A Parábola do Semeador (Mt 13.1-23)

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A Parábola do Semeador (Mt 13.1-23 // Mc 4.1-20; Lc 8.4-15)
Contexto:
Próximo ao fim do segundo ano do ministério de Jesus, ele tem um encontro com fariseus hostis - contenda iniciada acerca da questão do sábado e, tempos depois, com a blasfêmia dos fariseus (Mt 12.22-37) (John MacArthur);
Depois desse episódio, em que os religiosos deliberadamente haviam fechado os olhos, Jesus muda seus sermões para, em público, falar por parábolas. Desde os cinco discursos iniciais de Mateus, este não é dirigido aos discípulos (Mt 5.1,2), mas à multidão.
Por que parábolas?
Quem rejeitou propositalmente a verdade, perdeu o privilégio de de ouví-la sem a necessidade de ampliar o entendimento (Mt 13.12,13). Tudo que era dito através de parábolas permanecia em oculto, exceto para aqueles que tinham os ouvidos e o coração prontos para ouvir (Mt 13.10,11; Mc 4.10). Estes, os discípulos, tinham as parábolas explicadas e demonstrada a sua relevância.
As parábolas endurecem os corações não pela sua dificuldade, mas pela clareza (Mt 13.35). Elas não são verdades somente para iniciados, ou para os sábios, mas são para os discípulos humildes, que buscam aprender mais de seu Senhor.
A Parábola do Semeador:
É uma parábola sobre os “Diferentes Tipos de Solo”.
Foi proferida no mesmo dia, quando se confrontou com os fariseus, segundo o texto, na casa de um discípulo. Após isso, saiu para falar às multidões de várias cidades na praia, a partir de um barco no mar da Galileia, como um mestre, devido ao grande público (Lc 8.4). Jesus começou a semear.
Segundo John MacArthur, “no século I, os campos de Israel eram terrenos longos e estreitos demarcados por trilhas, não por muros ou cercas. O semeador usava um método de lançar a semente em um arco amplo, pegando um punhado de sementes por vez de um saco pendurado em seu lado e lançando-as sobre uma faixa ampla de terra”. Assim, era inevitável que algumas caíssem fora do perímetro, e mesmo as que caiam dentro, poderia cair em partes não adequadas para a agricultura. Apenas as sementes que caiam em um bom solo podia crescer, dar frutos, e ser colhido. Jesus então, identifica quatro tipos de solo:
Os quatro tipos de solo:
[1] à beira do caminho: as trilhas transitadas que separavam os campos e que eram bastante compactadas pelos que passavam, ficando extremamente duro e seco com a ajuda do clima árido. A mais sortuda que, com um pouco de água, viesse a germinar, não encontraria como criar raízes. O que ocorreria era que, as sementes que ali caiam, eram pisoteadas ou comidas pelos pássaros [rapidamente como pombos em praças].
[2] solo pedregoso (pedregais): se refere não a um solo com pedregulhos aparentes - dificilmente um agricultor teria um solo assim. Provavelmente indica a camada invisível de pedras que fica abaixo do solo arado. Um arado comum daquela época trabalhava com cerca de 20 a 25cm de profundidade, permitindo que não fosse visível eventuais camadas de pedra por baixo. Assim, elas brotavam bem e bonitas - no começo, não havia qualquer distinção das plantas saudáveis. Mas logo se queimou - as raízes não conseguiam alcançar a água necessária para sobreviver, e o solo logo secava com o sol - morriam tão logo nasciam.
[3] entre os espinhos: cresceu em meio à vegetação selvagem - aquela que já estava lá antes do lançamento da boa semente. Aqui, espinhos (ακανθα) é uma referência à uma planta espinhosa - como a que formou a coroa de espinhos usada na crucificação de Jesus (Jo 19.2). Provavelmente esses espinhos não estavam visíveis, nem eram necessariamente feios, mas eram resquícios/fragmentos do que aparentemente estava morto, mas não havia sido removido. Elas sufocavam o crescimento da planta desejada, pois ervas daninhas crescem mais rápido do que qualquer outra planta - elas não precisam ser cultivadas, basta que não sejam arrancadas. Elas sufocam. *Quando eu trabalhava na administração de um campus, eu logo quis tornar a entrada mais bonita e agradável, e solicitei que as ervas daninhas fossem cortadas - mas elas se regeneravam com muita velocidade - era necessário removê-las.
[4] terra boa: deu fruto e boa colheita (Lc 8.8 a cem por um). John MacArthur explica que “a expressão se refere ao retorno sobre o investimento financeiro original do fazendeiro. Para cada denário gasto em sementes, ele ganha cem denários ao vender o trigo” como em Gn 26.12,13.
Compreendendo a parábola:
Primeiramente, a parábola não fala nada sobre a habilidade do semeador nem sobre o que foi feito com a semente. A diferença fundamental foi o tipo de solo em que cada porção de semente caiu - assim, a parábola diz respeito somente aos tipos de solo. O significado é simples, mas é necessário que os discípulos passem da simples audição para a reflexão, aplicação pessoal, saindo da superfície (Mt 13.9 - tempo verbal imperfeito: ação contínua). Estes que saem da superfície, e apesar de simples pescadores, poderiam conhecer os mistérios do reino do céu (Mt 13.11). Ou seja, tudo para o que o AT apontava sendo descortinado diante deles. Ninguém era excluído, mas todos os que queriam entender poriam perguntar.
A semente é a palavra de Deus (Lc 8.11), a palavra do reino (Mt 13.19) (Is 55.11). O semeador não é identificado pois ele é qualquer um que lança a boa semente da palavra de Deus ou o Evangelho. O solo é o coração humano (Mt 13.19) em diferentes níveis de receptividade.
Os corações semelhantes ao caminho pisoteado, são os obstinados. Ele nem quer crer (Jr 19.15; At 7.51). Seus corações não se cercam de humildade e seus corações são insensíveis. As sementes ficam fora, permitindo que satanás faça aquilo que sabe fazer muito bem, como lembra o pastor John Piper: comer fé no café da manhã. Eles não são necessariamente os ateus, tendo em vista que esse grupo descreve bem os religiosos fariseus. São pessoas que se entregam ao engano do diabo: que não vem com caveiras e chifres, mas, muitas vezes, como anjos de luz (2Co 11.14-15). São falsos Cristos, que enganam o coração com salvações fajutas, que se oferecem como alternativa mentirosa ao Evangelho da Graça (Jo 3.19).
Os próximos dois tipos de solo recebem a Palavra de Deus no princípio. O ouvinte superficial (solo pedregoso) até a recebe com alegria. Elas parecem receptivas. Mas esse entusiasmo é uma ferramenta para esconder algo: a falta de raiz. Sua receptividade esconde a falta de compromisso do coração. Não foi gerado amor. Quando precisam abrir mão de quem são, de sofrer em nome de Cristo, percebem que não tem amor o suficiente lá dentro para impulsionar ao caminho cristão. Desistem. A causa não está lá fora, como pode parecer, mas em não ter raiz em si mesmo (Mt 13.21). A crença superficial não era fé verdadeira. No teste da fé (Lc 8.13), há reprovação. O que foi perdido foi a alegria inicial e não a fé, pois esta não existia. Lembremos: o cristianismo é mais sobre permanecer, do que iniciar (Jo 8.31). A alegria inicial não é evidência de conversão, embora seja um bom indicador.
O terceiro tipo de solo recebeu a Palavra, como falamos. Mas não abandonou sua velha vida. É o ouvinte mundano. Ele pensa que pode carregar o evangelho no peito e preocupações desse mundo e seus prazerem nas mãos. Na verdade, no começo, parece que eles abandonaram esses prazeres e amores, mas não. Os fragmentos estão lá e logo sufocam a planta que não pode mais crescer. Isso torna a planta infrutífera (Mc 4.19; Mt 13.22). Ele tem o solo arado, é receptivo, mas o solo é impuro. E como as ervas daninhas crescem rápido, o coração logo é tomado pelos espinhos. O conforto do mundo e a riqueza são adversários. Não imagine os prazeres e a riqueza como boates, festas caras e carros de luxo. Seu salário mínimo que te deixa relaxado numa vida de vícios pode ser seu deus - atende teus desejos materiais e mesquinhos. É, para você, o equivalente de ser o dono do mundo. Mas não é possível ser dividido no reino de Deus (Tg 1.8; Mt 6.24). Se não geram frutos, não tem valor algum. Serão arrancados e jogados no fogo.
O último tipo de coração é o bem trabalhado. Ele ouve, entende e dá fruto. Ele recebe com um coração generoso/admirável e bom (Lc 8.15) e frutifica com perseverança. Esses frutos enriquecem o semeador - não financeiramente aqui - mas torna o trabalho exitoso. Semear dá frutos o suficiente apesar dos solos ruins, e permite que a semente continue a ser espalhada. O solo bem preparado haverá de receber a semente (Tg 1.21). São aqueles que rapidamente clamam por um coração puro e um espírito inabalável Sl 51.10.
Aplicação
[1] Você pergunta sobre o que não entendeu? Nem tudo fica claro ao final do sermão - mas os que fazem parte do bom solo sempre querem remoer e revisitar o que aprenderam. Melhor: você busca se aprofundar no que ouviu no domingo, na quarta, na sexta? Irmão, dúvida é coisa de crente! Entender melhor, conhecer melhor. Os discípulos perguntam, Jesus ensina. Você talvez tenha incredulidade e não dúvida. Você rejeita coisas da Palavra e não quer aprender - não procura conhecer o significado daquilo que possa ter sido incompreendido.
[2] O alvo da palavra de Deus não é seu ouvido, nem a sua mente, mas o seu coração. Ela precisa ser ouvida, ela precisa ser compreendida, mas ela precisa ser guardada/entesourada (Lc 2.19). Guardar no coração é ouvir, entender e dar fruto (Mt 13.23). A obra do semeador visa o coração pois o seu desejo é que as pessoas “creiam e sejam salvas” (Lc 8.12).
[3] O fruto é única evidência de que uma pessoa ouviu corretamente a Palavra do Evangelho. Na verdade, só há uma diferença básica entre os tipos de solo: infrutíferos e frutíferos. Os fariseus se consideravam os grandes mestres da ortodoxia, mas seus frutos demonstravam que não compreendiam a pureza e bondade da Palavra de Deus (Mt 12.33-37). Esse fruto é a manifestação do caráter de Deus nos crentes (Gl 5.22-23), durante sua caminhada de perseverança. Sem frutos de justiça seu cristianismo é falso. Quem ama quer conhecer - quem se ama faz tudo voltado para si: sua imagem, prazer, crescimento individual… quem ama a Deus quer conhecê-lo, servi-lo, entregar-se por ele. Sabe que o único remédio para uma vida vazia e sem sentido é o próprio Deus, o criador e sustentador.
[4] Não se pode mudar a semente para se adaptar ao tipo de solo. Poderia-se buscar outras sementes mais adaptadas para as diferenças de solo - mas veja, os solos são relativamente iguais, fazem parte da mesma porção de terreno. O problema deles é uma analogia à receptividade. Assim, a palavra de Deus não pode ser adulterada.
Referências
MacArthur, John. As parábolas de Jesus comentadas por John MacArthur (p. 39). Thomas Nelson Brasil. Edição do Kindle. John D. Barry et al., Faithlife Study Bible (Bellingham, WA: Lexham Press, 2012, 2016), Mt 13.24–30.Fritz Rienecker, Comentário Esperança, Evangelho de Mateus (Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 1998), 226.Itamir Neves e John Vernon McGee, Comentário Bíblico de Mateus: Através da Bíblia, org. Walkyria Freitas, Segunda edição, Série Através da Bíblia (São Paulo, SP: Rádio Trans Mundial, 2012), 112.William Hendriksen, Mateus, trad. Valter Graciano Martins, 2a edição em português, vol. 2, Comentário do Novo Testamento (Cambuci; São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2010), 76.CARSON, Donald A. O comentário de Mateus. São Paulo: Shedd Publicações, p. 355, 2010.
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