A Parábola da Festa de Casamento. Ou: Com que roupa a gente vai? (Mt 22.1-14)

As Parábolas de Jesus  •  Sermon  •  Submitted
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Transcript

Introdução

Imagine que você é um pai ou uma mãe que organizou o casamento do seu filho ou da sua filha. Teve todo aquele trabalho e os custos com a festa. Chega naquele momento terrível de montar a lista: fecha nos parentes e amigos mais chegados. Cada pessoa com quem você quer compartilhar o momento especial do casamento de seu filho/filha. E você sabe também como é ser convidado: “qual vestido, gravata, roupa, etc.; o que é esporte-fino?”.
Então, estava tudo bem agendado e o dia tão esperado chegou. Porém, no dia, os convidados em massa começam a desmarcar. Você insiste, fala da importância do momento. Que mais importante que os custos está em compartilhar e presenciar aquela alegria. Porém, todos eles vão fazer o que fariam naquele dia: trabalhar; sair para academia, pro futebol; jogar video-game, assistir um filme; descansar.
Como você ficaria? Qual consideração ou valor você perceberia que aqueles convidados tinham de você de de seu filho? Quanto eles ficam felizes com a alegria de vocês? Quão privilegiados se sentiram ao estar na lista de convidados desse casamento?
Agora imagine que isso não aconteceu com você, mas com um grande Rei. Acho que à essa altura, você captou o ponto da parábola. Vamos para sua exposição.

Exposição

1. O Contexto
Versículo 1: “de novo” - observemos que Mateus destaca que Jesus recorre novamente ao uso de parábolas. Somente desde que chegou em Jerusalém no dia que ficou conhecido como “domingo de ramos”, onde fora recebido por “hosanas” (Sl 118.25,26), Jesus contou duas parábolas: a dos dois filhos (Mt 21.28-32), e a dos lavradores maus (Mt 21.33-46). O alvo de Jesus eram os escribas e fariseus, que estavam sendo deixados de fora do reino de Deus (Mt 21.31), enquanto publicanos e prostitutas entravam. Mais que isso, ao invés de se arrepender e crer no filho, eles o rejeitariam como fizeram com os profetas e João Batista, e o matariam (Mt 21.39). Então, nesse contexto, Jesus conta essa parábola peculiar ao Evangelho de Mateus em resposta (ἀποκριθεὶς/apokriteis) ao coração impenitente dos fariseus. Mateus aponta que “parábolas” foram contadas, sendo este registro uma delas, um aglutinado ou o resumo.
2. Resumindo a parábola
A parábola é simples. Um rei celebrou o casamento de seu filho. Enviou servos a chamarem os convidados e estes não vieram. Enviou outros de seus servos para chamarem os convidados em caráter de urgência, pois a festa estava pronta e a mesa servida. Porém, eles preferiram se ocupar de suas próprias atividades e negócios; pior, alguns deles, agarraram os servos do rei e os maltrataram e os mataram. O rei, que tinha essa legitimidade e poder, trouxe juízo sobre os assassinos, com pena capital e perda de todos os seus afazeres: ao que tudo indica, os convidados eram moradores da cidade.
Agora, os convidados mudam: chamem todos os que forem encontrados nas encruzilhadas. A festa ficou lotada. Porém, quando o rei chegou na festa percebeu mais um negligente: indiferente sobre a ocasião da festa, ele foi de qualquer jeito. Não percebeu o privilégio do convite. Desprezou o rei por se portar de qualquer jeito em sua presença. Desprezou o noivo. Ficou mudo diante da acusação. Seu fim foi trágico: trevas; local de choro e ranger de dentes.
Daí vem a frase final da parábola: Porque muitos são chamados, mas poucos, escolhidos.
Versículo 2: então essa é mais uma das parábolas do reino. Parábolas permitem o uso de histórias e figuras para trazer um ensino central. Não é necessariamente uma alegoria, onde cada personagem e ação corresponde a algo real (ex.: Aslam é Cristo), mas há uma lição central. Se algum personagem ou elemento possui um significado particular é para que esse ensino se torne mais evidente. Portanto, o reino dos céus não é igual, mas semelhante ao que aprenderemos na parábola contada.
O tema de um casamento é uma figura presente no AT e que vai até apocalipse. Bodas de casamento duravam vários dias, geralmente sete (Jz 14.17), com várias momentos. Eram muito importantes na cultura judaíca, valorizadas pela comunidade. Em especial, aqui era uma festa da realeza.
3. O desprezo dos convidados
Versículos 3 a 6: Naqueles tempos o convite era duplo: antes do casamento e no dia. Aqui, ele envia seus servos para esse último, o que requer um reação imediata. “Enviou seus servos” indica a continuidade do tema das últimas parábolas, onde percebemos que aqui Jesus está novamente a se referir ao envio de seus profetas. Porém, a situação é diferente: não foi um chamado a trabalhar, mas para um casamento. Porém, os convidados rejeitaram seu chamado e não quiseram vir. Veja que, como na parábola do dono da vinha, a misericórdia é evidenciada e latente: assim como o dono da vinha enviou vários de seus servos aos lavradores arrendatários mesmo tendo seus servos repudiados ou mortos, o rei insiste em reforçar o convite aos convidados negligentes.
Um elemento de urgência é inserido (v. 4): a mesa está pronta. Venham! Esse chamado já não é para o início da cerimônia, para os instantes da recepção: o banquete já está preparado. A refeição está pronta, é só vir e desfrutar [esse povo não era crente mesmo, pois qual crente dispensa uma mesa posta?]. O chamado é urgente. Qualquer atraso lhes faria perder a cerimônia, o ponto principal da festa. Que rei amoroso! É como se ele ordenasse aos seus servos: leia o cardápio para eles! Ou melhor: informem no convite o cardápio. O rei convida para algo que será bom pra eles. Mas eles recusam. Não é não somente recusa de querer trabalhar na vinha - é nem querer ir à festa. Significa dizer: “não quero nada contigo”. A negativa permaneceu e seguiram a fazer as coisas ordinárias da vida [imagine você convidado para aqueles casamentos da realiza inglesa e sair pra passear com o cachorro!?].
Por fim, um elemento sobre a maldade é inserido: além de indiferentes são violentos e assassinos. Uma parte dessas pessoas convidadas agarrou os servos e os matou. Aqui notamos que, embora Jesus esteja ainda no contexto de confronto com os escribas e fariseus, o ensino da parábola se estende ao povo de Israel. Nós leitores, sabendo o que Cristo quis falar na parábola dos lavradores maus sobre “matarem o [único] próprio filho do senhor da vinha” (Mt 21.37-39), sabemos que o povo de Israel não apenas desprezou os profetas e matou alguns deles, mas também o próprio Filho de Deus. Na realidade, os líderes religiosos e o povo tem as mãos sujas de sangue: “mataram o próprio noivo”. Mas vamos seguir na exposição da parábola.
4. A reação do Rei
Versículos 7 a 10: Ira. O rei julga a maldade daquelas pessoas: aqui Jesus mostra que não se trata de apenas um casamento. Esse verso provavelmente tem um apontamento profético para a invasão de Jerusalém e destruição do templo pelos Romanos em 70 d.C sob a liderança de Tito [filho do imperador Vespasiano). A recusa à alegria é exatamente não ter alegria. Jesus faz o convite e também o alerta dos profetas. Então, com a festa pronta, o rei ordena que seus servos convidem pessoas diversas, tantas quanto encontrarem (Mt 8.11,12). Talvez tenhamos aqui uma referência ao convite do evangelho realizado pelos servos do Senhor. Estes servos reuniram todos os tipos de homens (bons e maus). Essa referência a bons e maus é que todos os pecadores são convidados, desde o comerciante, pai de família, ao ladrão. O mais importante é que “o sala do banquete ficou repleta de convidados” (v. 10).
5. Se preparando para o casamento
Versículos 11 a 14: O rei adentra à festa: os convidados estão à mesa. Era comum o anfitrião se alegrar ao mirar os olhos sobre os convidados. É de se esperar que um convite tão especial seja respondido adequadamente: alegria e preparação. No entanto, um homem estava ali sem ter se preparado (e provavelmente sem verdadeira alegria): estava vestido de qualquer forma.
Você pode se perguntar: mas como eles estariam preparados se foram convidados de súbito? Bem, ou aquele homem entrou como penetra (sem convite), o que não é o mais provável no texto; ou ele desprezou a importância do convite e foi de qualquer jeito, não passando em casa para se ajeitar devidamente e tratou a festa do rei como um convite ao espetinho da esquina; ou, conforme a interpretação mais antiga: os servos do rei disponibilizaram mantos nupciais na entrada, semelhantes aos que eram disponibilizados às pessoas que se apresentavam aos monarcas. De qualquer forma: o homem pensou ser suficiente entrar na festa e permanecer da mesma forma que estava lá fora. Assim, ele não poderia apresentar qualquer justificativa de não estar devidamente vestido. Como resultado, o seu destino é pior que o dos que rejeitaram o primeiro convite: é o inferno.
Então, a parábola encerra com esse versículo tão conhecido: “Porque muitos são chamados, mas poucos, escolhidos”. Os escolhidos são aqueles que estão adequadamente vestidos diante do rei e dos noivos. Vejamos que toda estória que aborda a responsabilidade humana é finalizada com uma frase que expõe a soberania de Deus. Muitos são chamados, mas poucos são os que se vestem do manto nupcial. Ela aparece com um tom de advertência para quem ouve, pois na parábola somente um homem não estava vestido adequadamente - diretamente “muitos seriam os escolhidos” - assim, os poucos não são necessariamente da ilustração, mas que a comunidade agora chamada observasse que nem todos os que aceitarem o convite se vestirão nas vestes reais e nupciais.

Aplicações

1. O reino dos céus é a celebração de um casamento.
É um reino de alegria, de comemoração. É um reino de aliança. É um reino de união. O rei saúda e se alegra com os convidados. Os convidados exaltam e se alegram no Rei. Todos estão reunidos para celebrar e se alegrar no noivo: Jesus Cristo. O reino tem dias de trabalho, mas também de festa. Nesse casamento, não somos apenas convidados - nosso privilégio e alegria são ainda maiores: somos a noiva, a Igreja.
2. Você precisa de um convite: o evangelho.
Quer um conselho? Não se canse de ouvir o evangelho, pois aprendemos que não há lugar na festa para quem não foi convidado. Isso significa que você não pode vir para o Reino sem receber o evangelho de Jesus Cristo. Você não pode vir pela rabeira da família [não adianta rogar para um parente importante], nem por causa dos amigos, nem por mudança de comportamento, nem por inteligência. Você precisa vir pelo privilégio de ser convidado imerecidamente e por acima de tudo: por amar o Rei e o noivo.
3. A missão do profeta é convidar o povo à alegria.
Todo chamado ao arrependimento, ao abandono do pecado, à fidelidade, é ao final das contas, um chamado ao deleite em Deus. Um chamado a desfrutarmos das bênção de um casamento feliz. Evangelismo é convite de casamento! Fale. Ouça. Não é tarde para nos achegarmos às bodas: venha! A indignidade é negar o convite. O que nos torna aptos a ela não é quem somos, mas o fato de sermos convidados e sermos vestidos. Não siga sua vida desprezando esse convite de alegria*.
4. Alerta aos novos convidados: vistam-se das roupas de casamento!
Em primeiro lugar: a veste nupcial é a justiça de Cristo. Sem a justificação pela fé ninguém pode entrar no reino de Deus (Is 61.10). Suas vestes naturais são sujas, rasgadas, indignas, totalmente inadequadas. E isso é páscoa: Jesus é o cordeiro de Deus que cobre todos os nossos pecados e vergonhas. Sua morte cruenta e desnuda na cruz nos concedeu vestes brancas e alvas. Se ele não morresse, nós não teríamos roupa. Sendo nós também a noiva, adornemos nossas vestes com boas obras, sem desleixo (Ap 19.7,8). Viva conforme a vocação para qual foste chamado.
5. Somos responsáveis por nossas ações e Deus é totalmente soberano.
O verso final ecoa na história da igreja também como um mistério. Há uma chamada geral aos pecadores, mas também uma eleição individual que leva somente alguns a Cristo. Ao mesmo tempo que há uma escolha de Deus, o homem é responsável pela rejeição a Cristo, seja por indiferença, desprezo, ou por justiça própria. Lembremos que os escolhidos são os que que responderam em gratidão ao chamado do Rei, que perceberam a dignidade do Reino onde estão, a sua natureza celestial e se vestiram dos méritos do Filho. Deus está amplamente convidando para as bodas de seu filho: mas só ficam os que entram através dele.
6. Deus dará honra ao Filho.
Irmãos, não importa quantos recusem o convite do Evangelho: no final das contas, o salão está repleto de pessoas para o banquete. O noivo não se decepcionará! Lá estarão os convidados e escolhidos, aqueles que alegremente aceitaram o convite e se vestiram de Cristo.
S.D.G
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*Imagine o que não se passou na cabeça daqueles líderes religiosos que se converteram apenas após a ressurreição? Que talvez pensaram: “não aproveitamos bem o Mestre. Quão rico teria sido estarmos aos seus pés e aprendido, ter compartilhado a mesa cheia, ter aprendido com ele a amar os pecadores dos quais somos os piores? Mas nós o matamos”. Tal Nicodemos e Arimateia que saem do discipulado tímido para o discipulado destemido apenas após a morte de Cristo. Mas louvado seja Deus, que lhes permite e a nós que desfrutemos das bodas futuras, no retorno do Nosso Senhor Jesus Cristo!
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