A ceia da graça e a ceia da condenação (1Co 11.23-34)

Notes
Transcript
Aquela igreja apresenta problemas de comunhão, inclusive expressos em seus cultos, prejudicando o momento de louvor ao Senhor. Eles tornavam o serviço de oração e pregação (profecia) na igreja algo prejudicial, e perverteram a ceia em momento para si, desprezando a Cristo, o seu memorial entregue através do pão e do vinho, e a Igreja do Senhor. Paulo instrui, então, sobre a incompatibilidade da prática dos coríntios com a essência da Ceia, sobre o seu significado e sobre os males de uma ceia indigna.
I A incompatibilidade da prática dos coríntios com a essência da Ceia (v. 23)
Versículo 23
“Recebi” Paulo refere-se a algo que recebera diretamente de Cristo. É provável que ele se refira a um ensino de que reconhecidamente veio de Jesus (compare com 15:3). A instrução já estava bem estabelecida como uma tradição na Igreja no primeiro século, pela unidade e diversidade dos textos sinóticos e dessa passagem paulina.
Paulo inicia a carta assim para demonstrar que algo nesse elo foi quebrado. Ele recebeu, entregou, mas os Coríntios corromperam. Eles não podiam nem dizer ‘pelo menos não comemos em culto pagão’, pois até o culto estava corrompido por seus partidários e divisões.
“Vos entreguei” Paulo transmite tal qual. Não é algo inventado. O evangelho é uma mensagem de entrega que entregamos uns aos outros. A entrega de Cristo por nós, é isso transmitimos aos perdidos.
“Na noite em que foi traído” Na noite em que lhe foi negada amizade, companhia, solidariedade, compaixão, fidelidade, honra e amor, ele deu de si mesmo.
Quando os homens quiseram manter suas reputações, sua segurança e suas vidas, ele era pendurado como transgressor nas mãos de iníquos para entregar a sua vida.
Com a certeza de que tudo isso ali se desenrolava, ele apresenta o símbolo dessa entrega que seria repartida entre os cristãos ao longo dos séculos: a comunhão no pão e no vinho, na carne e no sangue.
“O pão” Os sinóticos apontam para uma refeição Pascal, o primeiro dia dos pães sem fermento: “Eu desejava ardentemente comer esta Páscoa com vocês antes de eu sofrer” (22:15). Observemos que os elementos da ceia possuem a pressuposição que o cordeiro Pascal já havia sido sacrificado. Jesus e os seus discípulos não estavam realizando o sacrifício requerido pela lei. Jesus é o cordeiro sacrificado. O pão e o vinho lembram que o sacrifício já foi realizado.
II o significado da Santa Ceia (v. 24-26)
Versículo 24
“Tendo dado graças” O relacionamento de Cristo com o alimento é de grata devoção a Deus Pai.
“Meu corpo” Seu corpo. Não de outro. É dado de forma repartida, ali como um pão rasgado, compartilhado e servido.
“Por vós” Por: em favor. Não é uma entrega apenas para benefício (dado a alguém), mas dado em favor de alguém. Somos beneficiários pela participação no corpo de Cristo, mas também somos substituídos por ele naquele sacrifício. Somos nós ali a medida que somente ele se entrega por nós.
“Fazei isto em memória” A memória não é só a ingestão do pão, mas reparti-lo (fazei isto - repartam e comam em memória). É se alimentar de Cristo, mas do Cristo entregue em favor de muitos, da Igreja.
Assim como o sacrifício do cordeiro era pressuposto ao ceiar o pão, Jesus não estava se sacrificando na ceia, mas instituindo os elementos visíveis que serviram como sinais do sacrifício absoluto que ele realizaria na cruz do calvário.
“Em memória” significa uma lembrança contínua da sua entrega vicária. Não que ele esteja vivo somente na memória, mas o sacramento nos faz lembrar mais precisamente de sua obra na cruz.
Versículo 25
“O cálice / este cálice” Um cálice repartido. Servido a todos. Este era “o cálice da benção”, o terceiro de quatro. Numa refeição pascal judaica, os participantes bebiam, com intervalos, de quatro copos (ver o comentário sobre 10.16). Quando Jesus tomou o copo, era o terceiro copo, conhecido como “o copo da bênção”. Nesse momento ele instituiu a segunda parte da Ceia do Senhor, o beber do vinho.
“Nova aliança no meu sangue” “Este cálice é” nos ensina que aquela oferta sacrificial é o fundamento da nova aliança. O sangue selava a aliança. Não há nada mais - não são nossas escolhas, desempenho ou obras. É o sangue do cordeiro Jesus Cristo, Filho de Deus. Como uma aliança, participam dela os que participam do sangue de Cristo, ou seja, os que são remidos por seu sangue.
Versículo 26
“Anunciais” A Ceia é em memória, em retrospectiva, e um anúncio, em perspectiva. Ceiamos e anunciamos que ele morreu, mas com a certeza que ele ressuscitou e retornará (ele venha).
III Os males de uma ceia indigna
Versículo 27
“Por isso” Paulo passa a explicar, no que diz respeito ao significado da ceia nos elementos do pão e do vinho, o porque o comportamento dos coríntios à mesa é errado, ou melhor, é uma profanação da ceia.
“Indignamente” Sem crer, sem ter ciência do significado, sem ter consciência do corpo e do sangue e sem discernir o corpo (v.29). Como trazer à memória o que não se crê? Como anunciar sem significado? Como discernir sem conhecer a Cristo e a Igreja? O elemento enfático não é sendo indigno, mas fazendo de forma indigna. Fazendo da ceia um momento de fartura pessoal e humilhação dos que não possuem recursos.
“Será réu” Ao invés de beneficiários, réus. Ao invés de perdoados pelo sacrifício, condenados por ele. Culpados pela morte de Cristo.
Versículo 28
“Examine-se” O que seria esse autoexame? Analisar quais pecados cometemos? Um pedido de perdão? Não, é especialmente “discernir o corpo”. O auto-exame envolve esse discernimento. Verificar a genuinidade.
“E assim coma do pão” A advertência de Paulo não é uma proibição geral, mas um encorajamento ao auto-exame e à ceia do Senhor.
Versículo 29
“Discernir o corpo” A igreja do Senhor. “Menosprezais a igreja?” (22). Independentemente da renda, são todos corpo de Cristo (21).
“Juízo para si” há consequências práticas e visíveis nesse mundo, tais como a fraqueza e doença e até mesmo a morte (31). No verso 34 Paulo nos ensina o que seria esse juízo para si. Lá vemos que discernir o corpo envolve compreender que a ceia é momento de entrega da Igreja (comunhão horizontal), pois ela é fundada na entrega de Cristo por nós (comunhão vertical). Discernir o corpo é fazer da ceia momento de bênção, é compreender quem é Cristo e sua obra e quem é e o que é a Igreja.
Versículos 31 e 32
“Se julgássemos a nós mesmos” Julgar a nós mesmos é o auto-exame? Sim. Quem se auto-examina não é julgado pelo Senhor (julgado como condenado?), participa da forma como Jesus entregou a ceia.
“Quando julgados” envolve “quando nos examinamos” ou “quando somos condenados”? Provavelmente a primeira opção, pois o auto-exame é uma ferramenta utilizada por Deus para não sermos condenados com o mundo. É uma disciplina (correção) para nos orientar a cruz. O mundo, dia após dia, sem essa correção, se aliena dela. Prefiram essa disciplina à doença ou à morte.
Versículo 33
“Pois, irmãos meus” Paulo encerra seu propósito em arrazoar sobre a ceia: instruir os Coríntios a serem solidários na comunhão da ceia (“esperai uns pelos outros”), especialmente os mais ricos. Especialmente sendo aquele período de vulnerabilidades (cf. 7.26). Se Cristo deu seu corpo, não podemos dar nossos alimentos aos irmãos mais pobres?
Versículo 34-
“Demais coisas” Haviam outros problemas relacionados a comunhão da Igreja. Alguns deles Paulo não quer resolver por carta.
Aplicações:
1. A ceia é entrega.
2. A ceia é entrega por nós. É Jesus nos servindo de si. É Jesus morrendo em nosso lugar. Somos nós sendo feitos um com Cristo. A Eucaristia era alimento que permitia ao povo de Deus se tornar o que eles professavam ser. “Seja o que você vê, receba o que você é”, proclamou Agostinho de Hipona em um sermão sobre a Eucaristia.
3. A ceia é memória e não sentimento. Às vezes queremos fabricar um “momento espiritual”, mas Jesus nos instrui a lembrarmos especialmente dele. Com isso, o Espírito nos visita, certamente.
4. A ceia não é somente individual, mas coletiva. Não é sobre eu diante de Deus apenas, mas o nós também. Inclusive, preciso discernir a Igreja.
5. A ceia nos lembra sobre as necessidades dos irmãos.
Related Media
See more
Related Sermons
See more