Salmo 63 O que sobra quando tudo nos falta?

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Introdução

(i) Que tipo de ansiedade tem ocupado seu coração? Ele está cheio de angústias e de preocupações? (ii) Onde você fica nos períodos de tempestade? Recluso e distante da comunidade? (iii) Qual resposta você tem dado à graça de Deus que você professa ter recebido? (iv) Qual a medida e intensidade da alegria que você tem em Deus?
Encontramos neste salmo respostas a estas perguntas, visto que Davi está numa das situações mais dolorosas de sua vida: refugiado num deserto devido a traição e a ameaça de morte por parte de seu próprio filho Absalão (2Sm 15.23-30), a partir de Hebrom. Temendo a sua morte e a de seus servos (2Sm 15.14; Sl 63.9), Davi foge de Jerusalém e vai buscar refúgio apressadamente no deserto da Judeia, em tristeza e lágrimas (2Sm 15.30). Seu coração mistura a amargura da traição do filho com a tragédia dele ser uma ameaça mortal.
Aqui temos a oração de confiança de Davi em meio a tanta turbulência. Lemos o que se extrai deste santo homem de Deus num momento em que seu coração é espremido num deserto [literal e metaforicamente].
Leitura

Buscando a Deus

Salmo de Davi, quando no deserto de Judá

63  1 Ó Deus, tu és o meu Deus forte; eu te busco ansiosamente;

a minha alma tem sede de ti;

meu corpo te almeja,

como terra árida, exausta, sem água.

2  Assim, eu te contemplo no santuário,

para ver a tua força e a tua glória.

3  Porque a tua graça é melhor do que a vida;

os meus lábios te louvam.

4  Assim, cumpre-me bendizer-te enquanto eu viver;

em teu nome, levanto as mãos.

5  Como de banha e de gordura farta-se a minha alma;

e, com júbilo nos lábios, a minha boca te louva,

6  no meu leito, quando de ti me recordo

e em ti medito, durante a vigília da noite.

7  Porque tu me tens sido auxílio;

à sombra das tuas asas, eu canto jubiloso.

8  A minha alma apega-se a ti;

a tua destra me ampara.

9  Porém os que me procuram a vida para a destruir

abismar-se-ão nas profundezas da terra.

10  Serão entregues ao poder da espada

e virão a ser pasto dos chacais.

11  O rei, porém, se alegra em Deus;

quem por ele jura gloriar-se-á,

pois se tapará a boca dos que proferem mentira.

Exposição

1. A oração de Davi e o que ele pede.

A primeira coisa que aprendemos com Davi é exatamente essa: que no momento das perturbações ele ora. As suas preocupações repousam em Deus. Porque Davi ora e confia em Deus temos este salmo aqui registrado. A direção de suas aflições e angústias é aquele que pode atendê-lo, compreendê-lo e socorrê-lo. Vemos que, no deserto, uma das primeiras coisas que Davi aprende é que Deus é o seu Deus. Aquele Deus que ele pode chamar de “meu Deus”. Não um deus estranho ou genérico que talvez exista, mas o seu distinto Deus verdadeiro, o Deus de Israel, o Deus forte.
A situação de Davi encontra analogia naquilo que ele vê no deserto: uma terra seca e árida. Uma terra que desesperadamente precisa de água. Assim, Davi percebe que seu coração precisa reorganizar suas necessidades e nada melhor que o deserto para isso. Ele precisa buscar, em primeiro lugar, não a vitória, não uma empreitada bem sucedida contra os traidores, mas satisfação no próprio Deus. É isso que ele quer dizer por “ansiosamente” [אֲֽשַׁחֲ֫רֶ֥]: uma procura sincera e imediata. Como a primeira coisa que se faz ao amanhecer.
Há uma ansiedade positiva: a boa expectativa. A busca incessante por aquilo que é certo e que atende às expectativas, como a terra árida que só pode ter vida com a água (“a minha alma tem sede de ti; meu corpo te almeja, como terra árida, exausta, sem água”. Sl 63.1). Essa ansiedade tende a descansar na confiança que o controle do mundo está nas mãos de Deus. Já a ansiedade pecaminosa percorre o que não existe nem talvez [nunca] existirá. Ela antecipa em excesso um futuro incerto como se fosse real, como as preocupações. Ela tende a querer colocar o controle do mundo em nossas mãos. É o caminho do colapso.
Naquela aridez ele mostra para seu coração que o que ele mais precisa é de Deus. Não de Absalão, nem do reino, mas de Deus. Como alguém que jejua e prova qual a satisfação última para a própria carne, o deserto prova a satisfação do coração de Davi. Se Deus parece distante no momento da dor, Davi percebe que a terra seca de seu coração não precisa de outra coisa senão de Deus.

2. A adoração é a resposta à graça

Note, no versículo 3, onde está a mente de Davi na dificuldade? No santuário. Talvez como uma memória do passado que projeta um desejo presente, pois ele estava no deserto e não poderia acessar o templo, ele sabia bem qual o local que ele queria estar para ver a Deus. Era para isso que ele queria ir ao santuário: para contemplar a Deus, para ver a sua força e a sua glória.
Qual a razão disso? Por que Davi queria adorar? “3 Porque a tua graça é melhor do que a vida; os meus lábios te louvam. 4 Assim, cumpre-me bendizer-te enquanto eu viver; em teu nome, levanto as mãos”. A adoração é a resposta adequada à graça de Deus, pois a graça é o que temos de mais precioso. Seus inimigos contratados por Absalão ou o mesmo poderiam lhe tirar a vida numa emboscada noturna, mas não lhe poderiam arrancar o que ele tinha de mais precioso.
É nessa análise proporcionada pelo deserto que Davi percebe onde está o motivo do seu louvor. Numa fuga que não se sabia quanto tempo duraria, e que os suprimentos levados às pressas poderiam se esgotar rapidamente, ele percebe que sua alma continua satisfeita como se estivesse numa mesa recheada do melhor churrasco, quando ele substitui a insônia por oração e meditação no Senhor: “5 Como de banha e de gordura farta-se a minha alma; e, com júbilo nos lábios, a minha boca te louva”, 6 no meu leito, quando de ti me recordo e em ti medito, durante a vigília da noite”.

3. A resposta de Davi aos seus inimigos está na medida de sua segurança em Deus

O que eu quero dizer com isso? É provável que seus homens de confiança já maquinavam como matar Absalão, mas Davi não está nutrindo vingança em seu coração (2Sm 18.5). Assim como ele não o fez com Saul, mesmo tendo oportunidades, ele não tramava contra seu filho. Isso porque Davi sabia que Deus agiria com justiça e, por isso, descansava: “7 porque tu me tens sido auxílio; à sombra das tuas asas, eu canto jubiloso. 8 A minha alma apega-se a ti; a tua destra me ampara” (veja 2Sm 15.24-26).
Note que há uma descrição de um relacionamento entre o salmista e Deus (7 e 8). Ele sempre encontrou auxílio e amparo em estar seguro em Deus e em se apegar a Ele. Deus não decepciona aqueles que se refugiam nele (Sl 25.3), como ele ressalta no 11b: quem por ele [Deus] jura gloriar-se-á. Ainda que fugitivo de seus inimigos, ele nunca está escondido de Deus. Ainda que longe do palácio, ele nunca está longe do abrigo do Senhor.
As imprecações dos versos 9 e 10 expressam exatamente que Davi sabia que nas mãos de Deus estava o caminho da justiça. Que Deus pode antecipar parte de seu juízo eterno já em vida pela mãos dos homens, e que tamanha infâmia contra Deus levaria aqueles homens à uma morte sem honra, indigna de sepultamento solene. Sua descrição, por outro lado, de si mesmo em terceira pessoa no verso 11, indica que sua alegria está em Deus. Já a boca dos mentirosos seria calada.

Aplicações

Aplicação 1: Há um Deus forte para pessoas fracas.

Isto é muito reconfortante. A nossa dependência de Deus é suprida por um Deus suficiente. Não é um socorro inadequado, mas o preciso. Se somos fracos, Deus é forte. Se estamos perdidos, Ele é o caminho. Se estamos confusos, Ele é a verdade. Se estamos mortos, Ele é a vida. Tudo tempos no Pai, no Filho e no Espírito Santo. Jesus se fez vulnerável como a gente e provou a fidelidade do Pai e do Espírito sem vacilar, sem duvidar. Que sigamos o mesmo caminho da dependência, certos que Deus não nos frustará.

Aplicação 2: os caminhos do nosso coração devem ser: satisfação ou sede.

Satisfação e sede, num coração fiel, devem ser caminhos de adoração. O primeiro na sensação da presença de Deus, o segundo na sensação de distância. A adoração será ligada a Deus, no percurso a Ele, quando já satisfeitos ou quando pediremos intensamente pela sua visitação. Nunca permitamos que qualquer situação desta vida nos furte a adoração ao nosso Deus.

Aplicação 3: No deserto não fuja do santuário, não fuja da igreja.

Vamos ao santuário, a igreja do Senhor, para buscá-lo? Vamos, amados, principalmente na dor. Principalmente quando parecer que não devemos estar lá é que devemos buscar a Deus no meio do Seu povo. É lá que temos o que precisamos. O que buscamos ver no ajuntamento solene? Qual o meio pelo qual vemos os atributos de Deus no culto? Pela Palavra.
John Piper nos lembra: “Davi havia fugido de Jerusalém, o lugar de adoração corporativa do povo de Deus. E, em sua aflição, Davi recordou como era a adoração e o que ele contemplava na adoração. Eis um grande anelo que tenho em relação à adoração coletiva de nossas igrejas — que, ao nos reunirmos, cantarmos, orarmos e ouvirmos a Palavra de Deus, Ele mesmo se mostre tão presente, em “força e glória”, que, nos anos por vir, se você for impedido deste privilégio imensurável, a própria recordação de tê-Lo visto na adoração O tornará real novamente para você”.

Aplicação 4: O rei se alegra em Deus e Cristo também.

O deserto da Judeia é o mesmo onde Jesus foi tentado por satanás. Um lugar tão inóspito que Saul nunca perseguiu Davi por lá. E sem fugir de inimigos, mas para vencer nossos inimigos, Jesus é levado pelo Espírito Santo para o deserto não para aprender, mas para revelar quem é o Homem perfeitamente satisfeito em Deus. Ele é.
Como seria tentado aquele que estava totalmente satisfeito em Deus? Como a fome ou a sede poderiam impedir o ministério daquele que sabia que a graça é melhor do que a vida e tornaria isso real. Ele é aquele que entregou a sua vida para que a graça fosse o que há de mais preciosos no universo. A questão que fica é: eu também me alegro em Deus?

Aplicação 5: Deus cria corações satisfeitos nele, mas para isso talvez ele use desertos também

Nosso coração detestava Deus. Mas o novo coração que temos o ama. Na luta conta a carne, nosso velho homem grita para que continuemos a alimentar nosso coração com outras coisas que não a graça. Mas sabem, irmãos, essa luta contínua em nossas vidas será, entre bufetes e socos, vitoriosa. Na escola da vida cristã, da devoção particular aos cultos com a igreja, estamos treinando e alimentando nosso coração na satisfação em Deus. Porém, quando necessário, por amor, Deus usará situações em que iremos cantar de alegria nas tristezas, porque precisaremos aprender como os santos a dizer: Fp 4.11-13 “Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez; tudo posso naquele que me fortalece.” Será que você está passando por alguma dessas situações de deserto? Você tem agido como Davi e como Cristo?
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S.D.G.
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