A glória de Deus e o casamento

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Vários temas são importantes e devem ser trabalhados independentemente do sexo, da idade, e até de credo. Um deles é o casamento. Devemos falar, quando possível, com nossos filhos solteiros, aos jovens da igreja em aconselhamento, aos próprios casados, aos nossos cônjuges em edificação mútua, aos candidatos ao ministério ou ao mundo secularizado que, entre as coisas que pode não compreender ou perverter está exatamente o casamento. Além disso, pela sua importância, é daqueles temas que surgem inúmeras dúvidas e também permeia um nível sério de complexidades - principalmente quando falamos de pecadores como nós.
Ao lermos as Escrituras, percebemos logo que casamento não é um tema secundário ou acessório. A narrativa bíblica está compreendida entre dois casamentos: o de Adão e Eva e o de Cristo e a Igreja (Gn 2.24 e Ap 19.9). E entre estes muitos outros frequentemente aparecem nas páginas das Escrituras - mas todo casamento tem uma inspiração elevada: todo casamento tem a ver com a glória do Evangelho.

1. O casamento nasce no projeto eterno de Deus

O casamento instituído para a humanidade é um reflexo do casamento projetado pelo Pai para o Seu Filho (Ef 5.32). Neste aspecto, a figura bíblica do casamento entre Cristo e a Igreja não é uma analogia do casamento entre homem e mulher, mas a criação espelha esse projeto divino.

2. Criados para casar

O ser humano é criação de Deus. Ele não surge de forma não meticulosa, sem projeto, sem finalidade: ele é fruto do intento criativo de Deus. (Gn 1.26 “façamos o homem”; Deus o formou “do pó da terra”). O homem possui dignidade enquanto criatura, mas especialmente como dotado de características particulares do Senhor, como a possibilidade de domínio e governo (Gn 1.26 “à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”). Não seria errado dizer que ele é um representante de Deus na criação, ou, na imagem bíblica tradicional de um mordomo, um despenseiro.
Esse status de criatura e de mordomia é atribuído a ambos os sexos (Gn 1.27 “homem e mulher os criou”). A mulher não é um subproduto do homem com menos dignidade, mas criada por Deus tal qual o homem. A mordomia é dos dois, inclusive o mandato criacional e cultural (Gn 1.28). Sobre os dois, homem e mulher, e, portanto, em caráter heterossexual, está a bênção de serem fecundos, de se multiplicarem e povoarem a terra, de a sujeitar e dominar. Aqui temos um ponto fundamental: a bênção do Senhor.
a) Casamento é projeto de Deus
Gn 1.28 “E Deus os abençoou e lhes disse”. Note que a bênção vem antes do mandato. A bênção é o que torna viável aquilo que Deus prescreve ou determina. O dever de serem potencialmente fecundos, e efetivamente fecundos (“multiplicai-vos”) ocorre debaixo da bênção de Deus. Isso é o casamento criado: a bênção de Deus para homem e mulher se unirem em relação amorosa, potencialmente fecunda e para o exercício de sua mordomia. Casamento é um pacto diante de Deus. Mas vamos nos deter um pouco ainda na bênção e no mandato divinos: com isso, a bíblia nos diz claramente que o casamento não vem do imaginário humano ou como uma mera concepção cultural. Não podemos colocá-lo no escopo da “construção humana ou social”. No mais próprio do termo, o casamento é uma instituição divina.

3. Casados para glorificar a Deus

Não quero que você se confunda: “pastor, tem algo errado aí. Como assim fomos feitos para casar? Aprendemos no catecismo, pergunta 4, que Deus nos criou para ‘conhecer, amar, viver com ele e glorificá-lo’. Que se criados por ele, vivamos para sua glória”. E isso está absolutamente correto. Isso ressoa uma verdade bíblica que um dos documentos mais tradicionais das igrejas evangélicas, o breve catecismo de Westminster, pergunta: “qual o propósito último do ser humano?” e responde “glorificar a Deus e se alegrar nele eternamente”. Todo ser humano deve cumprir esse fim último.
Em Gênesis 2, quando Moisés fala de Adão e Eva, observamos mais detalhes dessa relação entre o casal e sobre a relação deles com Deus (Gn 2.7, 15-24). Adão foi criado, lhe outorgou propósito (v. 15), liberdade (v. 16) e proibição (v. 17). Adão foi criado para a glória da Deus. Propositalmente Deus o levou a perceber que lhe faltava um par (Gn 2.19,20). Eva, então, foi criada “do seu lado” (melhor tradução que “costela” / צלע tsala), sendo alguém, portanto, equivalente a ele. Nem superior, nem inferior, mas equivalente e correspondente. Como diz o próprio Senhor: “lhe farei uma auxiliadora que lhe seja idônea” (Gn 2.18).
Eva seria uma auxiliadora compatível. É certo que animais ajudaram e ajudam homens e mulheres ao longo da história: seja em trabalhos, seja emocionalmente como companheiros. Mas não há um animal na história que seja um auxiliador compatível ao ser humano. Toda a criação foi organizada de forma que fale ao homem (Rm 1.20) e uma das coisa que ela fala é que não é bom que o homem esteja só. Deus fala isso (Gn 2.18).
Se Adão foi criado para glorificar a Deus e percebeu uma lacuna [uma necessidade] ao ver os animais com seus respectivos pares, e a solução dada por Deus foi lhe dar uma auxiliadora, isso significa que é impossível ao homem ou à mulher glorificar a Deus sozinho. Na verdade, não é que seja impossível (1Co 7.7-9), mas não é bom (constatação de Deus em Gn 2.18). Existe a necessidade de que essa tarefa de glorificar a Deus seja desempenhada em casal. O casamento e família são a pequena célula de adoração, é um ambiente de culto - foram criados para adorar a Deus unidos.
Nessa glorificação a Deus há a sabedoria e a maturidade que vem do convívio com o diferente. A dificuldade do convívio não vem diretamente pelo pecado, mas pela diferença. Ela é agravada pelo pecado. Adão e Eva cresceriam em servir um ao outro e isso envolveria se conhecerem em relacionamento para melhor servir e se completarem em tudo. E isso eles se desenvolveriam nisso com o Senhor.
E isso permanece ainda com a Queda: para crescimento há a necessidade de se perder algo. Em Pv 14.4 aprendemos que onde não há boi o celeiro fica limpo, mas vazio. Ou seja: ter casa com filhos tem casa desarrumada. Se você quer fartura de produção, vai ter o celeiro sujo. Não há como ter benefício sem algum tipo de sacrifício. Algumas pessoas não percebem a necessidade do casamento para moldar o seu próprio caráter! O casamento é bênção, mas não é fácil.
Por isso o sábio pode dizer: “Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho. Porque se caírem, um levanta o companheiro; ai, porém, do que estiver só; pois, caindo, não haverá quem o levante [ou por um instante, quem sabe, os dois choram juntos no chão – acréscimo meu Gn 24.67]. Também, se dois dormirem juntos, eles se aquentarão; mas um só como se aquentará? Se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; o cordão de três dobras não se rebenta com facilidade”. (Ec 4.9-12).

4. Uma só carne

Deus deu a bênção para a união fecunda. Essa união remete, claro a união sexual. A união sexual vai se desenrolar ao longo da bíblia, por isso, dentro da bênção do matrimônio. O casamento santo é o único ambiente seguro para o sexo. Por causa dessa unidade na diversidade, um casal de dois indivíduos diversos [homem e mulher], o casamento é a união de dois corpos. O ato sexual é uma re-união. Há uma completude física - anatômica. Corpos criados para a adoração a Deus, para o serviço um do outro e para o administrar do mundo. De um, Adão, dois. De dois, Adão e Eva, um. Do homem a mulher na criação. Da mulher o homem no nascimento. Homens e mulheres se unem e iniciam suas famílias para juntos glorificarem a Deus: “Por isso [por que são complementares], deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne” (Gn 2.24). O casamento serve a este propósito: glorificar a Deus!
Ambos sob a aliança com Deus se colocam em aliança com o outro. Não só se casando por amor, mas para amar. Como nos lembra G. K. Chesterton: um homem é feliz por se casar com a mulher que ama, mas ainda é mais feliz por ama a mulher com quem se casou.

Aplicações

A bíblia não fala do casamento apenas em relação à prática no antigo oriente próximo e no mundo greco-romano. É lógico que existem questões relacionadas à cultura e inclusive aspectos restritos à lei mosaica que permeiam o tema. No entanto, o casamento é uma instituição divina (Ele instituiu).
Não queira do seu casamento o que ele nunca vai conseguir te dar. Ele não é para ser a fonte da tua felicidade. Coitada da pessoa que deve viver pra te fazer feliz - ela vai sofrer muito para atender todas as tuas expectativas e ela sempre vai te frustar. Somente em Deus podemos ter essa fonte de amor. Eu sei que o seu coração diz que “ninguém ama se não for amado antes”. É verdade. E você já é amado por Deus. Deus evidencia o nosso amor por Ele colocando pessoas ao nosso lado para serem amadas. Não nutrimos amor pelos outros através amor dos filhos ou mesmo através do amor do cônjuge. Esse combustível é insuficiente. Só Deus é suficiente.
O casamento é o ambiente de compromisso seguro para o sexo. Nas Escrituras isso é tal forma importante que a imoralidade pré-nupcial é loucura (Dt 22.21), o casamento somente para fins sexuais é abjeto (por isso a proteção Dt 22.13) e o adultério uma abominação (Ml 2.16). Sobre estas coisas está a ira de Deus e não a sua bênção. Um compromisso tão firme que até o noivado já se baseava nos termos do casamento [veremos melhor isso sobre adultério e novo casamento].
A ordem criacional é a monogamia. Observemos que ainda em gênesis AT fala dos casamentos dos patriarcas (Gn 12.1-18; 24.1-25.28; 29.1-30.24) onde percebemos o amor indissolúvel por suas “únicas” esposas e o grito da fidelidade esperada a uma só esposa. Além disso, todos são relatos didáticos, não somente lá mas em quase todo o AT, em apresentar as confusões e problemas da poligamia (anti-natural/criacional).
Veja, o casamento serve a este propósito: glorificar a Deus! E quero falar diretamente com você: você vive para esse propósito. Seu casamento deve cumprir esse propósito. Abençoe a vida do seu cônjuge. Solteiros: sejam quem vocês querem que os outros sejam pra vocês! Você não estão solteiros porque são exigentes demais [Elizabeth Elliot é bastante exigente] - talvez seja apenas o tempo de Deus. Talvez seja algo em você que tenha que mudar [tem gente que quer princesa mas não é príncipe]. Observar isso agora implica em querer casar não somente para atender necessidades pessoais, mas para glorificar a Deus.
Uma palavra aos solteiros, divorciados solteiros e viúvos: nutra desde já seu coração com a Palavra de Deus, busque satisfação no evangelho e compreenda o que a bíblia ensina sobre casamento. Se você está bem como solteiro isso é um dom (1Co 7.7). Usufrua da solteirice para a glória de Deus e sirva a sua igreja (1Co 7.32). Aproveite o tempo que está dedicado à sua família para com mais intensidade gerar o bem e servir ao povo de Deus. Se você não está bem com a solteirice, tudo bem: mas não dê ocasião à carne (1Co 7.9) - é melhor encontrar alguém do que se abrasar com pensamentos impuros, pornografia ou relacionamentos impróprios. Ambos, só entreguem seu coração para quem tem o seu coração totalmente devoto a Cristo.
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S.D.G
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