A parábola da figueira infrutífera. Ou: você só tem a segunda chance (Lc 13.6-9)

As Parábolas de Jesus  •  Sermon  •  Submitted
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Introdução

Tem uma música de rock dos anos 80 chamada “O teatro dos vampiros” que diz: “esse é o nosso mundo/o que é demais nunca é o bastante/e a primeira vez é sempre a última chance”. Bem, é um retrato desse nosso mundo que sempre demanda mais de nós: mais tempo, mais trabalho, mais resultados, mais eficiência, e que, muitas vezes, não nos permite errar. Tudo é descartável: objetos, pensamentos, igrejas, relacionamentos. Nós. Tudo parece como água que tentamos aparar do chuveiro mas escorre pelas mãos.
Vejamos que, por mais que nosso coração e as pessoas lá fora queiram dizer que Deus é rigorosamente impaciente ou resignado em ira, não é o retrato que vemos nas Escrituras. Adão e Eva não são fulminados logo após à queda. Deus lhes dá uma promessa em que possam depositar fé e serem salvos (Gn 3.15). Seu filho Caim se esquece disso, mas Deus mesmo lhe dá alerta, por exemplo. Deus se revela aos homens e desfaz seus intentos maus (Gn 11) e, mesmo que tudo mereça destruição total por causa de nossa depravação inominável (Gn 6), Deus concede um recomeço e uma aliança de preservação (Gn 9). Deus faz para si um povo de testemunho para os outros povos e sempre deixa sua bondade evidente em toda a Terra. Nossos próprios corações testificam de seu caráter e santidade porque Ele nos deixou com testemunho (Rm 2.15). Mas constantemente jogamos tudo isso no lixo (Rm 3.9-18). Somos nós que jogamos toda primeira chance fora [todos jogaram Rm 3.23] – uma primeira chance cheia de chances.
A Bíblia descreve o Senhor como longânimo, tardio em irar-se, mas rápido em agir com misericórdia (Sl 103.8). Como diz o poeta Stênio Marcius, “o seu amor é tão forte, mais que o inferno e a morte, são corretes que arrebentam o chão/ mais fácil secar os mares ou apagar estrela Antares, que arrancar o amor de seu coração”. Nossos pecados são suficientes para que fôssemos varridos da existência (Rm 6.23). No entanto, mesmo com nossos corações desesperadamente corruptos e inclinados para o erro, Deus nos envia o seu maior bem [seu Filho Jesus] para que não sejamos perdidos eternamente. Deus é paciente. Em Jesus Cristo há oportunidade de recomeço. Em Jesus Cristo está nossa segunda chance.
A segunda chance que o evangelho nos concede não é uma chance de você acertar ou errar. Não é para zerar o placar é ver se finalmente você consegue ganhar o jogo [não é uma espécie de “pronto, agora tente se salvar”]. Meus irmãos, Cristo já ganhou o jogo e de goleada. A segunda chance não é para você entrar no campo sozinho, Cristo é o jogador que resolve o jogo. A segunda chance é para que você desconfie de si mesmo e confie nele, desista de si mesmo, agradeça por ele, mostre ele aos outros, louve-o, esteja na torcida certa e queira ser como ele. Tudo está garantido em Cristo, mas somente para os que se percebem como insuficientes. Podemos dizer que a pergunta que permeia nossa exposição hoje é: você, crente, o que faz com a sua segunda chance?

Exposição

Contexto: a falta de arrependimento é pior do que a morte

O contexto imediato dessa passagem começa no verso primeiro. Provavelmente estes homens atrelaram à desgraça daqueles galileus alguma má conduta específica. Talvez o interesse do questionamento fosse misto: deixar Jesus em maus lençóis com Pilatos [governador da Judeia] ou mesmo refrear seu ministério pelo temor da morte, visto o fim daqueles homens. Mas Jesus identifica o interesse teológico por trás da questão, nos versos de 2 a 5. Resumindo: tragédias recaem sobre pecadores. Essa visão não seria novidade no judaísmo. Veja os amigos de Jó ou mesmo os discípulos que queriam saber quem pecou para que alguém nascesse com alguma deficiência (Jo 9.1,2). Jesus então instrui que todos os homens são pecadores e que a falta de arrependimento é muito pior do que a morte ou as tragédias, é a verdadeira morte.

1. O coração em que Deus age deve responder a Ele (v. 6)

Esse contexto está conectado com a parábola (“então”, v.6). Parece-me que Jesus Cristo inicialmente se refere à Israel, pois esse é o ambiente imediato de aplicação. Deus mesmo plantou a nação neste mundo para testemunho do seu poder, glória e fidelidade. Eles foram separados das outras nações e Deus lhes deu distintivos: por exemplo, a Lei e a terra. Deus lhes deu revelação e condução através dos patriarcas e dos profetas. Embora Deus agisse no mundo, Ele agiu de forma especial em Israel. Portanto, era correto de se esperar que eles Lhe retribuíssem em gratidão, fidelidade e louvor. Era natural que aquele que plantou a vinha vinhetas procurar nela mais louvor, fé, arrependimento e santidade do que nas outras nações. Aquele que plantou vem procurar frutos na sua vinha.

2. A improdutividade é um convite ao machado que derruba a árvore (7)

Já falamos sobre isso numa outra parábola. Uma figueira que está na vinha mas não frutifica, demanda os mesmos recursos e cuidados daquela que frutifica [e ela naturalmente demora para frutificar - calcule os recursos aplicados, então]. Ela extrai os recursos do solo, consome toda a adubação adicional, consome água igualmente, demanda tempo e esforço. Durante um tempo, com a esperança de frutificar, o cuidador até aplica mais recursos do que nas outras para tentar recuperar a saúde daquela planta. No entanto, ela é improdutiva. Ela é inútil e torna inútil a aplicação de trabalho, o uso de recursos e a ocupação da terra. Só resta uma atitude em relação a ela: ser cortada.

3. A paciência do viticultor é renovada (8)

Essa palavra é direta aos ouvintes: “vocês já queimaram todas as oportunidades que tiveram. Há tempos vocês vem ocupando espaço sem gerar frutos, mas Deus o Pai não disse de imediato “corta”. Há esperança até o dia do juízo. Vocês todos são pecadores, não faltam razões para serem ceifados, mas hoje é o período para se arrepender e crer em mim”.
E esse período é breve. Não são os três anos de outrora. Deus não dá oportunidade para a árvore gerar por si mesma, mas continua a exercer o cultivo naquelas árvores infrutíferas por um tempo, cavando ao redor e inserindo mais adubo.
Meus irmãos, vemos isso na vida dos discípulos. Jesus não esmagou ou lançou fora as cidades de Tiago e João nem de Pedro. Jesus não corta a vida de Tomé com sua tola incredulidade. João Marcos é um desistente que recebe uma segunda chance e se torna um cooperador exemplar.

4. A paciência do Senhor terá uma data limite (9)

Depois de oportunidades desperdiçadas, a paciência de Deus é definida - chega a um prazo final. Temos que responder. O rev. HDL diz que é interessante que essa parábola não tenha uma conclusão. Para ele, a conclusão é a resposta dos discípulos.
Essa parábola não está negando que os verdadeiros discípulos vão frutificar porque estão ligados à videira verdadeira. Que mais certo do que 1+1 são 2 os cristãos que ama a Jesus vão ser distintos por lhe obedecer os mandamentos e amar como ele. Ela tem como objetivo despertar os verdadeiros discípulos para essa realidade: se vocês são genuínos, frutifiquem. É um daqueles encorajamentos severos que geram resultados (ó, como precisamos deles). Ele permite que os discípulos avaliem se estão na verdade ou apenas numa religião “de folhas, mas sem frutos”. De gente que vai a igreja, mas não vive como Jesus os ensinou.

Aplicação 1

O que faz o homem jogar fora a misericórdia de Deus é um coração o impenitente.

Aplicação 2

Se formos aplicar às nossas vidas hoje, enquanto igreja, você é uma figueira plantada com o propósito de dar frutos. Nenhum dos que fazem parte da igreja do Senhor é autóctone ou mato que cresce sozinho. Foram [vocês] todos plantados para um propósito. O ambiente que você pertence está repleto de orações, de leitura e pregação da palavra, de sacramentos, de cânticos espirituais, de comunhão, de ótimos estudos, de ótimos livros e materiais, dos melhores conteúdos na Internet, dos melhores cursos e conferências teológicas. Tudo isso te cerca como uma espécie de vinha onde não é justificável que não haja frutos.
Por esta razão essa parábola no leva a meditar em nossa condição espiritual. J. C. Ryle uma vez disse: “o crente que ouve essa parábola e não sente tristeza e vergonha, enquanto a aplica ao estado de sua vida espiritual, só pode estar em uma infeliz condição espiritual. (J. C. Ryle). Essa constatação não deve vir como um peso, mas como um alerta de que eu ainda posso frutificar mais. Deus me deu todos os recursos e o ambiente propícios à frutificação - a Igreja. Jesus espera, portanto, encontrar em nós frutos dignos do arrependimento (Mt 3.8-10). Não é por ser judeu ou evangélico que existe garantia.

Aplicação 3

Se você está num meio em que você apenas extrai ou espera receber, há algo errado no seu cristianismo. Se você só cobra os outros o sinal de alerta já está ligado. Não é que não passemos dificuldades na vida. O cristianismo não é sobre não passar por tempestades, mas como continuar fiel e crente mesmo ao passar por elas. Não seja daqueles que enchem os bancos da igrejas mas os irmãos contatam: há anos venho colher frutos nessa figueira, mas nada encontro.

Aplicação 4

Podemos aprender ainda que é importante insistir. Irmão genuínos podem passar por tempos em que se esquecem de dar frutos. Podemos insistir uma vez mais: cavar sulcos ao redor e colocar adubo. Mas veja: até o viticultor magnânimo constata: se vier a dar fruto, bem está; se não, mandarás cortá-la.

Aplicação 5

Se a segunda chance é a nossa única e última e depois de conceder inúmeras oportunidades desperdiçadas o juízo vem repentinamente, o tempo tempo de frutificar é hoje. Hoje é tempo de produzir. Hoje é tempo de abençoar os outros. Às vésperas do seu sermão profético Jesus deixou claro (Mt 21.18-22): maldita é a figueira que finge saúde mas que não se pode encontrar frutos em si. Tem folha mas não tem fruto. Aquelas que têm aparência, mas não realidade. As pessoas passam fome ao seu redor quando você não frutifica. Não brinque de ser igreja.
S.D.G
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