Somos quem Deus nos chama a ser (1Co 1.26-31)

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Introdução

Relembrando o contexto

Paulo fez a sua saudação (1 a 3), seguida da sua ação de graças (4-9). Depois disso, Paulo passa a tratar os problemas na igreja de Corinto, iniciando por resolver as contentas provocadas pela dissensão de grupos, chamando-os à unidade.
Paulo inicia um arrazoado reflexivo-teológico acerca de quem é Jesus (“Cristo está dividido?” v. 13) e qual o fundamento da salvação daqueles irmãos (Cristo, Paulo ou qualquer um dos outros servos de Deus na Igreja daquela época?, v. 13).
A divisão é discernida por Paulo como fortemente cultural, provavelmente do louvor e identificação que eles tinham com filósofos da época, de tal forma que ele presumia a tendência deles levarem esse louvor para os servos de Deus naquela igreja, sendo precavido na realização de batismos (v. 14).
Assim, ele finaliza a argumentação lembrando que o Senhor o chamou para pregar o evangelho, e que este evangelho alcança os salvos pela loucura da pregação de Cristo crucificado (v. 17-23). A salvação não ocorre pela retórica ou pela eloquência dos pregadores, muito menos pela posição social ou perspicácia dos ouvintes, mas pela obra graciosa de Cristo (v. 24 e 25). Então, por que brigar?
Com isso em mente, vemos, agora, Paulo partindo para fazer aquela Igreja refletir sobre como opera a graça de Deus, tratando o sentimento de vanglória enraizado nos corações daqueles irmãos. A conclusão é que a forma como Deus opera a salvação não deixa espaço para vanglória em si nem em outro que não seja Jesus.

Exposição

1 A incompreensão dos Coríntios

O apóstolo Paulo inicia (v. 26) outra sentença com uma ordem em tom de apelo pastoral (veja v. 10). Desta vez para que, aqueles que são irmãos, e que deveriam viver como tal, atentem (lit. Βλέπετε “voltem os olhos”) à sua vocação.
Vocação aqui não é aptidão natural, mas remete a um chamado, uma convocação, um convite. Paulo quer que eles olhem para aquilo que eles foram chamados a ser (κλῆσιν, a mesma raiz de onde vem a palavra Igreja). Está aqui relacionada a salvação, ou seja, uma indicação para que atentem em como ocorreu a salvação deles.
Paulo já havia apresentado este chamado da perspectiva posicional da santificação (1.2): homens e mulheres tornados santos e que estão caminhando para corresponder a esse chamado de santidade.
O propósito de Paulo com isso é fazê-los pensar sobre o estado que eles estavam [ou quem eles eram] quando foram chamados. Em outras palavras “reparem bem para a comunidade de vocês: quem é o grosso da Igreja de Corinto? Não são os retóricos profissionais [sofistas, sábios segundo a carne], nem os poderosos [ex.: imperador e governadores romanos], nem os ricos [comerciantes e nobres].
Paulo mostra, então que...

2 A lógica de Deus é diferente da dos homens

Isso mesmo. A lógica de Deus é diferente da dos coríntios. Ao olhar para o lado eles não veriam muitos ricos, mas os empregados dos ricos. Eles não veriam os sofistas, mas seus humildes apreciadores. Eles não veriam governantes, mas seus subjugados. Este era o retrato daquela Igreja.
No entanto, eles não tinham reparado nisso. Ainda se apegavam intensamente ao status social, querendo “ser alguém” (não é muito diferentes de nossos dias). Disputavam identificação com alguém que pudesse lhes dar algum destaque (“olha, ele é seguidor de fulano”).
Por isso, Paulo segue para o exercício teológico (v. 27 e 28). Em outras palavras, “agora que vocês olharam para si e para o lado, eu vou explicar a ação de Deus: Deus escolheu as coisas loucas, as fracas, as humildes, as desprezadas e as que nada são”.
“Na maioria das religiões Greco-Romanas do primeiro século, somente pessoas de nobre nascimento ou enorme riqueza eram chamadas para a salvação; estas pessoas primeiramente se tornavam líderes e sacerdotes. Mas Paulo lembra àqueles crentes que Deus chamou todas as pessoas para a salvação” (John D. Barry et al., Faithlife Study Bible (Bellingham, WA: Lexham Press, 2012, 2016) .
Há um propósito nisso: não haver a menor dúvida de que a salvação é por graça [Deus escolheu, escolheu, escolheu]. O sábio e o forte devem ficar envergonhados; os que são grandiosos, favoritos e os valiosos devem perceber que nada são. Não se engrandece os já exaltados, mas alcança os humildes. Não se salva os justos, mas se justifica os pecadores perdidos.
Quando prosseguimos na leitura da carta, vemos o destaque deste caráter do evangelho: 1Co 6.9-11 “Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus. Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus.”
Eles já não eram mais identificados pelo que eram. E como vemos no verso 29, a causa disso não poderia dar espaço para a vanglória pessoal ou grupal: a escolha de Deus anula a vanglória. A vocação deles [quem eles eram e passaram a ser] não estava baseada em nada que gerasse soberba, arrogância ou sectarismo. A vocação deles era baseada na eleição sem méritos.

3 Quando vocês quiserem saber quem são olhem para Ele

Paulo finaliza nos versos finais (30 e 31) demonstrando que, neste processo de elevar a sua própria glória exercendo graça sobre todos os tipos de homem, especialmente os humildes, temos sabedoria, justiça, santificação e redenção em Cristo.
A igreja é um povo de Deus (“à igreja de Deus que está em Corinto” 1.2) e que passou a ter em Cristo o seu maior tesouro. Se os Coríntios querem conhecer a causa e a direção do universo: olhem para a glória de Cristo. Se precisam se livrar de suas culpas e se aproximar de Deus: olhem para a glória de Cristo. Se querem poder para vencer o pecado: olhem para a glória de Cristo. Se precisam de alguém digno que pague o preço de nossa salvação, pois são todos desprezíveis: olhem para a glória de Cristo!
É muito sério isso: chamados para serem santos. A aplicação de Paulo pode ser traduzida em “a vocação de vocês não é quem vocês eram, mas que se tornaram em Cristo. Não é a sua qualidade inata, mas a nossa vocação é o que Deus nos chamou a ser”.
A glória é toda Dele. Por isso, aquele que se gloria, glorie-se no Senhor. Paulo ressoa as palavras de Jeremias 9.23, 24: Assim diz o Senhor: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem o forte, na sua força, nem o rico, nas suas riquezas; 24 mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em me conhecer [revelação] e saber que eu sou o Senhor e faço misericórdia, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o Senhor.
A glória que eu tenho diante de Deus, o outro também tem. E tudo pela graça. Então, Por que brigar?

Aplicações

1 Precisamos discernir os pecados que reproduzimos de nossa cultura.

Quais os pecados de nossa cultura que reproduzimos e que estão em desacordo com a nossa nova identidade em Cristo Jesus?Vou repetir isso em alguns momentos e precisamos desenvolver respostas.

2 Os “zé-ninguéns” são bem-vindos.

Se você é ninguém neste mundo, seja bem-vindo à Igreja. Talvez tenha alguém aqui que é simples, que nunca foi o primeiro em nada, que não cresceu cultivando virtudes, você tem espaço no Reino de Deus. Se apegue a Cristo.

3 Não queira ser quem Deus não escolheu

Paulo está levando a igreja a refletir: “vocês são os jornaleiros, pedreiros, os peões, as diaristas, os professores, (…) e Deus vos escolheu. Por que vocês querem ser aqueles que Deus não escolheu?”
Paulo não está combatendo o trabalho árduo ou a ascensão econômica. Deus não rejeita os ricos e poderosos necessariamente (veja Cloe, Crispo, Erasto). Aquele que tem a oportunidade de administrar os recursos que Deus dá e não os desenvolve é um mal mordomo.
Mas Paulo está combatendo a tendência de nosso coração de ter suficiência nestas coisas: inteligência, poder e riqueza. De se ensoberbecer nelas ou de ter nelas motivos para ser salvo (como a confusão dos discípulos Mt 19.25, 26). A questão é que você não precisa fazer de sua posição social seu meio de redenção.

4 É Deus quem diz quem nós somos

O mundo quer dizer quem somos. Nossa época disputa identidades. O pecado quer definir nossa identidade. Ideologias querem construir ou desconstruir que é o homem. Mas Deus, que nos criou, é quem sabe bem quem nós somos. E Ele é quem diz que enquanto estamos no pecado estamos mortos e distantes dele, mas, se estamos em Cristo, pela fé, somos aceitos por Ele e refeitos à imagem de Seu filho.
Não mais deformados. Se cremos em Jesus, não somos quem o pecado diz que somos, somos quem Jesus apresenta ao Pai.

5 Somos alguém e temos propósito

Quem somos? O que viemos fazer neste mundo? São perguntas que o evangelho nos dá resposta. 1Pe 2.9 “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”. Amados, se das trevas ele chamou luz, de nossa pequenez ele chama sabedoria.
SDG
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