Salmo 23 Tenho tudo que eu preciso

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Introdução

Passamos por uma série de lamentos nos últimos Salmos. No último, especialmente focado na morte do Rei. A descrição é de alguém que lamenta em meio a expressão de confiança na ação de Deus e que exalta, finalmente, a vitória do Rei - ou o Rei que nem a morte por deter o seu triunfo, dando entrada, na organização do livro, a contemplação de segurança e glória dos salmos 23 e 24.
Aqui temos mais um Salmo de Davi, um hino de confiança em Yahweh - mostrando uma relação íntima entre o salmista e o Senhor. O salmista confia na orientação de Yahweh, usando imagens de um pastor (vv. 1-4) e anfitrião (vv. 5-6) para retratar o cuidado de Deus para com ele.

Exposição

Salmo 21.1 A metáfora enfatiza Seu cuidado e proteção de Seu povo (28: 9; Is 40.11). Ele também é chamado de pastor de Israel (Sl 80.1; 74.1). Várias vezes, o título é aplicado especificamente ao Seu cuidado de Israel no deserto (Sl 77.20; 78.52–53). No antigo Oriente Próximo os reis eram conhecidos como os “pastores do seu povo” - por ser Deus o supremo rei de Israel, chamá-lo de pastor seria precisamente adequado.
Salmo 23.2 “Ele me faz/ [Ele] me guia” é uma forma (no hebraico ou em português) de expressar que Deus é a causa de qualquer descanso ou refrigério. Os campos e as aguas são fartas e calmas. O verso enfatiza idéias de nutrição e abundância. Como pastor, Yahweh cuida e provê o salmista (Ez 34.14–15). No final do verso, a palavra hebraica usada aqui, menuchah (מְנוּחָה), enfatiza descanso e segurança. Yahweh provê todas as necessidades do salmista (Is 32.20).
Salmo 23.3 “Renova minha alma” é utilizada no sentido de restaurar as forças ou a vitalidade (ex.: 1Rs 17.22; Lm 1.11 - mesmo que possa ser relacionada a restauração literal da vida, o contexto indica as forças). O salmista já se viu inúmeras vezes quebrado, mas o Senhor o restaurou. “Veredas de justiça” descrevem, na imagem do pastor e da ovelha, os caminhos seguros livres de perigo. Num uso mais amplo, na linguagem de sabedoria, refere-se a um caminho de vida (Pv 12.28), cujo caminho contrário leva à morte. Ser conduzido por esses caminhos é desfrutar da proteção de Yahweh (Salmo 1: 6). “Por amor de seu nome” expressa a convicção de que a proteção de Yahweh e Seu cuidado com o salmista não são apenas por causa do salmista, mas por causa do nome (ou reputação) de Yahweh. Isso lhe dá convicção de sua inabalável condição de protegido.
Salmo 23.4 “Quando eu tiver de” O salmista reconhece que a vida nem sempre será caracterizada pelas pastagens verdes e águas tranquilas do verso 2. Nalgum momento ele andará na escuridão ou na no vale da sombra da morte (Sl 107.10; Jó 10.21,22; 28.3; Jr 2.6). É onde não se sabe onde pisar, não se distingue onde é o final ou o destino, nem quais predadores podem surgir. Ele não “temerá mal algum ”. A palavra hebraica usada para mal, ra'h (רַע), pode se referir a dano ou problema (Jó 2:10). Mesmo em tempos difíceis, o salmista não temerá nenhum mal. “Contudo Davi não quis dizer que estava destituído de todo medo, mas apenas que o superaria para então prosseguir sem medo sempre que seu pastor o guiasse” (João Calvino). Por isso ele muda o alvo do Salmo.
Nesse momento, observe que o salmista passa de falar da terceira para a segunda pessoa. Ele deixa de falar sobre o Senhor para falar com ou para o Senhor. “Porque Tu estás comigo” O salmista não teme por causa da presença de Yahweh, que o protege do mal (Salmos 138.7; Is 43.2). Sua vara e seu cajado são ferramentas comumente usadas por pastores para guiar ovelhas. Haviam diversos usos para esses instrumentos, como ter as ovelhas passando sob a vara era uma forma de contá-las (Lv 27.32). Aqui, a vara simboliza a proteção e cuidado de Yahweh. Em outro lugar, ele serve como um símbolo da disciplina divina (Sl 89.32; 2Sm 7.14). Nelas ele encontra consolo. Sabe quando você tem um trajeto e sabe que vai cair? É isso. A vara e o cajado do bom pastor nos impedem de cair.
Salmo 23.5 O salmista passa de retratar Yahweh como um pastor para retratá-lo como um anfitrião amigo. A hospitalidade no antigo Oriente Próximo exigia mais do que fornecer uma refeição. O anfitrião também era responsável por proteger seu convidado (ver Gn 19.8). Visto que o salmista, como convidado, desfruta da proteção de Yahweh, ele pode comer com segurança na presença de seus inimigos. Se você já se sentiu ameaçado ou intimidado por alguém, a imagem é exatamente de poder estar sentado seguramente à mesa com esta pessoa. Não é um revanchismo qualquer - mas que não há vitória para aqueles que querem nosso fim. Há certeza que nossa vida tem um triunfo: a proteção de Deus. Um anfitrião costumava ungir as cabeças de seus convidados com óleo quando eles entravam para comer (Sl 45.7; 92.10; Lc 7.46), sendo também um sinal de alegria (Sl 104.15), amizade e hospitalidade. O Senhor é mui generoso com o salmista, de tal forma que seu cálice transborda. Ele fornece mais do que o salmista precisa. O banquete de celebração realizado por Deus conosco ocorre não na saída do vale da sombra da morte, mas quando estamos nele. É possível ter regozijo nele em meio aos nossos problemas.
Salmo 23.6 “Certamente bondade e amor leal/misericórdia me seguirão” Com Yahweh como seu pastor e anfitrião, o salmista está confiante de que ele será protegido pelo infalível amor da aliança de Yahweh (Êxodo 34: 6). E não passivamente, mas o seguirão - o termo seguir/perseguir geralmente são utilizados como ataque, e aqui expressando a presença real do amor e da bondade de Deus. A frase hebraica usada aqui significa literalmente “por longos dias”. Isso não indica necessariamente a eternidade; mostra que o salmista espera ser convidado de Yahweh por toda a sua vida, onde ele habitará na Casa do Senhor (Sl 27.4).

Aplicação

Precisamos nutrir nossa fé. É necessário confiar que existe um Deus - e que Ele é todo-bondoso, todo-poderoso e presente. No meio das reflexões sobre a existência de Deus ou não, o que nos salta os olhos é que a realidade é a realidade de Deus. Não que faltem evidências, mas que o Evangelho é a mensagem que dá sentido a tudo. Não estamos perdidos num mundo de incertezas - mas num mundo que há um Deus criador e que nos convida a um relacionamento com Ele. Ele é nosso pastor. Principalmente quando nossos olhos não enxergam nada é quando devemos nos lembrar que temos um pastor amigo que tem nos guiado. Ele é pastor daqueles que colocam suas fragilidades e fraquezas debaixo de sua proteção e cuidado.
Esse é o centro da nossa confiança, que Deus não somente existe, mas que, sendo Deus, Ele é de fato tudo que nós precisamos. Não precisamos, no final das contas, de comida nem de bebida. Nem de roupas ou luxos. Tudo que precisamos, portanto, é de um pastor. De um bom pastor. Ele satisfaz nele mesmo todas nossas demandas básicas e guia todas as nossas vidas de tal forma a nos suprir adequadamente de nossas necessidades - da forma certa e no tempo certo. “só atribuímos a Deus o ofício de Pastor com a devida e legítima honra, quando formos persuadidos de que sua exclusiva providência é suficiente para suprir todas as nossas necessidades” (João Calvino).
Lembramos ainda que eu tenho agora o que preciso para agora - a fé, ou a palavra de súplica. As armas e os recursos espirituais para a batalha cristã. Isso aquieta nosso coração contra as ansiedades do mundo. Ora, aquilo que eu não tenho eu não preciso. Algumas coisas eu não tenho agora, mas tenho aquele que pode e irá prover aquilo que me conduza à glória do Seu nome e à alegria. Pois Ele me ama e Ele tem o compromisso de exaltar Sua glória através desse amor. Assim, não preciso temer esse mundo ou seus demônios (Rm 8.31-39), pois estou sendo guiado para as fontes de água da vida (Ap 7.17), onde serei pessoalmente consolado. As lágrimas não evaporarão, mas serão enxutas.
Isso nos leva a última aplicação. O título que o Senhor recebe, ou seja, pastor, que distingue a natureza da aliança entre Deus e os seus santos, pessoaliza a aliança. Temos uma aliança pessoal com Deus. Pode-se dizer, portanto, que “Deus me ama”, “Ele cuida de mim”. Essa realidade será ainda experimentada de forma especial na encarnação de Cristo, permitindo que a igreja se aproprie dele em termos pessoais: “Ele me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gl 2.20). Mais que isso, Cristo é o nosso bom pastor e cuida de nós individualmente (Jo 10.7-18; 27-30). Não estamos na nossa própria mão, mas nas do Senhor Jesus Cristo, o bom pastor. Este pastor que sabe o que é ser ovelha, conhece exatamente o que precisamos e nos sustem.
S.D.D
Referências:
John D. Barry et al., Faithlife Study Bible (Bellingham, WA: Lexham Press, 2012, 2016), Jo 10.30.
Allan Harman, Salmos, trad. Valter Graciano Martins, 1a edição, Comentários do Antigo Testamento (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2011).
Kevin R. Warstler, “Psalms”, in CSB Study Bible: Notes, org. Edwin A. Blum e Trevin Wax (Nashville, TN: Holman Bible Publishers, 2017).
João Calvino, Salmos, org. Franklin Ferreira, Tiago J. Santos Filho, e Francisco Wellington Ferreira, trad. Valter Graciano Martins, Primeira Edição, vol. 1, Série Comentários Bíblicos (São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2009–2012).
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