Sem espaço para justificação pelas obras - Gl 3.1-14

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Introdução

Paulo se encontrava em uma batalha e estava determinado a provar que a salvação se dá somente pela graça, não pelas obras da Lei e qualquer esforço nosso.
Seus oponentes haviam usado todos os meios possíveis para tentar tomar as igrejas da Galácia, e em se tratando de controvérsias, o apóstolo não era nenhum amador e vai defender com diversos argumentos a verdade da justificação pela fé.

1. O ARGUMENTO DA EXPERIÊNCIA PESSOAL DOS GÁLATAS (Gl 3:1-5)

A chave desta seção é o termo "sofreram" (Gl 3:4), que pode ser traduzido por "experimentar".
Paulo pergunta: "Vocês experimentaram tantas coisas em vão?"
Paulo se mostra bastante sensato ao tomar a experiência cristã como ponto de partida para sua argumentação, pois havia estado com eles e sabia que haviam crido em Jesus Cristo.
É evidente que uma argumentação com base na experiência tem seus riscos, pois as experiências podem ser falsificadas e interpretadas incorretamente.
Experiências subjetivas devem ser contrabalançadas por evidências objetivas, pois as experiências podem mudar, mas a verdade é sempre a mesma.
Paulo equilibra a experiência subjetiva dos cristãos da Galácia com o ensinamento objetivo da Palavra inalterável de Deus (Gl 3:6-14).
Era evidente que essas pessoas haviam tido algum tipo de experiência em sua vida quando Paulo as visitou pela primeira vez; mas então vieram os judaizantes e as convenceram de que essa experiência havia sido incompleta.
Precisavam de mais alguma coisa, e esse "algo mais" era a obediência à Lei de Moisés. Esses falsos mestres os haviam enfeitiçado, tornando-os insensatos.
Paulo os lembra de que haviam, verdadeiramente, experimentado um encontro com Deus.
i. Contemplaram a Deus, o Filho (v. 1).
Foi sobre "Jesus Cristo exposto como crucificado" que Paulo pregou na Galácia, e o fez com tamanha eficácia que o povo quase pôde ver Jesus pendurado na cruz por eles.
A expressão "diante dos olhos de vocês" é a tradução de um termo grego que significa "retratado publicamente ou anunciado em um cartaz".
Paulo apresentou Cristo abertamente aos gálatas, com grande ênfase em sua morte na cruz pelos pecadores.
Eles ouviram essa verdade, creram nela e lhe obedeceram; como resultado, nasceram de novo e passaram a fazer parte da família de Deus.
ii. Receberam a Deus, o Espírito Santo (vv. 2-4).
A única evidência real de conversão é a presença do Espírito Santo na vida do que crê.
Romans 8:9 NAA
9 Vocês, porém, não estão na carne, mas no Espírito, se de fato o Espírito de Deus habita em vocês. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele.
Paulo faz uma pergunta importante: o Espírito lhes foi dado porque creram na Palavra de Deus ou porque realizaram as obras da Lei? v.2
É evidente que só poderia haver uma resposta: o Espírito entrou na vida deles porque creram em Jesus Cristo.
É importante compreender a obra do Espírito na salvação e na vida cristã.
O Espírito Santo convence a pessoa do pecado e lhe revela Cristo (Jo 16:7-11).
O pecador pode até resistir ao Espírito (At 7:51) ou ser convencido e crer em Jesus Cristo.
Quando o pecador crê em Cristo, dizemos que ele é nascido do Espírito (Jo 3:1-8) e que recebe nova vida.
Também é batizado pelo Espírito, de modo que se torna parte do corpo de Cristo (1Co 12.12-14).
O cristão é selado pelo Espírito (Ef 1:13, 14) como garantia de que, um dia, participará da glória de Cristo.
Uma vez que o Espírito Santo faz tanta coisa pelo cristão, isso significa que todo o que crê tem responsabilidade para com o Espírito Santo, que habita em seu corpo (1 Co 6:19, 20).
O cristão deve andar no Espírito (Gl 5:16, 25), lendo a Palavra, orando e obedecendo à vontade de Deus.
Se desobedecer a Deus, entristecerá o Espírito (Ef 4:30), e se persistir em seu pecado, apagará o Espírito (1 Ts 5:19).
Isso não significa que o Espírito Santo o deixará, pois Jesus prometeu que o Espírito estará conosco para sempre (Jo 14:16), mas sim que o Espírito não pode lhe dar a alegria e o poder de que precisa para a vida cristã diária.
Os cristãos devem ser cheios do Espírito (Ef 5:18-21), o que significa simplesmente que devem ser "controlados pelo Espírito". Trata-se de uma experiência contínua, como beber de um ribeiro de águas sempre frescas (Jo 7:37-39).
Assim, em sua experiência de conversão, os cristãos da Galácia haviam recebido o Espírito pela fé, não pelas obras da Lei.
Se começaram com o Espírito, é possível prosseguir e amadurecer sem o Espírito, dependendo da carne?"
O termo carne, neste caso, não se refere ao corpo humano, mas sim à velha natureza do cristão.
As referências que a Bíblia faz à "carne" costumam ser negativas (ver Gn 6:17; Jo 6:63; Rm 7:18; Fp 3:3). Uma vez que fomos salvos por meio do Espírito, não pela carne, ou nossos esforços; pela fé, não pela Lei, nada mais justo do que continuar no Espírito.
"Vocês começaram no Espírito", diz Paulo. "Não é preciso acrescentar coisa alguma. Andem no Espírito e crescerão no Senhor".
Galatians 5:25 NAA
25 Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito.
iii. Experimentaram milagres de Deus, o Pai (v. 5)
Aquele” neste versículo refere-se ao Pai como Aquele que ministra o Espírito e que "opera milagres entre [eles]".
O mesmo Espírito Santo concedido ao cristão em sua conversão continua a operar dentro dele e por meio dele para que a igreja seja edificado (ver Ef 4:16; Cl 2:19).
Esses milagres incluem, portanto, transformações extraordinárias dentro da vida dos cristãos, bem como maravilhas no meio da igreja, tudo cooperando para nosso crescimento em Cristo.

2. O ARGUMENTO CONFIRMADO NA ESCRITURA (Gl 3:6-14)

Paulo passa, agora, de experiências para evidências da Palavra de Deus.
Não devemos jamais julgar as Escrituras de acordo com nossas experiências; antes, devemos testar nossas experiências usando a Palavra de Deus como parâmetro.
Na primeira seção, Paulo fez 6 perguntas; nesta seção, cita 5 passagens do Antigo Testamento para provar que a justificação é pela fé em Cristo, não pelas obras da Lei.
Uma vez que os judaizantes desejavam levar os cristãos de volta à Lei, Paulo a faz uso da lei! Uma vez que engrandeciam a figura de Abraão em sua religião, Paulo usa Abraão como uma das testemunhas!
i. Abraão foi salvo pela fé (vv. 6, 7).
Paulo começa citando Gênesis para mostrar que a justiça de Deus foi "depositada na conta" de Abraão somente porque creu na promessa de Deus (Gn 15:6).
O termo "imputado", significa "creditar na conta de alguém". Quando um pecador crê em Cristo, a justiça perfeita de Deus é creditada em sua conta.
Mais do que isso, os pecados dessa pessoa deixam de ser registrados nessa conta (Rm 4:1-8). Assim, diante de Deus o histórico está sempre limpo e, portanto, o que creu não pode jamais ser julgado por seus pecados.
O povo judeu orgulhava-se imensamente de seu parentesco com Abraão. O problema é que consideravam esse parentesco uma garantia de salvação eterna. João Batista avisou-os de que sua descendência física não lhes garantia sua vida espiritual (Mt 3:9).
Hoje em dia, há quem ainda pense que a salvação pode ser herdada, que a vida piedosa dos pais garante automaticamente a salvação dos filhos.
ii. A salvação é para os gentios (vv. 8, 9).
Em algumas versões, o termo "gentios", em Gálatas 3:8, é traduzido por "pagãos", mas o significado é o mesmo.
Paulo cita Moisés (Gn 12:3) para provar que, desde o início do relacionamento de Abraão com Deus, a bênção da salvação foi prometida a todas as nações do mundo.
Deus pregou o "Evangelho" a Abraão séculos antes, e Paulo levou esse mesmo evangelho aos gálatas: os pecadores são justificados pela fé, não pela observância da Lei.
A lógica de sua argumentação é evidente: se Deus prometeu salvar os gentios pela fé, os judaizantes estavam errados em querer levar os cristãos gentios de volta para a Lei.
Calvino diz que a expressão do versículo 9,
“De modo que os da fé são abençoados com o crente Abraão”, é bastante enfática. Eles são abençoados não com o Abraão circuncidado, não com pessoas que têm o direito de se gloriar nas obras da lei, não com pessoas que confiam em sua própria dignidade, mas com o Abraão, que, pela fé somente, obteve a bênção. Nenhuma qualidade pessoal é levada em conta aqui; somente a fé. A palavra “abençoados” é usada de forma variada nas Escrituras; aqui, porém, ela significa adoção à herança da vida eterna
Quando lemos o relato sobre a aliança extraordinária que Deus fez com Abraão em Gênesis 12:1-3, descobrimos que o Senhor lhe prometeu várias bênçãos diferentes, sendo algumas delas pessoais, outras nacionais e políticas e outras, ainda, universais e espirituais.
Mas as maiores bênçãos que Deus enviou por meio de Abraão e do povo judeu são associadas a nossa salvação eterna pela fé somente. Jesus Cristo é esse "descendente" prometido, mediante o qual todas as nações foram abençoadas.
Galatians 3:16 NAA
16 Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente. Não diz: “e aos descendentes”, como falando de muitos, porém como falando de um só: “e ao seu descendente”, que é Cristo.
iii. A salvação é pela fé, não pela Lei (w. 10-12).
A salvação jamais poderia ser decorrente da obediência à Lei, pois a Lei não traz bênção, apenas maldição.
Aqui, Paulo cita:
Deuteronomy 27:26 NAA
26 — “Maldito aquele que não confirmar as palavras desta lei, não as cumprindo.” E todo o povo dirá: “Amém!”
A Lei exige obediência, e isto significa obediência em todas as coisas. A Lei não é um "bufê religioso", no qual as pessoas escolhem o que lhes agrada.
James 2:10–11 NAA
10 Pois quem guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos. 11 Porque, aquele que disse: “Não cometa adultério”, também ordenou: “Não mate.” Ora, se você não comete adultério, porém mata, acaba sendo transgressor da lei.
Na seqüência, Paulo cita Habacuque: "mas o justo viverá pela sua fé" (Hc 2:4).
Ninguém jamais poderia viver "pela Lei", pois a Lei mostra ao pecador que ele é culpado diante de Deus e o conduz à morte.
Romans 3:20 NAA
20 Porque ninguém será justificado diante de Deus por obras da lei, pois pela lei vem o pleno conhecimento do pecado.
Os judaizantes desejavam atrair os gálatas para as obras da Lei, mas Paulo desejava que desfrutassem uma relação de amor e vida pela fé em Cristo.
Para o convertido, trocar a fé e a graça pela Lei e as obras é o mesmo que perder tudo de mais precioso que todo cristão pode experimentar em sua comunhão diária com o Senhor.
A Lei não tem poder de justificar o pecador (Gl 2:16; 2:21).
A Lei não pode lhe dar o dom do Espírito (GI 3:2).
Não pode garantir a herança espiritual que pertence aos filhos de Deus (Gl 3:18).
A Lei não pode dar vida (Gl 3:21) nem liberdade (Gl 4:8-10).
Então, por que voltar à Lei?
iv. A salvação é concedida por meio de Cristo (w. 13, 14).
Estes dois versículos são um excelente resumo de tudo o que Paulo vem dizendo ao longo desta seção.
Se a Lei coloca os pecadores sob maldição, Cristo nos redime dessa maldição!
Se desejamos desfrutar da bênção de Abraão, que é a justificação por fé, ela é recebida por meio de Cristo!
Desejamos o dom do Espírito, mas não somos judeus, por meio de Cristo, esse dom é concedido a todos pela fé!
Tudo de que precisamos encontra-se em Cristo!
Não há motivo algum para voltar a Lei, a trazer elementos do culto judeu para os dias de hoje.
Paulo cita novamente Deuteronômio: "porquanto o que for pendurado no madeiro é maldito de Deus" (Dt 21:23).
Os criminosos judeus não eram crucificados; o costume era apedrejá-los. Mas em casos de transgressões vergonhosas da Lei, o corpo era pendurado em uma árvore e exposto publicamente.
Era uma grande humilhação, pois os judeus faziam questão de tratar o corpo de uma pessoa falecida com todo respeito. Depois de exposto, o corpo era removido da árvore e sepultado (ver Js 8:29; 10:26; 2 Sm 4:12).
É evidente que a referência de Paulo ao "madeiro" diz respeito à cruz na qual Jesus morreu.
Acts 5:30 NAA
30 O Deus de nossos pais ressuscitou Jesus, a quem vocês mataram, pendurando-o num madeiro.
Ele não foi apedrejado nem teve o corpo exposto publicamente depois da execução; foi pregado vivo no madeiro, onde morreu.
Mas, ao morrer na cruz, Jesus Cristo tomou sobre si a maldição da Lei que recairia sobre nós; agora, os que creem não estão mais debaixo do jugo da Lei e dessa terrível maldição.
Colossians 2:13–14 NAA
13 E quando vocês estavam mortos nos seus pecados e na incircuncisão da carne, ele lhes deu vida juntamente com Cristo, perdoando todos os nossos pecados. 14 Cancelando o escrito de dívida que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, cravando-o na cruz.
Agora, a "bênção de Abraão" (a justificação pela fé e o dom do Espírito Santo) também é nossa, pela fé em Jesus Cristo.
O termo "resgatou", em Gálatas 3:13, significa comprar um escravo com o propósito de libertá-lo. É possível comprar um escravo e mantê-lo como aprisionado, mas não foi isso o que Cristo fez.
Ao derramar seu sangue na cruz, comprou-nos para que pudéssemos ter a liberdade.
Os judaizantes desejavam conduzir os cristãos de volta à escravidão, mas Cristo morreu para libertá-los.
Ser salvo não é trocar um tipo de escravidão por outra. Ser salvo é ser liberto da escravidão do pecado e da Lei para a liberdade da graça de Deus por meio de Cristo.
Esse fato levanta uma pergunta interessante:
De que maneira esses judaizantes conseguiram convencer os cristãos de que a Lei era um caminho melhor do que a graça?
Por que um cristão escolheria deliberadamente a escravidão ao invés da liberdade?
Talvez, parte da resposta encontre-se na palavra "enfeitiçou", que Paulo usa em Gálatas 3:1. O termo significa "lançar um feitiço, encantar".
O que havia de tão fascinante no legalismo a ponto de levar o cristão a abandonar a graça e a ficar com a Lei?
Um dos motivos é que o legalismo é atraente para a carne. Isso porque a carne gosta de ser "religiosa" - de obedecer a leis, de observar dias santos, até mesmo de jejuar (ver Gl 4:10).
Sem dúvida, não há nada de errado na obediência, nos jejuns e nas ocasiões solenes de adoração espiritual, desde que a motivação e o poder venham do Espírito Santo.
A carne gosta de se vangloriar de suas realizações religiosas - quantas orações foram feitas e quantas ofertas foram dadas, quanta performances foram feitas.
Outra característica do legalismo religioso que fascina as pessoas é seu apelo aos sentidos.
Em vez de adorar a Deus "em espírito e em verdade" (Jo 4:24), o legalista cria um sistema próprio para satisfazer seus sentidos, para se autoafirmar de estar dentro dos padrões de obediência que ele mesmo criou.
As pessoas que dependem da religião podem avaliar-se em relação aos outros e se comparar com eles. Esse é outro elemento fascinante do legalismo.
O parâmetro do verdadeiro cristão, porém, é Cristo, não os outros cristãos (Ef 4:11 ss). Na jornada espiritual do cristão que vive pela graça, não há lugar para o orgulho; mas o legalista orgulha-se constantemente de suas realizações.
Sem dúvida, a Lei exerce certa fascinação, mas esta não passa de um chamariz em uma armadilha; assim que o cristão pega o chamariz, vê-se sob o jugo da escravidão.
É muito melhor crer no que Deus diz em sua Palavra e descansar em sua graça.
Fomos salvos "pela graça [...] mediante a fé" e devemos viver da mesma forma. Esse é o caminho que conduz às bênçãos da comunhão com Cristo.
Os outros caminhos levam à servidão.
Não há espaço para performance, não há espaço para nossas habilidades, tudo é por Cristo e para Cristo, ele atua em nós o querer e o efetuar.
Somos uma igreja que deseja servir no mundo por meio do evangelho, queremos servir não para sermos aceitos por Deus ou demonstrar nossa performance, mas porque Deus já nos aceitou em Cristo, nos declarou justos mediante a fé em Jesus, nos fez habitação de seu Espírito, e atua por meio de nós ainda hoje.
Por isso podemos viver para ajudar pessoas a conhecer a Deus, viver em comunidade e servir no mundo, porque fomos aceitos unicamente pela fé em Cristo Jesus nosso Senhor.
SDG
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