A Parábola da Candeia.

As Parábolas de Jesus  •  Sermon  •  Submitted
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Introdução

Muitos dos seguidores de Jesus tinham dificuldade de ver o Reino de Deus, pois ele ainda não parecia concreto durante o seu ministério terreno. Eles viam o poder sendo revelado mas não compreendiam a natureza e o propósito do Reino. Também não compreendiam o papel deles como seguidores de Jesus - talvez se vissem apenas como beneficiários, tendo em vista que muitos o seguiam somente pelo que recebiam. É provável ainda que vissem o trabalho da semeadura como algo irrelevante, visto que muitos solos são inadequados para a palavra, de acordo com o que ouviram na Parábola do Semeador (Mc 4.1-20 - já exposta nesta série).
Para clarear o entendimento do seu ensino, Jesus, então, conta essa parábola de fácil fixação na memória. As parábolas eram contadas para que os desinteressados ouvissem e não cressem (Mc 4.11,12), utilizando-se de histórias e figuras do cotidiano trazendo uma ou mais lições principais. A chamada Parábola da Candeia (Mc 4.21-25) aparece junto com outras duas: a parábola da semente (Mc 4.26-29) e do grão de mostarda (Mc 4.30-32 - também exposta nesta série). Aparentemente, ambas foram contadas no mesmo dia em que a Parábola do Semeador [conexão: “também lhes disse” Mc 4.21].
A conexão entre as parábolas parece indicar a ênfase de Jesus na necessidade da frutificação, ou seja, no local onde a Palavra de Deus é lançada, encontra abrigo, firma suas raízes, cresce e dá fruto no tempo certo. Esse é o propósito da Palavra. Assim, os discípulos deveriam entender que suas vidas devem ser frutíferas para o benefício de outros, para a glória de Deus. De forma resumida: todos os que são do reino devem testemunhar [colocar a luz no local devido e alumiar].

Exposição

1. A obviedade do ministério cristão (Mc 4.21)

O texto inicia com um conectivo para o contexto em que Jesus já estava falando aos presentes [“também lhes disse”]. Ela não expõe uma situação, mas Jesus inicia com perguntas retóricas, onde as respostas seriam curtas e fáceis [“não” e “sim”], embora seu significado teria de ser explicado ainda aos seus discípulos para compreensão completa.
A cadeia era uma espécie de lamparina feita de barro, com pavio [torcida/mecha] alimentada por óleo (Werner Kaschel e Rudi Zimmer, Dicionário da Bíblia de Almeida 2a ed. (Sociedade Bíblica do Brasil, 1999). Não imagine com os nossos olhos atuais, que veem a lamparina como algo ultrapassado. Jesus usa os recursos da época que estão no imaginário dos ouvintes: a candeia era a lâmpada de LED daquela época. E não se compra uma lâmpada principal para colocar em qualquer lugar.
Não creio que a lâmpada aqui seja o próprio Cristo num sentido direto. Alguns autores indicam que essa seria uma linguagem condizente com o messias e com profetas (ex.: Jo 5.35, sobre João Batista) e com a ideia da candeia “vir”. Não penso assim e concordo com o sentido da NAA que traduz como “será que alguém traz uma lamparina”, onde o sentido de “vir” não é que ela venha por si só, mas que é trazida.
Pela harmonia da sequência com a Parábola do Semeador, a candeia é a Palavra de Deus (Mc 4.14). Ela é chamada de lâmpada no Salmo 119.115: “lâmpada para os meus pés é a tua palavra e, luz para os meus caminhos”. Ela é semeada revelando a Deus, seu caráter, sua obra e o seu Reino através do Seu Filho. Ela é plantada com o propósito de germinar, crescer e frutificar abundantemente. Portanto, existe uma fase na história e na vida dos discípulos em que ela é lançada e plantada.
O objetivo, portanto, era explicar que durante o ministério de Jesus a sua “missão” estava parcialmente velada. Que a candeia não estava no local principal de iluminação: o velador [“oculto”, “escondido”]. Mas o o mistério do Reino não seria mantido em segredo (Mc 4.11) mas será proclamado (Mt 10.27). Não se falará mais em parábolas mas de forma livre e clara - não é esse o labor dos pastores domingo após domingo? A obra do Calvário deve ser anunciada pois somente ela pode iluminar a escuridão do mundo caído no pecado (Mt 28.18-20). O evangelho não está encoberto. O Pentecostes inaugura a Igreja como corpo vivo do Deus vivo e como testemunha da Palavra em todo o mundo. Os discípulos devem sempre colocar a Luz da Palavra no local mais alto.

2. A luz centralizada dissipa as trevas (Mc 4.22)

É interessante que algo esteja aqui embutido. A lamparina que deve ser colocada no local mais alto tem o propósito de iluminar mais e melhor. A lamparina revelada revela tudo ao redor. Observe que enquanto a lamparina está no canto ou debaixo de algo, muito do cômodo está também em oculto. Enquanto a luz está oculta as trevas estão evidentes. Mas quando a luz é revelada aquilo que está nas trevas é também revelado.
Onde o evangelho está evidente as boas obras estão reluzentes e as obras das trevas são desmascaradas. Não há harmonia entre a luz e as trevas (2Co 6.14). O evangelho não vem abafar ou destruir talentos ou dons natos, mas realçá-los. Fazê-los alcançar corretamente o propósito de louvar a Deus. Ele os ilumina e os torna evidentes para que sejam colocados à disposição do Reino de Deus e do benefício do próximo: fabricar, cantar, dirigir, servir, ensinar, proteger, liderar, desenvolver uma capacidade esportiva, pregar, etc. A luz do evangelho torna isso voltado ao propósito da glória de Deus e não a fins mesquinhos ou vaidosos.
Mas as obras das trevas se tornam evidentes. O evangelho nos revela o nosso pecado. Revela as trevas dos nossos corações. Colocam às vistas nossas motivações incorretas, nossas prioridades enviesadas, nossos desejos egoístas, nossa vontade de ser vaidosamente relevante, nossas idolatrias, nossas timidez limitante, nosso caráter depravado. A luz não permitirá que essa coisas fiquem para sempre nas trevas. Nos crentes, para arrependimento e transformação. Nos descrentes para a revelação no juízo.

3. Ouvi e agi (Mc 4.23-25)

Jesus destaca agora a importância da audição. Ouvir é parte fundamental do evangelho e da vida cristã (Rm 10.17; Ef 1.13). A liturgia e a disciplina devem nos guiar em leitura e audição da Palavra de Deus - em si mesmas não têm proveito, senão como treliça para o desenvolvimento da Palavra. Jesus não traz nessa parábola algo para que você possa optar em não aprender ou descartar. É algo vital: “quem tem ouvidos para ouvir, ouça. Atentai no que ouvis”.
Mas ouvir nas Escrituras nunca está isolado na necessidade de responder em obediência. Os versículos 24 e 25 trazem um significado já foi abordado em nossa última exposição de parábolas, a parábola dos talentos (Mt 25.14-30). Há a necessidade dos discípulos estarem prontos para ouvir. E o que eles precisavam ouvir ali é que seu trabalho bem feito será recompensado. Para isso Jesus usa uma figura de justiça: vocês devem entregar a cada um o que lhe é devido. A medida é a palavra de Deus. Devemos medir cada um com o Evangelho - com graça, misericórdia e com a régua da ética do reino. Ela é a luz para o julgamento, não nossos gostos e opiniões. É assim também que seremos medidos e com mais rigor: “e ainda se vos acrescentará”. A Palavra que servimos é a medida do juízo - rejeição e desobediência contra fé e obediência.
Jesus nos lembra que não importa a quantidade de recursos que os discípulos de Jesus receberam, mas o que eles fazem com o que receberam. No caso, o entendimento que receberam sobre o Reino de Deus. Os que têm esse entendimento e nada fazem perderão tudo. Os que colocam à serviço de Deus os seus dons terão em abundância. Assim, Jesus responde a possível questão: se muitos que ouvirão o Evangelho serão como solos impróprios, por que pregar? Porque a luz não foi feita para ser guardada. Não temos desculpa para sermos inativo se a luz habita em nós. Não é pelo feedback do outro, mas para a glória de Deus e fidelidade a Ele.

Aplicações

1. Cristo é a Luz do Mundo

O evangelho não é concedido apenas para o seu benefício próprio, mas também para o benefício dos outros. Isso parece óbvio sobre muita coisa que gostamos - o que amamos convidamos outras pessoas a ver sua beleza. Mas o pecado parece nos convencer de que é possível manter a lamparina do evangelho no canto. Mas isso é falta de amor: quem ama a Cristo e quer honrá-lo, quem ama ao seu próximo, lança a lamparina no velador para que a Palavra seja plantada nos mais diversos solos. Não é uma missão somente para pastores, evangelistas e missionários, mas para todos os discípulos.

2. Nós somos a luz do mundo.

A palavra nos diz que somos a luz do mundo (Mt 5.14-16). Não da forma que Cristo é. Não temos o local de Cristo. Não somos o centro da obra de Cristo [nem o seu ponto fraco]. Mas a vida daqueles que frutificam a Palavra, daqueles que carregam a candeia, ilumina também. Nossa vida não é para chamar a atenção para a gente, mas para realçar a obra de Deus [como o sal também realça sabor] no mundo, dissipar as obras das trevas e para chamar as pessoas a glorificarem a Deus (Mt 5.16). Não é possível que onde um servo de Deus esteja as coisas continuem como eram antes.

3. Onde está a sua luz?

Como Jesus, essa aplicação vem através de perguntas: Quando você analisa sua vida, o Evangelho de Jesus Cristo está posto de tal forma que ilumina todas as coisas do cômodo? Ou será que ela está num canto e existe algo que você tenta substituir a sua luz? Você troca uma boa lâmpada por uma velha de cabeceira. Você se agrada de existirem muitas sombras e locais que a luz não alcança?
O pecado é uma encruzilhada de burrice: pensamos poder esconder algo, mas tudo está transparente diante de Deus. E um dia tudo virá à tona. Um dia, quando a luz estiver no centro, colocada pelo próprio Deus assim como o sol foi colocado onde está, nada mais será escondido. Não há nada que você esconda definitivamente. Nem mesmo a sua negligência programada.
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S.D.G.
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