Mulheres e homens no culto cristão (1Co 11.2-16)

0 ratings
· 17 views
Notes
Transcript

INTRODUÇÃO

Existem textos que nos lembram, por causa da extrema dificuldade exegética, a razão de alguns pregadores não fazerem exposição verso a verso das Escrituras e este é um deles. Ele une dificuldades de tradução, escassez de material sobre o contexto cultural e de costumes da igreja e da cidade no tema específico, dificuldade de encontrar o sentido de determinadas palavras e expressões, não termos acesso a possíveis indagações que Paulo está a responder e a própria compreensão da lógica argumentativa do apóstolo. Espero que nosso trabalho hoje, pela condução do Espírito Santo, nos auxilie a encontrar alguma luz nesse texto.
Depois de tratar sobre a questão da carne sacrificada a ídolos e a liberdade cristã, Paulo introduz à seção sobre o culto cristão, onde inicialmente ele aborda sobre o ministério de homens e mulheres (1Co 11.2-16), sobre a ceia do Senhor e os maus-tratos aos pobres nesta ocasião (1Co 11.17-34), e, posteriormente, sobre o mal uso os dons espirituais (1Co 12-14), especialmente o de línguas. Em nosso texto de hoje, particularmente, Paulo aproveita a transição entre liberdade cristã e responsabilidade com os irmãos para resolver problemas no que diz respeito à responsabilidade nos relacionamentos dentro da igreja, no caso entre homens e mulheres.
De início, quero tentar montar um pano de fundo que nos auxilie na compreensão do texto: ao final do trecho (v.16) vemos que há um grupo de pessoas levantando contenda sobre o assunto do uso, ou melhor, do não uso do véu na igreja nos momentos de ministração oral [oração e profecia], principalmente pelas mulheres. Este grupo pode inclusive ser de homens [devido os termos estarem no masculino], no entanto, Paulo parece voltar seus argumentos às mulheres da Igreja, que provavelmente relataram a situação via carta. Elas quem tomariam a decisão de atender ao argumento de Paulo de que se cobertura na cabeça, ao que tudo indica, um véu de tecido.
O véu era uma pratica habitual que não encontrava resistência na cultura da época, nem mesmo entre movimentos feministas [como em Roma, por direitos iguais]. Era considerado um símbolo feminino da honraria pessoal e de outros (i.g. pai, irmão, esposo). Por isso, algo interno provavelmente motivou estas contendas que dividiam o corpo de Cristo e prejudicavam o culto público. Entre as raízes dos problemas podemos inferir:
Uma escatologia ultra-realizada (“mulheres escatológicas”, Gordon Fee), aquela mesma que diluía a necessidade do casamento e de sua manutenção (cap. 7), pois os crentes já seriam como anjos, que não se dão em casamento e não possuem distinção de sexos. Com isso, as mulheres estavam abolindo distinções visuais entre homem e mulher.
As mulheres, na era da Igreja, ao receberem liberdade em Cristo tinham os mesmos dons e participação no culto que os homens, portanto, achavam que poderiam se portar com total liberdade, desconsiderando questões de honra pessoal, relacional e até mesmo de autoridade. Essa igreja tinha problemas em confundir a ocorrência dos dons com uma superioridade espiritual [como veremos nos capítulos a frente] ao invés de percebê-los como um meio para a edificação coletiva. Assim, estes pneumatikoi (pessoas do Espírito - sentimento que “já chegaram lá”), desenvolveram uma ruptura dos sexos, ou mesmo passaram a defender a oração e profecia sem a cobertura usual na cabeça.
Paulo, mesmo não sendo de seu costume se deter a usos e costumes, provavelmente percebeu a questão teológica maior e tenha se inclinado a não deixar a questão sem resposta. Para isso, Paulo lança mão de alguns argumentos.
I A questão da vergonha (2-6)
II O argumento da criação (7-12)
III O argumento cultural (13-16)

I A questão da vergonha: envergonhando a cabeça (2-6)

“2 Eu vos elogio porque em tudo vos lembrais de mim e vos tendes apegado com firmeza às tradições que vos entreguei. 3 Todavia, quero que saibais que Cristo é o cabeça de todo homem; o homem, o cabeça da mulher; e Deus, o cabeça de Cristo. 4 Todo homem que ora ou profetiza com a cabeça coberta desonra sua cabeça. 5 Mas toda mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta desonra a sua cabeça, pois é como se estivesse com a cabeça rapada. 6 Portanto, se a mulher não cobre a cabeça, então que corte também o cabelo. Se, porém, é vergonhoso para a mulher cortar o cabelo ou rapar a cabeça, então cubra a cabeça”.

Versículo 2

Paulo inicia a carta aos Coríntios agradecendo a Deus por aquela igreja. Juntamente com repreensões e correções, o apóstolo apresenta palavras amáveis aos leitores daquela igreja tão problemática. No entanto, agora Paulo os louva [uma introdução benevolente], o que é inédito até então, visto que em nenhuma outra passagem dessa epístola há palavras de louvor pelos coríntios, pelo contrário, há coisas pelas quais ele não a louva (v. 17,22). O motivo de louvor ocorre pois houve imitação (1Co 11.1) quanto às tradições apostólicas transmitidas durante sua estadia naquela cidade. Eles se lembram dele e do que ele ensinou, ou seja, guardaram todas as coisas ensinadas naquele período de maneira integral. Não há contradição como os versos seguintes, onde há o ensino, visto que: ou alguns dos coríntios são exceção ao louvor; ou este não foi um assunto desenvolvido no período em que Paulo esteve por lá. Parte da tradição poderia ser a de o culto cristão unir homens e mulheres, porém estão seguindo as tradições de forma inadequada.

Versículo 3

Paulo usa uma metáfora como estrutura teológica que fundamenta os dois tipos de cabeça dos versos 4 e 5, a fim de ajudar as mulheres a perceberem a validade de estarem com a cabeça “coberta”.
O ponto da metáfora é compreender o significado de “cabeça” (kephalē) dentro do texto. Alguns a interpretam como significando “fonte” ou “origem”, um ponto de vista helênico, enquanto que outros afirmam que significa “autoridade”, uma perspectiva judaica. Ambas são possíveis dentro do texto e são utilizadas por Paulo noutros locais, por isso, é importante encontrar este sentido. Ao olharmos para a própria perícope, parece que Paulo intenta utilizar o termo “cabeça” no sentido de origem ou fonte, como vemos nos versos 8, 9 e 12, onde a preocupação não é tão hierárquica (autoridade), mas relacional onde cada um é a fonte da existência do outro (Cl 1.18; 2.19; Ef 4.15). É muito complicado escapar do sentido já apresentado dentro do próprio texto. Se o termo tivesse o intento hierárquico, a estrutura teria maior força como (i) Deus - Cristo, (ii) Cristo - homem e (iii) homem - mulher, o que ele não faz.
O próprio termo “autoridade” dentro do trecho, quando aparece, é para reforçar a autoridade da mulher (v. 10) e em nenhum momento menciona algo sobre a autoridade do homem. Assim, Cristo é a origem do homem (Adão), o homem a origem da mulher (Eva), e Deus a origem de Cristo na encarnação. Paulo não está pensando em termos da “geração eterna” do Filho. Deus é a fonte de Cristo enquanto encarnado, que por meio da redenção é a fonte de todo homem (duplamente cabeça: criação e redenção). Por isso, Deus ser a fonte de Cristo é a última cláusula e não a primeira (1Co 11.12). A partir dessa referência teológica, Paulo explica porque a mulher não deve estar descoberta quando oram e profetizam.

Versículo 4

Aqui Paulo traz um exemplo hipotético de uma situação em que os homens cristãos trariam vergonha para sua “cabeça”, a saber: orar e profetizar com a cabeça coberta. Observamos que este versículo faz referência a culto público (1Co 14.4), casando a perícope posterior remete às reuniões públicas para a Santa Ceia. A cabeça é metaforicamente Cristo (“cabeça dele”) e não a sua própria, do contrário, o versículo 3 não teria razão de ser mencionado.
Primeiramente, Paulo fazia objeção a obscurecer a distinção entre gêneros, e queria que os coríntios demonstrassem visualmente a distinção clara entre homens e mulheres (Simon Kistemaker). Alguns defendem que a “cabeça coberta” seria o cabelo cumprido ou esteticamente preparado para parecer com o da mulher. No entanto, o texto parece sugerir uma cobertura de tecido. Cabe mencionar que não há evidências contundentes de que os homens, em qualquer daquelas culturas (grega, romana ou judaica), cobriam a cabeça de tal forma.
Alguns estudiosos tentam imaginar que Paulo poderia ter em mente: (i) o tallith (“xale de oração”), rejeitando, então, os costumes judaicos que separavam judeus e gregos; (ii) ao véu de luto, envergonhando Cristo ao orar e profetizar como sinal de luto; (iii) ao véu de celebrações pagãs (como culto a Ísis) das religiões de mistério ou mesmo os momentos devocionais romanos em que se puxava a toga para cima da cabeça, ou seja “a recomendação se ajusta ao contexto de evitar a adoração de ídolos” (Cynthia L. Thompson). De qualquer forma, apesar de não podermos bater o martelo, Paulo usa o caso hipotético para demonstrar que tal cobertura naquela cultura desonraria a Cristo.
Paulo então, com base no versículo 3, se preocupa em que o homem não desonre a Cristo, antes mostre distinção quanto às mulheres (por não cobrir a cabeça e não parecer com uma ao usar um véu) e sua fidelidade a ele e não aos deuses pagãos.

Versículo 5

Percebemos que o ponto de Paulo não é majoritariamente a cobertura ou não da cabeça no que diz respeito aos cultos pagãos, mas algo distintivo no relacionamento homem e mulher durante o ato de “orar e profetizar” que causava desonra. No caso do homem, desonra a Cristo o uso, e no caso da mulher, desonra ao homem o não uso, baseado no enunciado do verso 3. Por isso, as mulheres não deveriam ter a cabeça descoberta, como o primeiro caso [masculino]. Na verdade, com as cabeças descobertas estavam se apresentando como desonradas.
Estudiosos apontam ser possível que seja algum tipo de penteado ao invés do véu, mas parece estranho na totalidade do trecho. De qualquer maneira percebemos que o ato da mulher era deliberado [escolhido], e que trazia vergonha a sua cabeça, e que tinha uma ruptura na diferenciação entre os sexos. Quando ele fala que “é como se estivesse com a cabeça rapada” se refere a desonra de parecer com um homem pelo fato de estar sem o véu no momento da oralidade. O cabelo feminino também era visto como uma glória da mulher, como trabalharemos melhor a frente (v. 15), o que trazia muita atenção a ela naquela cultura - podendo ser um sinal de superioridade entre mulheres espirituais, noutra hipótese. Neste caso, o homem com véu parece mulher e pagão. A mulher sem véu torna-se superior ao homem - também o desonrando.
Parece que Paulo não se detém à desonra ao marido, mas pelas analogias (5 e 6) e o argumento seguinte (7-9), isso se refira desonrar o homem no relacionamento homem e mulher. O ato de descobrir a cabeça, naquela cultura, menosprezaria o relacionamento homem e mulher - pela falta de diferenciação ou pela superioridade. “O problema estava na cabeça das mulheres, mas estava afetando o relacionamento entre homens e mulheres na presente era” (Gordon Fee).

Versículo 6

Paulo apresenta um argumento duro que nos dá luz: estar sem o véu era algo tão impensado como raspar a cabeça. No último caso, a vergonha descrita é a da própria mulher. Parece que Paulo está afirmando “se querem causar vergonha tirando o véu, que raspem logo a cabeça e pareçam com um homem”. Seria uma vergonha para elas parecerem como homens, caso fossem carecas. Ele usa de um exagero para demonstrar que elas estavam quebrando o relacionamento entre homem e mulher e as diferenças entre os sexos. O argumento é: “como é vergonhoso parecer com o homem sendo voluntariamente careca, que não queiram essa semelhança abolindo o véu. Se o primeiro é vergonhoso, o último também é”.
Aqui, o argumento não é a desonra do marido, mas a desonra de si que desonra, por consequência, o marido e a Cristo.

II Um argumento extraído da criação (7-12)

Paulo agora está apresentando um argumento adicional da razão pela qual a mulher deve estar com a cabeça “coberta” quando ora e profetiza, visto que, de alguma maneira, o fato de estar “descoberta“ traz vergonha para sua “cabeça”, o homem. O “pois” logo no início indica que Paulo pretende reforçar as afirmações precedentes, ou seja que os homens não devem estar cobertos ao passo que as mulheres devem (Gordon Fee).

Versículo 7

Aparentemente, Paulo não recorre mais a metáfora do versículo 3, visto que ele relaciona o homem agora não a Cristo mas a Deus. Paulo usa claramente como base a narrativa da criação (Gn 1 e 2) em que Deus fez o homem diretamente do pó da terra, mas a mulher a partir do homem. O homem, que foi criado diretamente por Deus do pó da terra, é trazido como “imagem” e “glória” de Deus. A mulher, que obviamente é também imagem de Deus (Gn 1.27), a glória do homem [destaque: ela não é a imagem do homem, F. W Grosheide]. A ênfase que Paulo quer dar não é tanto na “imagem” mas na “glória”. O que significaria, então, “glória” neste sentido? Levando em consideração que esse termo não aparece em Genesis um e dois, aparentemente o que Paulo quis dizer é que “a existência de um traz um louvor ao outro” (Gordon Fee). O homem existe para honra e louvor de Deus (mandato criacional), então, não deve desonrá-lo - inclusive testemunhando em sua masculinidade (não parecer mulher). A mulher é imagem de Deus, mas a recebe através do homem, e a sua atuação é conjunta à do homem (mesma missão), e não independente. Portanto, a mulher não deve desonrar o homem, como se fosse autônoma (ou superior)- inclusive testemunhando em sua feminilidade (não parecer homem).
É muito provável então que ser “glória” significa que Adão sozinho não era completo ele estava só sem companhia ou ajuda apropriada para ele. Os animais não se prestaram a isso; ele precisa de alguém que seja osso do seu osso, alguém que seja como ele, mas diferente dele, alguém que seja exclusivamente sua própria “glória”. Alguém que esteja ao seu lado e feito do seu lado. Alguém que esteja no mesmo propósito que ele e alguém que tem a mesma missão que ele. Interessante que em Gn 2.23 o homem se gloria na sua mulher ele explode em cântico. Ela é a única altura dele pra que ele seja completo possa cumprir o propósito da humanidade.
“A implicação é que, ao orar e profetizar de uma maneira que desprezava (ou desequilibrava - observação minha) as diferenças entre os sexos, ela traz vergonha sobre o homem, de quem pretende-se que seja a glória. Paulo não está negando que a mulher foi criada a imagem de Deus o que ela também seja glória de Deus. Sua ideia central é peculiar. A mulher está relacionado com homem como a glória dele, um relacionamento que é de alguma forma parece estar em risco graças às suas ações no presente” (Gordon Fee).

Versículos 8 e 9

Agora Paulo parece corresponder aos dois enunciados-tese precedentes no versículos 3 e 7. É assim que o homem é a cabeça da mulher: ele é a fonte de vida dela (“a mulher procede do homem”). Além disso, ela também é a “glória” dele, porque “a mulher foi criado por causa do homem”. Com intuito de evitar interpretações equivocadas, como se ele ensinasse subordinação, ele traz uma maior elucidação nos versículos 11 e 12.

Versículo 10

Esse é um dos versículos mais difíceis onde Paulo conclui as sentenças anteriores. É provável que os termos “autoridade” e “anjos” tenham surgido dos próprios Coríntios em uma carta que não temos acesso e é difícil inferir como elas foram utilizadas. Alguns autores arrematam que a “autoridade” aqui seria o véu como um sinal demonstrando que a mulher está debaixo de autoridade. No entanto, na oração a mulher é o sujeito do infinitivo de autoridade, então é ela quem tem autoridade sobre sua cabeça.
Paulo deixa claro que a mulher, ao usar o véu, não se inferioriza, mas retém e expõe sua autoridade. Ela demonstra a imagem de Deus e a glória do marido em sua distinção própria como mulher. Para manter a ordem criacional, ela se iguala ao homem com o véu, em dignidade, mas se diferencia culturalmente ao demonstrar respeito e honra, não elevação de destaque pessoal. Por isso o exercício dessa autoridade manteria o costume de estarem “cobertas“.
*É interessante notar que Paulo quer que a mulher mantenha sua autoridade se distinguindo do homem. Em Gn 1.26-28, a autoridade sobre a criação é de ambos homem e mulher. A mulher evidencia sua autoridade não sendo como homem, androcêntrica, mas sendo mulher. Para aquela cultura, a distinção no ambiente público se dava pelo costume do véu. Não seria uma demonstração do ministério do Espírito Santo conduzir mulheres que estariam em rebeldia à ordem criacional*.
E por que “anjos”? Não sabemos precisamente, pois os coríntios falaram sobre os anjos na carta que não temos acesso, nem mesmo tentando reconstruí-la por aqui. Talvez seja porque elas queriam ser como anjos em que não há distinção de gêneros e por possuírem línguas dos anjos, mas Paulo mantem o futuro escatológico no devido lugar? Ou, como é mais provável, por que os anjos seriam julgados no futuro por elas, como Paulo ensinou anteriormente no capítulo 6? Trazendo isso para o capítulo 11, a mulher deveria saber julgar usar o véu pois um dia julgará os anjos. Ela deveria usar da sabedoria agora, visto que a utilizara no futuro. Em ambos os casos, se querer sabedoria para o cotidiano, tornando o uso do véu não permanente como os anjos são.

Versículos 11 e 12

Paulo traz contrapontos importantes aqui, tanto para homens como para as mulheres que tiveram sua autoridade reforçada por último. Há uma dependência mútua entre homem e mulher, e todos de Deus. Os elementos importantes aqui são “no Senhor” e “todas as coisas vem de Deus”, mostrando que um não existe para os propósitos do outro ou como se tivesse alguma subordinação aos objetivos e vontades. Deus organizou a natureza de tal forma que a interdependência deles é relevada na concepção um do outro.

III Um argumento extraído do decoro

Paulo saiu da preocupação com a mulher usar o véu para destacar sua autoridade e agora retoma ao argumento inicial baseado no senso cultural. O apelo de Paulo era que a própria natureza estabeleceu uma diferença entre os sexos e que o cabelo comprido da mulher deve ensinar-lhes que é decoroso está coberto quando oram.

Versículos 13 a 15

Paulo apela para uma noção de bom senso universal para os leitores da época (v. 13), desejando que concordem que a cabeça descoberta da mulher seria uma vergonha. Apelando, verso 14, agora ao costume universal (natureza neste sentido e não estoico), em que não era natural (comum) o cabelo comprido masculino. Nisso residia a “vergonha”. Que, ainda por natureza (v. 15), as mulheres receberam cabelo comprido como cobertura, o que aponta para a necessidade de estarem cobertas quando oram e profetizam.
À mulher foi dado uma glória dupla, a imagem de Deus e elementos estéticos que chamam a atenção, especialmente a atenção do homem, então o véu ficaria restrito a proteger a mulher de uma visibilidade indevida naquela cultura, e no caso, no uso da oralidade na igreja. Poderíamos resumir o argumento de Paulo acerca de não querer usar o véu numa cultura que o compreendia como distintivo: “Não coloquem problema no véu, vocês já nasceram com um”. Esse final de Paulo, esse arremate, demonstra que ele deseja que as diferenças entre os sexos sejam mantidas e que o uso do véu deve permanecer.
A frase “se alguém quiser ser implicante contra isso“ demonstra que é isso que alguns na igreja estão fazendo ou seja que algumas mulheres estão desfazendo algum tipo de cobertura que era tradicional. Para isso Paulo diz que não é uma prática nas igrejas de Deus daquela época esse tipo de comportamento.

APLICAÇÕES

O culto público não poderia deixar ambiguidades: Cristo é o centro da adoração. Não se pode ter elementos culturais no culto que chamem mais atenção para si do que para Jesus.
O culto público reflete o homem e mulher redimidos: o culto público é o ambiente onde se vê Cristo sendo honrado por homens e mulheres que servem para a edificação da Igreja. Já falamos que ninguém pode trazer glória para si. O contrário disso só pode ser exercido quando pensamos no que vimos deixar para nossos irmãos aqui: edificar a vida do outro. Homens e mulheres que servem. Mulheres que se sentem seguras na presença de homens. Homens que se sentem honrados na presença de mulheres. Homens e mulheres que se preocupam em não ser pedra de tropeço para outros, inclusive em usos e costumes. Homens e mulheres que buscam louvar a Deus em suas particularidades.
A teologia da criação é estrutura para boa parte da teologia posterior. A criação da humanidade, o casal Adão e Eva, o relato da Queda - todas são doutrinas fundamentais sobre as quais a doutrina cristã repousa. Podem ser estudados e a sua teologia melhor compreendida, mas não negados. Ame a doutrina da Criação - ela enriquecerá sua visão do Evangelho.
Padrões culturais mudam. Hoje homens com a cabeça descoberta e mulheres sem o véu não representam diluição dos sexos nem idolatria, assim como túnicas de ministros na época da reforma e perucas no puritanismo também não representavam. Paulo rejeita a ideia de pedir aos gentios que adotem costumes judaicos como um passo para se tornar cristãos (Gl 5.1–6). Similarmente, Paulo não pretende dizer aos crentes em toda parte através dos séculos que adotem os costumes que ele quer que os cristãos coríntios sigam. Então tomemos cuidado para não criarmos usos e costumes de obras na igreja como um sinal de santidade.
Lembremos que elementos culturais passam, mas o princípio bíblico permanece.
--
FEE, Gordon D. Coríntios. Comentário Exegético. São Paulo: Vida Nova, 2019.
Simon Kistemaker, 1 Coríntios, trad. Helen Hope Gordon Silva, 2a edição, Comentário do Novo Testamento (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2014).
Cynthia L. Thompson, “Hairstyles, Head-coverings, and St. Paul: Portraits from Roman Corinth”, BA 51 (1988)
F. W Grosheide, Commentary on the First Epistle to the Corinthians: The English Text with Introduction, Exposition and Notes, New International Commentary on the New Testament series (Grand Rapids: Eerdmans, 1953), p. 255.
Related Media
See more
Related Sermons
See more