A Âncora da Esperança nos piores embates da nossa Alma

Mateus  •  Sermon  •  Submitted
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Introdução

Da última vez vimos Jesus mergulhado numa angústia profunda diante do sofrimento que o aguardava. Jesus enfrentou a tristeza e a angústia pedindo oração e companhia a amigos, rasgando o coração em oração diante do Pai, e submetendo-se à vontade do Pai.
Já os discípulos a quem Jesus pediu que permanecessem em oração e despertos, foram vencidos pela tristeza e dormiram, todas as resoluções que tinham tomado antes, de estarem prontos a darem a vida por Jesus, revelaram-se derrotadas. O jardim do Getsémani, como vimos da última vez, para os discípulos foi o jardim dos fracassos, mas para Jesus, foi o jardim da vitória. Vimos que nós muitas vezes estamos rodeados de fracassos, resoluções bem intencionadas e corretas, mas que sucumbem para nossa frustração, no entanto, Jesus venceu por nós, a vitória dEle é a nossa, no final de cada fracasso Jesus está do outro lado à nossa espera para nos levantar e fazer continuar.
Hoje continuamos neste jardim agridoce do Getsémani, onde aquilo que parece ser o jardim do desespero e do fim de tudo é na verdade os portões da esperança soberana de Deus manifesta em Cristo. Mas os discípulos não sabiam disso, eles achavam que estavam diante do fim, o caos estava diante dos olhos deles, o medo tomou conta do coração. Muitas vezes é assim que nos encontramos. Como manter a cabeça fora de água no meio de um mar revoltoso? Como ficar de pé quando o chão se abre debaixo dos nossos pés? Onde encontrar esperança quando o caos, mesmo nós dando todo o nosso melhor esforço, é um buraco negro que suga tudo de nós? É o que veremos hoje.
Exposição
Vamos então voltar ao Jardim agridoce, em Mateus 26.47-56:
47. Enquanto ele ainda falava, Judas, um dos Doze, chegou acompanhado de uma grande multidão com espadas e pedaços de pau, vinda da parte dos principais sacerdotes e dos líderes religiosos.
48. Aquele que o traía lhes dera a seguinte indicação: Aquele que eu beijar, é ele: prendei-o.
49. E logo, aproximando-se de Jesus, disse: Salve, Rabi! E o beijou.
50. Jesus, porém, lhe disse: Amigo, para que vieste?
Nisso, eles se aproximaram, agarraram Jesus e o prenderam.
51. Então um dos que estavam com Jesus, estendendo a mão, puxou da espada e feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe uma das orelhas.
52. “Mas Jesus lhe disse: Guarda a tua espada;
porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão.”
53. Ou pensas que eu não poderia rogar a meu Pai, e ele me enviaria agora mesmo mais de doze legiões de anjos?
54. Como se cumpririam as Escrituras, que dizem ser necessário que assim aconteça?
55. Jesus disse à multidão naquela hora: Saístes com espadas e pedaços de pau para me prender, como se eu fosse um bandido?
Todos os dias eu estava sentado no templo, ensinando, e não me prendestes.
56. Mas tudo isso aconteceu para que se cumprissem as Escrituras dos profetas. Então todos os discípulos o deixaram e fugiram.

A. Exposição

Enquanto Jesus ainda conversava com os discípulos a hora da verdade aparece, talvez o coração de Jesus tenha acelerado, mas ele estava decidido. Judas chega e com ele um grupo de pessoas armadas, provavelmente a guarda do templo, eles vêm armados, prontos para uma possível resistência, porque pensavam que Jesus era um revolucionário messiânico. João, no seu Evangelho, menciona uma escolta de soldados também, provavelmente da torre de Antónia, situada na esquina noroeste da área do templo. Era muita gente armada, o texto diz-nos que era uma multidão. Um grande aparato, grande força militar e armada para prender Jesus.
Com os soldados vieram também os sacerdotes e os anciãos do povo, os membros do Sinédrio. Os líderes religiosos que deviam ser o exemplo e estar a celebrar a Páscoa naquela noite, estavam mais preocupados em eliminar uma suposta ameaça ao seu status e poder. Tinha de ser uma ação rápida e discreta, longe do olhar das multidões, para evitar qualquer tipo de apoio popular em favor de Jesus.
Havia um código pelo meio do qual o traidor, Judas, denunciaria aquele que devia ser preso: um beijo. Foi isso que Judas fez, cumprimentou Jesus e beijou-o. Qualquer leitor daquela época ao se deparar com estas palavras de Mateus ficaria absolutamente chocado, uma vez que a hospitalidade, a amizade, a lealdade e a fidelidade eram dos valores mais elevados na cultura daquela altura.
Jesus responde com uma pergunta: Amigo, o que estás a fazer? Era um ato de loucura, Jesus certamente ficou profundamente triste por Judas, que o acompanhou ao longo dos últimos três intensos anos, esse seu amigo não só estava a traí-lo, mas a participar da acção mais hedionda da história da humanidade contra a única pessoa verdadeira e totalmente inocente que já existiu.
Jesus, diz-nos João, no seu Evangelho no capítulo 18 versículo 6, disse às pessoas que ali estavam que era ele, ele disse “Eu Sou”, nesse mesmo instante os captores caíram por terra. Jesus estava a mostrar que tinha poder mas que se entregava voluntariamente.
Logo os guardas avançaram e agarraram Jesus, nesse instante um dos discípulos, sabemos pelos Evangelho de João que é Pedro, sacou da espada para defender Jesus e cortou a orelha do servo do sumo sacerdote. Jesus depois curou o servo, restituindo-lhe a orelha e repreendeu Pedro, pedindo-lhe para guardar a espada, pois o resultado seria desastroso, uma vez que aqueles que usam da espada habilitam-se também a morrer.
Além disso Jesus mostra a Pedro e aos demais que se ele quisesse podia escapar ileso daquela tentativa de prisão. Ele poderia invocar doze legiões de anjos. Cada legião romana tinha em geral, seis mil soldados. Portanto Jesus está aqui a dizer que pode chamar em sua defesa 72 mil anjos, uma legião por discípulo, não haveria exército humano que teria a mínima hipótese.
Jesus continua e afirma que se ele não se deixasse levar pelos seus captores as Escrituras não se cumpririam. Por isso ali, naquele contexto, não era hora para se usar a espada, noutros contextos, pelas Escrituras é legítima a utilização da espada, seja pelas autoridades ou pelo cidadão comum para auto-defesa, mas ali era hora de deixar os planos de Deus se cumprirem conforme anunciado nas Escrituras.
Jesus critica as multidões lembrando-lhes que eles diariamente tiveram a oportunidade de o prenderem no templo enquanto ensinava, mas não, eles lidaram com ele como se fosse um perigo, um salteador e quiseram prendê-lo às escondidas. Mas ainda assim, essas intenções pervertidas e o contexto em que tudo estava a acontecer era segundo o que as Escrituras já tinham anunciado. Por exemplo Isaías 53.7-8:
“Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a boca; como um cordeiro que é levado ao matadouro, e como a ovelha muda diante dos seus tosquiadores, ele não abriu a boca. Foi levado por juízo opressor; e a sua descendência, quem a considerou? Pois ele foi tirado da terra dos viventes, ferido por causa da transgressão do meu povo.”
O que acontece a seguir é trágico, mas é o que já tinha sido também anunciado, todos os discípulos o deixaram e fugiram.

2. Ensino e Aplicações

Uma das coisas mais difíceis na experiência humana, e por conseguinte, na vida de cada um de nós é conseguir integrar a tristeza, o caos, a maldade, o sofrimento, as injustiças, na nossa história e nas nossas vidas sem sucumbir diante delas em medo, ansiedade, amargura, desânimo, culpa, raiva. Levantam-se sempre muitas perguntas e poucas ou nenhumas respostas aparecem. Sentimo-nos atraídos como que por um buraco negro para lugares pantanosos das nossas vidas, manifestando-se em em cada um de nós de formas diferentes consoante a nossa singularidade: para uns o vício; para outros a depressão; para outros a somatização em problemas físicos; para outros o isolamento; para outros a ira; para outros o suicídio; para outros a frieza emocional e não envolvimento em relacionamentos significativos; para outros, talvez a maioria, a negação da realidade e o esforço constante de uma construção de um mundo de expectativas e esperanças que se procura seguir a todo o custo e quando essas expectativas se mostram ilusórias buscam-se imediatamente novas, estando constantemente num ciclo de ilusões sem fim.
A partir da passagem que lemos veremos o que nos pode fazer manter a cabeça fora de água e lidar com o caos que está à nossa volta. Não vamos ver a solução dos problemas, porque como vimos, os problemas no Getsémani só foram de mal a pior. Para isto destacaremos três situações diferentes que servem de exemplos para a forma como devemos lidar com o respetivo tipo de situação que surge aqui mas também outros na vida. Veremos qual deve ser a âncora da nossa esperança no meio do caos.
As três ilustrações que veremos são das que, quando vividas, mais causam mossa nas nossas almas e que derrubam muita gente.

Quando somos traídos ou abandonados por aqueles que mais amamos

Ensino
Judas foi uma peça fundamental para a concretização do plano dos religiosos, mas o preço foi uma traição dolorosa. Jesus não deixa de demonstrar afeto por ele, duvido que tenha chamado Judas de amigo com um tom sarcástico. Jesus em todo o tempo foi gracioso, nunca rejeitaria alguém que arrependido se achegasse a ele. Judas viajou com Jesus, comeu com ele, ajudou nas logísticas necessárias o tempo todo para a concretização do ministério, Judas orou com Jesus e os onze, eles conviveram e riram, realizaram ministério, Judas pregou quando enviado com os discípulos. Foram 3 anos intensos, e Judas era do círculo próximo, um dos doze, como realça Mateus aqui.
Mas não foi só Judas, os outros discípulos também abandonaram Jesus, como vemos no final da nossa passagem de hoje. Eles tinham prometido que estariam prontos para morrerem com Jesus, mas o que fazem quando vêem o seu Mestre preso é fugirem e deixarem-no. Jesus ali no meio de pessoas que lhe queriam mal, todas as referências de amizade e de conforto tinham ido embora. Rodeado de pessoas mas só de inimigos, totalmente sozinho e desamparado daqueles de quem se esperaria receber pelo menos uma companhia reconfortante.
A traição e o abandono são uma realidade constante nesta vida. Pais abandonam filhos, maridos traem esposas e esposas maridos, amigos abandonam-se mutuamente, patrões deixam empregados pendurados e empregados deixam mal patrões, governantes traem cidadãos e cidadãos não honram as suas autoridades, irmãos na igreja traem-se mutuamente. O egoísmo fala mais alto, o interesse próprio, a falta de palavra, o ódio, a vingança, a inveja, tudo o que é contrário ao amor é o motor da traição.
Imaginem o drama de um rapaz, chamado José, amado pelo seu pai e pela sua mãe, rodeado de irmãos, mas traído e vendido por eles. Jogado num poço e vendido como escravo a estranhos, levado para uma cultura estranha, tratado como escravo, todo o mundo dele desabou por causa daquela traição e abandono.
Aplicações
Muito possivelmente já viste o teu mundo desabar também por causa de uma traição ou de um abandono. As feridas causadas por traições, abandonos e decepções graves de pessoas próximas são das maiores que podem ser feitas em alguém, deixam marcas que levam muito tempo a curar e cicatrizes para uma vida.
Porque causa tanto estrago? Vai ao âmago da maior necessidade que temos: sermos amados. Trata-se de uma acção que grita de forma prática e bem alto: “não te amo”. Uma traição ou um abandono é uma acção consciente de pisarem o lugar que têm no nosso coração. É algo do mais profundo que há, numa relação de amor, de proximidade, de intimidade, há muita confiança, há muita doação, há o depositar no outro a versão desprotegida e sem defesas de nós mesmos. A sensação fruto da traição e do abandono é das piores que se pode sentir, há a sensação de se ser violado no espaço mais sagrado do nosso ser - a necessidade de sermos amados, é ser-se exposto e pisado na nossa identidade, fica um buraco na alma, uma sensação de solidão e de desespero.
A própria identidade é violada, é uma rejeição que gera insegurança quanto a sermos amados. E aqui não estou a usar de uma abordagem antropocêntrica. Todo o ser humano foi feito para amar e ser amado, quando um desses dois pés falham há problemas.
Se viveste algo assim enquanto criança ou jovem, um dos pais que te tenha abandonado ou que tenha sido muito ausente, isso gera em ti insegurança, e carregarás essa tendência de insegurança ao longo da tua vida. Mesmo em adultos, se sofremos uma rejeição pesada de alguém muito próximo, um cônjuge, amigo íntimo, irmão da igreja, fica sempre a “dúvida” quanto ao amor do outro e dos outros, e aí poderemos desenvolver mecanismos de defesa, de não nos entregarmos a relacionamentos, ou podemos guardar amargura e atacar toda a gente, ou então demonstrar essa carência de amor entregando-nos ingenuamente a todos e sugando e cobrando amor e mais amor a todos quantos se aproximam de nós. Os sintomas de uma traição ou abandono podem manifestar-se de diferentes formas, mas a raiz do problema é a mesma.
Como lidar com uma traição ou um abandono de forma saudável? Como integrar um momento doloroso desses de forma a não sermos engolidos por ele?
Não há respostas simples, não há soluções instantâneas, há processos. Agora, embora as abordagens possam ser personalizadas e individualizadas, o centro, o ponto de partida e de chegada da restauração está em Jesus. Como? Na conversão? Pode ser, mas normalmente vai além e passa por um trabalho que lida com as verdades do Evangelho e se deixa transformar por elas de forma contínua vida fora. A liberdade vem pelo conhecimento da Verdade.
Vou deixar aqui algumas das verdades que te ajudarão a lidar com a traição e com o abandono. Anota-as, ou em casa durante a semana, ouve novamente e faz o teu trabalho de casa com a Palavra e o Espírito Santo.
Nós podemos ter sido traídos e abandonados, mas também traímos ou abandonamos. Pode não ter sido na mesma intensidade, ou pode até ter sido maior. Todos nós já deixámos pessoas mal, que confiavam em nós e que se decepcionaram, que se sentiram mal amadas, por ações nossas ou por omissões. Porque trago esta verdade aqui? Porque, se for o teu caso, quero que saias de um lugar de auto-comiseração e vitimização ruminante. O mundo real é este, de maldade e egoísmo por todo o lado. Não estou a dizer que não és vítima, mas estou a dizer que também já fizeste vítimas. O apóstolo cantou em uníssono com o salmista: “Não há um justo, não há nem um sequer” (Rm 3.10). Olha para fora de ti mesmo, há outros que sofreram o mesmo que tu, e há alguns que sofreram por tua causa. Estamos num mundo caído desde Adão, onde todos somos culpados e vítimas. Foi por isso que Jesus veio. Jesus morreu por ti porque tu és pecador e porque és vítima dos pecados outros. Por isso, um dos primeiros passos, fruto deste banho de realidade é perdoares quem falhou contigo, a nossa culpa diante de Jesus é maior do que qualquer culpa que outros possam ter diante de nós.Jesus também foi traído. É o que temos na nossa passagem de hoje. Traído por Judas e abandonado pelos seus melhores amigos, incluindo os mais íntimos. Porque é isto importante para ti e para todos os que sofreram abandono e traição? Porque se há alguém que nunca mereceu maldade nenhuma nesta terra esse alguém foi Jesus, e Ele passou em maior grau o que tu passaste. Quero que encontres consolo no facto de que tens alguém que te compreende, que embora sendo Deus, aprendeu o que é ser-se humano e viver nas estradas complexas e duras da humanidade. Jesus não é um Deus distante como o das outras religiões, ele sabe o que é ser traído, ele conhece essa dor do teu peito. Rasga o teu coração diante de Jesus sem reservas, abre tudo, nEle tens alguém que te compreende mais do que ninguém. E se percebes que tens traído alguém arrepende-te hoje mesmo, confessa a tua falta de amor diante da pessoa diante de quem estás em falta e vira-te para Cristo.Quando somos traídos sentimos necessidade de que justiça seja feita. Há um senso de justiça que clama em nós para ser suprido. A fim de não guardares rancor e amargura que pode desembocar em ações de retaliação e vingança quero que constantemente te inundes da verdade de que justiça será feita ou já foi feita. Se a pessoa que te traiu ou abandonou é cristã ou já é cristã, na altura podia não ser, a justiça que essa pessoa merecia já foi aplicada. Onde? Como? Em Jesus, na Cruz. Traz isso constantemente à tua mente. Se a pessoa não é filha de Deus e se nunca vier a ser, ela sofrerá a aplicação da justiça para o resto da eternidade no Inferno. Ou seja, a aplicação da justiça em nenhum dos casos está nas tuas mãos, em ambos os casos está nas mãos de Jesus. Sempre haverá justiça, de uma forma ou de outra. Liberta-te da tentação de seres carrasco de quem falhou contigo, isso vai destruir-te. Dá a Jesus a tua vontade de fazer justiça. Ele é o Salvador e o Juiz da Humanidade, entrega a Ele.Precisamos do corpo de Jesus. É verdade que há decepções no meio da comunidade local, mas é também na igreja que se espera que hajam processos de restauração, paciência, perdão, compaixão, onde se aprende a ser amado e a amar. Aproxima-te de pessoas que amam Jesus, se tu amas Jesus e se outros que andam contigo amam Jesus, ainda que falhem uns com os outros, havendo maturidade haverá restauração. Uma comunidade e amizade de pessoas que amam Jesus é lugar de cura e restauração onde o Evangelho vai transformando e trazendo luz nos cantos escuros das nossas almas à medida que fazemos esta caminhada em conjunto. Não te feches ao amor, ama e possibilita que outros demonstrem amor por ti. Lembra-te outra vez: falhas e decepções acontecem, umas vezes somos as vítimas, outras vezes os protagonistas.Esta é das mais importantes: Jesus nunca te trairá, nunca te abandonará. Ele disse que estaria connosco até ao fim. Nada te poderá separar do seu amor, nem os teus piores dias. Ele já deu a vida por ti, o maior ato de amor no Universo já foi demonstrado. Como disse há pouco, todos fomos feitos para amar e ser amados, e só este amor de Deus nos preencherá de forma plena. Se ainda não te rendeste a este amor nunca te sentirás completamente e verdadeiramente amado. Se já te rendeste, agarra-te a esta verdade, banha-te na certeza do amor de Jesus todos os dias, todas as manhãs no teu tempo com Deus. O amor dos outros divide-se por outras coisas e às vezes ficamos para trás. O amor de Deus nunca vacilará para connosco que somo seus filhos. Jesus ama-te, nunca te trairá, nunca te deixará para trás, ele está em cada queda tua, em cada sucesso, em cada dia claro e em cada noite escura. Ainda que todos te abandonem, ainda que quem mais amavas e quem dizia que mais te amava te tenha abandonado, sabe que há alguém que te ama mais que qualquer outra pessoa e que nunca te abandonará. Ele escreveu o teu nome na palma das suas mãos. Precisas firmar a tua identidade no amor de Jesus. Traz esta verdade diariamente à tua mente e coração.A última verdade que também é uma das mais importantes e centrais nesta passagem: Jesus é soberano. Jesus criou tudo, por meio dEle tudo o que existe foi criado e tudo continua a ser sustentado. Não há nada que Ele não saiba, não há nada que Deus não tenha decretado, mesmo as coisas que vão contra a sua vontade de prazer, a vontade moral revelada na Palavra: como todo o mal que existe no mundo. Há pouco falei em José. José fez-se à vida, não ficou preso ao que lhe fizeram, não entrou numa de auto-comiseração, a sua vida não parou por causa da traição que lhe infligiram. Como ele fez isso? Ele mesmo responde. Vamos ouvi-lo: “Agora, não vos entristeçais, nem guardeis remorso por me terdes vendido para cá; pois foi para preservar vidas que Deus me enviou adiante de vós. Porque já houve dois anos de fome na terra, e ainda restam cinco anos sem lavoura e sem colheita. Deus enviou-me adiante de vós, para vos conservar descendência na terra e para vos preservar a vida com um grande livramento. Assim, não fostes vós que me enviastes para cá, mas sim Deus, que me colocou como pai do faraó, como senhor de toda a sua casa e como governador de toda a terra do Egito.” (Gn 45.5-8). Jesus sabia que tanto a ação de Judas e dos discípulos vinha em cumprimento das Escrituras, que aquelas ações contribuíam para a concretização dos planos do Pai, da Missão de morrer pelos pecados do seu povo. Na nossa vida é igual, tudo o que nos acontece, mesmo as coisas más, embora não sendo responsabilidade de Deus, Ele usa-as, fá-las cooperar em conjunto, para o nosso bem, para o crescimento do Evangelho em nós e naqueles que nos rodeiam, para crescermos em amor aos outros e a Deus, para a glória de Jesus. Às vezes, ou melhor, na maioria das vezes não compreenderemos tudo, mas temos essa garantia. A soberania de Deus deve ser uma das principais âncoras da nossa esperança face ao mal que nos fazem, Deus tem um plano, tem sempre, e esse plano é sempre de amor, mesmo que esse amor seja forjado no meio da dor e do mistério. Ele é sempre soberano, sempre.

b. Quando damos o nosso melhor e pouco ou nada muda: o sentimento de impotência

Ensino
Algo que aqui salta também na passagem e que prende muita gente na sua vida é o sentimento de impotência.
Pedro deu o seu melhor, puxou da espada e faria tudo para defender Aquele que ele disse que seguiria até à morte ser fosse preciso. Ele tinha adormecido durante a oração, tinha deixado mal o seu Mestre, agora isso não podia acontecer, não podia deixar que levassem o seu melhor amigo e Senhor.
Nós que estamos deste lado da História conseguimos ver a figura triste que ele fez, sabemos que era inevitável que Jesus fosse preso, que esse era o plano e o caminho para a Redenção da humanidade e que o que ele fez estava fadado a ser uma tentativa frustrada. Pedro não tinha a compreensão das coisas, mesmo Jesus tendo explicado tudo, ele tinha as limitações dele não só de compreensão e fé, mas mesmo as da sua personalidade e caráter, os seus impulsos e debilidades, mas ele terá agido ali da melhor forma que sabia e com as melhores intenções.
O que ele fez mudou alguma coisa no curso das coisas? Ele conseguiu impedir que levassem o Mestre? Não. Havia um propósito divino e soberano em tudo o que estava a acontecer.
Jesus tinha o poder para mudar tudo, não só por Ele próprio, mas invocando um exército de anjos. Jesus não o fez porque não quis, o propósito dEle era outro. Na vida cristã Deus tem o poder para livrar de forma imediata e instantânea os seus filhos das suas lutas, temos anjos que nos serve, como diz Hebreus, Jesus tem poder para nos livrar de tudo a qualquer momento, sejam pecados, fracassos, quedas crónicas, sejam circunstâncias difíceis. Deus podia ter feito isso com Jó. Mas não o fez, ele permitiu que Satanás provasse Jó, permitiu que milhares de perguntas ficassem sem resposta, que Jó mergulhasse numa escuridão inimaginável de sofrimento, onde ele se sentiu completamente impotente.
O maior ato mais hediondo da humanidade foi decretado por Deus, mas sem Deus ser no entanto o autor dos pecados, foram as personagens da história, em que Deus misteriosamente une os seus decretos e a responsabilidade humana. Que ato hediondo foi esse? A morte de Jesus: “Pois, nesta cidade, eles de fato se aliaram contra o teu santo Servo Jesus, a quem ungiste; não só Herodes, mas também Pôncio Pilatos com os gentios e os povos de Israel; para fazer tudo o que a tua mão e a tua vontade predeterminaram que se fizesse.” (At 4.27-28)
José também se sentiu certamente várias vezes impotente diante das circunstâncias que o atropelavam, mesmo fazendo tudo bem, como foi na casa de Potífar, sendo alvo de falsas acusações, e na prisão, não sendo retribuído na sua generosidade, mas Deus estava a conduzir a sua história, não só para o seu bem, mas para o bem de uma nação inteira, para a formação do povo de Israel de onde viria o Salvador do mundo.
Aquela mulher do fluxo de sangue, que estava doente há anos e já tinha feito tudo dentro do seu alcance para encontrar a cura, tinha gasto todo o seu dinheiro com médicos, e no entanto as circunstâncias não mudaram, mas isso levou-a a um encontro belo e majestoso com Jesus.
Deus conduz a vida dos seus filhos, fazendo com que tudo, desde os mais ínfimos detalhes até às circunstâncias avassaladoras, e até as más decisões deles, por sua Graça, contribuam para o bem deles, para o bem da Igreja e da glória de Jesus. Nem sempre haverá respostas e muitas vezes o sentimento será de impotência. E muitas histórias não acabam bem deste lado da existência, como a de José ou da mulher do fluxo de sangue, só mesmo na eternidade.
Aplicações
Esse é dos piores sentimentos que pode chegar à nossa alma: o sentimento de impotência face ao que for. Tentamos de tudo, esforçamo-nos, damos o nosso melhor, lutamos, e ainda assim a doença parece continuar, o casamento não melhora, a esposa não muda, o marido continua igual, os filhos continuam com as mesmas atitudes e comportamentos, o emprego não aparece apesar de todas as buscas, a dor nas pessoas que amamos diante da qual não conseguimos fazer nada, a vida financeira que não sai do aperto apesar de todo o esforço, o desempenho escolar ou profissional não melhora, as lutas com pecados teimam em ficar e em ser crónicas, relacionamentos de amizade, na igreja, e com colegas não melhoram, injustiças não param de crescer, a depressão resiste para ir embora, e a lista podia continuar.
Às vezes a sensação até é a de que quanto mais tentamos melhorar as coisas, parece que só as pioramos. Estamos a fazer o melhor que sabemos, com a informação que temos, com as melhores intenções, querendo o melhor para os outros e para Deus, e nada muda.
A coisa pode mudar, a qualquer altura, um milagre pode vir. Deus pode estar a querer deixar que as circunstâncias permaneçam para trabalhar na nossa perseverança. É para continuar a fazer o melhor que podemos, com a intenção de agradar a Deus e cuidar dos que estão à nossa volta.
Mas e se a coisa persiste em continuar? O sentimento de impotência, de não conseguir mudar, de não conseguir alterar a dor em nós ou nos outros, de não conseguir transformar o nosso interior ou o que nos rodeia, pode nos dominar. E é isso que não pode acontecer.
É mais fácil, ou pelo menos, menos difícil, quando olhamos para trás depois das situações vividas e perceber pelo menos algumas coisas, porque há outras, que por muito que passem os anos não compreendemos: como uma morte precoce de um filho, ou de um cônjuge, ou de um pai; ou uma traição, um divórcio; um desemprego súbito; ou uma pandemia como a que vivemos com todas as suas consequências que tocam de forma mais direta e dolorosa alguns de nós.
A forma do sentimento de impotência não nos atropelar é mais uma vez olharmos para Jesus.
Reconhecer a nossa real insuficiência em tudo. Mesmo nas coisas que achamos que controlamos, não tenhamos a ilusão de que as controlamos na totalidade. Só temos ar nas narinas e o pulsar do coração a manter-nos vivos porque o autor da vida assim determina. Só não pecamos desenfreadamente e causamos caos em nós e nos outros, porque a Graça nos sustenta. Somos finitos, limitados, fomos educados de uma forma, tivemos os pais que tivemos, nascemos no país em que nascemos e na época em que nascemos, tivemos a formação que fizemos, desenvolvemos umas amizades e não outras, de onde recebemos influências, e circunstâncias levaram-nos nesta ou naquela direção, trazendo-nos onde estamos hoje. É verdade que tomamos decisões conscientes, mas há trilhões de fatores que as influenciam e a nossa “limitação” é maior do que pensamos. Em tudo isso Deus age em amor por nós e em nosso favor se somos seus eleitos. Mas precisamos mesmo reconhecer a nossa insuficiência e impotência. Isso não significa que não somos responsáveis pelo que fazemos, somos, temos decisões a tomar diariamente e devemos tomá-las da melhor forma possível, mas não controlamos tudo, nem de longe nem de perto.Mais uma vez olhar para a soberania de Deus, tal como Jesus o fez e enfrentou resoluto a dor que estava à sua frente. Tal como Pedro nem sempre compreendemos tudo e achamos que estamos a dar o melhor. É para continuar a fazer isso, continuar a dar o melhor, mas saber que naquilo que não controlamos precisamos deixar nas mãos de Deus. A soberania absoluta e total de Deus deve nos levar a parar, olhar para nós e para a nossa volta e dizer: Deus não perdeu o controlo de nada, eu sou impotente, mas Deus não é.Precisamos ver a soberania de Deus como uma soberania amorosa. O pior momento da história foi também o momento mais amoroso da história, o pior pecado contribuiu para o maior bem. É isso que Deus faz em seu amor, pega em tudo e age em favor do seu povo. Deus é soberano e cada detalhe da tua pior circunstância está a ser usada para ser pintada a tela mais bela da tua vida, é puro amor em ação, em teu favor. Então não olhes para Deus apenas como um Deus todo-poderoso longínquo, mas o Deus todo-poderoso e todo-amoroso que te ama incondicionalmente.

c. Quando abandonamos Jesus

A última coisa que quero destacar deste texto e que leva mesmo pessoas a se afogarem na sua vida, a não conseguirem manter a cabeça de fora de água, o embate mais destruidor para a alma, é o afastarem-se de Jesus.
Os discípulos abandonaram Jesus, deixaram-no. Acompanharam o que ia acontecendo com Jesus à distância, depois dele morrer, trancaram-se com medo de eles serem os próximos.
Vidas que se afastam de Jesus são vidas trancadas, presas, não avançam, não crescem, não se desenvolvem, vivem no medo, não são alimentadas pela esperança, pela luz, a sabedoria de vida que há em Jesus, são iludidas e enredadas pelas coisas desta vida, inebriadas pelos prazeres e confortos, quando chegam as dores sucumbem, ferem e são feridas pelos outros, investem apenas no que é passageiro e temporário nesta vida, perdem os benefícios inigualáveis e vitais de uma vida em comunidade, não encontram o conforto que há no pão e no vinho tomado com a igreja, não permitem que a Palavra os transforme, não são produtivos em amor a Deus e aos que estão à sua volta. Uma vida longe de Jesus é uma vida miserável. E o pior de tudo é que as pessoas que abandonam Jesus nem se apercebem tão cedo que estão nessa vida miserável.
Mas chegará o dia em que perceberão que o que esta vida dá não chega, não preenche a alma, não enche as medidas, aperceber-se-ão que andam a comer alfarrobas com os porcos, tal como o filho pródigo, quando podiam estar sentados à mesa a banquetear-se na casa do Pai.
Aplicações
Uma vez mais a solução é Jesus. Como vimos da última vez, Jesus está sempre do outro lado do fracasso. O Pai olha continuamente aguardando ansioso o retorno do filho que se perdeu. Se tu és filho sabes que o único lugar para onde podes olhar é para Jesus.
Reconhece que a tua vida longe dEle é cinzenta, é presa, vives trancado ainda que aparentemente vivas em liberdade, é uma falsa liberdade, uma auto-ilusão que tentas forçar a ti mesmo para aliviar a tua consciência. Se és filho de Deus sabes perfeitamente que se continuares nesse percurso acabarás na miséria de comer alfarrobas. O Pai espera por ti, tem te esperado desde o primeiro dia que te afastaste.
Não ouses pensar que é tarde demais para ti, que é impossível voltares, que é impossível ele te amar ainda. Se ele se dirigiu a Judas chamando-o de amigo e sofrendo pela perdição daquele homem, se ele restauraria aqueles que o abandonaram no momento de maior necessidade, não achas que ele te abraçará em seus braços? Mais uma vez olha para Jesus. O seu amor é maior, está mais perto por mais longe que tenhas caminhado, o amor dEle por ti é mais forte, é soberano, soberano sobre a culpa, sobre o medo, sobre a vergonha, sobre a tua incapacidade, e mais cedo ou mais tarde te atrairá para os seus braços. Clama, clama por aquele que beijaste e abandonaste, não desças a estrada toda como Judas, não termines como ele terminou, isso provará que nunca foste filho, se o abandonaste deixa-te encontrar com Jesus. Da mesma forma que ele entrou naquela casa trancada onde estavam os discípulos presos no medo, Jesus entra agora onde tu estás, ressurrecto, vitorioso sobre o teu pior pecado, sobre a tua pior queda, e te diz: vem a mim, vê as marcas do meu amor imutável e incondicional por ti.
Oremos!
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