A salvação de Deus e as ações do cristão em meio ao sofrimento

1 Pedro: esperança em meio ao sofrimento  •  Sermon  •  Submitted
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INTRODUÇÃO

No ultimo domingo, vimos que o apóstolo Pedro escreveu esta carta a igrejas que se encontravam em diversas regiões da região da Ásia, o que corresponde hoje a atual Turquia. Essas regiões são destacadas no v. 1: Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia.
Além disso, observamos que o objetivo desta epístola é fazer com que aqueles irmãos fossem encorajados a se manterem firmes e esperançosos no evangelho, mesmo em meio ao sofrimento. Por isso, ao longo dessa carta, o tema da esperança em meio ao sofrimento é muito forte.
Diante disso, já na saudação (v. 1, 2) Pedro utiliza dois termos que mostram alguns aspectos da nossa identidade enquanto igreja. Afinal, quem nós somos? E podemos ver nestes versículos dois aspectos da nossa identidade enquanto igreja: 1) Nós somos os eleitos de Deus; 2) Nós somos os forasteiros do mundo.
Estas marcas da igreja estão alicerçadas em uma ação trinitária. Cada uma das três pessoas da trindade participa ativamente nessa obra redentiva. O Pai elege segundo a sua presciência, através da santificação do Espírito, e tudo isso tem como objetivo a obediência e a aspersão do sangue de Cristo. Em resumo: A origem da eleição está no Pai; a forma está no Espírito; e o objetivo está no Filho.
Tudo isso, de imediato deveria trazer algum consolo para os irmãos que lessem esta carta. Se somos eleitos e forasteiros, não devemos temer. Deus nos escolheu e nos guiará até a Nova Jerusalém. Nossa esperança não está nas circunstâncias, mas está em Deus.
Mas então, seguimos a leitura da carta e nos deparamos com as ações de graças que vai do v. 3 ao 12. Entretanto, gostaria de nessa noite, nos atermos aos v. 3-9 porque falam de forma muito especial sobre

(Tema) algumas atitudes que o cristão deve ter diante do sofrimento.

Afinal, como o Cristão deve agir em meio as provações? Vejamos, então, algumas dessas atitudes:

1. LEMBRAR-SE DA SALVAÇÃO EFETUADA POR DEUS

a. Exposição

Em suas primeiras palavras a estes irmãos, Pedro bendiz a Deus pela obra de salvação efetuada por Ele. Ao mesmo tempo, ele faz com que estes irmãos se lembrem da magnitude desta obra.

Deus nos regenerou

Primeiramente, vemos em que consiste esta salvação. Deus “nos regenerou” (v. 3). A regeneração é o ato pelo qual o Espírito Santo dá nova vida ao pecador. É por meio dela que o homem pecador é transformado em herdeiro de Deus e co-herdeiro com Cristo. Tal transformação não pode ser efetuada pelo homem. A regeneração é um ato exclusivamente de Deus.

Porque Deus nos regenerou: a misericórdia

Por que ele fez isso? Porque Ele é um Deus muito misericordioso. Por isso, tem-se a expressão: “Segundo a sua muito misericórdia”. A misericórdia é o amor de Deus que é derramado sobre aqueles que estão em angústia e aflição. Os cristãos a quem Pedro estava escrevendo estavam passando por angústia e aflição. Mas esta situação não estava restrita a eles. Todos os homens sofrem por causa do pecado que neles habita. Entretanto, os eleitos de Deus foram privilegiados com a sua misericórdia. Não se trata de pouca misericórdia, mas de muita! É esta misericórdia o fator causativo para que Deus efetue a regeneração no coração do homem.

A forma da regeneração: a ressurreição

Como Deus nos regenera? “Mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos.” A ressurreição de Cristo é o aspecto mais importante da fé cristã. Ela é diferente das ressurreições como as de Lázaro, por exemplo. Este voltou a viver em um corpo corruptível. Cristo, porém, ao ressuscitar, trouxe um corpo glorificado, no qual as condições originais foram não só restauradas mas também colocadas em um nível superior. Se Cristo não ressuscitou é vã a nossa fé.

O Objetivo dessa obra: uma herança

Qual é o objetivo dessa obra? Deus nos regenerou “para uma viva esperança.” Fomos regenerados pela ressurreição e também para a ressurreição. Esta é a esperança da fé cristã. Tal esperança possui sua plenitude quando estivermos com o Pai, na eternidade. Trata-se, pois, “herança”. Dada a dificuldade de definir o que esta herança é, Pedro decide usar três palavras que mostram aquilo que ela não é. São elas:

· Incorruptível= Que não pode se deteriorar

· Imaculada= Que não possui, mancha, mácula.

· Imarcescível= Que não murcha; que não perde sua qualidade ou beleza (palavra originalmente aplicada a plantas)

Bençãos da regeneração: somos guardados pelo poder de Deus

E esta obra de Deus não para por aí. Não só somos regenerados por Deus para termos uma herança. Nós também “somos guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação do Senhor Jesus.” Esta herança irá “revelar-se no último tempo.” Até lá, Deus preservera em nós, guardando-nos para que possamos manter a nossa esperança viva. Se este guardar dependesse apenas de nós, falharíamos. Contudo, Deus exerce sua boa mão não só nos regenerando, mas no mantendo firmes em seus caminhos.

b. Ilustração

O apóstolo Paulo é um grande exemplo de cristão que, em meio ao sofrimento, se lembrou da salvação de Cristo Jesus. Ele descreveu em 2Co 11. 24-29 todos os tipos de sofrimentos externos e internos que teve por causa do evangelho. Contudo, este é o mesmo homem que também afirmou:

“Por que a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação...” (2 Co 4. 17).

Tal postura só é possível porque sua visão estava centrada na obra salvadora do Senhor Jesus.

c. Fundamentação

Paulo, também mostra em outra passagem da Escritura, um chamamento para se lembrar da obra salvadora de Deus em Cristo. Vemos isso em 1 Co 15. 3-8:

3 Antes de tudo, vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras,

4 e que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras.

5 E apareceu a Cefas e, depois, aos doze.

6 Depois, foi visto por mais de quinhentos irmãos de uma só vez, dos quais a maioria sobrevive até agora; porém alguns já dormem.

7 Depois, foi visto por Tiago, mais tarde, por todos os apóstolos

8 e, afinal, depois de todos, foi visto também por mim, como por um nascido fora de tempo.

Nota-se que, antes de tratar do problema em questão, a saber – o fato de que alguns estavam negando a ressurreição (v. 1 Co 15.12), Paulo recorda a igreja de Corinto da Salvação efetuada por Deus em Cristo. Assim, ela poderia ser reorientada em sua visão sobre a esperança da ressurreição, trabalhando de forma firme e inabalável no Senhor, sabendo que nEle seu trabalho não é vão (1 Co 15.58).

d. Aplicação

Portanto, a primeira atitude que o cristão deve ter diante do sofrimento é lembrar-se da salvação de Deus. Ao considerar a magnitude deste ato divino, ao perceber como não éramos merecedores de tal consideração e amor, somos movidos a ter um coração grato a Ele, mesmo nos momentos mais difíceis. Dessa forma, podemos bendizer a Deus assim como Pedro fez. A gratidão deve ser o primeiro ato da vida cristã.

2. ALEGRAR-SE NESTA SALVAÇÃO

a. Exposição

A segunda atitude que devemos ter diante das provações é alegrar-se por esta salvação. Por isso o apóstolo diz no versículo 6: “Nisso exultai” ou “Exultem”. O verbo em questão encontra-se no imperativo. Diante dessa grande obra que Deus faz, a atitude cristã é de se alegrar por participar desse grande privilégio.

Uma alegria apesar das provações

Entretanto, esta alegria não ocorre baseada nas circunstâncias. Pedro exorta os cristãos a quem ele escreve para se alegrar em meio às tribulações. Por isso ele escreveu: “embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações”. Não se trata de uma constante, daí a expressão “se necessário”. Mas é algo que pode ocorrer na vida cristã e que era exatamente a situação daqueles que receberam esta epístola.

Os motivos pelos quais o cristão passa por provações

Mas por que os cristãos devem se alegrar, mesmo em meio às provações? Pedro nos mostra duas razões.

1º Motivo: As provações são breves

A primeira é que ela é breve. Veja a expressão “por breve tempo”. O apóstolo reconhece que as provações existem e podem fazer parte da vida cristã. Porém, elas não durarão muito tempo. Diante da magnitude da eternidade que está reservada para os discípulos de Jesus, as provações são passageiras.

2º motivo: As provações glorificam o nome de Cristo

A segunda razão para se alegrar diante da tribulação mostrada no texto é que ela possui um objetivo: a glorificação de Jesus Cristo. O versículo 7 nos mostra isso, dizendo “para que, uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo”.
Pedro mostra que as provações servem para fazer com que a nossa fé seja apresentada a Jesus Cristo no último dia de uma forma que lhe renda muito mais glória e louvor.

A fundição do ouro

Para esclarecer este assunto, ele compara o período de sofrimento ao processo de fundição do ouro. Este para se tornar ouro é passado pelo fogo para ser apurado. Sem isso, ele não possui um objeto de tanto valor. Da mesma forma, o cristão é passa pelo sofrimento para que sua fé seja “apurada”, a fim de que no final ela se apresente em forma valiosa. Enquanto que ouro é perecível, a fé do cristão não perece. Ela permanecerá até o dia da revelação do Senhor Jesus Cristo.

Como esta fé pode ser demonstrada no presente?

Como esta fé pode ser demonstrada no presente? O versículo 8 nos mostra isso: “a quem, não havendo visto, amais; no qual, não vendo agora, mas crendo, exultais com alegria indizível e cheia de glória.” O apóstolo mostra como ela está sendo apurada pela forma como os cristãos continuam amando o Senhor Jesus mesmo não o tendo visto ressuscitado, como o próprio Pedro teve o privilégio de ver. Além disso, eles não estão o vendo naquele instante. Ele não apareceu depois a eles. Mas, Pedro mostra o quanto esta fé ganha contornos mais preciosos. Mesmo não tendo visto e não vendo o Senhor Jesus, aqueles cristãos pela fé, amam e creem nEle. Diante das provações, eles estão se alegrando em Cristo Jesus. Uma alegria que não pode ser totalmente definida em palavras, pois ela é “indizível e cheia de glória”. E é caminhando com esta alegria que eles obterão o propósito da sua fé: a salvação de suas almas (v. 9).

b. Ilustração

A letra que compõe o hino 108 do Hinário Novo Cântico foi originalmente composta por Horatio G. Spafford[1], um advogado da cidade de Chicago, que decidiu levar a sua família para fazer uma viagem marítima à Europa. Sua esposa e quatro filhas embarcaram no navio Ville Du Havre. Ele iria depois. Porém, o navio em que sua família estava afundou, só sobrevivendo a sua esposa. Por telégrafo, ela enviou uma mensagem ao seu marido com duas palavras: ““Salva, porém, só. O que devo fazer?”
Ao embarcar em um navio para encontrar-se com sua esposa, Horatio Spafford passou pelo lugar em que Ville Du Havre havia afundado. Foi então, que sentiu-se inspirado a escrever o poema que depois virou música por Philip P. Bliss e adaptado ao português por William Edwin Entzminger:
Se paz a mais doce me deres gozar
Se dor a mais forte sofrer
Oh! Seja o que for, tu me fazes saber
Que feliz com Jesus sempre sou!
Sou feliz com Jesus
Sou feliz com Jesus, meu Senhor!
Embora me assalte o cruel satanás
E ataque com vis tentações
Oh! Certo eu estou, apesar de aflições
Que feliz eu serei com Jesus!
Meu triste pecado, por meu salvador
Foi pago de um modo cabal!
Valeu-me o senhor! Oh mercê sem igual!
Sou feliz, graças dou a Jesus!
A vinda eu anseio do meu salvador!
Em breve virá me levar
Ao céu onde eu vou para sempre morar
Com remidos na luz do senhor!
Diante de um momento de grande dor e sofrimento, este homem foi capaz de lembrar-se da salvação efetuada por Deus. E isso fez toda a diferença em sua vida.

c. Fundamentação

O tema da alegria centrada em Cristo é reforçado por outras passagens da Escritura. Em Filipenses 4.4 o apóstolo Paulo diz: “Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo: alegrai-vos”. Paulo não fala de uma alegria baseada nas circunstâncias, mas centrada na pessoa e na obra de Cristo.

d. Aplicação

A primeira pergunta dos Catecismos Maior e Breve de Westminster é: “Qual o fim principal do homem”? E a resposta: “O fim principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre”. Disso, tira-se o principio tudo na nossa vida deve glorificar a Deus. Sendo assim, até mesmo nossas provações são para a glória de Deus. Assim, é importante, com base nessa verdade, refletirmos sobre a seguinte questão: como podemos glorificar a Deus diante de uma determinada situação? A resposta que o texto nos dá é que devemos nos alegrar pela salvação dada por Deus em Cristo. Portanto, esta passagem nos exorta a confiarmos em Deus e a glorificá-lo em cada aspecto da nossa vida, inclusive nos momentos de provações.

CONCLUSÃO

Recapitulação

Vimos, portanto, através deste texto algumas atitudes que o cristão deve ter diante das provações. São elas: 1) Lembrar-se da Salvação efetuada por Deus; 2) Alegrar-se nesta salvação.

Aplicações

Existe um discurso presente em vários lugares afirmando que o cristão não pode sofrer. Há igrejas cujo slogan é a frase: “Pare de sofrer!”. Alguns pastores chegam a dizer que o cristão não nasceu para sofrer, mas para prosperar. Ele deve “determinar” e não aceitar essa situação.
Porém, este discurso não parece semelhante com o que a Bíblia apresenta. Na verdade, percebe-se pelas Escrituras que o sofrimento faz parte da vida cristã. Quando olhamos para a palavra de Deus e para a própria realidade da igreja atual, percebemos que o sofrimento é um aspecto presente em nossa vida.
Diante do sofrimento, somos convidados a não olhar as circunstâncias, mas para o autor e consumador da nossa fé: Jesus. Somente assim, em cada atitude da nossa vida podemos ser gratos e alegres por tudo que Ele fez, faz e fará!
Assim como o compositor do Hino Aflição e Paz, somos encorajados a lembrar da salvação de Jesus mesmo nos momentos mais difíceis. Esta atitude contribuirá para olharmos para as provações de uma forma melhor.
Que possamos olhar nossa vida como uma peregrinação rumo à herança que nos está reservada nos céus! Que possamos viver cada dia buscando glorificar a Deus, seja através de momentos bons, seja através de momentos de provações!
[1] Esta informação se encontra em vários sítios de internet. Um deles é o da Igreja Presbiteriana da Barra Funda, do Rev. Mauro Meister: https://www.facebook.com/IPBarraFunda/posts/hist%C3%B3ria-do-hino-sou-feliz-108-ncpor-muitas-vezes-voc%C3%AA-j%C3%A1-deve-ter-cantado-o-hin/1030466753718590/. Acesso em 04/04/2019.
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