Daqui para a Frente...

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Introdução

Da última vez vimos Jesus ser preso, traído por Judas e abandonado pelos seus melhores amigos, os discípulos. Hoje encontraremos Jesus diante de um tribunal armado à pressa que trabalha em prol de uma condenação forçada. Jesus é injustiçado de várias formas, fica calado como um cordeiro a maior parte do tempo, mas quando abre a boca ruge como um leão, para depois ficar calado novamente sujeitando-se aos abusos dos seus opressores, mas cumprindo em todo o tempo o que estava escrito e a Missão do maior resgate de sempre.
Novas coisas absolutamente maravilhosas estavam ali a começar, quem o diz é Jesus, e será esse o nosso foco hoje: mesmo quando tudo parece travado na nossa vida cristã e na vida da igreja, nas mãos de Deus, pode ser início de algo muito maior do que até podemos perceber. Mas já lá vamos. Para já fiquemos com o título do sermão: “Daqui para a frente…”

1. Exposição

Vamos então viajar até a um tribunal eclesiástico, em Matthew 26.57-68
Jesus é levado à casa de Caifás, o sumo-sacerdote. Antes de ter sido levado diante de Caifás Jesus tinha estado diante de Anás, o sogro de Caifás, que fora sumo-sacerdote antes de Caifás e certamente ainda tinha influência e quiseram ouvi-lo.
Na casa de Caifás não está só ele, mas também o Sinédrio, o tribunal judaico, constituído por 70 membros, sacerdotes, mestres religiosos e os anciãos que se reuniam para decidir acerca de assuntos legais ligados à religião, política e vida social de Israel. Mesmo com os Romanos a deterem a autoridade legal em Israel, ao Sinédrio era permitido actuarem diante de situações menores. Por exemplo, a pena de morte apenas poderia ser decretada pelas autoridades romanas. O Sinédrio poderia propor a pena de morte, que é o que vai acontecer aqui, mas quem decide e executa é Roma.
O Sinédrio é constituído por aqueles que mais ódio tinham a Jesus, os inimigos mais amargos de Cristo, e aqui está o momento tão aguardado por eles, Jesus preso diante deles para cumprir uma formalidade apenas daquilo que já está engendrado nos seus corações e era necessário este julgamento antes de levar o assunto a Roma. Nesta reunião marcada a meio da noite, na casa de Caifás, para julgar Jesus provavelmente não estaria todo o Sinédrio, bastava estarem 23 membros para haver quorum. O sumo-sacerdote era o que presidia o julgamento e é o que vemos aqui acontecer, por intermédio de Caifás.
Mateus diz-nos que Pedro seguia Jesus de longe e foi até ao pátio da casa do sumo-sacerdote para ver o que aconteceria, se Jesus teria alguma coisa guardada na manga para sair dali vitorioso, ou se seria mesmo o fim.
Eram necessárias testemunhas para se chegar a uma acusação e a um veredicto. Foi isso que os sacerdotes e o Sinédrio tentaram arranjar. Mas tentaram arranjar de forma forjada, procurando testemunhas falsas, que eram ouvidas separadamente e cujo relato tinha de condizer, o que não aconteceu, até finalmente surgirem duas testemunhas que trazem o mesmo relato.
Dizem que Jesus tinha afirmado que poderia destruir o templo e reconstruí-lo em três dias.
Jesus em João 2.19 afirmou: “Jesus lhes respondeu: Destruí este santuário, e eu o levantarei em três dias.” As palavras de Jesus foram distorcidas. Ele não disse que iria destruir o templo, ele disse que iria reconstruí-lo, sem falar que ele nem estava a falar do templo físico, mas do seu próprio corpo.
Segundo os testemunhos daquelas duas pessoas Jesus estava a atacar o símbolo de maior importância para o judeu, o centro da sua vida de adoração.
Caifás pergunta a Jesus se Ele não tem nada a responder a essa acusação. Jesus ficou em silêncio, diante das mentiras e das falsas acusações não havia nada a dizer, ficou calado, cumprindo assim a profecia de Isaías 53.7: “Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a boca; como um cordeiro que é levado ao matadouro, e como a ovelha muda diante dos seus tosquiadores, ele não abriu a boca.”
O sumo-sacerdote não desistiu e pressionou Jesus, a fim de arrancar uma confissão que o comprometesse. Caifás trouxe Deus como testemunha para a conversa e exigiu, que diante de Deus, Jesus jurasse se Ele é o Cristo, o Filho de Deus.
Jesus responde que sim, ao afirmar “Tu o disseste.” Mas Jesus não se fica por aí. Ele vai mais longe e afirma diante de todos, com autoridade, do sumo-sacerdote e do Sinédrio, que aquele que eles estão a querer humilhar injustamente a fim de condená-lo é Aquele que um dia voltará dos céus para julgá-los, Jesus diz que daquele momento para a frente, a partir daquele momento verão o Filho do Homem sentado à direita de Deus, com todo o domínio sobre a terra e os céus, a Reinar para sempre.
Aqui Jesus está a citar dois textos importantes. O primeiro de Daniel 7.13-14: “Eu estava olhando nas minhas visões noturnas e vi que alguém parecido com filho de homem vinha nas nuvens do céu. Ele se dirigiu ao ancião bem idoso e a ele foi levado. E foi-lhe dado domínio, e glória, e um reino, para que todos os povos, nações e línguas o servissem; o seu domínio é um domínio eterno, que não passará, e o seu reino é tal que não será destruído.”
Nesta visão Daniel vê alguém parecido com um homem, em forma humana a vir das nuvens do céu a quem é entregue o domínio, glória e um reinado eterno a fim de ser servido por todos. Esse alguém tem qualidades divinas, é Deus. Jesus ao afirmar-se como o Filho do Homem está a apresentar-se como Deus, está a tomar para si prerrogativas divinas.
David também falou desse reinado e domínio entregue ao seu Senhor pelo Senhor: “O SENHOR disse ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha teus inimigos debaixo dos teus pés.” (Sl 110.1)
Jesus, ao dizer “de agora em diante” está a afirmar que Jesus já cumpre esse papel de juiz e de rei que domina tudo ali naquele exato momento. Jesus está a dizer que é o juiz deles e não o contrário.
Diante dessas afirmações de Jesus quanto à sua identidade o sumo-sacerdote rasga as vestes, algo que ele não podia fazer, as vestes do sumo-sacerdote não podiam ser rasgadas (Lv 21.10). A acção demonstrava grande indignação ou dor face a uma blasfémia. E foi exatamente essa a acusação levantada contra Jesus, um crime passível de morte segundo Levítico 24.10-23.
Apresentar-se como Messias não constituiria uma blasfémia, mas apresentar-se como o cumpridor da profecia de Daniel e de David, é reivindicar para si qualidades só presentes em Deus e isso sim era blasfémia. Porque das duas uma: ou Ele era de facto quem dizia ser, o que eles não aceitavam, ou Ele estava a mentir, e assim a incorrer em blasfémia, que era o que eles queriam.
Eles forçaram o testemunho da parte de Jesus e agora dispensam quaisquer testemunhas, declaram-no réu de morte.
Marcos diz-nos (14.65) que lhe cobriram o rosto, e bateram no seu rosto várias vezes, ridicularizando-o ao pedirem para adivinhar quem estava a bater nele. Esta ridicularização messiânica era provavelmente baseada na interpretação errada de Isaías 11.3, que dizia que o Messias julgaria não por aquilo que os seus olhos viam ou os seus ouvidos ouviam.

Ensino e Aplicações

Nesta passagem encontramos um sistema religioso totalmente falido e quebrado. Encontramos três ausências fundamentais às quais o povo adorador do único Deus verdadeiro deveria dar resposta.
Infelizmente essas três áreas também podem continuar a estar ausentes hoje na Igreja e na nossa vida cristã levando-nos a não sermos muito melhor que estes homens que encontramos nesta passagem e que com facilidade desprezamos. Em cada uma dessas ausências estamos no mesmo lugar de julgamento e desprezo por Jesus.
Mas veremos que para cada área sombria, com Jesus em sua infinita Graça e Misericórdia, é sempre possível ouvirmos um “desde agora”, “daqui para a frente”. A questão é o que faremos ao ouvir essas palavras.
Vamos então ver cada uma dessas possíveis e terríveis ausências que a Igreja pode manifestar ser:

a. Ausência de um lugar que impulsiona a salvação e a adoração

Ensino
Em primeiro lugar e mais importante que tudo o mais a Igreja é chamada a ser a impulsionadora por excelência da salvação e da adoração verdadeira ao único Deus verdadeiro. Mais ninguém pode cumprir esse papel, só a Igreja.
Era esta a responsabilidade destas pessoas que compunham o Sinédrio, os sacerdotes e os mestres religiosos. No entanto os que o movia era o interesse próprio, o status social e político que agora Jesus, por meio do seu ministério, estava a ameaçar. Jesus tinha denunciado a exploração financeira por parte destas pessoas a partir da fé das outros, estava a atrair multidões, e tinha feito acusações graves aos líderes religiosos.
A nação de Israel deveria ser o povo que, a partir da sua vida de adoração a Deus em todas as esferas e contextos, deveria manifestar amor a Deus e ao próximo, sendo uma montra do que é ser-se o povo de Deus, atraindo pessoas de todos os povos à adoração ao único Deus verdadeiro.
Era em Israel, em Jerusalém que o Criador do Universo marcava encontro com a humanidade, em mais lugar nenhum na face do planeta Terra. No Templo e por meio de todos os rituais instituídos por Deus através de Moisés, Deus manifestava a sua misericórdia e compaixão por meio de uma Aliança de Graça com homens e mulheres pecadores.
Deus havia instituído uma forma de Ele, sendo justo e perfeito, amoroso e bondoso, poder relacionar-se com homens e mulheres injustos e imperfeitos, insensíveis e maus: por meio do sacrifício de animais que deviam cumprir certos requisitos de perfeição de saúde e pureza. A vida de um animal inocente pela vida de um homem culpado para que um Deus perfeito pudesse abraçar o homem sem Ele mesmo se tornar corrupto. Justiça tinha de ser aplicada, o crime não poderia ficar por punir. Deus então instaurou um sistema onde o crime seria punido num terceiro elemento, puro, inocente.
Estes sacrifícios eram feitos neste local de adoração e de encontro entre Deus e o seu povo - o templo. Os sacrifícios eram executados pelos sacerdotes, que representavam o povo diante de Deus, serviam de intermediários. Era também da tribo sacerdotal, os Levitas, que vinha o ensino ao povo de Deus. Os levitas deviam instruir o povo na Lei do Senhor. O Templo e aqueles que nele trabalhavam deviam ser canais de amor e de edificação, tinham o privilégio de “levarem" o amor de Deus ao povo e o amor do povo a Deus.
No entanto por diversas vezes na história de Israel o Templo corrompeu-se e o povo também, a adoração era apenas de fachada, havia aproveitamento financeiro e corrupção, falta de integridade tanto nos sacerdotes quanto no povo, ausência de manifestação do amor de Deus e de amor dirigido a Deus, ausência de salvação. Ausência de testemunho diante das nações que olhavam para Israel.
Este era um desses momentos de corrupção. Foi exatamente isso que Jesus criticou poucos dias antes ao afirmar: “E disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração; vós, porém, fazeis dela um antro de assaltantes.” (Mt 21.13)
Quem estava a destruir o Templo e tudo o que ele representava eram eles e não Jesus. Mas um novo tempo estava para surgir. Ao rejeitarem o Messias, ao incitarem a morte de Jesus eles estavam a destruir todo o sistema sacerdotal do templo, estavam a destruir o único lugar de encontro entre Deus e a humanidade. Ao matarem Jesus o sacrifício final é feito. Jesus foi primeiro levado a Anás e Caifás, os sumos-sacerdotes, da mesma forma que um animal puro e perfeito deveria ser levado aos sacerdotes para ser sacrificado. O sacrifício de Jesus acabou com todos os sacrifícios, ele foi como ovelha muda para o matadouro. O sistema sacerdotal judaico morreu para sempre, Jesus além de ser o cordeiro do sacrifício tornou-se também o sumo-sacerdote derradeiro e eterno que se ofereceu pelos pecados do seu povo. O templo deixa de fazer sentido a partir desse momento. Tanto que 40 anos depois é destruído pelos Romanos. Jesus é o novo templo, Jesus é o lugar de encontro entre Deus e o seu povo, Jesus é o lugar da aliança de amor incondicional.
É por isso que Jesus tinha dito à mulher samaritana que não mais se adoraria a Deus no templo, mas em qualquer lugar desde que em espírito e em verdade. A verdadeira adoração acontece onde o Espírito de Jesus está. Qualquer pessoa que tenha nEle o Espírito de Cristo aí está o Templo, simultaneamente o conjunto de pessoas que contêm o Espírito de Cristo, a Igreja, são o Templo de Deus.
Daquele momento em diante deixaria de haver um Templo corrompido para haver o Templo Perfeito e verdadeiro para o qual o templo anterior apontava como uma sombra da realidade que estava por vir. Todos os sacrifícios, os rituais, os sacerdotes e levitas, tudo apontava para Aquele que é o verdadeiro sacrifício, que cumpre todos os rituais, o verdadeiro sacerdote.
A presença do Espírito de Cristo em cada cristão individualmente e na igreja coletivamente faz de cada cristão e da Igreja o meio pelo qual este encontro com o Deus vivo é impulsionado. Por isso é que cada discípulo de Jesus é chamado a fazer outros discípulos, a anunciar a boa notícia de que em Jesus é possível ser ligado à fonte da vida, de amor, de alegria, de perdão, de justiça, de verdade, de esperança e de paz.
Por meio da Igreja que prega e vive o Evangelho Deus se revela ao mundo, é no seio dela, a partir dela que há salvação, que há encontro com o Deus vivo, por meio da ação do Espírito de Cristo que opera nela e por meio dela.
O que acontece se a Igreja deixa de ser este lugar que impulsiona a salvação e a adoração de pessoas?
Ou está muito doente e acabará por morrer (muitas igrejas ao longo da história têm desaparecido), ou se arrepende e volta a tornar-se numa comunidade vibrante de proclamação e missão.
Aplicações
Tu e eu somos chamados a ser lugar de encontro entre Deus, por meio de Cristo, e as pessoas com quem nos cruzamos. Como? Anunciando e mostrando Jesus que habita em nós por meio do seu Espírito.
Fazemos isto organicamente nos nossos relacionamentos, de forma intencional. E fazemos isto institucionalmente como igreja, pregando o Evangelho nos cultos e programando contextos de proclamação da Palavra de Deus.
Tu e eu não somos muito melhores que aquele Sinédrio se desprezarmos Cristo. Podemos nos calar, não nos envolver na Missão a cada dia nos nossos contextos de vida e arranjar desculpas, justificações, distorcendo a verdade do que somos chamados a fazer, tal como aqueles homens distorceram a verdade a fim de abafarem Jesus nas suas consciências. Não é o que fazemos quando sabemos que devemos dar mais, quando sabemos que devemos partilhar o Evangelho e não o fazemos? Abafamos a voz do Espírito de Jesus, racionalizamos justificações, arranjamos falsas testemunhas nas nossas consciências.
Tens orado com regularidade por dois ou três dos teus colegas de trabalho ou da faculdade? Tens orado pelos teus vizinhos? Tens programado manter uma conversa menos circunstancial e mais interessada com algum deles, demonstrando preocupação, disponibilidade?
Isto são coisas que todos temos condições de fazer, não temos de ser especialistas em Teologia. Podemos amar como Jesus amou e mostrar por ações e por palavras quem Jesus é e pode ser para essa pessoa.
Como Igreja, institucionalmente, também podemos nos tornar como aquele Sinédrio e querer abafar a nossa responsabilidade de sermos lugar de salvação e de adoração. Orem para que este púlpito sempre anuncie a verdade, sempre pregue Cristo e o perdão que há pelo seu sacrifício de amor compassivo e incondicional.
Orem e envolvam-se na plantação de Igrejas, participem financeiramente com as responsabilidades que assumiram como membros de contribuirem com dízimos e ofertas, perguntem sobre como podem orar melhor pelas plantações. Dêem ideias para ações evangelísticas e envolvam-se. Digam as necessidades que têm para conseguirem viver e partilhar Cristo melhor nos vossos contextos.
Acima de tudo peçamos mais presença e poder do Espírito Santo em nós individualmente e na Igreja de forma geral. Uma Igreja cheia do Espírito Santo é uma Igreja cheia da missão, é uma Igreja com ousadia para proclamar o Evangelho, é lugar fértil de adoração vibrante, viva, intensa e de salvação de pessoas perdidas, caídas, presas, sem esperança e alegria. Orem para que o Espírito Santo vos encha, vos encha da Sua presença, do seu poder, da sua capacitação, dos seus dons, oremos para o Espírito Santo sopre vida sobre nós, que nos dê coragem, sabedoria, que nos leve a pregar e viver Cristo, oremos, clamemos, ansiemos, jejuemos para que o Espírito Santo traga um avivamento e sejamos farol de salvação nesta cidade de Faro e arredores!
Diz a Jesus: de agora em diante enche-nos mais e mais com o teu Espírito! De agora em diante quero me envolver mais na Missão! De agora em diante quero proporcionar mais e mais o lugar de encontro entre ti e aqueles que se cruzam comigo! Com Jesus, a tua vida nesta área, pode ser diferente e começar a dar fruto daqui para a frente! Ouve-o a chamar-te e vai, não te endureças como o Sinédrio! Um novo dia pode começar na tua vida cristã e da igreja hoje!

b. Ausência de um lugar de justiça para os injustiçados

Ensino
O Sinédrio deveria julgar causas menores e tomar decisões de forma justa visando o bem do povo e das pessoas que chegassem até eles, visando a verdade, a equidade e a justiça. É exatamente o contrário do que vemos na nossa passagem, desde o processo de prisão, por meio de suborno, até ao próprio desenrolar do julgamento, como já falámos.
Aqueles homens que compunham o Sinédrio deviam ser ideais de esperança para a sociedade, deviam ser os primeiros, à luz do cargo que ocupavam, a se lançarem diante das causas dos oprimidos, desfavorecidos, dos injustiçados, de trazer justiça diante da injustiça, de punir o crime e incentivar o bem.
Face ao Deus justo, amoroso e compassivo, que se compadece da viúva, do estrangeiro, do órfão e do pobre a Igreja deve ser a primeira a proclamar na sociedade a necessidade de apoio a estas pessoas. Deve ser a primeira a denunciar a injustiça, corrupção e maldade, destacando os ídolos culturais e da sociedade que tanto sofrimento trazem às pessoas.
A Igreja não substitui o papel do Estado, que deve ser o de cuidados básicos de segurança, o de garantir uma sociedade justa. Mas a Igreja pode e deve apoiar nas áreas em que haja carência, incapacidade ou negligência das instituições sociais, e isto principalmente de forma orgânica, por meio dos seus membros, espalhados pelas várias esferas da sociedade, actuando em diferentes áreas e de diferentes formas, de forma corretiva ou de socorro face ao sofrimento ou de forma preventiva.
Um professor que ensine com excelência, que tenha compaixão dos que têm mais dificuldades e impulsione o potencial dos que demonstram facilidade, está a preparar homens e mulheres para conseguirem desenvolver habilidades e capacidades que lhes permitam ter um trabalho no futuro e contribuir para a sociedade. Esse é o exemplo de um trabalho preventivo.
Mas infelizmente também há muita necessidade de trabalho de socorro, pessoas que sofrem violência, mulheres, crianças jovens, há pessoas presas a vícios, há pessoas injustiçadas por patrões ou por empregados, ou colegas, há pessoas com grandes carências materiais ou afetivas, há famílias completamente desestruturadas e casamentos destruídos, há estrangeiros com dificuldades de integração, há pessoas limitadas por doenças físicas ou psicológicas incapacitantes, há pessoas idosas abandonadas à solidão, e a lista podia continuar.
Em todo o seu ministério Jesus foi um farol de esperança para qualquer pessoa em sofrimento de qualquer tipo, Jesus trouxe cura, libertação, dignidade a pessoas que não tinham mais esperança de a terem, possibilidade de voltarem a uma vida de trabalho e de autonomia, Jesus tocava leprosos, conversava com os mais desprezados, sentava-se à mesa de condenados sociais.
Essa tónica é muito forte ao longo de toda a Bíblia, desde o Antigo Testamento até ao Novo. A Igreja deve cuidar dos necessitados de dentro, como fez em Atos, cuidando da alimentação das suas viúvas, mas também se deve virar para fora.
A Igreja deve ser um lugar de justiça, um lugar que mostra o que é cada coisa no seu lugar e luta para que, na sua esfera de influência, cada coisa esteja no devido lugar: que pessoas recebam amor, carinho, atenção, o mal seja denunciado, famintos sejam alimentados, quem tem falta de roupa seja vestido, abandonados sejam abraçados, maltratados sejam protegidos, órfãos e viúvas sejam apadrinhados, incapacitados sejam amparados, ignorantes sejam instruídos e capacitados a singrarem na vida, pessoas descontextualizadas sejam integradas, feridos emocionalmente sejam curados, isolados encontrem uma família. A Igreja é chamada a ser a Janela da Cidade, em que quando todas as portas se fecham às pessoas, a Igreja abre uma janela de oportunidades, de esperança, de segurança, de conforto, de amparo, de refúgio, de correção, de transformação, de superação, de educação.
Falhar diante dessa chamada é não ser diferente daquele Sinédrio, é ter que encarar Aquele que virá nas nuvens do Céu para julgar aqueles que deviam de administrar bem a justiça sendo a sua voz e a sua ação nesta terra.
Aplicações
Somos chamados a servir a cidade, a servir os nossos vizinhos, colegas, conhecidos e desconhecidos, os irmãos carenciados da nossa igreja e os desesperançados de quem nem sabemos o nome.
Institucionalmente chamaremos e daremos apoio a todo o tipo de iniciativas que pudermos e tivermos capacidade de abraçar. Podemos fazer isso formalmente ou informalmente.
Tu e eu éramos pobres diante de Jesus, não tínhamos nada em nós para ficar de pé diante do Pai, as nossas roupas eram sujas, manchadas por pecado e por insensibilidade para com Deus e o próximo, mas Jesus veio e nos vestiu, tínhamos fome e sede de uma justiça que não tínhamos para agradar a Deus, e Jesus veio, Ele mesmo como pão e água da vida nos saciou. Como não se compadecer de pessoas em necessidade?
Ele nos dá o que comer e vestir todos os dias, caso contrário não estaríamos aqui. A maior parte de nós tem uma casa digna, uma família minimamente estruturada. Muita gente não tem isso. O que fazemos nós por esses?
Podes te envolver em associações de voluntariado. Alguns irmãos aqui da igreja estão envolvidos em voluntariado. Procura informar-te do que há e envolve-te. Vamos criar também a Associação beAlive, cujo processo ficou em pausa por causa do contexto atual.
Há um projeto que ganhou o coração de alguns daqui da Igreja: a Associação Crescer com Amigos, uma Associação Internacional cristã que trabalha com crianças em ambiente escolar. Trabalho de voluntariado junto de crianças numa escola, crianças sinalizadas, com dificuldades escolares por diversos motivos. O trabalho consiste em cada voluntário ficar com uma criança durante dois anos letivos, 1 hora por semana, desenvolvendo atividades intencionais que visam trabalhar as emoções e comportamentos da criança de acordo com as suas necessidades e carências específicas. Para isso há uma formação que é dada, materiais e recursos especializados a serem aplicados. Os testemunhos são lindíssimos, criança ganha sucesso emocional, social, comportamental e por consequência escolar. Não só as crianças são alcançadas, mas também as famílias e as escolas acabam sempre por perguntar se não há mais voluntários. A estatística diz que 60% dessas crianças e famílias acabam por procurar a igreja.
Mais há frente, em Janeiro, teremos uma pessoa que nos virá falar sobre esse projeto, que a igreja pode abraçar.
Ao mesmo tempo tu e eu certamente nos cruzamos com pessoas em necessidade e sofrimento, na rua, no trabalho, na faculdade, o que temos feito para colocar as coisas no devido lugar? Devemos ser os primeiros a correr para a linha da frente na luta por melhorar a vida dessas pessoas. Entra na vida dessas pessoas, dá o teu tempo, ora por elas, abre a tua carteira, abre a tua casa, a tua mesa, ensina, instrui, encaminha para ajudas especializadas, se for o caso.
Somos os detentores da maior esperança de todas, demos às pessoas amostras de esperança daquela que é a Esperança das esperanças.
Ouve o mote de Jesus: Desde agora, daqui em diante, daqui para a frente. Vê Jesus como o Justo Juiz que te ensina o caminho da justiça e da compaixão e começa amanhã mesmo. Toma atitudes, decisões que potencializem o teu envolvimento na vida dos outros, o que está a travar o teu serviço sacrificial a quem sofre deixa de lado, toma posições, mesmo que difíceis, avança, dá o passo, muda os hábitos que forem precisos, reajusta o orçamento, reprioriza a agenda.
Que daqui para a frente sejas lugar de justiça para os que sofrem. Se te vês encurralado pela inatividade, falta de vontade, tentativas frustradas, agora certamente ouves um: daqui para a frente! Ele é o Filho do Homem, que domina tudo, que reina e que reinará para sempre. Ele te capacitará.
O que vais fazer concretamente daqui para a frente? Anota, escreve, toma resoluções e começa.

c. Ausência de proximidade de Jesus e coragem na hora da Verdade

Ensino
Esta é a ausência que se existir fará com que as outras também existam.
Aqueles homens do Sinédrio estavam completamente longe de Deus. Mas agora não quero falar deles, quero destacar alguém que acompanha Jesus à distância. Estou a falar de Pedro.
Pedro entrou no pátio, seguiu Jesus de longe, quis ver no que ia dar aquela situação.
O desfecho dessa atitude vê-la-emos na próxima vez, mas não vai ser bom, termina com lágrimas de profunda tristeza, embora esse processo faça parte da restauração. Caminhar com Jesus à distância sempre culminará em vergonha por falhas e quedas retumbantes.
Pedro não teve coragem na hora da verdade. Um cristão e uma Igreja que caminhem à distância de Jesus são inoperantes, inúteis, quando chega a hora da verdade acobardam-se, não proclamam o Evangelho e não são instrumentos de justiça e compaixão onde se encontram.
Pedro estava centrado nele mesmo, quem não se doa aos outros é sempre centrado em si mesmo. Qual a cura? Caminhar perto de Jesus. Uma verdadeira vida de adoração e centrada em Jesus sempre será uma vida de sacrifício e em movimento para os outros.
Basta olhar para Paulo, a sublimidade e preciosidade de Jesus para ele era de tal forma que ele considerava todas as conquistas da sua vida, todo o seu bem-estar, saúde, conforto, e até vida, como lixo, esterco, excremento quando comparado com Jesus. Jesus era o centro da sua vida mesmo. Ele não se importava de morrer, porque iria ter com Jesus, e viver seria uma alegria porque poderia levar Jesus aos outros. Jesus o tempo todo.
Não quer dizer que não são homens e mulheres que não falham e que não dão quedas, e às vezes feias, dão sim. Tal como David, mas ele era o homem segundo o coração de Deus, não porque era perfeito, não porque não tinha incoerências, não porque não pecou de forma grave, mas porque o coração dele pulsava por Deus, quando obedecia obedecia de coração, quando desobedecia ficava de coração apertado e chorava arrependido. Isto é a verdadeira vida cristã, marcada por quedas e falhas, por frustrações e decepções, mas acima de tudo e em todo o tempo por um amor cada vez mais intenso e crescente por Jesus.
Um cristão e uma igreja que se ausentem do lugar da comunhão amorosa com Jesus é uma igreja que fecha Jesus do lado de fora, ela perde tudo o que há de bom, mesmo que dê sinais de uma suposta espiritualidade, de ortodoxia teológica, de emoções visíveis, mas podem ser tudo coisas vazias, apenas aparência.
Aplicações
Onde estás tu? No pátio, à distância? Daqui para a frente, desde agora, a partir daqui, de hoje, vai com Jesus para onde Ele for, mesmo que seja para enfrentar o pior dos julgamentos e tu tenhas que ser julgado com Ele.
Caminha mais perto de Jesus. Ouve a Sua voz na Bíblia, abre o teu coração em oração. Ora mais, mais em privado, mais na rua, mais no trabalho, mais numa caminhada. Canta para Jesus, louva-o. Confessa quedas e pecados, incapacidades e limitações. Baixa as defesas, recebe o perdão gratuito. Estuda o que Ele ensina, aplica estratégias e resoluções para viver o que Ele pede de ti. Obedece, obedece, obedece. Trabalha o contentamento e a gratidão. Joga fora a murmuração e a reclamação.
Abandona pecados, muda hábitos que atrapalham. Busca uma igreja saudável, busca a vida em igreja, investe em amizades significativas que te atraiam mais para Jesus. Serve o outro mostrando Jesus. Pede para que Ele te encha com o Seu Espírito, pede hoje, amanhã, depois de amanhã, a semana toda, o mês todo, o ano todo, até que Ele te dê mais e mais do Seu Espírito que é doce, que transforma, que santifica, que purifica, que dá segurança, que fortalece a fé, que sustenta a obediência, que te empurra para a Missão.
A partir de hoje, de agora, o Filho de Homem, o Cordeiro que morreu por ti, o Juiz que voltará, quer que tu andes perto dEle. O que vais fazer a partir de hoje? Vais te levantar mais cedo para estares só com Ele durante um tempo bom de qualidade? O que vais deixar de fazer ou onde ou com quem vais deixar de estar para certas tentações não existirem mais? Como vais organizar a tua agenda para estares com quem te aproxima de Jesus e com a Igreja?
O que precisa de mudar já amanhã concretamente? Muda isso. Escreve, anota. Uma coisa, duas, três no máximo. E começa a mudança.
Oremos!
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