na fé a pecar por imitação ou se desviar da fé. Por isso, devemos estar sempre atentos, para não cairmos em tentação.
Bondade da providência

Fidelidade

Lucas 17.5–6 NVI
Os apóstolos disseram ao Senhor: “Aumenta a nossa fé!” Ele respondeu: “Se vocês tiverem fé do tamanho de uma semente de mostarda, poderão dizer a esta amoreira: ‘Arranque-se e plante-se no mar’, e ela lhes obedecerá.
O cuidado com a nossa conduta, principalmente em favor dos mais fracos
mISERICÓRDIA
(3-4) Jesus trata sobre como o pecado deve ser tratado dentro da Igreja. Deve haver confrontação, mas paciência. Do mesmo modo como Deus age com longanimidade em relação aos nossos pecados, nós também devemos fazer o mesmo diante do pecado alheio. Nós não temos o direito de exercitar vingança ou de deixar crescer em nós o ressentimento.
O verdadeiro discípulo de Jesus deseja viver em obediência ao seu Mestre. Ele deseja viver uma vida de santidade, que promova a honra do Senhor aos olhos de todos. Ele deseja uma conduta paciente com o erro alheio, para tratar os outros do mesmo modo como é tratado pelo seu Senhor; mas ele vive ainda em uma tensão como a descrita por Paulo (), em que nem sempre ele faz o que deseja.
Exercitar a fé recebida
Romanos 7.20 NVI
Ora, se faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, mas o pecado que habita em mim.
Foi esta a percepção dos discípulos de Jesus diante dos seus requerimentos. É uma oração bonita e humilde, na simplicidade destes homens ainda embrutecidos, mas em transformação, como qualquer um de nós; mas Jesus vai corrigir o seu ponto de vista em um detalhe.
V. 5-6
Cumprir a vontade de Deus não é uma questão de tamanho de fé, mas se a fé está presente ou não. No português a expressão “se vocês tiverem fé” é um subjuntivo, um modo verbal que indica condição, possibilidade, mas no original grego ela está no presente do indicativo. Isto quer dizer que Jesus pressupõe que esta fé necessária já está presente. Eles já creem, e isto é suficiente. Eles já estão numa relação de dependência com o Senhor.
O que quero mostrar aqui é que você não precisa ser um super-herói para viver uma vida santa. A vitória sobre o pecado não está no tamanho de sua fé, mas no objeto a quem ela está dirigida, é a conclusão de Hudson Taylor, missionário na China, quando diz que “Não necessitamos de uma grande fé, mas da fé em um grande Deus”. Não é o quanto você crê que importa, mas em quem você crê.
O nosso problema é tentarmos realizar a vontade de Deus, mas sem o seu poder. É tentarmos resistir ao pecado baseados em força de vontade, ou tratarmos do pecado alheio baseados na concepção de que mudar o coração de um irmão depende de nossa capacidade de argumentação ou das ameaças que possamos dirigir.
É aí que a fé assume um papel fundamental; mas que fé é esta? É a fé de que tanto nós quanto nossos irmãos já receberam uma nova identidade em Cristo. Nós e eles já não somos mais o que éramos, apesar de ainda não sermos o que deveremos ser. É algo já presente em nós. Cumpre a nós, agora, colocar esta firme convicção em ação.
Na tentação, confie que o Deus que permite que você seja tentado também é o Deus fiel que promete o livramento. Tenha a convicção de que, por estar em Cristo, você não é mais um escravo da sua carne. Seja para os demais um exemplo de um pecador em transformação, que ainda falha na sua disposição, mas que ama o Senhor e que confia que aquele que começou a boa obra há também de completá-la.
Ao tratar do pecado de um irmão, lembre-se de que ele é participante da mesma graça que você. Ele também recebeu uma nova identidade. Jesus morreu por ele e ele ressuscitou com Cristo. Se ele é um verdadeiro discípulo, o Senhor há de abrir o coração para que a palavra de correção produza o seu fruto. O Senhor é um Deus de paz e está profundamente comprometido para que estejamos em paz uns com os outros.
Esta relação de dependência com o Senhor também coloca o nosso coração no lugar certo. Nós sabemos e reconhecemos que todo bem que há em nós é fruto da graça; e, para ilustrar este ponto, Jesus conta uma pequena parábola, nos versos 7 a 10.
Jesus conta, então uma pará

Humildade

Lucas 17.7–10 NVI
“Qual de vocês que, tendo um servo que esteja arando ou cuidando das ovelhas, lhe dirá, quando ele chegar do campo: ‘Venha agora e sente-se para comer’? Ao contrário, não dirá: ‘Prepare o meu jantar, apronte-se e sirva-me enquanto como e bebo; depois disso você pode comer e beber’? Será que ele agradecerá ao servo por ter feito o que lhe foi ordenado? Assim também vocês, quando tiverem feito tudo o que lhes for ordenado, devem dizer: ‘Somos servos inúteis; apenas cumprimos o nosso dever’ ”.
Não parece estranho a você que o mesmo Jesus que conta esta parábola é o Jesus que disse que não veio servido e sim para servir? Ou que lava os pés dos discípulos na última ceia?
Parece que, com esta parábola, Jesus esteja nos apresentando Deus como um senhor sem piedade, que trata os seus servos - nós - sem misericórdia alguma!
A verdade é que muitos de nós pensamos em Deus exatamente desta maneira. Era esta visão que movia os fariseus dos tempos de Jesus à obediência; e quando Deus é visto desta forma, o favor dele passa a ser algo a ser comprado pelo nosso serviço. Nós passamos a fazer o que é certo, não porque servimos a um Senhor amoroso e bom, mas a um tirano que deve ser subornado pelas nossas boas ações.
O filho necessário desta concepção equivocada é o orgulho. Se eu faço o que é certo, Deus está comprometido em me abençoar. O Senhor se torna um devedor meu, por eu haver feito tudo o que me foi ordenado.
É para corrigir esta visão que Jesus conta esta parábola. Obedecer, é a verdade a ser enfatizada aqui, não é mais do que a nossa obrigação. A palavra “inútil” aqui não tem o sentido de imprestável, mas de algo que não é digno de louvor. Se faço apenas o que me foi ordenado, não cumpri mais do que devia.
É a resposta que o pai deveria ter dado ao filho mais velho, na parábola do pródigo. Veja . O filho lança no rosto do pai todo o seu suposto direito, tudo de bom que fez. O pai poderia muito bem ter respondido: ‘e daí? Você é meu filho, não está cumprindo mais do que o seu dever!”.
Lucas 15.29 NVI
Mas ele respondeu ao seu pai: ‘Olha! todos esses anos tenho trabalhado como um escravo ao teu serviço e nunca desobedeci às tuas ordens. Mas tu nunca me deste nem um cabrito para eu festejar com os meus amigos.
É uma inversão de valores, o Senhor de toda a criação tendo de dar satisfações à criatura! O professor James Resseguie (SLIDE), comentando esta passagem, captou muito bem este ponto:
“A obediência é baseada na iniciativa divina e na obrigação humana, antes que na iniciativa humana e na obrigação divina” (James Resseguie).
É como Paulo nos adverte em . Será que Deus necessita de algo que eu possa lhe oferecer para que ele se veja obrigado comigo? Ou Jó (), ao lembrar que nem mesmo o sábio é de alguma utilidade a Deus.
Romanos 11.35 NVI
“Quem primeiro lhe deu, para que ele o recompense?”
Jó 22.2 NVI
“Pode alguém ser útil a Deus? Mesmo um sábio, pode ser-lhe de algum proveito?
Veja, todo o bem que Deus nos faz é por livre graça dele. Nós nem mesmo conseguimos cumprir tudo o que foi ordenado, e julgamos que temos algum direito de ordenar a Deus que cumpra a nossa vontade. Maldita teologia da prosperidade, pregada pela Universal do Reino de Deus, Mundial do Poder de Deus e suas assemelhadas, que induzem os pequeninos a crerem que o favor de Deus pode ser comprado!
Irmãos, nós temos de lembrar que o único servo que não mereceu a alcunha de inútil é Jesus. Ele é o único que cumpriu muito mais do que lhe foi ordenado. Ele foi fiel em tudo, não para o seu próprio benefício, mas para o de outros. Sendo Senhor, ele fez-se servo e, como bom pastor, preparou-nos uma mesa. Será que, observando o exemplo de Jesus, podemos nos arrogar qualquer direito de exigirmos do Senhor alguma coisa, por não conseguirmos fazer nem mesmo o que ele ordena?
Pode você, amigo que ainda não confiou sua salvação a Cristo, pensar que suas boas obras, a sua caridade, o seu bom comportamento podem conquistar o céu? Não, se você faz todas estas coisas, merece nada mais que o nome de servo inútil. Confie tão somente na graça do Senhor, na sua bondade. Dê a ele a honra devida.
E se você já está entre os que creem, sabe muito bem de sua inutilidade. Coloque-se, então, no seu devido lugar de servo. Deus nao necessita da sua presença aqui no domingo, não precisa do dinheiro de seus dízimos e ofertas, não precisa que você seja a sua testemunha. Deus não vai deixar de ser Deus se você não o obedecer, não vai renunciar à sua soberania se você orar, nem vai deixar de conceder bênçãos se você deixar de orar. Todas estas coisas são obras da graça. Ame a Deus por quem ele é, pela sua beleza e perfeição, não pelo que ele faz.
Mas há um último valor a ser tratado aqui, o fruto da dependência e da humildade do verdadeiro discípulo. É a gratidão, ilustrada na triste (e revoltante) história dos leprosos curados por Jesus.
O tratamento
Perdão em Cristo

Gratidão

(5-6) Mesmo os requerimentos mais difíceis do Senhor podem ser cumpridos por meio da fé. A fé exercitada para cumprir o que o Senhor ordena pode muito em seus efeitos.
Lucas 17.11–19 NVI
A caminho de Jerusalém, Jesus passou pela divisa entre Samaria e Galiléia. Ao entrar num povoado, dez leprosos dirigiram-se a ele. Ficaram a certa distânciae gritaram em alta voz: “Jesus, Mestre, tem piedade de nós!” Ao vê-los, ele disse: “Vão mostrar-se aos sacerdotes”. Enquanto eles iam, foram purificados. Um deles, quando viu que estava curado, voltou, louvando a Deus em alta voz. Prostrou-se aos pés de Jesus e lhe agradeceu. Este era samaritano. Jesus perguntou: “Não foram purificados todos os dez? Onde estão os outros nove? Não se achou nenhum que voltasse e desse louvor a Deus, a não ser este estrangeiro?” Então ele lhe disse: “Levante-se e vá; a sua fé o salvou”.
V
A lepra nos dias de Jesus não era apenas uma doença física, mas um mal social. Toda a vida em sociedade judaica girava em torno do Templo. O lugar da adoração é o que garantia a identidade nacional, a unidade do povo. Quando alguém contraía lepra era declarado impuro cerimonialmente. Assim sendo, não poderia participar da adoração no Templo e, consequentemente, estava desligado da vida em sociedade. Veja o que diz a este respeito . As pessoas temiam a lepra mais pelo estigma social do que pela doença em si.
Poder para fazer inclusive o que nos ordena
Compreender o discipulado como privilégio
Levítico 13.45–46 NVI
“Quem ficar leproso, apresentando quaisquer desses sintomas, usará roupas rasgadas, andará descabelado, cobrirá a parte inferior do rosto e gritará: ‘Impuro! Impuro!’ Enquanto tiver a doença, estará impuro. Viverá separado, fora do acampamento.
(7-10) O servo que apenas cumpre o que o seu Senhor ordena não é digno de elogios. Ele cumpriu apenas a sua obrigação. Assim, fazer o que Jesus ordena, na força do seu poder, não deve redundar em glória para nós, mas para aquele que nos capacita.
É por isso que, ao ser curado de lepra, o antigo doente precisava comparecer perante o sacerdote para que este o declarasse limpo. Não vou aqui detalhar todo o procedimento, mas você pode aprender a partir de (sem slide). É só então que o leproso era declarado restaurado para a vida em sociedade.
O que eles buscavam não era apenas a cura para a doença, mas a restauração ao convívio social
Todo o direito de exigir honra, obediência e serviço
V. 11-19

Se ele é bom, por que lhe pagamos com o mal?

É sob este pano de fundo que encontramos esta história sobre Jesus a caminho de Jerusalém, quando dez leprosos clamam, à distância, pela misericórdia do Mestre. Este é um grupo incomum, já que judeus e samaritanos não se davam, mas que se unem na sua desgraça.
A generosidade, misericórdia e paciência de Jesus nem sempre serão correspondidas com gratidão e serviço. Na verdade, estas respostas na maioria das vezes virão de onde menos se espera, de pessoas os quais consideramos distantes do Evangelho. A misericórdia que nós tantas vezes desprezamos é entregue justamente aqueles que são desprezados por nós.
Perdemos a capacidade de ver a Deus como fonte de todo o bem
Jesus não os toca, nem mesmo se aproxima deles. Ele não dá nem mesmo a palavra de cura. O que ele ordena é um ato de fé. Ele manda que os leprosos vão até o sacerdote, como se já estivessem curados; e, no caminho, a cura se opera.
Por isso:
Um deles (e apenas um), percebendo o que acontecera, volta para agradecer. Em apenas um deles - o samaritano - o milagre alcança a sua finalidade, a glória de Deus. Em apenas um deles, há o reconhecimento de quem o curara, de que o Senhor Jesus era o Jeová Rafá, o Deus que cura. Todos alcançaram cura, mas apenas um alcançou salvação, mediante a fé em Jesus Cristo.
Cobiçamos o prazer do pecado e levamos outros a fazerem o mesmo
Há alguns fatos que ficam evidentes aqui. Primeiro, que a salvação que veio para os judeus, mas estes foram ingratos ao Senhor, pelo que a oportunidade foi dada aos gentios, algo que Lucas e Paulo trabalham extensivamente. Segundo, o objetivo do milagre, dados não para o nosso bem, mas para a glória de Deus.
Esquecemos que a bondade que há em nós é fruto da misericórdia
Mas, certamente, a lição mais importante é a lição da gratidão. Cristo é o Senhor dos versos 7 a 10, digno de nossa honra, obediência e serviço; ele nos comprou com o seu sangue; pela sua cruz nos fez mais do que servos, nos fez seus amigos; ele nos purificou e nos deu o seu Espírito. Ele nos restaurou à sua família. O processo de nossa salvação é muito maior do que a cura da lepra. E como nós respondemos a ele?
Passamos a pensar que a bênção é direito, não graça
Nós precisamos reconhecer que nossa resposta está muito aquém do adequado? O salmista () certa vez fez esta pergunta a si mesmo. Que pode ele dar ao Senhor, em gratidão ao bem que lhe fez? Primeiro, o louvor, o reconhecimento de que tudo vem do Senhor. Depois, a obediência, o cumprir a sua vontade; mas não é o que estamos habituados a fazer, não é mesmo?
Salmo 116.12–14 NVI
Como posso retribuir ao Senhor toda a sua bondade para comigo? Erguerei o cálice da salvação e invocarei o nome do Senhor. Cumprirei para com o Senhor os meus votos, na presença de todo o seu povo.
Na maioria do tempo, como os outros nove leprosos, nós simplesmente nos esquecemos de agradecer. Quando o fogo da provação vem, nós nos dedicamos a pedir o auxílio de Deus; mas e no livramento, nas bênçãos, nós lembramos do Senhor? Costumeiramente, nós atribuímos o nosso sucesso à nossa habilidade ou à sorte e nos esquecemos do Deus soberano; e, em nossa atitude desobediente, mostramos um coração cheio de ingratidão.
Esta história é uma ilustração perfeita dos versos 7 a 10. É como se Deus fosse obrigado a nos abençoar e, por isso, não devêssemos nada a ele; mas o verdadeiro discípulo sabe de onde as bênçãos vêm, e reage a elas de modo grato. Viver em gratidão pelo bem recebido, procurando responder ao Senhor com vida santa é um dos valores mais fundamentais da vida de quem assume crer em Jesus.
Qual seria sua sensação com um filho cuspindo em seu rosto ou dizendo “não tenho nenhum
Conclusão
O que caracteriza um verdadeiro discípulo de Jesus? São os valores que fluem de sua nova identidade. Se as pessoas em geral vivem sem qualquer discernimento em relação umas as outras, o discípulo de Cristo cuida para que sua vida seja um exemplo a ser seguido. Se a maioria vive indiferente ao destino do seu próximo, o discípulo de Jesus adverte e corrige, sempre em espírito de amor e perdão. Se o mundo vive na cultura da performance e da independência, o discípulo de Jesus sabe que todas as bênçãos vêm do Senhor. A humildade é para ele um valor fundamental, e não considera que Deus lhe deva nada. Antes, ele sabe que em tudo é devedor, e por isso nutre um espírito de verdadeira gratidão.
Amados irmãos, oremos para que o Senhor fortaleça em nós tais valores, a fim de que sejamos reconhecidos como verdadeiros discípulos de Cristo.
Buscamos a Cristo pelo que ele nos proporciona, não por ele mesmo

Cristo: Senhor e Servo

Cristo, sendo Senhor, se faz servo
Edificando a muitos
Recebendo em si o juízo e perdoando os pecados dos seus
Restaurando e reconciliando seu povo com Deus e uns com os outros, sem distinção

Corações transformados, corações gratos

Transformados por Cristo
Odiamos o pecado e tudo o que nos leve a pecar
Passamos a usar com o próximo da mesma graça que recebemos
Nosso prazer está em sermos dele, e isto basta
Amamos a quem ele é, não o que ele nos dá
Exercitamos a gratidão, não apenas por palavras, mas por atos
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