O que a igreja é pela graça (1Co 1.1-9)

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Introdução

Igrejas têm problemas. Partidarismo, dificuldades em entender o ensino de seus pastores, ocorrência de desvios morais, negligência com ordenanças [vitais para a congregação] como a disciplina eclesiástica, pensamentos extremamente equivocados por seguirem uma lógica mundana, casamentos conturbados, cultos sem ordem e avareza dos membros são alguns exemplos de problemas que qualquer igreja pode vir a ter eventualmente (ou insistentemente).
Até mesmo igrejas ricas em dons espirituais podem ser infantis em seu uso, e, principalmente, negligenciar coisas fundamentais como o amor uns pelos outros. O declínio pode ser severo ao ponto de tornar a ceia do Senhor um ato vazio (1Co 11.20) e até algo contrário a própria igreja, que ao invés de gerar vida, gera a morte (1Co 11.29,30).
Algumas igrejas manifestam pontualmente os problemas que listei. Outras, por outro lado, apresentam todos e alguns mais, como é o caso da igreja de Corinto, tamanha a lista de questões abordadas por Paulo em suas cartas a esta igreja.
A ampla diversidade de temas trabalhados nesta carta [de contendas à dons espirituais], o seu tom pastoral, bem como o ambiente [background] imoral, pluralista e de uma espécie de “construções sociais locais da verdade” (Thiselton), fazem com que a carta mantenha uma posição distintiva de relevância para os nossos próprios tempos. Iniciaremos, assim, a série Chamados para ser Santos, exposições em 1Coríntios.

Exposição

Esta igreja foi fundada por Paulo na sua segunda viagem missionária, quando passou dezoito meses naquela cidade (At 18:1–18), pregando a Palavra de Deus, gerando crentes em Cristo (1Co 4.15). Um dos primeiros problemas aparecem logo. Lá, precisou trabalhar para o próprio sustento e utilizando o auxílio de outras igrejas (2Co 11.8,9), pois aqueles irmãos não estavam dispostos a sustentá-lo, tendo de fabricar tendas com a ajuda dos irmãos Priscila e Áqüila, deixando de investir totalmente seu tempo na pregação do evangelho.
A riqueza de Corinto era expressa não somente por seu fluxo comercial, visto ser a terceira mais importante cidade do Império Romano devido porto de Cencréia, fazendo-os amantes da riqueza. A rota comercial tonava a cidade cosmopolita, sendo conhecida pela adoração a vários deuses (gregos, romanos e até egípicios com a prática de prostitutas cultuais), pelo homossexualismo e pela permissividade. Dizem que palavra korinthiazesthai [viver como um coríntio], pela fama de depravada, chegou a ser parte do idioma grego, e significava viver bêbado e na corrupção moral. Havia a exibição de corpos e o extravasamento sem freio dos desejos.
Os jogos ístmicos bianuais, celebrando o deus Poseidon, que só perdiam para os olímpicos de Atenas, a existência de um grande auditório musical (odeon) com capacidade para dezoito mil pessoas sentadas, e o costume de ir para as praças e ouvir os grandes filósofos e pensadores exporem suas idéias, enriqueciam a jovialidade, a cultura e a intelectualidade da cidade. Infelizmente, acompanhando uma sentimento de vanglória e de partidarismos.
Depois de Corinto, Paulo foi para Éfeso, na Ásia Menor, onde passou três anos (At 20.31) e de onde recebeu pessoas vindas de Corinto com relatos sobre a igreja, alguns da casa de uma irmã chamada Cloe (1Co 1.11), talvez também dos homens mencionados em 1Co 16.17, e também uma carta dos próprios coríntios (1Co 7.1) repletas de questões que revelavam suas incompreensões.
Os relatos e a carta mostraram para Paulo que as coisas não estavam indo bem em Corinto (1Co 1.11; 5.1). A igreja não era tão diferente da cultura da cidade. Eles tinham a tendência de refletir os valores de sua cidade em vez dos do corpo de Cristo (1Co 6:15), proclamados no evangelho anunciado por Paulo (1Co 2). Paulo deve tratar do coração cheio de vangloria dos irmãos (daquilo que deveriam se envergonhar, na verdade), daquela igreja que estava gerando inúmeros prejuízos espirituais à própria comunidade.
Paulo responde, então, sobre os problemas que a igreja apresenta, corrige [muitas vezes duramente “vocês não sabem que? Se alguém pensa que”] as compressões equivocadas dos Coríntios sobre doutrinas e tira também as suas dúvidas, com esta carta a ser enviada pelo seu cooperador Timóteo (1Co 4.17).
É importante observar que assa carta, certamente, não foi a primeira que Paulo escreveu aos coríntios. Ele escreveu outra carta (1Co 5.9), porém, não temos conhecimento do seu paradeiro.

1. Paulo dita o tom da Carta: vocês foram chamados para a santidade!

Paulo se apresenta, na sua comum saudação inicial, como apóstolo de Cristo. Não que ele tenha se feito apóstolo, mas que Deus o chamou para tal ofício (1.1). Em sua companhia está Sóstenes, que pode ter sido o líder da sinagoga em Corinto e que fora ali espancado (At 18.17). Paulo, então, apresenta suas credenciais.
Ele escreve à Igreja de Deus que está em Corinto (1.2a). A localização geográfica da igreja não dita sua propriedade, pois a igreja é de Deus. A igreja não é nem de Paulo, nem de Apólo, nem de Cefas, é de Deus. Ela reflete e deve refletir o caráter de quem a chamou e não o caráter de onde ela está localizada.
E perceba: esta é uma carta comunitária que ensina a viver como uma comunidade cristã. Não é uma carta a alguns indivíduos, mas à Igreja. Igreja [Ekklēsia] é uma palavra comunitária. Alguém sozinho não é igreja. É uma contradição. A igreja é a congregação.
Paulo parte para a característica daquela igreja: santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos (1.2b). Ele evoca sua situação posicional diante do próprio Deus por causa de Jesus Cristo: santificados. Assim como o chamado de Paulo foi uma iniciativa de Deus, a santidade dos Coríntios era uma determinação do Pai, através da obra salvadora de Jesus. Eles já estão santificados. É essa a convicção que deve estar arraigada na mente dos membros daquela igreja.
O apóstolo complementa que eles foram “chamados para ser santos”. Paralelamente, ele afirma que os crentes foram separados por Deus para viverem vidas santas, e admoesta sobre seus pecados. A posição deles diante de Deus implicava numa resposta em vida: a santidade. Esta, agora como um processo durante a vida em comunidade. É necessário a consciência anterior da santidade posicional para que a segunda não seja legalista. Somos chamados a viver em conformidade com aquilo que nós já somos.
Assim, Paulo deixa claro que a santidade não é algo inerente aos oficiais da Igreja, mas que todos os crentes, em todos os locais do mundo e não apenas ali, são chamados para serem santos. Os que invocam o nome de Jesus Cristo, sejam apóstolos como os doze e Paulo, sejam os membros em geral da igreja, mas se invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, foram chamados para ser santos. Sejam judeus ou gregos, não importa a origem, estão todos debaixo do mesmo senhorio de Jesus Cristo, a quem concede a todos os tipos de homem graça e manifesta a eles paz. Cristo não é somente nosso salvador, mas senhor. Não um consultor que nos dá conselhos, mas Senhor. Isto posto, não há espaço para vanglória, muito menos para contendas entre os irmãos.

2. Problemas temos, mas ainda somos igreja.

Quem lê a carta aos Coríntios sem esses versos iniciais podem até pensar que eles não são igreja, pois, de fato, andam na carnalidade e na imaturidade (1Co 3.1-3). Um leitor poderia questionar facilmente se eles eram realmente crentes.
Mas Paulo, com um coração pastoral, nos ensina que uma igreja não saudável ainda é igreja. Seu coração quer responder mais uma vez àqueles irmãos sobre o que significa para os cristãos de Corinto serem o único povo santo de Deus naquela cidade. Aquela igreja vinha de um contexto totalmente depravado e Deus trouxe graça abundante, muitos dons e paixão, mas o evangelho precisava alcançar todas as áreas da vida, ensinando o caminho de santidade.
O que habita no coração de Paulo em primeiro lugar quando ele lembra dos problemáticos Coríntios? Gratidão. E gratidão pelos coríntios mesmo, porque graça foi derramada ali. Assim como seu apostolado foi da vontade de Deus, a fundação daquela igreja também. A despeito do comportamento imoral naquela comunidade, Paulo é grato que eles ainda venham a Cristo e estejam engajados com a comunidade.
Eles se juntam para cultuar o mesmo Deus e manifestam o ensino através de dons. Isso promove oportunidades para Deus trabalhar neles. Eles ainda estão engajados em congregar. A existência de uma igreja fundada em Cristo é motivo de gratidão. Não se busca a santificação de quem não é crente. Seria perca de tempo.

3. Só é possível reconstruir uma igreja que os fundamento foram corretamente lançados

A gratidão do apóstolo prossegue na riqueza que os Coríntios possuem (1.5-7). Paulo não está olhando para o comércio deles, nem para o seu poderoso sistema bancário, lugar para onde eles também não deviam olhar, mas olhando para a palavra, o conhecimento e o testemunho de Cristo, que eram percebidos pela diversidade de dons e pela expectativa do retorno de Cristo.
Se a cultura dos coríntios exaltava a riqueza, um bom discurso e o conhecimento, eles já tinham tudo: a riqueza do evangelho (palavra pode ser “capacidade de expressão”, compare 1Co 12:8). São enriquecidos em Cristo. Paulo sabe o que ele pregou ali. Paulo sabe que, se tem sido construído um prédio torto, é porque os coríntios tem sido desobedientes e não porque os fundamentos estão equivocados: há a palavra e o conhecimento. Dons advindos do evangelho de Cristo. Paredes terão de ser derrubadas, colunas endireitadas, mas os fundamentos aguentarão a correta construção.
São vistos como evidências da ação de Deus a existência de dons: eles revelam que Deus está formando uma comunidade, pois os dons existem para que ela cresça, se usados corretamente. Mas também a expectativa da vinda de Cristo. Ela é a garantia de nossa perseverança.
Por fim, o firme fundamento da perseverança é a fidelidade de Deus (verso 9). Se foi ele quem a chamou, podemos confiar no destino dessa igreja. No final das contas, quem persevera é o próprio Deus, pois aquele que começou boa obra em nós há de completá-la até o dia de Cristo Jesus (Fp 1.6)

Aplicações

1. Problemas na igreja independem de quem a plantou. Não procure culpados assim.
2. Igrejas com problemas podem ser ainda igreja. Não olhe com desdém para igrejas não saudáveis.
Paulo, apesar da dureza, não a abandona nem a chama de falsa igreja.
3. Congregue. Eu repito muito isso, mas congregue. Ainda que o contexto fosse complicado, aqueles irmãos estavam no local certo. Precisava melhorar, mas ainda era o local certo.
4. Uma igreja que foi plantada com a pregação do Evangelho sempre terá uma pedra fundamental, um tesouro inabalável. Se ela de desviar, cave bem fundo. Há lá a a palavra, o conhecimento e o testemunho de Cristo.
Foi isso que Paulo escavou. Talvez tenha surtido efeito, visto que a igreja não está entre as que são alvo de repreensão em apocalipse.
5. A igreja é um povo que espera a segunda vinda de Cristo (1.7).
O que mais motiva a igreja a ser santa? A expectativa da volta de Jesus. A igreja que vive na expectativa de que Jesus vai voltar, se santifica. Sobre isso o apóstolo vai trabalhar diversas vezes para que os coríntios cumpram sua vocação de serem santos.
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S.D.G
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