Parábola dos lavradores maus (Mt 21.33-46)

As Parábolas de Jesus  •  Sermon  •  Submitted
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Transcript

Introdução

O início definido por “atentai noutra parábola” aponta a conexão com parábola anterior. Em Mateus, a parábola dos homem e seus dois filhos. Em Marcos e Lucas, essa parábola [do homem e seus dois filhos] não está descrita, mas o contexto ainda é o da autoridade de João e de Jesus. Se o batismo de João Batista procede do céu, quanto mais a autoridade de Cristo procede do Pai. Assim, a incredulidade dos líderes religiosos era injustificável, sendo eles precedidos por publicanos e meretrizes no reino de Deus.
Nessa disputa ainda com estes líderes, Jesus conta uma parábola que remete a uma figura comumente parabólica dos judeus: sobre uma vinha (como Is 5.1-7 [juízo]; Salmo 80.7-19 [restauração]) que geralmente representa a casa de Israel, o povo de Deus.

Exposição

Jesus conta na parábola a história de um homem, proprietário de terras, que plantou uma vinha, a qual ele desenvolveu todo o espaço para torná-lo produtivo e seguro. Lagares eram espécies de poços escavados na terra e revestidos com pedras. Sua parte superior recebia as uvas, onde eram pisadas e seu suco fluía para um reservatório, para depois ser posto em jarras. A torre, além de local para um possível depósito, ajudava a avista perigos como ladrões ou animais (ex.: raposas).
Então, o proprietário arrendou a vinha a uns lavradores. Com isso, ele poderia tomar conta de outras atividades em outros locais [no caso, jornada a local distante como um país estrangeiro/ἀπεδήμησεν]. Naquela época, o processo de arrendamento consistia na troca de benefícios entre o proprietário investidor e os trabalhadores, onde da coleta dos frutos vinha os produtos a serem comercializados pelos lavradores e a rentabilidade do proprietário.
A ausência do país não é elemento alegórico, como se Deus houvesse se ausentado. Jesus apenas está, dentro de sua habilidade retórica, levando a atenção dos ouvintes aos elementos que culminarão naquilo que ele quer expor e ensinar. E logo esses elementos vão brotando, como é o caso agora exposto (vs. 35): aqueles lavradores maus agrediram e mataram os servos (Mc 12.2-5) coletores. Mesmo enviando mais servos (vs. 36) [uma segunda chance?], aqueles lavradores os trataram da mesma forma: com violência e morte. Mataram aqueles que vinham na autoridade de seu patrão.
Jesus não está preocupado em dizer quais profetas são estes seus servos, ou mesmo se referir a uma primeira e segunda onda destes. Mas apresentar o ápice dessa maldade: o dono da vinha, por último, enviou seu próprio filho [note ‘próprio’ filho e único e ‘amado’ em Mc 12.6 e Lc 20.13], pois era como se ele mesmo estivesse indo ali apanhar os seus rendimentos [“ao meu filho respeitarão”]. Mas os lavradores viram a chegada do herdeiro, mui provavelmente viram da torre, observatório de proteção, e premeditaram agir contra o filho do proprietário. Na presença dele viram a possibilidade de se apoderar da sua herança. Não havia preceito legal para isso [sim para a pena por assassinato], claro, mas o que eles queriam era tomar pela morte do herdeiro de direito. Assim, levaram-no para fora da vinha e o mataram. Maldade e burrice misturados.
A pergunta* de Cristo é: o que o senhor da vinha fará àqueles lavradores? Essa pergunta é interessante, pois ele dá o clímax. A resposta, a nível humano é óbvia. O que você, pai, que lê esse sermão faria se teus lavradores matassem seu próprio filho por ganância? Você iria requerer justiça. Que eles percam a posição de arrendatários e sejam punidos. É exatamente essa a resposta do público (vs. 41). Essa é a resposta de Jesus (Mc 12.9; Lc 20.16). Interessante o jogo de palavras: “destruirá horrivelmente [de forma má/κακῶς] esses homens maus [Κακοὺς]” (A21).
Jesus, então, traz a aplicação (vs. 42). A mudança do contexto agrícola para o da construção não despropositado: citando o Salmo 118.22,23 [na LXX - Septuaginta, com uma tradução muito fiel ao original hebraico], o Filho rejeitado fora posto como a principal pedra angular. Os contextos são unidos pelo tema da rejeição. A recepção de Jesus em Jerusalém com o Salmo 118.25 [Hosana Mt 21.9] não fora equivocado, ele é também aquele que seria rejeitado. O filho morto fora de Jerusalém em vergonha e dor e que seria posto como o centro do Reino em sua ressurreição. Reino este que não mais seria deixado aos auspícios dos religiosos judaicos, vazios de piedade, mas seria entregue ao povo em que Deus manifestará os seus frutos (vs. 43).
Assim, a pedra angular é divisora: (a) sobre ela se constrói e se anela toda a construção! E somente sobre ela é possível construir edifício agradável ao Senhor (vs. 42). (b) Por causa dela seremos julgados - da forma como a tratamos. (c) E por ela seremos julgados (vs. 43 e 44). É uma clarificação do Salmo 2.12: “Beijai o Filho para que se não irrite, e não pereçais no caminho; porque dentro em pouco se lhe inflamará a ira. Bem-aventurados todos os que nele se refugiam” e aplicado em At 4.11,12.
Por fim, diante os principais sacerdotes e fariseus tentaram agarrá-lo (vs. 45). Ficaram chateados por perceberem que eram personagens identificados na parábola e, ironicamente, acabaram agindo exatamente como eles de imediato - pelo menos no coração [“conquanto buscassem prendê-lo”].

Aplicações

1) Deus é um proprietário gracioso. Israel era a vinha de Deus. Ele chamou esse povo exclusivamente por graça, não por ser o mais numeroso e nem o mais forte. Foi amor incondicional. Libertou, guiou, sustentou, protegeu e abençoou esse povo. Deus se revelou e se relacionou com Israel. Deus fez tudo por seu povo. Da mesma forma, Deus demonstra sua imensa graça e seu incondicional amor conosco, sua Igreja: éramos indignos e imerecedores do amor e da misericórdia de Deus.
2) Precisamos ser lavradores-povo. Os lavradores se confundem com a vinha quando também são parte do povo - enquanto são cuidadores e desfrutam as bênçãos da aliança, de seus preceitos e de suas promessas. É interessante que o reino é tirado dos lavradores maus (os líderes religiosos de Israel) e entregue a um povo e não a outros líderes (vs. 43). Somos chamados a sermos povo e lavradores. Não há castas, mas um povo que é sacerdócio real. E estes bons lavradores produzem e entregam os frutos da colheita ao dono da vinha. Na verdade, Deus nos plantou para gerarmos frutos (1Pe 2.4-8). Porém, os lavradores maus são os usurpadores e ladrões; e não terão, portanto, a vinha consigo ou farão parte dela. Eles estão na vinha somente para se beneficiar dela e não são fiéis ao dono da vinha - não lhe dão os frutos.
3) Precisamos frutificar santidade. Por causa de seus pecados e idolatria, a nação de Israel não frutificava santidade, mas uvas bravas e estragadas. Lavradores infiéis não se restringem aos sacerdotes, mas a todos que impiedosamente rejeitam a autoridade de Deus. São todos aquele que ao lhe serem enviados profetas, os recebiam com injúria, escárnio, descrença e violência (1Rs 18.4; Jr 20.1,2). Quando o próprio Cristo lhes foi enviado, foi rejeitado e assassinado. Assim, precisamos sempre viver o caminho da santificação e esse caminho sempre é o de desfrutar e aceitar o fundamento do Reino: Jesus Cristo. Não é uma lista de tarefas, mas amor a Ele.
4) Se interesse pela igreja. Quem são hoje os que não se importam com o Dono da vinha? São aqueles que não se importam com a sua igreja (sua vinha) - nem com a bíblia, nem com as orações, nem com a comunhão dos santos, nem com o serviço. Esse desinteresse gera uma vida infrutífera [e não o contrário]. Uma vida que não desenvolve frutos para Deus. Essa vida infrutífera, ao fim, levará o lavrador à rejeição pelo dono da vinha. Veja que os lavradores maus rejeitaram o Filho pois não tinham uma relação de lealdade com o Dono da vinha, de lhe dar frutos. Lembre-se de que você não é fundamental para a igreja: seu serviço embeleza a noiva, mas se você não agir, Deus lhe tirará a vinha e dará a outro. Deus não sai perdendo sem você.
5) O pecado é burrice. Os lavradores montam emboscadas para os servos e para o próprio filho do dono da terra, esquecendo que sua cólera se acenderia e eles perderiam tudo que possuem. Que matar o filho não os torna herdeiros de nada. Agem movidos pela maldade, mas toda maldade, por fim, é burra, por não enxergar o fim trágico que lhe sobrevirá. Também Os líderes religiosos são advertidos sobre serem eles os assassinos dos profetas e logo do próprio Filho - com isso, deflagram toda a situação que o levará a morte.
6) O amor de Deus é constrangedor. O povo agraciado age com desdém e ingratidão. Deus lhes envia profetas, proclama seu amor restaurador. Envia não só um, mas vários. Não somente num tempo, mas em distintos períodos. Não lhes envia somente servos, mas seu próprio e amado filho unigênito. Também rejeitado e morto. Mas seu amor não fora ineficaz, pelo contrário. A morte de seu Filho era também uma oferta pelo pecado. Deus nos amou de tal maneira que nos deu seu próprio Filho. Pecadores tem um salvador. Não somente um mensageiro, mas um salvador. Alguém que nos amou até a morte e levou sobre si as nossas culpas. O Filho de Deus que formou para si um só povo que irá, inexoravelmente, frutificar. Sua volta não será temível para estes (44).
S.D.G
*ou a questão, já que no grego afirma que Jesus “disse” [λέγω] e não “perguntou”. Como na continuação do texto apresenta-se uma pergunta, a tradução não se torna incorreta no sentido.
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