Achados e Perdidos: a desgraça da falsa religião e a alegria da graça (Lc 15.1-32)

As Parábolas de Jesus  •  Sermon  •  Submitted
0 ratings
· 52 views
Notes
Transcript

Introdução

Meu interesse não é fazer desse sermão notável por novidades. Ouvir pregações ou ler textos sobre as parábolas que lemos hoje é, provavelmente, uma das coisas mais comuns que você eu devemos ter feito ao longo da nossa caminhada com cristo. Na verdade, fazendo uma aplicação ampla, as três parábolas falam sobre o cerne da religião cristã em distinção a qualquer outra proposta religiosa existente: arrependimento, alegria e graça. A força que você deve enxergar hoje é de perceber Jesus revelando os firmes fundamento da verdadeira fé em oposição aos frágeis apoios da falsa religião.
Note o contexto: dois grupos se aproximavam de Jesus: os religiosamente marginalizados e os religiosamente importantes. Os sujos e os limpos. Os pecadores e os doutores da lei. Os publicanos e pecadores e os fariseus e os escribas. Lucas faz questão de demonstrar a diferença entre as motivações dos que se aproximam: os primeiros para o ouvir. Os segundos para murmurar e questionar. A questão que motiva a apresentação das parábolas é exatamente o nó na cabeça os religiosos: como pode Jesus, um mestre, receber e ter comunhão (comer) com pecadores (Lc 5.29-30).

Exposição

1. A falsa religião não tem missão

Jesus demonstra isso nas duas primeiras parábolas. A tônica de Jesus é levar os ouvintes [“qual, dentre vós?”], no caso específico, os escribas e os fariseus, à refletir: é justa qualquer indignação acerca de marginalizados estarem sendo salvos (v. 2)? Não é natural a alegria como as relatadas nas presentes situações da ovelha e da moeda perdida? Perceba: Jesus revela que a pergunta deles está equivocada. Eles estão preocupados simplesmente com a “pureza” de seu sistema religioso e com as suas aparências. Estão mais preocupados deles serem contaminados do que pecadores serem purificados. Não há missão. As duas parábolas de Jesus demonstram: vocês estão agindo da forma errada. Vocês não entendem o que é a obra de Deus.
Missão é movida pelo entendimento de que Jesus é digno de ser louvado por todas as pessoas, por isso chamamos os povos à adoração. E essa adoração só pode acontecer por causa e por meio de Jesus Cristo.

I Onde não tem missão até alegria é legalista

Jesus joga claro: Alegria é o que se espera de vocês ao verem pecadores sendo alcançados. Essa é uma palavra recorrente nas parábolas (vs. 5, 6, 7, 9, 10, 23, 24, 29, 32). Este é o movimento das duas parábolas:
a) A parábola da ovelha perdida
Ovelhas fazem bobagens. Não sei se já assistiram a um vídeo em que um jovem resgata uma ovelha e, no gozo de sua liberdade, ela novamente cai num vala. É bem isso. Perder-se aqui é consequência dos atos tolos de ovelhas, que facilmente se perdem dos caminhos. Podemos fazer uma aplicação para nós: nos perdemos quando nos desviamos da Palavra do Senhor, quando decidimos ser nossos próprios guias ou quando nos fechamos, nos distanciamos do rebanho e deixamos de ouvir as instruções do Pastor.
No entanto, Jesus evoca a figura do pastor que deixa suas 99 ovelhas no deserto e vai em busca da que se perdeu até encontrá-la (v. 4). Ele se alegra com ela ao encontrá-la (v. 5). E, indo para casa, faz uma festa para que todos se alegrem com a ovelha encontrada (v. 6). Há uma alegria compartilhada. Há uma lição: há alegria no céu quando um pecador se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento. Há alegria na terra e alegria no céu. A ovelha achada é a ovelha que se arrepende.
a) A parábola da dracma perdida
Dracmas eram moedas de prata gregas que tinham aproximadamente o mesmo peso do denário romano, o equivalente a um dia de trabalho. Assim como o pastor, ela acende uma candeia e procura diligentemente até encontrar uma moeda de dez que possuía (v. 8). Jesus reforça algo sobre ele que fariseus e escribas e legalistas de nossa época não compreendem: Cristo não desiste de procurar seus escolhidos. Não é que ele seja alguém que aplica muitos recursos mas, por fim, não encontra. Não. Cristo não desampara os arrependidos. As duas parábolas deixam claro a disposição de Cristo em salvar pecadores. Há novamente alegria.
Interessante que do lado celestial estão citados os anjos nessa festa (v. 10). Os anjos são mensageiros de Deus e seres por meio de quem Deus realiza a sua vontade. Novamente aprendemos uma outra aplicação: há alegria em participar da obra de Deus e de ver Ele cumprir os seus propósitos.
Mas pensemos, irmãos: falsa religião tem alegria, mas alegria voltada para si e não para o outro correto. A alegria do legalismo [“faça e seja salvo”] é voltada para os próprios religiosos, voltada à sua comunicação eficaz, voltada à sua instituição, voltada à sua mensagem, mas nunca voltada à pessoa de Jesus Cristo tornando eficaz a sua obra na vida de alguém. Nos alegramos porque Cristo encontra suas ovelhas.

2. Jesus se alegra com arrependidos

Muitos de nós queremos agradar a Cristo - pelo é o que ouvimos. Mas a ênfase é muito clara: Jesus está em busca de suas ovelhas e moedas perdidas, e estas são aquelas pessoas que se arrependem de seus pecados. Vejamos, Deus não tem prazer na morte do ímpio, mas que o ímpio se converta de seus maus caminhos e viva (Ez 33.11). Não há outro caminho: Deus se agrada de nós em Jesus Cristo.
Arrependimento está intimamente ligado a percebermos que nada do que realizamos antes e fora de Cristo era agradável a Deus. Até nossa melhores ações estavam permeadas de motivações ímpias. O movimento do nosso coração está em se apartar do Pai (guarda essa informação porque ela é importante para a terceira parábola). Por isso, precisamos desistir de nossa tentativa de criar mecanismos para nos salvar e crer na morte e ressurreição de Jesus, a sua busca pelos perdidos.
Veja: Jesus não quer adesão. Ele quer conversão. Adesão requer convergência. Conversão requer arrependimento de pecados. Isso é fundamental. Não pense que arrependimento é apenas para o início da caminhada com Cristo. Até o que fazemos agora não é razão para nossa salvação. Fé é lembrar que Deus se deleita em nós por causa da justificação, do que Cristo fez por nós, e não pelo que temos feito. Você crê nisso? Arrependa-se de colocar em si mesmo qualquer explicação para sua reconciliação com Cristo.
E não estamos invalidando as boas obras. Apenas dizendo que elas acompanham aqueles que se arrependem, os que tem fé, mas não são o meio pelo qual somos reconciliados com Deus. Jesus Cristo é. Por isso não confunda arrependimento com o ato de sentir tristeza [ele está envolvido, é óbvio], mas entenda que ele é o ato de se agarrar à obra de Cristo. De ser Ele suficiente para cobrir qualquer de nossas vergonhas, de nos voltarmos daquilo que ele nos libertou e de crermos que ele nos dar poder para obedecê-lo em alegria. Quer agradar a Deus: arrependa-se e confie em Jesus.
Quero finalizar este ponto destacando que essa alegria é mútua. Jesus é o dono da festa da alegria [Is 53.11], mas somos participantes dela. Não o somos apenas porque lemos a bíblia e oramos. Religiosos também lêem e oram - lêem e oram muito. Mas lêem como um meio de fechar tabela e só oram pedindo. Pecadores se alegram na oração. Pecadores tem alegria de contemplar a glória de Deus na história.

3. O irmão legalista, o Deus pródigo e o irmão pródigo

Jesus continua e conta a terceira parábola, conhecida como a parábola do filho pródigo. Percebamos que são três parábolas no mesmo tema. No entanto, Jesus escolhe fazer dessa terceira uma história mais detalhada, em que a conclusão não está apenas externa à parábola, mas dentro dela mesma (o pai leva o filho à reflexão). Nas duas primeiras parábolas Jesus demonstra como as coisas deveriam ser: é necessário alegria quando um pecador vai à Cristo. Na terceira, como as coisas não devem ser: faltar alegria quando um perdido se chega à Cristo.
É importante dizer repetir que Jesus está falando para os fariseus e escribas. A gente lembra muito, e muito se prega sobre o filho mais novo, mas o enfoque é na reação do filho mais velho. Ele representa os opositores da graça: o legalismo árido.

I Duas maneiras de se afastar de Deus

O primeiro filho representa a primeira forma de se buscar salvação sem Cristo: me dá tudo que tu tens que eu vou viver da minha própria forma. O filho mais moço reparte os bens do pai (v. 11), e perde tudo com prazeres imorais (v. 13-14), passando a viver de forma deplorável (v. 15 - 16). Então, percebeu que, ainda que não fosse tratado como filho, se arrepender e voltar para seu pai como um trabalhador era melhor que seu estado miserável (v. 17-19). Mas, o seu pai o recebeu com amor, honrarias, alegria e festa (v. 20-24).
O filho mais velho, por outro lado, representa a segunda: eu vou viver da tua forma, por isso, me dá tudo que tu tens. Note que o Filho mais velho, assim como o mais novo, tem seu coração distante do de seu pai*. Se tem alguém pródigo na parábola é o pai, que representa Deus. Ambos representam grupos longe de Deus. O Filho mais novo quer o dinheiro do pai pedindo e desperdiçando [licenciosidade/libertinagem]. O irmão mais velho não se alegra com a alegria do pai, sua preocupação é com a forma como seu pai gasta o dinheiro (que é a sua herança). Ele se afasta obedecendo [legalismo]. Nenhum deles [percebe que] precisa de um salvador.

II apenas arrependidos participam da festa

As parábolas iniciais nos ensinaram isso. Aqui Jesus deixa mais claro (v. 28). A divisão não é mais entre 1 e 99, ou entre 1 e 10, mas entre um tipo de filho e outro. Entre aquele que está participando da festa e daquele que está fora. Um se arrepende. O outro não se alegra com quem está salvo. Ele não quis saber de conciliação (v. 28-29). Ele não entra na festa (salvação) não apesar de sua bondade, mas por causa dela (“te sirvo sem jamais transgredir uma ordem tua”, v. 29).
Temos um retrato: os irmãos mais velhos, aqueles religiosos, ficam furiosos quando as coisas não ocorrem como querem [“vindo, porém, esse teu filho”, v. 30]. Uma aplicação nos vem a mente quando pensamos o quanto deles não está em nós? Irmão mais velhos odeiam quem não é como eles: quando são dedicados, odeiam os negligentes; quando trabalhadores, odeiam os preguiçosos, etc. E eles não perdoam [“esse teu filho”, v. 30 - e o pai insiste “esse teu irmão”, v. 32].

III Jesus é o nosso irmão mais velho

Vamos examinar um pouco mais o filho mais velho da primeira camada da parábola: ele também só pensava na sua herança. Perdoar e receber o filho mais novo, o perdido, significava repartir a sua herança e ele não estava disposto a isso. Era necessário arcar com custos. A falsa religião é apenas sobre o que posso ganhar e não sobre o que posso perder. Os fariseus não estavam disposto a isso.
Eis a outra camada da parábola: o irmão mais velho deveria ser como o pastor e como a mulher, mas não foi. Ele deveria “deixar” algo para trás [v. 4], ele deveria “acender uma candeia” só para procurar e até encontrar [v. 8]. Ele deveria trazer o filho mais novo para a casa do Pai. Mas ele não foi.
A boa notícia do Evangelho é que Cristo foi o nosso irmão mais velho, que veio não de um país distante, mas do céu para a terra. Que sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens (Fp 2.6,7). Que não tirou de sua riqueza financeira, mas deu sua própria vida para resgatar os perdidos. E ele não desiste até encontrar cada uma de suas ovelhas. E como o pastor e a mulher, é quem nos convida para nós alegrar com ele. Arrependa-se de seus pecados e creia nele.
Soli Deo Gloria
*Ouvir outros pregadores é a última das tarefas em meu trabalho exegético. Ouvir o pastor Tim Keller, de quem li o livro o Deus Pródigo há anos atrás, falando sobre o tema, fez com que esse sermão não pudesse ser mais o mesmo. Muitos dos insights finais devo a ele. Louvo a Deus por nos permitir ver sobre o ombro de gigantes.
Related Media
See more
Related Sermons
See more