Implicações da salvação

1 Pedro: esperança em meio ao sofrimento  •  Sermon  •  Submitted
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RECAPITULAÇÃO

Já vimos que o apóstolo Pedro escreveu esta carta a uma série de igrejas que sofriam pelo fato de professarem a fé no Senhor Jesus. O que nos surpreende é o fato de Pedro em nenhum momento se apressar em ser “prático” no sentido que tanto queremos hoje em dia. Vimos como ele, em suas primeiras palavras nesta carta relacionou a salvação e as provações. Assim, diante das provações devemos: 1) Lembrar-se da salvação efetuada por Deus; 2) Alegrar-se nesta salvação; 3) Considerar a amplitude desta salvação.
Tendo visto isso, Pedro começa então a trazer implicações desta obra de salvação a partir do v. 13. Veja a palavra “Por isso”. Por isso o quê? Esta expressão relaciona o que será falado a partir de agora com o que Pedro falou anteriormente. Assim, se antes o assunto era a salvação e as provações, agora Pedro nos mostra algumas implicações desta salvação. Vejamos algumas dessas implicações:

1. MANTER A ESPERANÇA

A primeira implicação da salvação está no versículo 13. Devemos manter a nossa esperança. Mas...

Manter a Esperança em quê?

a. Na Graça de Deus

O texto nos responde dizendo que devemos esperar na graça de Deus. A expressão “na graça” envolve aqui dois aspectos. O primeiro é salvífico. Deus nos salvou através de sua graça (Ef. 2.8). Esse dom imerecido é dado a pecadores que mereciam somente a condenação. Se merecêssemos esse dom, a graça já não seria graça.
Além disso, a graça de Deus envolve o chamado da igreja. Deus não apenas salvou os eleitos por sua graça, mas o chamou para viver uma vida santa diante dEle. Para tanto, preserva, cuida e fortalece da igreja de tal forma que ela pode cumprir sua missão. Tudo isso debaixo da sua graça.

b. A esperança na graça de Deus deve ser plena

Outro aspecto a ser destacado aqui é que devemos esperar inteiramente na graça de Deus. pode ser colocado como esperança na vida do cristão, a não ser a graça de Deus. Logo, a espera na graça de Deus deve ser plena. Nenhuma outra coisa, nenhum outro homem, nenhum outro ser que seja deve ser o depósito de nossa esperança. Ela deve estar 100% colocada na Graça de Deus. É ela a receptora da nossa esperança.

c. A graça de Deus é contínua

Observe também a parte final do v. 13. “que vos está sendo trazida”. Esta expressão denota a ideia de continuidade. Esperamos inteiramente na graça de Deus porque ela é contínua.
A graça de Deus não cessou na cruz. Ela não acabou na ressureição. Deus continua a derramar a sua graça, sustentando e fortalecendo a sua igreja. É através dessa graça que Deus distribui os dons espirituais conforme lhe apraz para o aperfeiçoamento dos santos, bem como para o fortalecimento e crescimento do corpo. A graça de Deus estava, está e continuará a ser derramada.

d. A graça de Deus se manifestará de forma máxima na volta de Cristo

A expressão “na revelação de Jesus Cristo” tem relação com a segunda vinda de Cristo. Podemos ver isso através dos seguintes textos na própria primeira epístola de Pedro: 1.5,7; 4.13; 5.1. Esses versículos nos dão a noção de que Pedro usou essa expressão se referindo a volta de Jesus.
Se acreditamos que Deus manifesta a sua graça continuamente e que essa graça é maravilhosa, imaginemos o momento em que ele se manifestar. Não temos noção do quanto essa graça irá abundar sobre o nosso ser neste glorioso momento. É na certeza de que isso acontecerá que a nossa esperança deve estar motivada.

2. Como manter a Esperança?

Já vimos no quê devemos esperar, isto é, na graça de Deus. Agora, como manter esta esperança? Vejamos o que o texto nos responde:

a. Estando alertas

Para mantermos a esperança, precisamos estar alertas. Veja a expressão “sede sóbrios” que aparece no v. 13
A palavra “Sóbrios” pode ter dois significados. Primeiro, uma advertência ao uso de álcool ou qualquer outra coisa que atrapalhe o nosso estado de sobriedade. Segundo, um sentido mais amplo, refere-se a tirar tudo aquilo que atrapalhe a nossa atenção, para que possamos permanecer alertas. É com esse sentido amplo que podemos afirmar que a expressão “Sede sóbrios” quer dizer: Estejam atentos.
Os cristãos não vivem em uma caixa fechada. A igreja não está isolada do mundo, mas sim está presente nele. Por isso, não podemos ficar inertes ou desatentos em relação as coisas que estão acontecendo. Devemos observar o que acontece ao nosso redor e, através da pregação do evangelho, atingir e suprir as necessidades do mundo, transformando-o verdadeiramente. Os cristãos estão nessa terra para serem luz, mas para isso, a atenção em relação ao que acontece ao redor é primordial.

b. Para estarmos alertas precisamos cingir o nosso entendimento

Existe um fator crucial para conseguirmos nos manter sóbrios, alertas neste mundo. Este fator é a atitude de “cingir o nosso entendimento.” Mas o que o apóstolo Pedro que dizer com tal expressão?
No século I d.C as pessoas não usavam roupas como nós usamos. Em geral, era comum o uso de vestes longas que muitas vezes atrapalhavam o movimento das pernas para o trabalho e as caminhadas. Por isso, os homens cingiam suas vestes levantando-as. Assim, poderiam exercer suas atividades de forma mais fácil. Dessa forma, a expressão “cingir” no versículo 13 indica retirar tudo aquilo que atrapalha.
Mas o que significa a expressão “entendimento”? Significa o nosso relacionamento consciente com Deus. A tradução poderia ser feita como mente ou coração, isto é, o centro dos nossos pensamentos e emoções. Assim, “cingir o vosso entendimento” significa retirar tudo aquilo que possa atrapalhar o meu relacionamento consciente com Deus.
Portanto, vimos que a primeira implicação da salvação é a manutenção da nossa esperança. A salvação nos ajuda a olharmos inteiramente para a graça de Deus, mesmo em meio ao sofrimento. Esta é a nossa esperança.

2. A BUSCA PELA SANTIDADE

Uma segunda implicação da salvação é busca pela santidade. Mas...

O QUE SIGNIFICA BUSCAR A SANTIDADE?

Vemos no versículo 14 a expressão negativa “não vos amoldeis as paixões que tínheis anteriormente na vossa ignorância.” Em algumas traduções temos também a ideia de não se conformar a esses desejos (ACF). Em todo o caso, a ideia é a mesma, a saber, de não tomar a forma do mundo, não se deixar dominar pelos desejos da mesma forma que os não-cristãos fazem.
Em oposição a expressão negativa no v. 14, temos a expressão positiva no v. 15 “tornai-vos santos”. Esta expressão implica que: a) É um mandamento, pois o verbo tem um caráter imperativo; b) É contínuo, pois não se trata de se tornar santo uma vez e pronto, mas a ênfase é em uma busca contínua e progressiva em relação a santidade.
Com relação a expressão do v. 14, é nítida aqui a semelhança dessa expressão com a usada por Paulo em Romanos 12. 2. Diz assim: “E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” O sentido é idêntico. Os cristãos não podem achar que o mundo está bom do jeito que está e assim procurar se amoldar a ele. Os cristãos estão no mundo para trazer aquilo que ele não tem e assim glorificar a Deus. Transformar o mundo para a glória de Deus é a meta de toda a igreja.
A vida dominada pelos desejos é algo que ocorria na vida dos cristãos, mas que não deve ocorrer mais. Isso acontecia porque éramos ignorantes. Os não-crentes não buscam a santidade porque não conhecem o evangelho. Mas nós, que somos salvos pela graça mediante a fé, que somos filhos adotivos de Deus, devemos ter em mente o objetivo de não se deixar dominar pelas nossas cobiças, mas ter o domínio das nossas próprias vidas para a glória de Deus.
Esse tipo de postura conflita com a visão de mundo de hoje. Afinal, o pensamento comum em nossos dias é de que os desejos DEVEM ser satisfeitos. Se quero algo, devo buscar e me satisfazer. Se não consigo isso, não sou feliz. Palavras como controle, disciplina e moderação estão fora de moda em nossos dias. Porém, a exortação presente nestes versículos indica que o discípulo de Cristo deve levar uma vida que busca a santidade. Isso significa ter uma vida que não se deixa ser dominada pelos desejos do coração, mas, ao invés disso, procura uma vida que que agrade a Deus.

A FORMA: COMO BUSCAR A SANTIDADE?

Tendo em vista o que deve ser feito para buscar a santidade, surge outra questão: Como deve ocorrer esta busca pela santidade? De que maneira os peregrinos do Caminho podem dominar seus desejos e, assim, tornar-se santos continuamente?
Pedro elenca duas expressões que respondem essa questão.

2.1. Na condição de filhos da obediência

Primeiramente, a busca pela santidade ocorre através da nossa condição de filhos. Diz o versículo 14: “Como filhos da obediência...”
A santidade só é uma busca possível para o cristão porque ele é filho de Deus. Essa condição não pertence a todos. Por isso, a velha expressão “somos todos filhos de Deus” é falsa. O que a bíblia diz é que “a todos o quanto receberam deu-lhes o poder de serem chamados filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome.” (João 1.12). Trata-se, portanto, de um privilégio dado somente aos cristãos. Estes eram criaturas a imagem de Deus que estavam mortas pelos seus delitos e pecados, mas que foram transformadas pela regeneração dada pela graça mediante a fé em Cristo.
Este processo pelo qual somos feitos filhos de Deus é chamado de adoção. De fato, não somos filhos legítimos, mas adotivos de Deus. O catecismo maior de Westminster, na sua pergunta 74 nos dá uma definição acerca da adoção.
“Adoção é um ato da livre graça de Deus, em seu único Filho Jesus Cristo e por amor dele, pelo qual todos os que são justificados são recebidos no número de seus filhos, trazem em si o seu nome, recebem o Espírito de seu Filho, estão sob o seu cuidado e providências paternais, são admitidos a todas as liberdades e privilégios dos filhos de Deus, são feitos herdeiros de todas as promessas e co-herdeiros com Cristo em glória.”
Com base nesta definição, percebemos que somente aqueles que são justificados podem ser filhos adotivos de Deus. É através dos méritos de Cristo que temos o privilégio de termos o direito de filhos, tais como: a condição de herdeiros (Gálatas 4.7); a possibilidade de termos o espírito de adoção pelo qual clamamos Aba Pai (Gálatas 4.6); a confiança em poder chegar ao trono de graça sem nenhum impedimento (Hebreus 4.16); e a possibilidade de sermos corrigidos pelo Pai para aperfeiçoamento da nossa santidade (Hebreus 12.10: Pois eles nos corrigiam por pouco tempo, segundo melhor lhes parecia; Deus, porém, nos disciplina para aproveitamento, a fim de sermos participantes da sua santidade.)
É, principalmente, este último aspecto que chama a nossa atenção pelo fato de mostrar para nós que a nossa busca de santidade, porque estamos na condição de filhos de Deus. Assim, ele nos ama, nos corrige, nos disciplina, como um verdadeiro Pai. Somente nessa condição de filhos é que podemos buscar a santidade.
Essa condição é reforçada no sentido de que nós devemos ser como filhos da obediência. Assim como os filhos tem os seus direitos, assim também eles possuem deveres. O nosso é de honrar o nosso Pai em todas as coisas e isso só é possível obedecendo os seus mandamentos. Um filho que diz que ama o seu pai mas que não procura obedece-lo está o desonrando. Da mesma forma, a nossa santidade exige que sejamos filhos obedientes, que amem a Deus através de sua postura como filhos.

2.2. Em todo procedimento

Além de buscar a santidade na condição de filhos da obediência, o cristão deve busca-la exercendo ela em sua vida, isto é, em todo procedimento. Por isso diz a segunda parte do versículo 15: “tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento,...”
A santidade não é um ato que somente deve ser exercido no domingo. Ela não acontece somente quando oramos ou lemos a Bíblia em nossos momentos de devocionais. A santidade deve estar refletida em todos os atos da nossa vida.
Esse princípio foi resgatado durante a reforma e aprimorado grandemente pelos puritanos. Deus nos criou para a sua glória. Deus nos regenerou para a sua glória. Somos a igreja santa do Deus Santo e, por isso, devemos exalar santidade em todos os atos de nossa vida. Essa ideia não se fez presente entre esses homens apenas em busca por um culto mais puro (não querendo dizer que isso não seja importante). Mas, ia mais além: a implantação de escolas e universidades; o incentivo ao conhecimento entendendo que toda a verdade é verdade de Deus; a ética no trabalho, o zelo por ter uma família saudável e piedosa; o cuidado nos relacionamentos dentro e fora do lar, tudo foi pensado para que o nome de Deus fosse exaltado. Esse pensamento, essa cosmovisão só pode ser praticado por uma vida santa.

A motivação: Por que buscar a santidade?

Após entender o que é esta busca pela santidade e como ela ocorre, resta-nos perguntar: Por que buscar a santidade. E assim encontramos a resposta no próprio texto bíblico. Diz a primeira parte do versículo 15: “...pelo contrário, segundo é santo aquele que vos chamou...”
Os filhos da obediência possuem um modelo a ser seguido. Este modelo é o próprio Deus. Ele não exige algo que nós não possamos fazer, mas sim algo que é um atributo seu e que ele nos mostra a maneira de o buscarmos.
O apóstolo Pedro reforça a sua exortação apelando para o mais alto grau de autoridade existente: a palavra de Deus. Veja que Pedro faz uma citação do Antigo Testamento: Porque escrito está: Sede santos, porque eu sou santo. A citação aqui usada é a de Levítico, capítulo 11, versículos 43 e 44. Esta citação aparece não só nesse versículo mas em outras parte deste livro, cujo tema justamente é esse: a santidade.
A santidade de Deus, tanto no Antigo como no Novo Testamento, dá a ideia de separação. Isso ocorre por causa do significado da palavra santo em ambos os testamentos. Disso, podemos observar dois aspectos da santidade de Deus. O primeiro é relacionado a sua majestade gloriosa. Deus é santo, santo, santo. Não existe outro ser que seja igual a Ele. Nada pode se assemelhar a ele. Enquanto ser, é tão distinto das outras criaturas que o homem não tem a noção exata do tamanho dessa santidade. Por isso, esse primeiro aspecto da santidade de Deus é quase incomunicável a nós.
Contudo, o segundo aspecto da santidade de Deus está relacionado a moral. Deus é santo no sentido de que Ele está totalmente separado do pecado e não se mistura com o mal. Além disso, ele exerce sua excelência moral e exige de suas criaturas esta mesma pureza. Portanto, Deus é perfeito em sua moralidade e manifesta tal perfeição através a) da sua lei moral, o qual ele plantou em nossos corações; b) da sua atuação justa de abençoar os que seguem e punir os transgressores de sua lei e; c) da sua igreja, no qual ele manifesta a sua santidade concedendo a esta possibilidade de serem santos também. É justamente esse último ponto que podemos ver claramente aqui no texto. Deus, sendo santo, nos chama para sermos santos em todo o nosso proceder, para que assim a sua santidade possa ser manifestada através nós.
Um aspecto que deve ser considerado é que este Deus santo nos chamou para sermos santos. Por isso a expressão “segundo é santo aquele que vos chamou”. Esse chamado é também conhecido como vocação eficaz e o catecismo maior de Westminster na sua pergunta 67 no diz assim:
“Vocação Eficaz é a obra da onipotência e da graça de Deus, pela qual (de seu livre e especial amor para com os eleitos, e sem que nada neles o leve a isto), ele, no tempo aceitável, os convida e os atrai a Jesus Cristo, pela sua Palavra e pelo seu Espírito, iluminando os seus entendimentos de uma maneira salvadora, removendo e poderosamente determinando as suas vontades, de modo que eles mesmos (embora em si estejam mortos em pecado) se tornem, por isso, prontos e capazes de livremente responder ao seu chamado, e de aceitar e abraçar a graça nele oferecida e comunicada”.
Assim, nossa condição antes de ser chamado eficazmente se assemelhava aos ossos secos do vale descrito em Ezequiel capítulo 37, os quais não possuíam vida. E assim como Deus deu a eles a ligação de cada osso, carne e o folego de vida, assim também Ele nos concede o Espírito Santo para nos iluminar e nos fazer com que nos acheguemos a ele em santidade. É com base no chamado de Deus que podemos visualizar a Sua santidade e exercer a nossa.

3. PORTAR-SE COM TEMOR

Uma terceira implicação da salvação é portar-se com temor durante a nossa vida como peregrinos. Mas, o que significa isso?

Portar-se com temor é reconhecer a Deus como Pai e Justo Juíz.

Diz o versículo 17:
“17 Ora, se invocais como Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo as obras de cada um...”
Já vimos que nossa santidade deve ser na condição de filhos. Consequentemente sabemos que Deus é o nosso Pai, pois Ele nos adotou. Ele ama, cuida e disciplina. Agora no versículo 17, vemos que Deus não apenas é o nosso Pai, mas é justo Juíz.
Portar-se com temor na nossa vida significa crer que haverá um dia em que todos nós seremos julgados. Na avaliação desse julgamento, Deus julgará cada um conforme as suas obras. Ele fará este julgamento de forma imparcial. Por isso a expressão “sem acepção de pessoas”. Ninguém será privilegiado neste julgamento.
Entretanto, saber que todos seremos julgados por um justo Juíz não nos deve causar um temor baseado no medo de irmos para o inferno. Na verdade os cristãos não devem ter medo de serem condenados uma vez que eles foram lavados e remidos pelo sangue do cordeiro. É a obra de Cristo que nos torna justos diante de Deus. É através da salvação que Ele nos concede é que podemos dizer que somos feitura dEle criados a imagem de Deus para as boas obras. (Ef. 2. 10).
O nosso temor está em saber que o nosso Deus é justo e, por isso, devemos apresentar frutos dignos de arrependimento. Nossa vida de peregrinos deve demonstrar que somos, de fato, cristãos. Tendo o reconhecimento da grandeza de Deus enquanto Pai amoroso e Justo Juíz, estaremos temendo a Ele verdadeiramente. Além disso...

Portar-se com temor é reconhecer que somente a obra de Cristo tem o poder pra salvar

Diz o versículo 18:
sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram,
A vida que aqueles crentes viviam antes de se converterem era fútil. A religião que eles tinham era rasa, sem sentido. Os sacrifícios que eles faziam eram inúteis, fúteis. E o motivo é simples: tais religiões não podem trazer salvação ao homem e, portanto, não podem satisfazê-lo completamente. Mas a partir do momento em que encontraram o senhor Jesus, eles foram resgatados verdadeiramente.
Durante o século 19, começou a surgir a chamada Ciência da Religião. O objetivo deste ramo de estudo era chegar a verdade através do estudo de cada uma das religiões, observando os elementos comum que as uniam. A afirmação inicial desta ciência é de que todas as religiões são iguais. A hipótese é de que existe uma verdade universal que explica todas as religiões.
O tempo passou e a Ciência da Religião ainda não conseguiu achar tal verdade. E nem conseguirá. Por quê? Porque o seu pressuposto é errado. A fé cristã não é igual a todas as outras. Embora, existam elementos comuns entre as religiões, o que é sinal da revelação geral de Deus, somente o cristianismo possui todos os aspectos que podem nos trazer a salvação e a satisfação. E isto é plenamente visto através do sacrifício do Senhor Jesus. Conforme o versículo 19:
19 mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo,
O apóstolo faz uma comparação entre sacrifício de Jesus e os sacrifícios feitos com base na Lei Cerimonial do Antigo Testamento. Estes funcionavam para expiação dos pecados do povo e deviam ser feitos através de um cordeiro sem defeito. A sua vida era dada em favor do povo, e pelo sangue do animal era perdoado. Isso nada mais era do que uma representação do verdadeiro sacrifício, feito pelo Cordeiro de Deus, perfeito, sem defeito e sem mácula, isto é, sem pecado nenhum, o qual entregou a sua vida para salvar o povo escolhido de Deus e afastar de nós a ira divina.
Somente o sacrifício de Jesus é capaz de atender a nossa necessidade de perdão pelos nossos pecados. Somente o Evangelho pode dar sentido a todos os aspectos da criação, queda, redenção e consumação. É isto que torna a nossa fé legítima, e todas as outras falhas.
Em tempos como os nossos, há uma ênfase em afirmar que todas as religiões são iguais e, portanto, o cristianismo não tem nada de especial em relação as outras. Pensar assim é ser politicamente correto, é afirmar que todos os caminhos levam a Deus. Contudo, a Palavra de Deus nos mostra que há um só Senhor sobre todos: Jesus Cristo. Ele é o caminho, a verdade e a vida. Sem Ele não somos nada, e é através da sua obra salvífica que podemos ter plena satisfação na nossa vida.

Quem é esse Cristo?

Observemos agora os versículos 20 a 21.
Diferentes das outras religiões, a fé Cristã não é rasa, não é fútil, não é corruptível. Ela é a única capaz de trazer vida nova ao ser humano. Como vimos isso se dá através da Salvação em Cristo Jesus. Mas como ter certeza de que o sacrifício de Jesus nos salva? O poder da salvação se dá por alguns aspectos que asseguram essa eficácia. São estes aspectos que nos trazem segurança e convicção. São eles:

a. Convicção na soberania da obra de Cristo

Diz o versículo 20: “conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo”. A mensagem do Evangelho mostra que Deus decreta tudo o que acontece e olhou para nós, antes da fundação do mundo. Ele soberanamente nos escolheu e decretou a forma pela qual seriamos salvos. A nossa fé tem origem em Deus e, isso nos assegura que nosso resgate não está nas mãos falhas dos homens.

b. Convicção baseada na encarnação de Cristo

Continuando no versículo 20: “porém manifestado no fim dos tempos, por amor de vós”. A nossa salvação estava alicerçada antes da fundação do mundo, mas ela se fez plenamente conhecida quando o Filho de Deus se fez homem, quando o verbo se fez carne. Ao fazer isso, ele pôde se sacrificar por nós como verdadeiro homem, sentido o que nós sentimos, sofrendo como nós sofremos, mas sem pecar. E assim, como verdadeiro Deus também, suportou a ira de Deus e morreu a nossa morte para que possamos viver a sua vida.
Jesus se manifestou. Jesus existiu enquanto homem. E nessa certeza, confiamos de que a nossa salvação está alicerçada e assegurada em seu nome.

c. Convicção baseada na ressurreição e na ascensão de Cristo

Diz o versículo 21: “...que, por meio dele, tendes fé em Deus, o qual o ressuscitou dentre os mortos e lhe deu glória,...”
Jesus, nosso salvador, não apenas viveu como homem e morreu em nosso lugar. Ele ressuscitou ao terceiro dia. Ele vive! E, depois de atingir o mais baixo grau de humilhação, foi coroado pelo Pai e está assentado a destra dEle como Rei soberano! Esse fato nos lembra que da mesma forma que Ele ressuscitou nós também ressuscitaremos no último dia. Esta obra da ressurreição nos dá convicção da nossa salvação e assim, nos ajudar a vivermos a nossa vida com temor a Deus.

4. AMAR UNS AOS OUTROS ARDENTEMENTE

Amar uns aos outros

Além de manter a esperança, buscar a santidade e portar-se com temor, uma outra implicação da salvação é o de nos fazer amar uns aos outros ardentemente.

Amar ardentemente

Observe que se trata de um amor intenso. Por isso o uso da palavra ardentemente. Esta palavra na forma como está no grego aparece aqui e em outras duas passagens do NT (Lc 22.44; At 12. 5). Em todos os casos o sentido parece de uma busca incessante e intensa por algo. Aqui, no caso, é uma busca intensa por amar uns aos outros.
Amar uns aos outros deve ser uma busca incessante em nossa vida cristã. O Senhor Jesus nos deu este mandamento e nós, como seus discípulos devemos obedecê-lo. Mas surge uma pergunta:

Amar de todo o coração

Além disso, este amor uns aos outros deve ser feito de todo o coração. Se no v. 13 temos a palavra entendimento, no v. 22 temos a palavra coração. Aqui o sentido é o mesmo. O centro das nossas emoções, pensamentos e afeições. Este amor resultante da salvação não pode ser um amor falso, fingido, mascarado. Ele deve ser resultado de um coração transformado. Tal coração jamais pode externar outra coisa que não seja o amor que vem Deus. Se Deus nos amou com todo o seu ser, então nós também devemos amar uns aos outros de todo o coração.
Aqui, podemos inferir um questionamento:

Como amar uns aos outros ardentemente?

Para isso, o apóstolo Pedro pede que levemos duas coisas em consideração:

Através da alma purificada

A primeira coisa a ser levada em consideração para amarmos uns aos outros ardentemente é a purificação da nossa alma. O Amor uns aos outros é resultado da nossa santidade diante de Deus. Somente através da santidade teremos nossa alma purificada e, assim, amaremo uns aos outros ardentemente.

Como purificar a alma?

Através da obediência à verdade.
Não existe solução mágica para purificarmos a nossa alma. A únia via para isso é obedecendo a verdade que nos foi revelada. Deus se revelou de forma especial em sua palavra. Ele nos dá seus mandamentos de forma clara para todos nós. Por meio de Cristo Jesus, temos a condição necessária para obedecermos à verdade. Assim, fazendo purificaremos a nossa alma e amaremos uns aos outros de forma intensa e de todo o coração.

Através de um Amor não fingido.

Outra condição necessária para amarmos uns aos outros ardentemente é tendo como base um amor não fingido. 1Pe 1. 22 mostra esta palavra que tem como sentido um amor que não é mascarado, isto é, marcado pela hipocrisia. De fato, um amor que vem de Deus, um amor genuíno que deve vir do nosso coração purificado não pode ser um amor falso. Trata-se de um amor não fingido.

Porque amar uns aos outros ardentemente?

Mais uma vez, precisamos nos perguntar a razão para um mandamento dado pelo apóstolo Pedro. Desta vez é porque devemos amar uns aos outros desta maneira? Eis a resposta:

Porque nossa regeneração veio de uma semente incorruptível

Para responder este questionamento, repare que Pedro faz uma analogia acerca da obra de salvação. Ele a compara com uma semente. Diferente de um processo de plantio que pode dar certo ou não por causa da qualidade de uma semente, o apóstolo nos mostra que nós somos resultado de uma semente incorruptível, isto é, de uma semente que não possui qualquer tipo de qualidade ruim. A semente que foi plantada em nós é boa, é perfeita. Lembre-se que esta palavra já apareceu em 1Pe 1. 4 referindo-se a nossa herança. Toda a obra que vem de Deus é perfeita. Não é só o paraíso que nos está sendo preparado, mas também a obra de salvação em si é. A transformação que Deus faz em nós é eficaz e nos motiva a amar uns aos outros ardentemente.

Como? Através da Palavra de Deus

A forma pela qual esta semente incorruptível é plantada em nosso coração é através da palavra de Deus. Não há outra maneira. Somente pela palavra de Deus somos salvos. A criação demonstra que Deus é o autor de todas as coisas, mas sem a palavra de Deus no coração do homem pecador ele está perdido. A palavra de Deus é a própria semente incorruptível. Ela é viva e permanente. Nada poderá detê-la. Ela não volta vazia.

Fundamentação (v. 24)

Para fundamentar suas afirmações, o apóstolo Pedro faz uso de uma passagem do AT. Trata-se de Isaías 40. 6-9
Este trecho do AT demonstra para nós a transitoriedade da nossa vida, a corrupção do nosso ser, e em comparação, a perpetuidade da palavra do Senhor. O que Deus decretou não irá se frustar. O que ele prometeu irá se cumprir. Esta palavra de salvação foi anunciada no tempo dos profetas, mas foi agora plenamente revelada a todos nós. “Esta é a palavra que vos foi evangelizada.”

CONCLUSÃO

Recapitulação

Portanto, meus irmãos, vimos algumas implicações da salvação na nossa vida, a saber: 1) Manter a esperança; 2) Buscar a santidade; 3) Portar-se com temor; 4) Amar uns aos outros.

Aplicações

Diante do que foi exposto, faço aqui algumas aplicações:

O que tem atrapalhado o seu relacionamento consciente com Deus?

O v. 13 nos diz que para mantermos a esperança devemos cingir o nosso entedimento, ser sóbrios. O que tem tirado a sua atenção acerca de um relacionamento consciente com Deus?
Seja o que for, isso tem deixado desatento, bêbado em seu envolvimento com o Pai. Isso tem tirado o seu foco na Esperança da Graça. Que a partir de hoje você possa colocar a sua Esperança de forma plena na Graça de Deus revelada através de Cristo Jesus.

Avaliação do nosso comportamento como filhos de Deus.

Outra aplicação deste texto, é um convite a refletirmos sobre como está o nosso comportamento como filhos de Deus. Devemos nos portar no mundo como pessoas genuinamente regeneradas, chamadas eficazmente, que saíram da condição de escravos para a condição de filhos. Não somos perfeitos, mas somos santos, porque Deus nos separou e nos resgatou pelo sangue de Jesus. É isso que nos torna filhos de Deus. Portanto, procuremos agir como tais e desfrutemos desse privilégio.

Deus é o nosso modelo

Além disso, somos convocados a olhar para o nosso Pai como modelo para nossa santidade. Muitas vezes somos tentados a usar os outros como modelo. Mas a perfeição moral encontra-se em Deus, e é olhando para Ele, o autor da vida, é que conseguiremos ter bom êxito na nossa peregrinação rumo a santidade.

A Escritura como meio de buscar a santidade

Uma outra aplicação: procuremos se utilizar da Escritura para buscar a santidade. Se acreditamos que ela é infalível, e nossa única regra de fé e prática, meditemos nela para nossa edificação, assim como faziam os bereanos. Os benefícios serão grandiosos!
A nossa luta contra o pecado é constante. Mas a nossa confiança é de que não estamos sozinhos nisso. Deus tem nos dados todos os instrumentos necessários para honrá-lo e obedecê-lo em todas as coisas. Em Cristo Jesus, somos santos, somo o seu povo. E nEle, a busca pela santidade não é como um fardo que carregamos, mas como um caminho suave, repleto de alegria, paz e crescimento.

A salvação nos dá esperança

Qual o propósito final de toda essa obra salvífica?: é mantermos a nossa fé e esperança inteiramente em Deus. Por isso, o versículo 21 vem reforçar aquilo que já tinha sido falado no versículo 13:
“de sorte que a vossa fé e esperança estejam em Deus.”
A passagem em questão começa e termina com esperança. A nossa fé nos dá esperança e com ela podemos seguir a nossa peregrinação.
Que a Igreja Presbiteriana do Aviário, caminhe em santidade e em temor. Que assim, a Esperança desta igreja não esteja nos homens ou nas coisas, mas unicamente em Deus.